GENOINO RENUNCIA A MANDATO PARA FUGIR DE CASSAÇÃO
A CARTA NA MANGA DE GENOINO |
Autor(es): CRISTIANE JUNGBLUT E ISABEL BRAGA |
O Globo - 04/12/2013 |
Deputado renuncia para evitar cassação; Câmara decidirá se aceita aposentadoria por invalidez
BRASÍLIA - Para escapar de um processo de cassação que seria aberto ontem pela Mesa Diretora da Câmara, o deputado condenado no julgamento do mensalão José Genoino (PT-SP) renunciou ao mandato. Condenado a 6 anos e 11 meses de prisão, em regime semiaberto, pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha, ele voltou a alegar inocência.
Com
o PT isolado na defesa de Genoino na reunião da Mesa, a carta da
renúncia foi entregue quando quatro dos sete integrantes do colegiado já
tinham votado a favor da abertura do processo de cassação. Dos sete
integrantes da Mesa, apenas um é da oposição. Mesmo com a renúncia,
Genoino pleiteia a aposentadoria por invalidez, que pediu em setembro,
antes da decisão final do STF no julgamento do mensalão.
A
questão ainda será analisado pela Diretoria Geral da Câmara em processo
administrativo. Se não lhe for concedida a aposentadoria por invalidez,
que garante um benefício equivalente ao subsídio integral do
parlamentar (R$ 26,7mil), Genoino terá garantida, de qualquer forma, sua
aposentadoria pelos 26 anos de mandato pelos quais contribuiu, e que
hoje é de R$ 20 mil.
O
presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), sugeriu que
Genoino poderá ser atendido, porque o processo administrativo não será
interrompido com a renúncia: — Naquela época, em setembro, ele já
queria sua aposentadoria por invalidez. A Câmara só vai decidir ao final
dos 90 dias de licença que Genoino ainda tem.
Na
carta de uma página e meia encaminhada à Mesa Diretora da Câmara,
Genoino diz que é inocente, que não praticou nenhum crime e que sofre
humilhação. “A razão de ser da minha vida é a luta por sonhos e causas
ao longo dos últimos 45 anos’: disse, na carta, concluindo: “Entre a
humilhação e a ilegalidade prefiro o ris- co da luta e renuncio ao
mandato”.
CONSTRANGIMENTOS NA CÂMARA
Ele
encaminhou o pedido por meio do irmão e líder do PT na Câmara, José
Guimarães (CE), e a carta foi entregue, durante a reunião da Mesa por
outro petista, o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PR). A carta é
assinada por Genoino e pelo advogado Alberto Moreira Rodrigues. Após a
reunião da Mesa, o presidente da Câmara disse que foi um dia “difícil e
constrangedor".
À
noite, o constrangimento aumentou. José Guimarães subiu à tribuna no
plenário para fazer um discurso de desagravo. E relatou o que ouviu do
irmão sobre um eventual processo de cassação: — Não suportaria mais
esta tortura, me disse ele. Depois do discurso do petista, Henrique
Alves ressaltou a atuação de Genoino como parlamentar, mas salientou que
agiu com serenidade: — Cumpri rigorosamente o meu dever regimental e
constitucional.
É
um momento difícil e constrangedor que esta Casa está vivendo. Não é
agradável para quem quer que seja. No discurso, o irmão de Genoino
disse que ele foi grandioso ao renunciar: —Renunciou talvez até para
proteger a bancada do PT. Não iremos permitir que destruam a história do
PT. Talvez o gesto dele de renunciar ao mandato seja maior do que o da
abertura do processo de cassação. Quem sabe algum dia a história será
reescrita e esse Parlamento possa devolver a ele seu direito político.
O
único pecado que cometeu foi ser presidente do PT. Esse plenário deve
muito a alguns parlamentares, um deles é Genoino. o discurso de
Guimarães gerou críticas de outros parlamentares. Enquanto ele
finalizava, a deputada Liliam Sá (PROS-RJ) disse, aos gritos, que
ninguém queria ouvir aquele discurso: — o Brasil não quer ouvir isso
não, deputado.
A
reunião da Mesa da Câmara começou tensa e com atraso. O PT queria que a
direção da Casa suspendesse a análise do caso até fevereiro, quando
terminava a licença médica de Genoino. Eleito pela primeira vez deputado
em 1983 e no exercício do sétimo mandato na Câmara, Genoino passou por
uma cirurgia em 24 de julho e, em setembro, teve a licença prorrogada
por 120 dias. Antes de ir para a reunião, Henrique Alves disse a líderes
partidários que a maioria da Mesa votaria pela abertura do processo de
cassação.
Quando
a votação do pedido já estava 4 a 2, André Vargas apresentou a carta.
Tinham votado a favor da abertura do processo os deputados Fábio Faria
(PSD-RN), Simão Sessim (PP-RJ), Márcio Bittar (PSDB-AC) e Henrique
Alves. Os dois petistas da Mesa, Vargas e Antonio Carlos Biffi (PT-MS),
ficaram contra.
O
sétimo integrante da Mesa, Maurício Quintela (PR-AL), votaria pela
abertura do processo de cassação, mas só o fez depois que a renúncia foi
apresentada. A carta foi lida em plenário logo depois da reunião e
será publicada no Diário Oficial de hoje. Desde setembro, o deputado
Renato Simões (PT-SP) está na vaga aberta com a licença médica de
Genoino, mas não será efetivado como titular da vaga, que deverá ficar
com a também petista Iara Bernades, outra suplente.
Simões
contou que recebeu um telefonema de Genoino, que o agradeceu e disse
que eles vão se ver, no momento oportuno. Ainda em sua carta, Genoino
disse que renuncia “após mais de 25 anos dedicados à Câmara, e com uma
história de mais de 45 anos de luta em prol da defesa intransigente do
Brasil, da democracia e do povo brasileiro”.
Volta
a falar em inocência e que nunca obteve vantagens financeiras:
“Considerando que não pratiquei nenhum cri- me, não dei azo a quaisquer
condutas, em toda minha vida pública ou privada que tivesse o condão de
atentar contra a ética e o decoro parlamentar; considerando que sou
inocente, que sempre lutei por ideais e jamais acumulei patrimônio ou
riqueza, aí concluí pela renúncia”.
Genoino
exerceu mandatos na Câmara entre 1983 e 2002, quando disputou o governo
de São Paulo e perdeu. Conseguiu se eleger novamente em 2006, um ano
depois do escândalo do mensalão. Em 2010, ficou como suplente, e só
voltou no início de 2013, de novo como suplente
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