Adeus, consumo: BC quer incentivar a poupança
BC prepara plano de incentivo à poupança |
Autor(es): Gabriela Valente |
O Globo - 16/12/2013 |
Após
anos de estímulo ao consumo, o governo planeja agora incentivos à
poupança, com o intuito de elevar a taxa de investimento do país, hoje
em níveis baixos. Com a mira na nova classe média, o Banco Central
prepara uma estratégia de educação financeira, que inclui o uso de
tablets em áreas pobres, para que 50 milhões de brasileiros comecem a
economizar.
Após anos de foco no consumo, governo quer estimular classe C a economizar para elevar taxa de investimento
Em vez de esconder dinheiro embaixo do colchão, o armador de ferragens
Rubens Mariano deixa suas economias em uma conta corrente. É quase a
mesma coisa, já que não recebe rendimento algum. Todo mês, ele separa R$
200 ou R$ 300 para emergências. Não gosta de deixar na poupança porque
acredita — erradamente — que não poderá sacar quando precisar. Com a
mira em pessoas como ele, o Banco Central prepara uma estratégia para
incentivar a poupança e aumentar a taxa de investimento no país,
principalmente, entre a nova classe média. A medida vem após anos de
incentivos do governo ao consumo.
Para
fazer com que 50 milhões de brasileiros comecem a economizai; o Banco
Central investirá em educação financeira. Uma das iniciativas é fazer
softwares de jogos e distribuir tabíets em áreas pobres e favelas das
grandes cidades para ensinar pessoas como Rubens. Se ele soubesse que
pode usar os recursos da caderneta de poupança a qualquer momento, mas
que só recebe os rendimentos a partir de 30 dias do depósito, ficaria
mais tranqüilo. E poderia entrar para as estatísticas de investidores
brasileiros.
—
No banco, eles falam que tem de deixar o dinheiro por três ou seis
meses para render alguma coisa. Daí, deixo na conta mesmo, porque posso
precisar — diz o trabalhador.
Formação de multiplicadores
Com
isso, continua fora do grupo de poupadores do país, mas já faz parte da
população bancarizada, que teve um incremento substancial com a
ascensão da nova classe média. Em outubro, o Brasil ultrapassou a marca
de 100 milhões de contas correntes: crescimento de 27% nos últimos cinco
anos. Muitos brasileiros que utilizam o sistema financeiro nem abrem
conta corrente. Crianças e adolescentes — principalmente das classes
mais altas — têm instrumentos de poupança como a caderneta e até
previdência privada. Por isso, 132,4 milhões de CPFs mantêm
relacionamento ativo com o sistema. Para incentivar esse tipo de
comportamento entre a população de menor renda, o BC encomendou uma
pesquisa sobre os hábitos bancários da classe C. Essa parcela da
população teve um papel importante na retomada do crescimento via
consumo, após a crise global de 2009. Antes mesmo dos resultados do
estudo, a autarquia já traça projetos para incentivar a poupança em 2014
— o último ano do programa de inclusão financeira da autarquia. O foco é
sempre formar "multiplicadores" ou seja, pessoas da própria comunidade
que possam repassar os conhecimentos. Aí, entram os joguinhos nos
tablets.
Os
dispositivos serão entregues às mulheres. Com ajuda de cooperativas de
crédito e do Ministério de Desenvolvimento Social, o BC começa a
identificar grupos que já se reúnem para alguma atividade como, por
exemplo, costurar. O equipamento passará de mão em mão.
E elas poderão aprender a melhor forma de poupar num jogo j educativo e ensinar familiares.
—
Esse é o maior desafio: como sensibilizar a população a fazer
aplicações de mais longo prazo — afirmou o diretor de Relacionamento
Institucional e Cidadania do BC, Luiz Edson Feltrim.
A
autoridade monetária, entretanto, quer mostrar que a caderneta de
poupança não é a única forma de guardar dinheiro. O BC sabe que a
modalidade é o mecanismo predileto das famílias com menor renda, mas
quer ensinar que — de acordo com o objetivo das famílias — há
instrumentos mais apropriados e eficazes.
—
Nunca pensei em deixar em outro lugar que não fosse a poupança — afirma
a estagiária em enfermagem Talita Lobato. — Acho que por falta de
informação nunca pensei nisso.
Já
a cozinheira Janaína Ribeiro não consegue guardar nem uma pequena
parcela do que ganha por mês. Mesmo assim, tem uma caderneta de
poupança, onde depositou todo o dinheiro da rescisão do último emprego.
Aos 25 anos, a mãe solteira conta que colocar na aplicação foi uma
decisão imediata ao trocar de trabalho.
— Quando a gente poupa é em caderneta de poupança, não? — pergunta Janaína.
Outros instrumentos - Além
de estimular a nova classe média a guardar dinheiro, o BC pretende
ainda incentivar os bancos a criarem novos produtos para atrair esses
potenciais poupadores. É uma determinação do presidente Alexandre
Tombini, que tem falado cada vez mais sobre o tema. O assunto é uma das
vedetes da diretoria comandada por Feltrim.
Vamos
construir essa agenda: aumentar a poupança, alongar os instrumentos de
aplicação financeira, mas não temos a fórmula ainda — afirmou Feltrim. —
Vamos lançar o desafio para o pessoal de baixíssima renda para ensinar
esse pessoal a poupar. Independentemente do valor do seu ingresso, você
pode poupar e não apenas com caderneta de poupança, mas com vários
instrumentos.
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