Socialista obteve mais de 60% dos votos; entre as promessas estão ensino gratuito e reforma tributária
A
candidata socialista Michelle Bachelet foi eleita a nova presidente do
Chile com ampla vantagem. Com 98,16% das umas apuradas até o início da
noite de ontem, Bachelet tinha 62,2% dos votos contra 37,8% da candidata
governista Evelyn Matthei. Bachelet, que governou o país de 2006 a
2010, planeja uma ampla agenda de reformas. Ela propõe instituir um
sistema educacional gratuito e promover uma reforma tributária para
bancar as mudanças no ensino. Bachelet também quer elevar o valor das
aposentadorias e mudar o sistema eleitoral. Mas o baixo comparecimento
de eleitores às urnas pode dificultar a aprovação da reforma
constitucional, segundo analistas políticos.
Michelle
Bachelet, líder da coalizão Nova Maioria, foi eleita ontem a nova
presidem te do Chile em um segundo turno marcado pelo baixo
comparecimento da população. A socialista, que já governou o país de
2006 a 2010, derrotou a conservadora Evelyn Matthei por uma diferença
expressiva de votos - com 98,16% das urnas apuradas, Bachelet tinha
62,2%, contra 37,8% de Matthei.
A
conservadora reconheceu a derrota no início da noite. "Meu desejo mais
honesto e profundo é que tudo vá bem para ela. Ninguém que ame o Chile
pode desejar o contrário", afirmou.
A
presidente eleita participou ontem de uma comemoração em frente ao
hotel onde estava seu comando de campanha na capital, Santiago. Diante
do local, um palco foi montado e militantes começaram a chegar assim que
os primeiros resultados foram divulgados.
"Ganhou
a chefa! A que saber mandar. A outra não sabe nada!", disse o inspetor
de transporte coletivo José Riquelme, de 44 anos. "É um grande triunfo
para o povo chileno. Uma alegria enorme", afirmou o mecânico Marco
Llanor, de 57 anos, que veio para a comemoração com o filho, a nora e a
neta.
Um
vídeo em que Bachelet era entrevistada por correligionários foi exibido
no telão do palco. "Serei a presidente de todos os chilenos e todas as
chilenas", disse a socialista.
A
votação que confirmou a vantagem dada por pesquisas a Bachelet, no
entanto, teve um comparecimento muito baixo. As filas que os chilenos
enfrentaram para votar em 17 novembro não se repetiram no segundo turno
da disputa.
Foram as primeiras eleições presidenciais no Chile sem voto
obrigatório. No primeiro turno, pouco menos da metade dos votantes
registrados foram às urnas: 6,7 milhões, em um universo de 13,5 milhões.
Os números do segundo turno ainda não foram divulgados.
Desencanto.
Nos centros de votação visitados pelo Estado em Santiago ontem, o
movimento erabaixo. No Estádio Nacional do Chile, onde longas filas se
formaram em novembro, não havia espera para votar. As urnas, de vidro
emoldurado, tinham poucos votos às 13 horas - e uma mesária dormia sobre
os registros de votação.
"Tem
muito menos gente. No primeiro turno, esperei meia hora na fila, hoj e
(ontem), não esperei nenhum minuto. O desencanto é muito grande com a
classe política", afirmou o administrador de hotéis Cris-tián Verdugo,
de 50 anos.
"Como
agora o voto é voluntário, as pessoas deixaram de lado o
comprometimento cívico, pois não existe mais essa obrigatoriedade",
disse a dona de casa Natacha Moran, de 63 anos, após votar.
A
mesma impressão tinham os eleitores que votavam em centros eleitorais
que concentravam menos mesas. "Da outra vez, esperei uma hora. Hoje
(ontem), não demorei nem três minutos. O voto deveria voltar a ser
obrigatório", afirmou o motorista de ônibus Angel Arias, de 55 anos.
Analistas
políticos chilenos ressaltam que uma baixa participação prejudicará
Bachelet na implementação de suas principais promessas de campanha. Com a
maioria que possui no Parlamento, de 55% nas duas Casas, sua coalizão
tem votos suficientes para aprovar suas principais medidas - como a
criação de um sistema educacional gratuito e de qualidade e uma reforma
tributária que bancaria as mudanças na educação.
Para
conseguir aprovar a reforma constitucional que pretende fazer, porém, a
socialista precisará cooptar parlamentares da oposição, em busca da
maioria qualificada necessária - para tanto, um grande número de votos
do eleitorado chileno. daria a ela o cacife político necessário para
convencer os conservadores a apoiá-la.
Diálogo. "Este
é um dia muito importante. Espero que as pessoas possam participar e,
com o seu voto, dar uma clara expressão de qual é o Chile em que
queremos continuar vivendo.
Do
ceticismo não se produzem as mudanças de que precisamos", afirmou
Bachelet pouco após votar, na manhã de ontem, no Colégio Enrique
Teresiano Ossó.
Evelyn
Matthei adotou discurso conciliador. Pouco antes de votar, a candidata
conservadora já havia reconhecido que uma vitória seria quase
impossível. "Vou pedir diálogo a ela.
Que
não haja arrogância de ne-! nhum lado", disse Matthei à emissora TVN.
Ela afirmou que seria um "milagre" se ela fosse eleita. "Pela maneira
que começamos, na última hora (...), seria uma façanha (vencer)."
A
ex-dirigente estudantil Camila Vallejo, eleita deputada pelo Partido
Comunista em novembro, pediu que o voto se torne obrigatório novamente
no Chile. "Sou partidária da volta ao voto obrigatório, de que todos
estejamos automaticamente inscritos nos registros eleitorais e tenhamos a
obrigação de votar — mas, se não quisermos, possamos nos retirar do
registro", disse no Estádio Bicentenário, onde votou ontem.
Agressão.
O ex-candidato conservador à presidência chilena Pablo Longueira, que
abandonou a disputa 16 dias após vencer as primárias da Aliança, em
julho, foi agredido na manhã de ontem quando foi votar.
De
acordo com a polícia, quatro pessoas foram detidas após cuspir no
político gritou palavras de ordem contra ele. Poucos minutos depois,
Matthei negou ao mesmo centro eleitoral para votar e, enquanto falava
com a imprensa, foi interrompida por uma mulher que gritava críticas
contra a candidata. Matthei pediu que ela falasse depois e não
interrompesse o trabalho dos jornalistas.
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