quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Educação: País avança, mas ainda está entre os piores

Educação: País avança, mas ainda está entre os piores

Brasil avança em matemática, mas segue entre os piores
Autor(es): Eduardo Vanini Lauro Neto
O Globo - 04/12/2013
 

 O Brasil foi o país que registrou, entre 65 nações, o maior avanço no desempenho de alunos de 15 anos em matemática de 2003 a 2012. E isso aconteceu ao mesmo tempo em que mais jovens pobres foram incluídos na escola, já que as taxas de matrícula nessa faixa etária cresceram de 65% parar 78%.
Toda essa melhoria, no entanto, não foi suficiente para tirar o país das últimas colocações do ranking do Pisa, exame elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e que compara o desempenho de alunos (em Matemática, o país ficou em 58°). Outro dado preocupante é que, em relação a 2009, a nota de Matemática do Brasil subiu apenas cinco pontos, a avaliação de leitura piorou dois pontos e, na de ciências, permaneceu no patamar idêntico.
 Isso deixa o país mais distante da meta governamental de alcançar, até 2022, o nível de qualidade médio da OCDE.  Neste ano, o foco do Pisa foi o ensino de matemática. Entre 2000 e 2013, a média dos alunos brasileiros nessa disciplina aumentou de 334 para 391 pontos. A média da OCDE é de 494. E a distância para os deres é ainda maior.
Na província de Xangai, na China, o desempenho médio dos alunos foi de 610 pontos. A distância em pontos ente alunos de Xangai e os brasileiros de 15 anos equivale a dizer, pela escala do Pisa, que os brasileiros precisariam de mais cinco anos letivos para alcançar os chineses. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, criticou essas comparações, uma vez que os estudantes submetidos ao exame em Xangai representam só 1,2% da população chinesa. 
O ministro também ponderou que, se for considerado o desempenho isolado da rede federal, a média dos alunos brasileiros no Pisa aumentaria de 391 para 485. Na rede particular brasileira, a média é de 462 e, na estadual, que atende a mais de  80% da população, fica em 380.  — o topo da escola pública, que são as federais, é igual à França, à Inglaterra e aos EUA — diz Mercadante.
MAIS JOVENS ESTUDANDO
De acordo com a OCDE, a melhora em matemática no Brasil se deve uma redução na proporção de estudantes de desempenho baixo (níveis 1 e 2 na escala do exame). Isso quer dizer esses alunos são capazes apenas de extrair informações relevantes de uma única fonte e usar algoritmos, fórmulas, procedimentos e convenções básicas para resolver problemas envolvendo números inteiros.
Em 2012, 67% dos alunos no país estavam nesse nível. Em 2003, eram 75%. Apenas 1,1% dos brasileiros tem rendimento de alto nível.  De acordo com a diretora-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz, por trás deste quadro está o fato de o país ainda estar incluindo jovens em sua rede de ensino, diferentemente de nações que já superaram este processo.
Segundo ela, chegou a hora de o Brasil colocar em prática políticas restruturantes.  — Nos últimos dez anos, houve a entrada de 425 mil jovens de 15 anos no sistema educacional. São pessoas provenientes da  parcela da população de menor renda no Brasil e que não tiveram acesso à educação infantil.
Eles tendem a puxar a média para baixo, porque estão engrossando a parcela de pessoas com baixo nível escolar nessa faixa etária. É como se a gente tivesse jovens na média 500 e colocasse vários com a média 300. Para se ter uma ideia, se não houvesse essa inclusão, o país teria crescido mais 44 pontos nesses dez anos e subiria sete posições no ranking — diz. 
Para o economista André Portela, da Fundação Getulio Vargas, apesar da estagnação, o país melhorou significativamente o desempenho se a base de comparação for a primeira prova, em 2000. Segundo ele, os ganhos de renda da população como um todo a partir de programas sociais como Bolsa Família estão por trás da melhora do desempenho na última década. 
Já o presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, tem leitura mais pessimista dos resultados. Para ele, os avanços foram poucos e não haveria razão para crer em melhoras no futuro,  muito menos na ambição de o Brasil alcançar em 2022 os padrões de qualidade educacional dos países da OCDE de hoje: — Não temos uma reforma educacional ampla. Não se faz educação com lei,  mas com políticas educacionais.

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