Caminhos fechados no Mercosul
Autor(es): Walter Soto |
O Globo - 06/12/2013 |
Livre
circulação de mercadorias entre os países-membros era o principal
objetivo do Mercosul quando Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai
assinaram o Tratado de Assunção, em 1991. No entanto, o cenário atual
enfrentado pelos países do bloco é composto por entraves econômicos,
políticos e cambiais. Tal situação diminui a atividade setorial,
refletindo especificamente em logística e transporte internacional.
Pela
ideia inicial, o livre comércio deveria simplificar o transporte,
gerando oportunidades, ampliando o campo de trabalho e dando mais
perspectivas desenvolvimento para as empresas. Mas os controles nos
diferentes setores das economias dos membros com a finalidade de
protegê-las do próprio bloco é uma situação que contradiz a origem desta
criação.
Antes
da vigência total haveria um período de ajuste buscando uma redução
gradual de tarifas alfandegárias, permitindo uma adaptação competitiva.
Esta etapa deveria ter-se encerrado em 1995, mas foi prorrogada, já que
começou a surgir na Argentina pressão contra a entrada em massa de
produtos brasileiros. E esse protecionismo perdura até hoje — de maneira
mais agressiva, inclusive — causando impacto direto nos volumes
comercializados e, claro, não é um bom negócio para o setor de
logística.
Outro
importante desafio a ser superado está nos controles alfandegários,
hoje um dos maiores — se não o maior — empecilhos à produtividade das
transportadoras atuantes na região. A demora nas autorizações de
importação II (Licença de Importação) e Dajai (Declaração Jurada
Antecipada de Importação) têm afetado diretamente o custo.
O
tempo de operação do transporte, que era de sete dias, leva agora 14.
Ou seja, a unidade que fazia duas viagens completas no mês agora faz
uma. E nesse mercado a eficiência é um diferencial e o timing um fator
de impacto imediato.
Outro
obstáculo é enfrentado quando as cargas chegam aos portos, em situação
precária devido à falta de investimento, em toda a região. É importante
ressaltar que, para que um acordo de livre comércio funcione, além das
questões econômicas, políticas e cambiais, é preciso haver
infraestrutura.
A
saída para que o Mercosul cumpra seu papel é superar as diferenças
comerciais e também políticas, visto que os próprios governos geram
travas gradativamente. Sua concepção original é servir de solução para
potencializar a região, fortalecer o comércio entre os países-membros e
defender nosso produto para ascender a outros mercados.
O
Mercosul, em seu atual modelo, é útil para o país, mas não nos basta. É
necessário estarmos atentos à reorganização das forças produtivas que
está acontecendo pelo mundo. Sem novos acordos comerciais, o Brasil
corre o risco de ficar de fora das cadeias internacionais. Agora, além
de resolver os problemas que já existem, está mais que na hora de pensar
na integração da indústria nacional às cadeias produtivas globais.
Walter Soto é diretor da Coopercarga para o Mercosul
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