quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Verba parlamentar no voo da cocaína

Verba parlamentar no voo da cocaína

Assembleia pagou combustível do helicóptero de Perrella
Autor(es): Ezequiel Fagundes
O Globo - 29/11/2013
 
Aeronave foi apreendida com cocaína; deputado é interrogado na PF

O Ministério Público de Minas abriu ontem inquérito para investigar suposto uso indevido de dinheiro público da Assembleia Legislativa pelo deputado estadual Gustavo Perrella (SDD-MG), filho e herdeiro político do senador Zezé Perrella (PDT-MG), ex-presidente do Cruzeiro. Pela verba indenizatória, a Assembleia reembolsou gasto com combustível usado para abastecer o helicóptero do deputado; o helicóptero foi apreendido no último domingo com 443 quilos de cocaína, em operação da Polícia Federal no Espírito Santo.
A aeronave está registrada em nome da Limeira Agropecuária, empresa pertencente ao deputado, a uma irmã, Carolina Perrella e a um primo, André Costa.  Ontem, o deputado prestou depoimento na Superintendência da Polícia Federal de Belo Horizonte. A pedido da PF no Espírito Santo, Perrella foi interrogado no inquérito aberto sobre a apreensão de cocaína da aeronave. Carolina Perrella também foi interrogada pela PF. Inicialmente, ambos na condição de testemunha.
Quatro pessoas estão presas preventivamente, entre eles o piloto do helicóptero, Rogério Antunes, que até a última segunda-feira ocupava cargo comissionado na Assembleia por indicação do deputado.  Pela prestação de contas da verba indenizatória da Assembleia, Gustavo Perrella gastou, em junho e setembro, cerca de R$ 3,5 mil em cada mês, com combustível para o helicóptero. Cada deputado recebe R$ 20 mil/mês de verba indenizatória, e R$ 5 mil são para gastos com combustíveis. 
Pelas regras da Casa, os deputados são obrigados a entregar a nota fiscal com o valor gasto no abastecimento. Mas a Casa não obriga a apresentação de um relatório indicando o dia, o local e a finalidade do uso do combustível. Cabe ao político, apenas, assinar documento anexado aos recibos confirmando que os gastos foram para o cumprimento de agenda política. 
O advogado do parlamentar, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, declarou que o deputado usava a aeronave, em 90% das vezes, para o trabalho político. Os outros 10%, conforme o advogado, eram para uso familiar e de lazer, e pagos particularmente. Responsável pelo inquérito, o promotor Eduardo Nepomuceno disse ontem que cabe ao deputado provar que não usou dinheiro público para fim particular. 
O depoimento de Perrella na PF durou  cerca de uma hora. O advogado tentou que o deputado fosse interrogado fora da delegacia, mas a PF não autorizou. No fim, Kakay declarou que seu cliente colaborou com a investigação:  — Ele respondeu todas as questões colocadas pelo delegado.

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