quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Fôlego curto na indústria

Fôlego curto na indústria

O Globo - 12/12/2013
 

Após cinco meses de queda, emprego cresce 0,1% no setor, mas não garante retomada
Após cinco meses de recuo, o emprego na indústria parou de cair. O total do pessoal ocupado nas fábricas avançou 0,1% em outubro, frente a setembro, segundo dados divulgados ontem pelo IBGE. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, no entanto, o indicador registrou a 25° queda consecutiva, de 1,7%. No acumulado do ano, a queda é de 1%. Mesmo com a reação no último mês, a expectativa entre especialistas é de que o emprego industrial só voltará a crescer quando a recuperação na produção industrial se consolidar.
O recuo no emprego em outubro ocorre quando a atividade na indústria começou a reagir, num ano de oscilações. A produção subiu 0,6% em outubro, terceira alta seguida frente ao mês anterior, num sinal de recuperação, ainda que moderada, após um 2013 de gangorra. No ano, a produção industrial acumula alta de 1,5%.
A pesquisadora do Ipea Maria Andréia Lameiras explica o descompasso entre a produção industrial e o emprego:
— Quando a produção começou a cair, em 2011 e 2012, o emprego se manteve estável. O empresário reteve a mão de obra achando que o recuo seria temporário. Mas a recuperação da produção demorou muito e o emprego na indústria acabou caindo também, embora em menor intensidade. Agora, vemos uma inversão. A produção começou a reagir, mas o emprego ainda está sob impacto — afirma Andréia.
QUEDA EM 13 DE 18 RAMOS INDUSTRIAIS
O professor de Estratégia da Fundação Dom Cabral Paulo Vicente dos Santos Alves lembra que há um período entre a retomada na produção e o início de contratação. Por isso, o que pode estar ocorrendo é um crescimento da produção a partir do uso da capacidade ociosa da indústria.
— Agora, a indústria começa a crescer, mas, por enquanto, pode não ser necessário contratar pessoal porque a mão de obra ficou com algum nível de ociosidade — diz, por sua vez, o pesquisador do Ipea Leonardo Carvalho.
Para o economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, há uma expectativa de queda no emprego industrial em 2013 devido à retomada modesta da atividade econômica e à falta de confiança dos empresários:
— A despeito da desoneração da folha de pagamento e incentivos do governo, não vemos recuperação. A produção vem em um ritmo um pouco melhor que no ano passado graças ao câmbio mais valorizado e a ganhos de competitividade e de produtividade.
Em outubro, o total do pessoal ocupado recuou em 13 dos 18 ramos pesquisados na comparação com igual mês do ano passado, com destaque para produtos de metal (5,7%), máquinas e aparelhos eletrônicos (5,1%), máquinas e equipamentos (3,5%), calçados e couro (5,2%), outros produtos da indústria de transformação (3,8%) e produtos têxteis (3,6%).
O número de horas pagas na indústria, por sua vez, avançou 0,3% entre setembro e outubro, enquanto a folha de pagamento real recuou 0,8%. Frente a outubro de 2012, houve queda de 2% e avanço de 1,2%, respectivamente.
— (O avanço de 0,1%) é melhor do que uma nova queda, claro, mas o algo novo é apenas que parou de cair (o nível de emprego na indústria). É um resultado pontual. Ainda não dá para saber se há uma nova trajetória. O perfil dos recuos continua bem disseminado entre os setores — diz o gerente da coordenação de Indústria do IBGE, André Macedo,
REAÇÃO A VISTA
Estudo feito pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) aponta que, em dez dos 18 segmentos da indústria, o número de ocupados caiu em 2012 e esta queda se manteve nos dez primeiros meses de 2013. O setor têxtil registrou recuo de 5,9% do pessoal ocupado no ano passado e de 3,8% no período entre janeiro e outubro de 2013. No vestuário, essas quedas foram de 8,9% e 2,9%, respectivamente. As taxas foram negativas em 6,2% e 5,3% no setor de calçados e couros e em 8% e 5,2% no de madeira.
— O emprego acabou não resistindo ao comportamento errático da produção industrial — aponta o economista chefe do Iedi, Rogério César de Souza.
A expectativa dos especialistas é de alguma reação na geração de empregos da indústria, assim que a produção consolidar sua tendência de crescimento:
—    Este 0,1% de alta em outubro já pode ser um indício de reação. A produção industrial está começando a retomar uma trajetória de recuperação e isso pode se refletir no emprego mais à frente — diz Andréia.
Para Souza, do Iedi, o emprego deve começar a reagir se a produção industrial mantiver um crescimento consistente por três a cinco meses. A projeção do Iedi é de um crescimento em torno de 2% da produção industrial em 2013 e de até 2,5% em 2014. lá Fernanda Guardado, da Brasil Plural, não espera uma melhora no ano que vem. Ela acha que a recuperação da indústria ao longo de 2013 perde fôlego. (Colaborou Márcio Beck)

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