Acordo nuclear deflagra peregrinação ao Irã
Autor(es): Renata Malkes |
O Globo - 05/12/2013 |
Diplomatas e empresários correm para fechar negócios pós-sanções; Teerã envia chanceler a países do Golfo
As medidas que vão aliviar o isolamento do Irã ainda nem entraram em vigor, mas já provocam um entra-e-sai sem prece-dentes no aeroporto internacional Imam Khomeini, em Teerã. Embalado pela assinatura do acordo nuclear com as potências ocidentais, o govemo iraniano acelerou o trabalho e apostou em outra ofensiva diplomática — dessa vez, para se aproximar dos vizinhos árabes sunitas do Golfo Pérsico. Mas sem esquecer a economia. Enquanto o chanceler Mohammad Javad Za-rif partia para visitas a Qatar, Emirados Árabes, Kuwait e Omã, as chegadas a Teerã também registraram um ritmo frenético. Diplomatas, ministros e empresários de vários países voaram para a capital iraniana para fazer decolar, desde já, parcerias econômicas num futuro pós-sanções.
Uma
peregrinação internacional ao Irã é o primeiro resultado concreto do
acordo fechado há três semanas em Genebra. Ciente de que a política
externa e as mazelas internas de uma economia que registra déficit de
US$ 80 bi-Ihões estão atreladas, o presidente Hassan Rouhani tenta jogar
nas duas frentes ao mesmo tempo.
—
O governo está agindo com muita ousadia. Depois de 35 anos de
isolamento, os iranianos não querem perder nenhuma oportunidade, seja
para uma re-aproximação com a Arábia Saudita ou a volta de empresas
petrolíferas ocidentais. Rouhani às vezes até parece um pouco perdido,
sem foco ou prioridade, embora aliviar as sanções seja a base de toda
sua política — constatou o pesquisador iraniano Rasool Nafisi, da
Universidade Strayer, em Maryland, nos EUA.
BRASIL ESTUDA ENVIAR EMPRESÁRIOS
Tão
logo as delegações anunciaram o acordo nuclear, a Rússia se apressou
para anunciar seu interesse na retomada dos negócios da gigante
petrolífera estatal Lukoil, segunda maior produto-ra de petróleo russa,
no Irã. Um dia depois, a mais alta diplomata da índia, Sujatha Singh, se
reuniu com o vice-chanceler iraniano, Ebrahim Rahim-pour, para acelerar
a construção de um porto no Sul do Irã, em Chabahar — o que abriria
caminho para os indianos rumo ao Afeganistão sem passar pelo rival e
vizinho Paquistão; e, para o Irã, daria acesso ao mercado da índia.
Até
vizinhos estremecidos, como o premier iraquiano, Nuri al-Maliki, foram a
Teerã. A Turquia, que viu suas relações com a República Islâmica
esfriarem por conta de divergências sobre a guerra civil síria, também
percebeu a oportunidade: enviou rapidamente seu ministro das Finanças,
Zafer Caglayan, com a promessa de que todos os bancos turcos poderão
fazer transações com o Irã assim que as sanções forem relaxadas.
Empresas francesas, como Peugeot e Renault, a alemã Volkswagen, a
sul-coreana Kia e a japonesa Suzuki também despacharam executivos para
uma feira automotiva no último sábado na capital iraniana.
Toda
essa presença ocidental incomoda a alguns. Mas, ao menos por ora, o
governo moderado de Rouhani não enfrenta oposição aberta em sua política
de reaproximação — o que, junto com a necessidade de injetar recursos
na economia, justificaria a ampla série de manobras diplomáticas ao
mesmo tempo.
—
Rouhani encontra resistência nas Guardas Revolucionárias, que temem
perder privilégios. Mas por enquanto, ninguém se opôs a ele na prática.
Rouhani e os ultraconservadores estão se testando para ver os limites —
avaliou Rafisi.
Testes
também acontecem fora das fronteiras iranianas. O jornalista Arash
Karami, do site "al-Monitor" destaca que o presidente vem se
resguardando de eventuais fracassos no exterior.
—
Rouhani deu muitas responsabilidades ao chanceler, que conhece bem o
Ocidente. Foi muito astuto deixar que Zarif testasse as águas
internacionais para ver quem morde e quem não morde na diplomacia —
disse Karami ao GLOBO.
Apesar
de engatinhar nessa nova realidade, no Irã, as oportunidades parecem
infinitas. E, segundo o embaixador brasileiro em Teerã, Santiago Mourão,
estão na mira do Brasil. A previsão é que as exportações ao Irã, que
chegaram no ano passado de US$ 2,2 bilhões, cresçam. Para o diplomata, a
prioridade do govemo Rouhani num primeiro momento foi a melhoria das
relações com os EUA e a Europa; agora é a vez dos países do Golfo
Pérsico e, num terceiro momento, provavelmente já em 2014, o radar dos
iranianos chegará, finalmente, à América Latina.
—
É um momento importante, em que o Irã está voltando à comunidade
internacional. Temos relações sólidas e percebemos a abertura, a
aproximação. Há muita " expectativa do setor empresarial e da própria
população. Estamos pensando em trazer ao uma missão empresarial
brasileira no próximo ano. Os brasileiros aindajgj não reagiram, estão
cautelosos, pois at grande dificuldade é a transferência de xeM cursos —
afirmou o embaixador.
O
Irã também se prepara para retomar§ seus níveis de exportação de
petróleo pré--sanções: 2,5 milhões de barris por dia. E|| em outro
flerte com o Ocidente, em Viena, ontem, a diplomacia iraniana
aproveitou/ uma reunião da Organização dos Países Produtores de Petróleo
(Opep) para sinalizar que está de braços abertos para receber sete
petrolíferas estrangeiras (Total/ França; Shell/anglo-holandesa;
ENI/Itá-lia; Statoil/Noruega; BP/Reino Unido; Ex-.; xon Mobil e
ConocoPhillips/EUA). §§
CHANCE DE VISITA À ARÁBIA SAUDITA f
O
interesse do mundo no Irã, porém/; não é menor que o interesse do
próprio/ Irã no resto do mundo — principalmen-f ; te nos vizinhos
árabes, com quem os f persas mantêm histórica rivalidade eco-f nômica,
étnica, política e cultural. Nos| últimos dias, numa ofensiva
diplomática? calculada, o chanceler Mohammad Ja-f vad Zarif, fez um
raríssimo giro pelo Golfo. Visitou Kuwait, Qatar, os Emirados1 Árabes
Unidos e Omã. E reforçou rumores de que uma visita a Arábia Saudita, a
potência sunita maior rival do Irã xiita, pode acontecer num futuro
próximo.
—
Nós vemos a Arábia Saudita como um país regional importante e
influente. Estamos trabalhando para reforçar a cooperação pelo bem da
região. Estou pronto para ir a Arábia Saudita, é apenas uma questão de
encontrar um tempo mutuamente conveniente — declarou Zarif
Se confirmada, essa visita enterra de vez a velha ordem de alianças vigente nas últimas três décadas no Oriente Médio.
— É uma grande saída do ciclo dos últimos anos — garantiu Karami.
Só não se sabe ainda para onde.
nobras diplomáticas ao mesmo tempo.
—
Rouhani encontra resistência nas Guardas Revolucionárias, que temem
perder privilégios. Mas por enquanto, ninguém se opôs a ele na prática.
Rouhani e os ultraconservadores estão se testando para ver os limites —
avaliou Rafisi.
Testes
também acontecem fora das fronteiras iranianas. O jornalista Arash
Karami, do site "al-Monitor" destaca que o presidente vem se
resguardando de eventuais fracassos no exterior.
—
Rouhani deu muitas responsabilidades ao chanceler, que conhece bem o
Ocidente. Foi muito astuto deixar que Za-rif testasse as águas
internacionais para ver quem morde e quem não morde na diplomacia —
disse Karami ao GLOBO.
Apesar
de engatinhar nessa nova realidade, no Irã, as oportunidades parecem
infinitas. E, segundo o embaixador brasileiro em Teerã, Santiago Mourão,
estão na mira do Brasil. A previsão é que as exportações ao Irã, que
chegaram no ano passado de US$ 2,2 bilhões, cresçam. Para o diplomata, a
prioridade do govemo Rouhani num primeiro momento foi a melhoria das
relações com os EUA e a Europa; agora é a vez dos países do Golfo
Pérsico e, num terceiro momento, provavelmente já em 2014, o radar dos
iranianos chegará, finalmente, à América Latina.
—
É um momento importante, em que o Irã está voltando à comunidade
interna-; cional. Temos relações sólidas e percebemos a abertura, a
aproximação. Há muita " expectativa do setor empresarial e da própria
população. Estamos pensando em trazer ao uma missão empresarial
brasileira no próximo ano. Os brasileiros ainda não reagiram, estão
cautelosos, pois at grande dificuldade é a transferência de recursos —
afirmou o embaixador.
O
Irã também se prepara para retomar seus níveis de exportação de
petróleo pré-sanções: 2,5 milhões de barris por dia. E em outro flerte
com o Ocidente, em Viena, ontem, a diplomacia iraniana aproveitou uma
reunião da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep) para
sinalizar que está de braços abertos para receber sete petrolíferas
estrangeiras (Total/ França; Shell/anglo-holandesa; ENI/Itália;
Statoil/Noruega; BP/Reino Unido; Exxon Mobil e ConocoPhillips/EUA).
CHANCE DE VISITA À ARÁBIA SAUDITA
O
interesse do mundo no Irã, porém; não é menor que o interesse do
próprio Irã no resto do mundo — principalmente nos vizinhos árabes, com
quem os persas mantêm histórica rivalidade econômica, étnica, política e
cultural. Nos últimos dias, numa ofensiva diplomática calculada, o
chanceler Mohammad Javad Zarif, fez um raríssimo giro pelo Golfo.
Visitou Kuwait, Qatar, os Emirados Árabes Unidos e Omã. E reforçou
rumores de que uma visita a Arábia Saudita, a potência sunita maior
rival do Irã xiita, pode acontecer num futuro próximo.
—
Nós vemos a Arábia Saudita como um país regional importante e
influente. Estamos trabalhando para reforçar a cooperação pelo bem da
região. Estou pronto para ir a Arábia Saudita, é apenas uma questão de
encontrar um tempo mutuamente conveniente — declarou Zarif
Se confirmada, essa visita enterra de vez a velha ordem de alianças vigente nas últimas três décadas no Oriente Médio.
— É uma grande saída do ciclo dos últimos anos — garantiu Karami.
Só não se sabe ainda para onde.
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