Educação: País avança, mas ainda está entre os piores
Brasil avança em matemática, mas segue entre os piores |
Autor(es): Eduardo Vanini Lauro Neto |
O Globo - 04/12/2013 |
O Brasil foi o país que registrou, entre 65 nações, o maior avanço no desempenho de alunos de 15 anos em matemática de 2003 a 2012. E isso aconteceu ao mesmo tempo em que mais jovens pobres foram incluídos na escola, já que as taxas de matrícula nessa faixa etária cresceram de 65% parar 78%.
Toda
essa melhoria, no entanto, não foi suficiente para tirar o país das
últimas colocações do ranking do Pisa, exame elaborado pela Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e que compara o
desempenho de alunos (em Matemática, o país ficou em 58°). Outro dado
preocupante é que, em relação a 2009, a nota de Matemática do Brasil
subiu apenas cinco pontos, a avaliação de leitura piorou dois pontos e,
na de ciências, permaneceu no patamar idêntico.
Isso
deixa o país mais distante da meta governamental de alcançar, até 2022,
o nível de qualidade médio da OCDE. Neste ano, o foco do Pisa foi o
ensino de matemática. Entre 2000 e 2013, a média dos alunos brasileiros
nessa disciplina aumentou de 334 para 391 pontos. A média da OCDE é de
494. E a distância para os deres é ainda maior.
Na
província de Xangai, na China, o desempenho médio dos alunos foi de 610
pontos. A distância em pontos ente alunos de Xangai e os brasileiros de
15 anos equivale a dizer, pela escala do Pisa, que os brasileiros
precisariam de mais cinco anos letivos para alcançar os chineses. O
ministro da Educação, Aloizio Mercadante, criticou essas comparações,
uma vez que os estudantes submetidos ao exame em Xangai representam só
1,2% da população chinesa.
O
ministro também ponderou que, se for considerado o desempenho isolado
da rede federal, a média dos alunos brasileiros no Pisa aumentaria de
391 para 485. Na rede particular brasileira, a média é de 462 e, na
estadual, que atende a mais de 80% da população, fica em 380. — o topo
da escola pública, que são as federais, é igual à França, à Inglaterra e
aos EUA — diz Mercadante.
MAIS JOVENS ESTUDANDO
De
acordo com a OCDE, a melhora em matemática no Brasil se deve uma
redução na proporção de estudantes de desempenho baixo (níveis 1 e 2 na
escala do exame). Isso quer dizer esses alunos são capazes apenas de
extrair informações relevantes de uma única fonte e usar algoritmos,
fórmulas, procedimentos e convenções básicas para resolver problemas
envolvendo números inteiros.
Em
2012, 67% dos alunos no país estavam nesse nível. Em 2003, eram 75%.
Apenas 1,1% dos brasileiros tem rendimento de alto nível. De acordo com
a diretora-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz, por trás
deste quadro está o fato de o país ainda estar incluindo jovens em sua
rede de ensino, diferentemente de nações que já superaram este processo.
Segundo
ela, chegou a hora de o Brasil colocar em prática políticas
restruturantes. — Nos últimos dez anos, houve a entrada de 425 mil
jovens de 15 anos no sistema educacional. São pessoas provenientes da
parcela da população de menor renda no Brasil e que não tiveram acesso à
educação infantil.
Eles
tendem a puxar a média para baixo, porque estão engrossando a parcela
de pessoas com baixo nível escolar nessa faixa etária. É como se a gente
tivesse jovens na média 500 e colocasse vários com a média 300. Para se
ter uma ideia, se não houvesse essa inclusão, o país teria crescido
mais 44 pontos nesses dez anos e subiria sete posições no ranking —
diz.
Para
o economista André Portela, da Fundação Getulio Vargas, apesar da
estagnação, o país melhorou significativamente o desempenho se a base de
comparação for a primeira prova, em 2000. Segundo ele, os ganhos de
renda da população como um todo a partir de programas sociais como Bolsa
Família estão por trás da melhora do desempenho na última década.
Já
o presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, tem
leitura mais pessimista dos resultados. Para ele, os avanços foram
poucos e não haveria razão para crer em melhoras no futuro, muito menos
na ambição de o Brasil alcançar em 2022 os padrões de qualidade
educacional dos países da OCDE de hoje: — Não temos uma reforma
educacional ampla. Não se faz educação com lei, mas com políticas
educacionais.
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