Ruim até entre emergentes
Autor(es): Leonardo Vieira Eduardo Vanini |
O Globo - 05/12/2013 |
Brasil tem só quatro universidades entre as 100 melhores dos Brics e de países em desenvolvimento
Um dos países que formam os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e dono da 6ª. maior economia do mundo, o Brasil não tem nenhuma universidade entre as dez melhores de 22 países emergentes, segundo um ranking internacional feito pela consultoria britânica de educação superior Times Higher Education (THE).
A
inédita pesquisa “Brics & Economias Emergentes” gerou uma lista das
cem instituições mais fortes das nações em desenvolvimento. Para o
estudo, a THE levou em conta não só os cinco membros dos Brics, mas
também 17 outras economias emergentes. Das cem instituições de ensino da
lista, apenas quatro são brasileiras.
A
melhor posicionada no ranking entre as nacionais é a USP, em 11° lugar,
seguida pela Unicamp, em 24°. Bem mais abaixo na tabela estão as
outras duas universidades brasileiras: UFRJ, em 60°, e Universidade
Estadual Paulista (Unesp), em 87°. No topo da lista, nenhuma surpresa.
Além
de ostentar as duas primeiras colocações, com a Universidade de Pequim e
a Universidade de Tsinghua, respectivamente, a China é o país com maior
número de instituições da lista, com 23. Sua vizinha Taiwan vem em
seguida, acumulando 21 universidades dentre as cem.
Numa
comparação entre as nações que compõem os Brics, depois dos chineses,
os indianos aparecem com dez instituições, seguidos pela África do Sul,
com cinco universidades, pelo Brasil, com quatro nomes, e pela Rússia,
com duas instituições.
DESEMPENHO DECEPCIONANTE DO BRASIL
Para
o editor da THE, Phil Baty, o desempenho do Brasil não condiz com o
tamanho de sua economia. Mesmo elogiando o programa federal Ciência sem
Fronteiras que dá bolsas de intercâmbios para brasileiros estudarem
no exterior, e dizendo que o programa pode gerar indicadores positivos
em longo prazo, Baty definiu o resultado nacional como “decepcionante”.
Segundo
ele, os pontos fracos das universidades brasileiras estão na pesquisa e
na publicação de artigos em inglês, fatos que estariam entrelaçados: —
As pesquisas do Brasil não têm o mesmo impacto que alguns concorrentes
dos Brics. Não são tão amplamente lidas e compartilhadas, o que sugere
que sejam de qualidade inferior.
E
parte do problema pode ser a falta do inglês: muitos países adotaram a
publicação em língua inglesa para garantir que a investigação seja
compartilhada e compreendida em todo o mundo, e que suas universidades
recebam o devido reconhecimento pelo seu trabalho inovador — ressalta o
editor da THE.
A
pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa da UFRJ, Debora Foguel,
comemorou a presença da instituição no ranking, mas não deixou de
salientar como o ensino no Brasil precisa evoluir: — o país ainda não
tem uma política destinada a colocar suas universidades entre as
seletas instituições de classe mundial. Há gargalos que precisamos
encarar. E um dos principais deles está justamente relacionado à
pesquisa. A disponibilização de recursos voltados diretamente a essa
área ainda não é uma realidade nas universidades federais.
Precisamos
investir maciçamente nisso — comentou. o reitor da USP, João Grandino
Rodas destacou que o fato de se tratar de uma universidade onde se fala
um idioma que não é internacional dificulta o alcance das primeiras
posições em rankings. Entretanto, medidas adotadas recentemente devem
mudar esse quadro.
—
Criamos o programa USP Internacional, para fortalecer a presença da
universidade no exterior. Também foi estabelecido um programa de bolsas
de intercâmbio para alunos de graduação, no qual mais de dois mil
estudantes tiveram oportunidade de desenvolver atividades acadêmicas em
instituições estrangeiras.
Esse
projeto abrange as não contempladas pelo Ciência sem Fronteiras —
mencionou. Entre os Brics, o Brasil tem a segunda maior economia do
grupo, somente atrás dos chineses. Entretanto, essa realidade segue em
descompasso com os indicadores educacionais. Segundo o professor de
Relações Internacionais da PUC—Rio João Nogueira, que é membro do Brics
Policy Center, isso acontece porque os resultados na Educação dependem
de políticas públicas consistentes e de longo prazo.
—
Os chineses há muito têm priorizado o crescimento rápido do ensino
superior como caminho para estimular a inovação e enfrentar os problemas
futuros de oferta de mão de obra. Dezenas de milhares de estudantes de
países como a Coreia do Sul vão estudar nas universidades chinesas
atualmente.
Ao
lado da ampliação do sistema, a China investiu na qualificação de seus
pesquisadores em centros de excelência no exterior, com os resultados
que vemos nas pesquisas. No caso brasileiro, o dinamismo econômico não
foi suficiente para vencer a complacência de seus governantes quando se
trata de Educação, tratada mais como política social do que como
estratégia associada ao desenvolvimento do país — concluiu.
Por
continente, África e Américas aparecem com nove universidades cada.
Para a consultoria, o grande destaque do ranking ficou com a Turquia,
que não só tem sete instituições na lista como também três delas
aparecem dentre as dez primeiras: Universidade de Boaziçi (5°),
Universidade Técnica de Istambul (7°) e Universidade Técnica do Oriente
Médio (9°).
PESQUISA CONSIDERA 13 INDICADORES
Assim
como em outros rankings elaborados pela Times Higher Education, a
metodologia da pesquisa foi baseada em 13 indicadores divididos entre as
seguintes áreas: “ensino” (30% da pontuação geral do ranking) leva em
consideração qualidade e reputação do ensino praticado; “pesquisa” (30%)
mede a relevância das pesquisas desenvolvidas; “citações” (30%) é a
frequência com que trabalhos da universidade são apresentados em
pesquisas ao redor do mundo; “presença na indústria” (2,5%) mede a
utilização de tecnologias e ideias desenvolvidas pelas universidades nas
indústrias; e “perspectiva internacional” (7,5%) leva em consideração a
diversidade de alunos de diferentes origens dentro da universidade.
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