Doha deve ser retomada, mas com metas mais modestas
Autor(es): Jamil Chade |
O Estado de S. Paulo - 09/12/2013 |
Atual cenário econômico dificulta debate sobre derrubada de subsídios e abertura de mercados, dizem especialistas
A Rodada Doha será revista e as metas estabelecidas em 2001 deverão passar por uma séria mudança. No sábado, em Bali (Indonésia), a Organização Mundial do Comércio (OMG) fechou seu primeiro acordo, reduzindo a burocracia nas exportações e simplificando procedimentos aduaneiros, em consenso costurado pelo diretor-geral do órgão, o brasileiro Roberto Azevêdo. No entanto, a entidade adiou todas as decisões importantes.
Agora,
diplomatas decidiram que voltarão para Genebra e começarão um debate
direto: é politicamente realista manter os objetivos da Rodada Doha?
O
processo foi lançado em 2001 e, naquele momento, o principal objetivo
era conseguir que os países reformulassem suas regras para a
agricultura, reduzindo as distorções nos mercados.
Negociadores
que participaram daquela reunião relatam que o acordo apenas saiu
porque governos queriam dar um sinal positivo para a economia mundial,
ainda sob o choque do atentado de 11 de setembro.
Agora,
os mesmos governos admitem que aquela ambição já não poderia ser
atingida. "O que existe no papel é irrealista. Por isso nunca houve um
acordo", admitiu ao Estado um negociador americano. Um dos principais
obstáculos é a resistência de governos europeus e dos Estados Unidos em
abrir mão de ajuda ao setor privado, justamente num momento que mal
conseguem dar uma resposta à crise econômica.
De
outro lado, países emergentes passaram a ser cobrados por também
contribuir com o sistema e americanos e europeus deixam claro que não
farão qualquer tipo de concessão enquanto Brasil. índia e Ghina não
abrirem seus mercados para os produtos industrializados lo mundo rico,
algo que não estava previsto explicitamente em 2001. O problema ainda é
que os países emergentes insistem que precisam de espaço para
implementar suas políticas industriais.
Avaliação.
Azevêdo, diretor da OMC, conseguiu um compromisso dos governos de que,
nos próximos 12 meses, um estudo será realizado com todos os 159 países
da entidade para tentar identificar o que ainda pode ser feito com Doha.
Ele e seus assistentes admitem que as metas estabelecidas há mais de
uma década podem ter ficado fora de alcance dentro da nova realidade
econômica mundial e reconhece que "não há prazo" para
fechar Doha.
Ele
também declarou agover-nos que "grandes barganhas" podem não ser
realistas. Ou seja, a ideia de que os países emergentes conseguirão um
corte nos subsídios agrícolas americanos ao oferecer acesso a seus
mercados para bens industriais pode não se concretizar.
Pequenos passos. Uma
das opções que será colocada sobre a mesa será a possibilidade de se
fechar acordos menores e, gradualmente, chegar a um entendimento
completo sobre o comércio. Outra alternativa seria incluir novos temas,
como um acordo sobre investimentos.
"Doha
está desatualizada", escreveu Robert Lighthizer, representante de
Comércio dos EUA na administração de Ronald Reagan, nos anos 1980.
O
chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo, indicou em Bali que o
País está disposto a repensar a estratégia para a OMC. Mas rejeitou a
ideia de novos acordos limitados e alertou que o Brasil não aceitaria
temas novos sem que as distorções na agricultura sejam solucionadas.
"Esse também é um tema do século 21", disse. Para ele, Bali teria de ser
"o último" acordo limitado da OMC. "Temos de recuperar a ambição",
defendeu.
Entre
os americanos, a percepção é de que não existe mais espaço realista
para abrir mão de subsídios agrícolas. Ontem, o presidente Barack Obama
elogiou Azevêdo e a OMC pelo acordo. Mas não fez a mínima referência a
concessões em agricultura.
"As
pequenas empresas americanas estarão entre os grandes ganhadores, já
que são as que mais encontram dificuldades para navegar no atual
sistema", disse Obama.
Na
Europa, a avaliação é semelhante. "Fechamos um acordo e politicamente
ele foi fundamental. Mas sabemos que deixamos tudo que era complicado
sem uma solução", admitiu um diplomata europeu.
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