quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Acordo nuclear deflagra peregrinação ao Irã

Acordo nuclear deflagra peregrinação ao Irã

Autor(es): Renata Malkes
O Globo - 05/12/2013
 
Diplomatas e empresários correm para fechar negócios pós-sanções; Teerã envia chanceler a países do Golfo

As medidas que vão aliviar o isolamento do Irã ainda nem entraram em vigor, mas já provocam um entra-e-sai sem prece-dentes no aeroporto internacional Imam Khomeini, em Teerã. Embalado pela assinatura do acordo nuclear com as potências ocidentais, o govemo iraniano acelerou o trabalho e apostou em outra ofensiva diplomática — dessa vez, para se aproximar dos vizinhos árabes sunitas do Golfo Pérsico. Mas sem esquecer a economia. Enquanto o chanceler Mohammad Javad Za-rif partia para visitas a Qatar, Emirados Árabes, Kuwait e Omã, as chegadas a Teerã também registraram um ritmo frenético. Diplomatas, ministros e empresários de vários países voaram para a capital iraniana para fazer decolar, desde já, parcerias econômicas num futuro pós-sanções.
Uma peregrinação internacional ao Irã é o primeiro resultado concreto do acordo fechado há três semanas em Genebra. Ciente de que a política externa e as mazelas internas de uma economia que registra déficit de US$ 80 bi-Ihões estão atreladas, o presidente Hassan Rouhani tenta jogar nas duas frentes ao mesmo tempo.
— O governo está agindo com muita ousadia. Depois de 35 anos de isolamento, os iranianos não querem perder nenhuma oportunidade, seja para uma re-aproximação com a Arábia Saudita ou a volta de empresas petrolíferas ocidentais. Rouhani às vezes até parece um pouco perdido, sem foco ou prioridade, embora aliviar as sanções seja a base de toda sua política — constatou o pesquisador iraniano Rasool Nafisi, da Universidade Strayer, em Maryland, nos EUA.
BRASIL ESTUDA ENVIAR EMPRESÁRIOS
Tão logo as delegações anunciaram o acordo nuclear, a Rússia se apressou para anunciar seu interesse na retomada dos negócios da gigante petrolífera estatal Lukoil, segunda maior produto-ra de petróleo russa, no Irã. Um dia depois, a mais alta diplomata da índia, Sujatha Singh, se reuniu com o vice-chanceler iraniano, Ebrahim Rahim-pour, para acelerar a construção de um porto no Sul do Irã, em Chabahar — o que abriria caminho para os indianos rumo ao Afeganistão sem passar pelo rival e vizinho Paquistão; e, para o Irã, daria acesso ao mercado da índia.
Até vizinhos estremecidos, como o premier iraquiano, Nuri al-Maliki, foram a Teerã. A Turquia, que viu suas relações com a República Islâmica esfriarem por conta de divergências sobre a guerra civil síria, também percebeu a oportunidade: enviou rapidamente seu ministro das Finanças, Zafer Caglayan, com a promessa de que todos os bancos turcos poderão fazer transações com o Irã assim que as sanções forem relaxadas. Empresas francesas, como Peugeot e Renault, a alemã Volkswagen, a sul-coreana Kia e a japonesa Suzuki também despacharam executivos para uma feira automotiva no último sábado na capital iraniana.
Toda essa presença ocidental incomoda a alguns. Mas, ao menos por ora, o governo moderado de Rouhani não enfrenta oposição aberta em sua política de reaproximação — o que, junto com a necessidade de injetar recursos na economia, justificaria a ampla série de manobras diplomáticas ao mesmo tempo.
— Rouhani encontra resistência nas Guardas Revolucionárias, que temem perder privilégios. Mas por enquanto, ninguém se opôs a ele na prática. Rouhani e os ultraconservadores estão se testando para ver os limites — avaliou Rafisi.
Testes também acontecem fora das fronteiras iranianas. O jornalista Arash Karami, do site "al-Monitor" destaca que o presidente vem se resguardando de eventuais fracassos no exterior.
— Rouhani deu muitas responsabilidades ao chanceler, que conhece bem o Ocidente. Foi muito astuto deixar que Zarif testasse as águas internacionais para ver quem morde e quem não morde na diplomacia — disse Karami ao GLOBO.
Apesar de engatinhar nessa nova realidade, no Irã, as oportunidades parecem infinitas. E, segundo o embaixador brasileiro em Teerã, Santiago Mourão, estão na mira do Brasil. A previsão é que as exportações ao Irã, que chegaram no ano passado de US$ 2,2 bilhões, cresçam. Para o diplomata, a prioridade do govemo Rouhani num primeiro momento foi a melhoria das relações com os EUA e a Europa; agora é a vez dos países do Golfo Pérsico e, num terceiro momento, provavelmente já em 2014, o radar dos iranianos chegará, finalmente, à América Latina.
— É um momento importante, em que o Irã está voltando à comunidade internacional. Temos relações sólidas e percebemos a abertura, a aproximação. Há muita " expectativa do setor empresarial e da própria população. Estamos pensando em trazer ao uma missão empresarial brasileira no próximo ano. Os brasileiros aindajgj não reagiram, estão cautelosos, pois at grande dificuldade é a transferência de xeM cursos — afirmou o embaixador.
O Irã também se prepara para retomar§ seus níveis de exportação de petróleo pré--sanções: 2,5 milhões de barris por dia. E|| em outro flerte com o Ocidente, em Viena, ontem, a diplomacia iraniana aproveitou/ uma reunião da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep) para sinalizar que está de braços abertos para receber sete petrolíferas estrangeiras (Total/ França; Shell/anglo-holandesa; ENI/Itá-lia; Statoil/Noruega; BP/Reino Unido; Ex-.; xon Mobil e ConocoPhillips/EUA). §§
CHANCE DE VISITA À ARÁBIA SAUDITA f
O interesse do mundo no Irã, porém/; não é menor que o interesse do próprio/ Irã no resto do mundo — principalmen-f ; te nos vizinhos árabes, com quem os f persas mantêm histórica rivalidade eco-f nômica, étnica, política e cultural. Nos| últimos dias, numa ofensiva diplomática? calculada, o chanceler Mohammad Ja-f vad Zarif, fez um raríssimo giro pelo Golfo. Visitou Kuwait, Qatar, os Emirados1 Árabes Unidos e Omã. E reforçou rumores de que uma visita a Arábia Saudita, a potência sunita maior rival do Irã xiita, pode acontecer num futuro próximo.
— Nós vemos a Arábia Saudita como um país regional importante e influente. Estamos trabalhando para reforçar a cooperação pelo bem da região. Estou pronto para ir a Arábia Saudita, é apenas uma questão de encontrar um tempo mutuamente conveniente — declarou Zarif
Se confirmada, essa visita enterra de vez a velha ordem de alianças vigente nas últimas três décadas no Oriente Médio.
— É uma grande saída do ciclo dos últimos anos — garantiu Karami.
Só não se sabe ainda para onde.
nobras diplomáticas ao mesmo tempo.
— Rouhani encontra resistência nas Guardas Revolucionárias, que temem perder privilégios. Mas por enquanto, ninguém se opôs a ele na prática. Rouhani e os ultraconservadores estão se testando para ver os limites — avaliou Rafisi.
Testes também acontecem fora das fronteiras iranianas. O jornalista Arash Karami, do site "al-Monitor" destaca que o presidente vem se resguardando de eventuais fracassos no exterior.
— Rouhani deu muitas responsabilidades ao chanceler, que conhece bem o Ocidente. Foi muito astuto deixar que Za-rif testasse as águas internacionais para ver quem morde e quem não morde na diplomacia — disse Karami ao GLOBO.
Apesar de engatinhar nessa nova realidade, no Irã, as oportunidades parecem infinitas. E, segundo o embaixador brasileiro em Teerã, Santiago Mourão, estão na mira do Brasil. A previsão é que as exportações ao Irã, que chegaram no ano passado de US$ 2,2 bilhões, cresçam. Para o diplomata, a prioridade do govemo Rouhani num primeiro momento foi a melhoria das relações com os EUA e a Europa; agora é a vez dos países do Golfo Pérsico e, num terceiro momento, provavelmente já em 2014, o radar dos iranianos chegará, finalmente, à América Latina.
— É um momento importante, em que o Irã está voltando à comunidade interna-; cional. Temos relações sólidas e percebemos a abertura, a aproximação. Há muita " expectativa do setor empresarial e da própria população. Estamos pensando em trazer ao uma missão empresarial brasileira no próximo ano. Os brasileiros ainda não reagiram, estão cautelosos, pois at grande dificuldade é a transferência de recursos — afirmou o embaixador.
O Irã também se prepara para retomar seus níveis de exportação de petróleo pré-sanções: 2,5 milhões de barris por dia. E em outro flerte com o Ocidente, em Viena, ontem, a diplomacia iraniana aproveitou uma reunião da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep) para sinalizar que está de braços abertos para receber sete petrolíferas estrangeiras (Total/ França; Shell/anglo-holandesa; ENI/Itália; Statoil/Noruega; BP/Reino Unido; Exxon Mobil e ConocoPhillips/EUA).
CHANCE DE VISITA À ARÁBIA SAUDITA
O interesse do mundo no Irã, porém; não é menor que o interesse do próprio Irã no resto do mundo — principalmente nos vizinhos árabes, com quem os persas mantêm histórica rivalidade econômica, étnica, política e cultural. Nos últimos dias, numa ofensiva diplomática calculada, o chanceler Mohammad Javad Zarif, fez um raríssimo giro pelo Golfo. Visitou Kuwait, Qatar, os Emirados Árabes Unidos e Omã. E reforçou rumores de que uma visita a Arábia Saudita, a potência sunita maior rival do Irã xiita, pode acontecer num futuro próximo.
— Nós vemos a Arábia Saudita como um país regional importante e influente. Estamos trabalhando para reforçar a cooperação pelo bem da região. Estou pronto para ir a Arábia Saudita, é apenas uma questão de encontrar um tempo mutuamente conveniente — declarou Zarif
Se confirmada, essa visita enterra de vez a velha ordem de alianças vigente nas últimas três décadas no Oriente Médio.
— É uma grande saída do ciclo dos últimos anos — garantiu Karami.
Só não se sabe ainda para onde.

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