Pós-crise global: BC dos EUA reduz os estímulos
EUA vão retirar estímulos |
Autor(es): Flávia Barbosa |
O Globo - 19/12/2013 |
Injeção de recursos será reduzida a US$ 75 bilhões em janeiro. Dilma diz que país está preparado WASHNGTON, BRASÍLIA, SÃO PAULO E RECIFE- O Federal Reserve (Fed, banco central americano) anunciou ontem, com o voto dissidente de apenas um de seus dez diretores, que começará a reduzir seu inédito programa de estímulos à economia, herança da crise financeira de 2008. A terceira e maior fase do chamado Quantitative Easing (QE3), iniciada em setembro de 2012, estabelece a compra mensal de US$ 85 bilhões em títulos, valor que será cortado para US$ 75 bilhões a partir de janeiro de 2014. Para evitar danos à ainda frágil recuperação dos EUA, o Fed enfatizou que não se trata do início de uma era de aperto monetário. A instituição pretende manter os juros básicos inalterados entre zero e 0,25% ao ano "por longo período de tempo" sem perspectiva de elevação antes do fim de 2015 mesmo que a taxa de desemprego caia ao patamar de 6,5% (hoje, está a 7%). A decisão animou os mercados, por representar um voto de confiança na economia americana sem alterar as boas condições de financiamento e investimento. Nos EUA, os índices Dow Jones (1,84%) e S&P 500 (1,66%) da Bolsa de Nova York fecharam em recordes históricos de pontos. A Nasdaq subiu 1,15%. No Brasil, a Boves-pa fechou em alta de 0,94%, aos 50.563 e o dólar subiu 0,9%, a R$ 2,343. A moeda brasileira se desvalorizou mais do que a maioria das divisas de emergentes. BERNANKE: "REDUÇÃO EM PEQUENOS PASSOS" A presidente Dilma Rousseff disse que o país tem condições de enfrentar com tranquilidade a mudança nos EUA, em entrevista à Rádio Jornal do Commercio: — O Brasil está preparado. Já saiu daquela fase em que se havia um espirro lá, tinham pneumonia aqui. A equipe econômica recebeu com alívio a decisão do Fed. Na avaliação de técnicos, quanto mais cedo a retirada de estímulos, melhor. O governo sabe que a decisão pode trazer volatilidade aos mercados, mas considera que o mais importante era acabar com o suspense que abalava as expectativas dos agentes econômicos. Pela manhã, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que um dos efeitos é a valorização do dólar: — Estamos muito bem calçados. As volatilidades vão e voltam. Você pode ter um valorização momentânea do dólar, depois ele volta. O país está muito sólido, tem reservas e também o mecanismo de swap do Banco Central. O Comitê de Mercado Aberto avaliou que há sinais consistentes de recuperação do mercado de trabalho e da economia dos EUA, com bons indicadores de gastos das famílias, investimentos de empresas e vendas do varejo, e perspectivas animadoras no campo fiscal. Ontem, em raro esforço bipartidário, o Senado concluiu a aprovação pelo Congresso de um Orçamento de dois anos, com nível de despesas superior ao anteriormente previsto, o que dá tração à expansão econômica. Ainda que os ganhos não estejam consolidados, o Fed acredita, pela primeira vez desde o início da retomada, em 2009, que o balanço de riscos está mais equilibrado e pró-crescimento. Por isso decidiu pela redução de US$ 10 bilhões no programa. A partir de janeiro, o volume de compra de títulos soberanos cairá de US$ 45 bilhões para US$ 40 bilhões e o de papéis lastreados em hipotecas, de US$ 40 bilhões para US$ 35 bilhões. Nova rodada de corte dependerá dos dados econômicos dos próximos meses, disse Ben Bemanke, presidente do Fed. Mas deverá obedecer a mesma ordem de grandeza. O plano inicial de encerrar o programa no meio de 2014 foi revisto. Com o gradua-lismo, o presidente do Fed crê que o horizonte é o fim do próximo ano. Mas não descartou a interrupção ou a revisão, caso mudem as condições nos EUA. — Não estamos fazendo menos, não é algo pensado para ser um aperto (...) Nossa modesta redução no programa reflete a crença de que a retomada será sustentada — disse Bemanke. — Mas podemos interrompê-la (...) A redução dependerá dos dados e será feita em pequenos passos. Foi a última entrevista coletiva de Ber-nanke à frente do Fed. Seu mandato termina em 31 de janeiro e ele será substituído pela atual vice, Janet Yellen. Considerada cautelosa em relação ao momento ideal de diminuição do programa de estímulo, Yellen acompanhou o voto da maioria. O Fed deixou aberta uma janela para continuar o programa de estímulos além de 2014, bem como para manter juros zero depois de 2015. Tudo dependerá do comportamento da taxa de desemprego e da inflação. O BC dos EUA estima que o patamar ideal da taxa de desemprego para se considerar a crise ultrapassada, de 6,5%, será alcançado no último trimestre de 2014. Mas Bemanke disse que a diretoria olhará outros sinais como procura por vaga, ocupação, desemprego de longo prazo, subemprego e salários para se certificar de que a recuperação é para valer. No caso da inflação, o Fed espera que ela volte a subir. O patamar mínimo previsto na meta é de 2% ao ano. O índice de preços ao consumidor fechou novembro em 0,7% no acumulado em 12 meses. Inflação excessivamente baixa dificulta recuperação de margens de lucro das empresas, aumentos de salário e pagamento de dívidas. Uma alta de juros não deverá ser considerada pelo Fed até que a variação chegue a 2,5% anuais. João Sorima Neto, Gabriela Valente, Martha Beck, Cristiane Bonfanti e Letícia Lins |
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