quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Doha debaterá mudanças climáticas

Doha debaterá mudanças climáticas

Carolina Gonçalves - Repórter da Agência Brasil

As enchentes e secas extremas que têm afetado várias regiões no mundo e os fenômenos naturais, como maremotos, cada vez mais frequentes, voltam a ocupar, a partir de hoje (26), o centro das preocupações de técnicos, especialistas e autoridades de quase 200 países. Reunidos em Doha, capital do Catar, negociadores de todo o mundo querem chegar a um consenso sobre o que precisa ser efetivamente adotado para minimizar os efeitos provocados pelas fortes mudanças de temperatura do planeta.

Durante a 18ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP18), as delegações de várias partes do mundo tentarão definir novos compromissos, a fim de dar sequência a uma série de esforços que vêm sendo feitos desde 1992. As expectativas em relação ao evento recaem quase exclusivamente sobre esse ponto: o que cada economia está disposta a fazer, a partir de janeiro do ano que vem, para continuar os esforços pela redução das emissões de gases de efeito estufa.

Os primeiros compromissos foram assumidos quando as nações signatárias do Protocolo de Quioto, que começou a valer há cinco anos, definiram metas obrigatórias, no caso de países desenvolvidos, ou voluntárias, entre as nações em desenvolvimento. Apesar de o tratado que define metas e limites de emissão de gases de efeito estufa para os países desenvolvidos expirar no fim deste ano, as medidas ainda estão longe dos resultados esperados.

Levantamentos de organismos internacionais e do órgão das Nações Unidas responsável pelo debate sobre meio ambiente (Pnuma) têm apontado que as ações ainda não foram suficientes para reduzir essas emissões nocivas ao Planeta. O Pnuma mostrou que a concentração de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono, aumentou 20% desde 2000.

Pesquisadores do Banco Mundial e da Organização Meteorológica Mundial também têm alertando que, caso não adote ações mais ambiciosas e austeras, a comunidade internacional não irá alcançar a meta estipulada como ideal pelos cientistas. Diante da emergência apontada pelos estudos recentes, os países se comprometeram a adotar medidas para manter a elevação da temperatura do planeta abaixo dos dois graus centígrados.

O desafio será chegar a um acordo imediato para manter metas que reposicionem os países nessa direção, adotando medidas rigorosas em suas economias. Em meio ao debate, será preciso definir, por exemplo, se os países do Leste Europeu podem usar, para maiores emissões, a margem que conquistaram por ter emitido menos, nos últimos anos, quando a recessão enfrentada por essas economias reduziu o ritmo das fábricas, mantendo os níveis de poluição atmosférica abaixo do estipulado.

Além disso, os negociadores devem retomar os debates sobre o Fundo Verde e a regulamentação internacional de uma compensação para países em desenvolvimento que reduzem as emissões de gases de efeito estufa, conhecido como Redd – sigla que define a Redução das Emissões Geradas com Desmatamento e Degradação Florestal nos Países em Desenvolvimento. O mecanismo tem dividido as atenções nos debates sobre clima.

Edição: Graça Adjuto

Fonte: EBC 
 
 

Publicado em: 26/11/2012

Paraguai quer retornar à Unasul

Paraguai quer retornar à Unasul

Renata Giraldi* - Repórter da Agência Brasil

O governo do Paraguai tem esperança de que a Cúpula da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), no Peru, decida revogar a suspensão do país no grupo. O vice-ministro das Relações  Exteriores do Paraguai, Antonio Rivas Palacios, disse ontem (27) que o governo aguarda o encontro para decidir quais serão as próximas ações. Segundo ele, o Paraguai sofre uma  "cruzada persecutória" .

O Paraguai está suspenso, há cinco meses, da Unasul e do Mercosul até 21 de abril de 2013. A suspensão foi definida pelos presidentes sul-americanas por discordarem da forma como foi conduzido o processo de impeachment do então presidente paraguaio Fernando Lugo, em junho. Para os líderes políticos, houve rompimento da ordem democrática no país.

"Não podemos permitir que se mantenham as sanções", disse o vice-ministro, lembrando que a expectativa é que ocorra uma decisão sobre o Paraguai na reunião dos chefes de Estado, na sexta-feira (30). A presidenta Dilma Rousseff não participará dos debates porque cancelou sua viagem ao Peru.

O vice-ministro disse ainda que o governo do Paraguai conta com o apoio da maioria dos países e apenas “alguns questionam” a situação atual do país. Lugo foi destituído do poder, após aprovação do Congresso, denunciado por falta de responsabilidade. Para os líderes sul-americanos, Lugo não teve tempo suficiente para se defender.

"Temos relações normais com quase todos [os países]. Estamos recebendo embaixadores de todos os continentes", ressaltou o vice-ministro. "A relação com quase todo mundo é normal, só na nossa região é mantida alguma distância", acrescentou.

*Com informações da agência pública de notícias do Paraguai, Ipparaguay.

Edição: Talita Cavalcante

Fonte: EBC  
 
 

Publicado em: 28/11/2012

Mortes em protestos no Egito

Mortes em protestos no Egito

Renata Giraldi* - Repórter da Agência Brasil

Manifestantes se reuniram ontem (27), na Praça Tahrir, no Cairo, capital do Egito, para exigir do presidente egípcio, Mouhamed Mursi, a revogação do decreto que ele editou concedendo a si mesmo amplos poderes, sem direito a contestação. O decreto reduz os poderes do Judiciário e do Legislativo. A ação de Mursi causou críticas e ele reagiu, informando que o decreto era apenas provisório. A reação foi insuficiente para impedir os protestos.

Os manifestantes gritavam frases como "A revolução continua" e "O povo quer a queda do regime". A Irmandade Muçulmana, que apoia Mursi, promoveu uma manifestação em favor do governo para reagir aos protestos.

Em várias cidades egípcias, houve confrontos entre manifestantes e simpatizantes do governo. Em meio aos protestos, dois homens – um, de 28 anos, e outro, de 56 – morreram depois de inalar um gás lançado pelas forças policiais.

Participaram dos protestos personalidades de destaque no país, como o Prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei, que disputou as eleições presidenciais, Sabahi Hamdin e o escritor Alaa El Aswany.

Na cidade industrial de Mahalla El Kobra, os manifestantes tentaram invadir a casa do Partido Liberdade e Justiça (JLP), braço político da Irmandade Muçulmana. Houve confrontos entre os grupos com bombas e pedras lançadas. Pelo menos cem pessoas ficaram feridas. Os manifestantes também incendiaram a sede do partido JLP, na cidade de Mansura.

Na segunda-feira (26), o Ministério da Saúde informou que a série de protestos provocou 440 feridos. No mesmo dia Mursi disse que o decreto se destinava apenas a garantir a soberania do Egito e que tinha prazo limitado. Mas não indicou quando pretende revogá-los. A oposição apelidou o presidente de faraó, como crítica às ações de Mursi.

Em fevereiro de 2011, a Praça Tahrir foi palco de uma série de protestos contra o então presidente Hosni Mubarak. As manifestações levaram à renúncia de Mubarak, que está internado em um hospital militar da capital egípcia à espera de julgamento.

*Com informações das agências públicas de notícias da Argentina, Telam.

Edição: Talita Cavalcante

Fonte: EBC  
 
 

Publicado em: 28/11/2012

Redução da probreza na América Latina

Redução da probreza na América Latina

Carolina Sarres - Repórter da Agência Brasil

Na última década, a pobreza teve queda de 44% na América Latina, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). A sustentação dessa dinâmica, no entanto, deve ser acompanhada por políticas públicas com objetivos estruturais, de forma a ampliar o equilíbrio entre o Estado, o mercado e a sociedade, informou a secretária-geral da comissão que faz parte das Nações Unidas, Alicia Bárcena.

Hoje (27), a comissão divulgou o Relatório Panorama Social da América Latina 2012 com dados econômicos e sociais sobre a região. De acordo com o estudo, os países latino-americanos aumentaram os gastos sociais – com políticas, como de distribuição de renda, educação, alimentação e habitação – , que chegaram a 62,6% dos gastos públicos em geral, entre 2009 e 2010. Esse gasto total representou 18,6% do Produto Interno Bruto (PIB) de todos esses países no período.

Os gastos sociais têm o objetivo de sustentar os quatro princípios do sistema de cidadania, segundo nomenclatura da Cepal: a igualdade e o acesso; a universalização progressiva do cidadão; a solidariedade no financiamento para estruturar o sistema; e a corresponsabilidade da sociedade civil.

A tendência, segundo a Cepal, é a que a pobreza na região continue caindo, mas que devem haver políticas de sustentabilidade, que dependem do fortalecimento industrial mais competitivas, taxas de crescimento de longo prazo, tecnologia, conhecimento e manejo ambiental.

Segundo o secretário adjunto da Cepal, Antônio Prado, as perspectivas são positivas para o Brasil, pois houve uma melhora nos termos de troca entre as exportações brasileiras e as importações do exterior, tendo impacto no aumento do PIB, impulsionado pela alta de preço das commodities.

Para o diretor do escritório da Cepal no Brasil, Carlos Mussi, a sustentabilidade brasileira e a manutenção das políticas sociais, que têm viabilizado a redução da pobreza, dependerão das políticas de importação e exportação da China, que demanda produtos primários do Brasil a preços elevados e vende produtos industrializados a preços baixos, por causa da demanda interna reprimida.

“Esse foi um ciclo favorável de crescimento econômico, mas o Brasil tem de fazer o dever de casa e fazer as mudanças estruturais necessárias, como buscar a qualidade do emprego, ser mais produtivo e competitivo, valorizar o capital humano, investir em educação, estimular a permanência nos postos de trabalho e melhorar a infraestrutura”, disse Mussi à Agência Brasil.

Edição: Carolina Pimentel

Fonte: EBC  
 
 

Publicado em: 28/11/2012

Para pressionar Israel, Palestina busca reconhecimento na ONU

Para pressionar Israel, Palestina busca reconhecimento na ONU

Publicado em Carta Capital

José Antônio Lima
Riyad Mansour, embaixador palestino da ONU, dá entrevista coletiva na quarta-feira 27, em Nova York. A missão diplomática palestina tenta conseguir apoio de diversos países europeus na votação. Foto: John Moore/Getty Images/AFP
A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) apresenta nesta quinta-feira 29, na Assembleia-Geral das Nações Unidas, um pedido para que a Palestina seja reconhecida como “Estado observador não-membro” da ONU. A expectativa da liderança palestina é usar o novo status, que deve receber aprovação maciça da comunidade internacional, para forçar o governo de Israel a retomar as negociações de paz. Há dúvidas, no entanto, a respeito da eficácia da ação.
Esta é a segunda iniciativa diplomática de grande monta dos palestinos em dois anos. Em 2011, a OLP cogitou pedir à ONU o reconhecimento da Palestina como membro pleno (hoje desfrutado por 193 países), mas desistiu diante da firme oposição dos Estados Unidos – o governo de Washington, o maior aliado de Israel, prometia bloquear a ação no Conselho de Segurança. Assim, a alternativa da OLP é tentar evoluir seu status atual, de “entidade observadora”, para “Estado observador não-membro”, um avanço que não exige aprovação do Conselho de Segurança.
O reconhecimento pode ter efeitos simbólicos e práticos. Hoje, os palestinos da Cisjordânia, da Faixa de Gaza e os refugiados não têm um Estado próprio. Se a “entidade” se tornar um “Estado não-membro”, ao menos no papel o país chamado Palestina passará a existir. Isso servirá para reforçar a chamada “solução de dois Estados”, por meio da qual dois países diferentes, um para os judeus e outro para os palestinos, devem existir.
Na prática, o novo status palestino permitirá que a OLP busque admissão em outras organizações internacionais, como o Tribunal Penal Internacional. Um avanço deste tipo preocupa muito o governo de Israel, que teme ver alguns de líderes políticos acusados e transformados em réus nesta corte. Uma indicação de que a OLP tem esta intenção foi dada por Tawfiq Tirawi, investigador da Autoridade Palestina responsável pela análise da exumação do corpo de Yasser Arafat, ex-líder da OLP morto em 2004. Caso sejam encontradas evidências de assassinato, disse Tirawi, os palestinos vão aos tribunais internacionais contra o governo israelense.
Com todos esses avanços simbólicos e práticos, os palestinos imaginam que serão capazes de fazer Israel voltar à mesa de negociações. Não é certo, no entanto, que este seja o resultado da votação na ONU.
O governo de Israel é atualmente dominado por políticos de direita e extrema-direita. Em maior ou menor medida, eles se opõem ao Estado palestino e, diante da nova iniciativa, devem bloquear de forma ainda mais intensa qualquer passo em direção a uma negociação. Segundo o jornal Israel Hayom, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e seu ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, planejavam um resposta feroz aos palestinos, mas decidiram reagir com moderação. O governo de Israel conta, no campo diplomático, com o apoio dos Estados Unidos, que já anunciaram voto contrário ao pedido palestino. Para os EUA, a Palestina só pode ser criada por meio de diálogos com Israel. Ocorre que o governo norte-americano nada faz para que esses diálogos sejam retomados.

Mohamed Morsi, o novo faraó do Egito?

Mohamed Morsi, o novo faraó do Egito?

Publicado em Carta Capital

José Antônio Lima

Criança egípcia arremessa pedra contra a polícia durante protesto na rua Mohammed Mahmoud, no Cairo, nesta quinta-feira 22. Desde segunda-feira 19 protestos contra a impunidade por um massacre ocorrido nesta rua no ano passado já deixaram vários feridos. Foto: AFP
Um presidente de um partido religioso fundamentalista, em um país sem Congresso e sem Constituição, emite um decreto ampliando os próprios poderes. A descrição, que poderia ser de alguns dos piores ditadores do mundo, é agora de Mohamed Morsi, presidente do Egito. Nesta quinta-feira 22, Morsi aumentou o alcance de suas próprias decisões, dando a si mesmo “o direito de tomar medidas excepcionais para ‘proteger a revolução’” e tornando “finais” e “irrevogáveis” todos os decretos e declarações constitucionais presidenciais. São medidas que podem acelerar a transição no Egito, ou colocar o país num estado de convulsão social ainda maior.
A declaração constitucional emitida por Morsi têm dois objetivos: aplacar os ânimos da população egípcia e reduzir a influência do Judiciário, um poder ainda repleto de aliados de Hosni Mubarak. As duas questões estão interligadas. A forte presença de integrantes do antigo regime nas diversas esferas da Justiça do Egito tem impedido que o país funcione normalmente. A insatisfação com a impunidade dos policiais, militares e outras autoridades que comandaram e executaram massacres em 2011 é generalizada. Um exemplo disso foram os protestos no Cairo, nesta semana, lembrando as mortes ocorridas em novembro de 2011. Outro exemplo é o Campeonato Egípcio de futebol. O torneio está paralisado por exigências das torcidas organizadas, que esperam o julgamento dos responsáveis pelo massacre de 72 pessoas em um campo de futebol em fevereiro deste ano.
O governo atribui a impunidade ao Judiciário, que estaria evitando condenar aliados. Assim, Morsi decidiu fazer um aceno aos “revolucionários” egípcios. Ele trocou o procurador-geral de Justiça, determinou a reabertura de todos os casos de assassinatos durante a revolução e estendeu as indenizações concedidas às famílias de “mártires” também aos que ficaram feridos nas manifestações. O desafio ao Judiciário é completado pela imunidade concedida por Morsi à Assembleia Constituinte do Egito e ao Conselho Shura, equivalente ao Senado. Atualmente, um tribunal analisa a possibilidade de dissolver a Constituinte, o que atrasaria ainda mais a conclusão do documento, essencial para o funcionamento do país. Para não deixar dúvidas de que o alvo de Morsi é o Judiciário, algumas centenas de integrantes da Irmandade Muçulmana, grupo do qual o presidente é originário, realizaram uma manifestação nesta quinta-feira em frente à Suprema Corte egípcia exigindo a “purificação” do Judiciário.
Imagem oficial mostra o encontro de Morsi com Talaat Ibrahim Abdallah, o novo procurador-geral do Egito, nesta quinta-feira 22. Abdallah deve reabrir os processos contra Mubarak. Foto: Presidência do Egito / AFP
Na teoria, as medidas de Morsi poderiam ser encaradas como positivas. Com os poderes atuais, Morsi poderia preservar o ideal de democratização da revolução e diminuir a influência dos integrantes do antigo regime nos rumos do país. Gehad El-Haddad, conselheiro da Irmandade Muçulmana, escreveu no Twitter que a declaração desta quinta “cimenta o caminho para a estabilidade política e estabelece as bases para a justiça de transição”. El-Haddad afirmou, ainda, que as medidas têm caráter temporário, e deixarão de valer assim que um Parlamento e uma Constituição estiverem em vigor. Na prática, no entanto, será difícil para Morsi e seus aliados retratarem as medidas como democráticas.
Ao encurralar o Judiciário e assumir poderes ainda mais amplos, Morsi assume, no papel, mais força do que o próprio Hosni Mubarak tinha. É um avanço que será recebido com enorme preocupação tanto dentro do Egito quanto no exterior. “Hoje Morsi usurpou todos os poderes estatais e nomeou a si próprio como novo faraó do Egito”, escreveu também no Twitter Mohamed El-Baradei, ex-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e influente figura na política egípcia. O esquerdista secular Hamdeen Sabahi, que disputou a presidência com Morsi, afirmou à rede de TV Al-Arabiya que “a revolução não vai aceitar um novo ditador”.
Externamente, o desafio de Morsi é não irritar o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. A relação entre os dois saiu fortalecida após a crise envolvendo o Hamas e Israel na Faixa de Gaza, mas é provável que a Casa Branca manifeste contrariedade diante das novidades. A parceria com os Estados Unidos é fundamental para garantir ao Egito a boa vontade da comunidade internacional num momento em que a economia do país enfrenta sérios problemas. Dentro do Egito, além de lidar com a oposição, Morsi vai submeter a um teste sua aliança com os militares e a determinação de que eles permaneçam dentro dos quarteis. Como qualquer governante, ao assumir mais poderes, Morsi assume mais responsabilidade. Será dele a responsabilidade de mostrar que a Irmandade Muçulmana compartilha dos ideais democráticos da Primavera Árabe e não pretende simplesmente herdar o Estado totalitário de Mubarak.

A aposta arriscada do presidente do Egito

A aposta arriscada do presidente do Egito

Publicado em Carta Capital

José Antônio Lima
Milhares de egípcios protestam na praça Tahrir, no Cairo, contra o decreto que ampliou os poderes do presidente Mohamed Morsi. Foto: Gianluigi Guercia / AFP

O Egito está em crise. Desde a quinta-feira 22, quando o presidente Mohamed Morsi ampliou os próprios poderes por decreto, integrantes do Judiciário e da oposição secular e liberal protestam, institucionalmente e nas ruas, contra a decisão. Há temores de que a convulsão social do início de 2011, quando o ditador Hosni Mubarak foi derrubado, seja reeditada. Morsi, entretanto, parece disposto a encarar os dias mais tensos de seu governo. Morsi crê que as divisões internas dos opositores e o cansaço geral dos egípcios vão reduzir aos poucos os protestos, fazendo o país retomar a estabilidade. É uma aposta arriscada.
A onda inicial de protestos, ainda na semana passada, teve como alvo os escritórios da Irmandade Muçulmana e de seu braço político, o Partido Liberdade e Justiça. Pelos menos 13 sedes regionais da sigla foram atacadas. Em Damanhur, no Vale do Nilo, um garoto de 15 anos, Islam Mahmou, integrante do grupo, foi morto com uma pedrada na cabeça. No Cairo, capital do Egito, um manifestante anti-Morsi, Gaber Salah, de 16 anos, também morreu, baleado por um dos policiais que reprimia a manifestação.
Na segunda-feira 26, Morsi tentou apaziguar os ânimos. Ele se encontrou com os principais líderes do Judiciário, cuja autoridade foi desafiada por seu decreto de ampliação de poderes. Uma das intenções de Morsi era reduzir a influência do Judiciário nos rumos do Egito, pois este poder ainda está repleto de pessoas nomeadas por Mubarak e algumas cortes ameaçam o funcionamento do Conselho Shura (senado), eleito por voto popular, e da Assembleia Constituinte, indicada por um Parlamento também eleito, mas posteriormente dissolvido. O porta-voz de Morsi chegou a dizer que o presidente respeitava a autonomia do Judiciário, mas manteria, na íntegra, sua decisão. Os líderes do Judiciário deram a entender que respeitavam apenas parte do decreto, mas se disseram insatisfeitos com o diálogo, mantendo um chamado para uma greve geral nos tribunais do país.
Falta diálogo e sobra maniqueísmo
Soma-se à pressão do Judiciário contra Morsi a oposição dos setores seculares e liberais da política egípcia. Esses grupos se sentem excluídos do processo de transição em curso. Desorganizados e desunidos, não conseguiram resultados expressivos nas eleições parlamentares e presidenciais. O resultado ruim deu a eles pouca influência na Constituinte, que está escrevendo a nova Constituição do país, e vários dos poucos liberais que conseguiram uma vaga na Assembleia já a abandonaram, alegando domínio dos religiosos.
Manifestantes anti-Morsi e policiais entram em confronto na rua Omar Makram, no centro do Cairo, nesta terça-feira 27. Foto: Gianluigi Guercia / AFP
A crise política no Egito é agravada pois esses setores seculares e liberais são maniqueístas e intransigentes. Muitas vezes, optam pela estratégia do “quanto pior, melhor”. O decreto de Morsi contém, além da ampliação de seus poderes, medidas que a revolução desejava, como a substituição do procurador-geral de Justiça (ligado a Mubarak) e a possibilidade de reabertura de processos de pessoas assassinadas pela repressão. A oposição, no entanto, quer a revogação por completo do decreto e não aceita negociar com o presidente antes disso. Defendem essa posição líderes como Mohamed el-Baradei, ex-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica e hoje artífice de uma tentativa de unir a oposição. Baradei, prêmio Nobel da Paz, chegou a falar na possibilidade de uma guerra civil no Egito.
A postura da oposição é alimentada pelo medo de que o decreto de Morsi seja parte de uma tentativa da Irmandade Muçulmana de tomar o poder de forma definitiva. Atitudes do presidente e de seus aliados, majoritariamente fundamentalistas religiosos, não ajudam a acabar com esse temor. Muitos ministros e conselheiros de Morsi souberam do polêmico decreto apenas pela imprensa, e ficaram em situação difícil para defender o ato do presidente. Nageh Ibrahim, ideólogo do Grupo Islâmico, uma ex-facção terrorista transformada em partido político, aliada de Morsi, chegou a dizer que liberais contrários ao último decreto presidencial poderiam ser assassinados.
Morsi tem apoio externo
Morsi enfrenta uma onda de protestos em casa, mas conta com o apoio tácito dos militares e dos Estados Unidos para manter sua política em curso. É um banho de água fria para a oposição liberal egípcia, que costuma com frequência apelar para táticas não democráticas para defender a sua versão de democracia.
Um general disse à agência Reuters que as forças armadas “deixaram a cena política” e retomaram “seu papel natural de proteger a nação”. O general não quis se identificar, pois o Exército não deseja fazer pronunciamentos públicos sobre a crise.
Na noite de segunda-feira, o porta-voz de Barack Obama, Jay Carney, afirmou que a Casa Branca “levantou preocupações sobre as decisões e declarações feitas no dia 22” e que “continua o diálogo” com o governo egípcio. A impressão é de que Obama não quer transparecer ingerência, ainda mais pelo fato de Morsi se tratar de um presidente democraticamente eleito. “Morsi e a Irmandade Muçulmana construíram laços de confiança com a administração Obama”, escreveu no Twitter o analista Ed Hussein. “Eles acreditam em Morsi quando ele diz que o aumento de poder é ‘temporário’”, afirma.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A questão dos royalties do petróleo

A questão dos royalties do petróleo

Publicado em Carta Capital

Paulo Daniel

Com a descoberta de reservas de petróleo na costa brasileira a aproximadamente 7.000 metros de profundidade no total de 40 bilhões a 80 bilhões barris, a tendência é que ocorra uma abundância de dólares na economia brasileira com grande tendência de valorização do real perante o dólar. O governo brasileiro já aprovou leis importantes para o controle das reservas petroleiras, bem como, medidas para conter a possível valorização da moeda local.
Entretanto, o mais polêmico dos projetos de lei enviados ao Congresso Nacional, diz respeito à partilha dos royalties petroleiros, pois altera concede novas conformações e participações especiais na exploração dos blocos do pré-sal. Fazendo com que os estados e municípios, sejam contribuídos de uma forma mais igualitária.
As conturbações politicas ocorreram e estão ocorrendo, graças ao modo de como é distribuído os royalties nas explorações dos outros campos e bacias de petróleo. O Rio de Janeiro, por exemplo, é creditado em aproximadamente 70% de toda a distribuição de royalties do país. Por mais que esses royalties sejam concedidos como uma forma de externalidade negativa, e que os maiores campos de exploração de petróleo se encontram, até o momento, no estado do Rio de Janeiro, os valores recebidos são astronômicos e a falta de controle abre as portas para corrupção, desvios e péssimos investimentos.
Com toda a certeza, a dependência do estado do Rio de Janeiro em relação aos royalties petroleiros deriva do não desenvolvimento de novas tecnologias, principalmente as atreladas a indústria, e com sua economia focada em serviços e na extração de petróleo, o que de certa maneira, desenvolveu e ampliou a chamada doença holandesa.
A teoria da doença holandesa tem sido utilizada para tratar problemas típicos das economias primário-exportadoras. Seu nome remonta ao comportamento que a economia holandesa teve nos anos sessenta, logo após a descoberta de grandes reservas de gás natural no país, a partir de quando ocorreu aumento concomitante da população nacional de gás natural e dos preços internacionais do produto.
Durante o período de “bonança gasífera”, a Holanda recebeu uma grande quantidade de moeda estrangeira e o imediato aumento de superávit comercial fez a moeda nacional se sobrevalorizar. No momento seguinte, a produção industrial do país passou a enfrentar problemas, decorrentes da apreciação da moeda nacional, para concorrer com os produtos de outros países tanto no mercado interno quanto no externo. A baixa competitividade da indústria nacional levou a um aumento das importações, principalmente de produtos industrializados, e a uma diminuição significativa das exportações de outros produtos que não o gás natural. Em pouco tempo, a abundante entrada de moeda estrangeira para a compra de gás natural levou a Holanda a um processo de desindustrialização e de perda de competitividade internacional, algo que, resguardada as devidas proporções acontece com o Rio de Janeiro.
A “bonança petroleira” precisa ser muito bem aproveitada, ou seja, despender ou investir em educação devem ser acompanhadas de metas. Por exemplo, em quatro anos o Brasil será território livre do analfabetismo, pois não basta educar-se com o objetivo de galgar um emprego melhor, ou, até quem sabe, uma renda maior; mas sim, e, também, na descoberta de novas éticas, no desenvolvimento da solidariedade e na construção de uma sociedade mais respeitosa e ampla. Portanto, precisa-se repensar o sistema educacional brasileiro.
Outro ponto que passa distante de qualquer discussão, é o controle público desse dinheiro. Se o petróleo realmente é nosso, é mais do que prudente decidirmos a destinação dos recursos, para que não se crie formas caudilhescas e de controle das massas populares, o que é bastante peculiar em países petroleiros.
Teremos um período de mais de meio século para o Brasil poder implementar políticas econômicas e sociais com o objetivo de elevar o grau de crescimento e desenvolvimento econômico e social; as chances de errarmos e acertamos são praticamente iguais, o nível de mobilização popular e a sensibilidade dos governos é o que definirá os rumos que tomaremos para o presente e o futuro das próximas gerações.

Mais protestos contra presidente do Egito

Mais protestos contra presidente do Egito

Renata Giraldi* - Repórter da Agência Brasil

O presidente do Egito, Mouhamed Mursi, reúne-se hoje (26) com magistrados do Conselho Supremo de Justiça para tentar reduzir as manifestações contra o seu governo e impedir o agravamento da crise no país. Na semana passada, Mursi assinou decreto que lhe concede amplos poderes. A medida provocou manifestações violentas em várias cidades e abriu um conflito entre os Poderes Executivo e Judiciário.

O conselho é a mais elevada Corte judicial do Egito. Os integrantes do órgão buscam um entendimento com o presidente e recomendam que os demais juízes e promotores retornem ao trabalho.

Os opositores querem que Mursi anule totalmente o decreto, que classificaram como um risco à democracia. No fim de semana, houve enfrentamentos entre manifestantes e forças policiais. 

Na prática, o decreto impede o Judiciário de interferir em decisões do Executivo ou deliberar sobre qualquer medida tomada pelo presidente desde que ele assumiu o cargo, em junho, até que um novo Parlamento seja eleito, no próximo ano, e uma nova Constituição entre em vigor. Também impede os juízes de dissolver a Comissão Constitucional, dominada atualmente por aliados de Mursi, ligados ao grupo islâmico Irmandade Muçulmana.

No fim de semana, Mursi defendeu-se das críticas, argumentando que o decreto que lhe concede amplos poderes é apenas “temporário”.

No ano passado, os egípcios iniciaram uma onda de protestos, que ganhou o nome de Primavera Árabe, contra o então presidente Hosni Mubarak. Depois de 15 dias de manifestações, Mubarak renunciou. Atualmente é alvo de ações judiciais e aguarda julgamento em um hospital militar da região do Cairo, capital egípcia.

*Com informações da BBC Brasil

Edição: Graça Adjuto

Fonte: EBC 
 
 

Publicado em: 26/11/2012

Mudança de status da Palestina

Mudança de status da Palestina

Renata Giraldi - Repórter da Agência Brasil

A crise entre israelenses e palestinos ganhará mais um elemento na próxima semana, quando a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) discutirá a concessão do status de Estado observador para a Palestina. Segundo diplomatas, a mudança de status é o estímulo necessário para levar adiante a discussão sobre a criação do Estado independente da Palestina. Os debates estão marcados para os próximos dias 29 e 30.

Nos últimos anos, os palestinos intensificaram a campanha para obtenção do status de Estado observador da ONU, como ocorre com o Vaticano, mas a proposta enfrenta resistência das delegações de Israel e dos Estados Unidos. Em meio às recentes tensões, os palestinos redobraram os esforços para conquistar votos entre os europeus que estão divididos.

O Brasil e os demais países do Mercosul – Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela – já se manifestaram a favor, assim como a Índia e a África do Sul. O governo brasileiro assumiu o papel de um dos co-patrocinadores da campanha em apoio à concessão do novo status para a Palestina. O emissário do Brasil para o Oriente Médio mais a Turquia e o Irã, embaixador Cesário Melantonio Neto, disse à Agência Brasil que é o momento de os brasileiros serem agregados às negociações.

Para Melantonio Neto, o chamado Quarteto (Rússia, China, Estados Unidos e União Europeia),  designado como mediador do processo de paz no Oriente Médio, mostrou sua “inoperância” não só com a crise recente na região da Faixa de Gaza, envolvendo israelenses e o Hamas, movimento de resistência islâmica que controla parte da área, como também na Síria, que há 20 meses está em clima de guerra.

“A crise mostrou isso, como o Quarteto é inoperante e a própria Liga Árabe [integrada por 22 nações] defende a ampliação dos mediadores”, disse à Agência Brasil o embaixador. “O Brasil tem espaço para isso porque não sofre as restrições que outros países têm entre palestinos e israelenses.”

Em relação à defesa da concessão do status de Estado observador para a Palestina e a criação de um Estado autônomo, o embaixador esclareceu que “essa não é uma posição nova do Brasil. É uma posição histórica. A aprovação do novo status deve levar a um processo de negociação mais amplo [que chegará à questão da criação do Estado da Palestina].”

Edição: Andréa Quintiere

Fonte: EBC 
 
 

Publicado em: 26/11/2012

Brasil e Polônia apoiam palestinos na proposta de criação de Estado independente

Brasil e Polônia apoiam palestinos na proposta de criação de Estado independente

26/11/2012
Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil

  Às vésperas de a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas votar a proposta de concessão do status de Estado observador para a Palestina na ONU, os ministros das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, e da Polônia, Radosław Sikorski, apoiaram hoje (26) o pleito dos palestinos, assim como a criação de um Estado independente. Porém, os Estados Unidos e Israel se manifestaram contra as duas propostas. A União Europeia, que tem 27 integrantes, está dividida.
“O Brasil apoia um Estado palestino participando das Nações Unidos. Apoia inclusive a participação plena como membro [da organização]. Mas o que está em pauta é o status de observador não pleno, pleito que leito tem apoio considerável”, disse o chanceler brasileiro.
Patriota acrescentou que espera a retomada, o mais breve possível, de negociações de paz que levem a um acordo para que os dois Estados "convivam lado a lado". Sikorski disse que a Polônia também apoia a concessão à Palestina do status de observador na ONU e, futuramente, o de Estado independente. O ministro ressaltou, porém, que a Polônia votará com a maioria da União Europeia – o bloco está dividido.
De acordo com diplomatas que acompanham o assunto, conceder o status de observador pode levar à abertura de discussões sobre a criação de um Estado palestino independente. Entretanto, esse status não dá à Palestina o direito de votar na ONU.
As discussões e a votação do pleito palestino ocorrem nos dias 28 e 29 próximos, em Nova York. O governo brasileiro participa das conversas como copatrocinador da proposta palestina. Paralelamente, um grupo de países defende a retomada das discussões sobre a crise no Oriente Médio, inclusive a recente tensão entre israelenses e o grupo Hamas, que domina parte da Faixa de Gaza.
“Manifestamos o repúdio à violência na Faixa de Gaza, o uso desproporcional da força, e conclamamos o Conselho de Segurança a assumir plenamente as responsabilidades”, acrescentou o chanceler brasileiro.
Edição: Nádia Franco 

Brasil tem pior crescimento desde Collor

Brasil tem pior crescimento desde Collor

País tem pior crescimento desde Collor
Autor(es): Marcelo Rehder
O Estado de S. Paulo - 26/11/2012
 

Dilma Rousseff deverá encerrar seus dois primeiros anos de governo com crescimento superior somente ao de Collor na história recente do país. Rio terá hoje manifestação contra lei dos royalties.
Governo Dilma deve fechar biênio 2011-2012 com expansão média anual do PIB na casa de 2,1%, menor desempenho da história recente

A presidente Dilma Rousseff deverá encerrar os dois primeiros anos de seu mandato com a segunda pior média de crescimento da história recente do Brasil, só perdendo para o período Collor. No biênio 2011-2012, o crescimento médio anual do Produto Interno Bruto (PIB) do País deverá ser da ordem de 2,1%, considerando uma expansão de 1,52% prevista para este ano pela mediana do mercado financeiro na pesquisa do Boletim Focus, do Banco Central (BC).
Nos dois primeiros anos do primeiro e do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, essa média foi de, respectivamente, 3,4% e 5,6%, e nos de Fernando Henrique Cardoso, de 3,2% e 2,3%. Já no de Fernando Collor de Mello, ficou em 0,25%.
Economistas alertam para o risco de 2013 piorar o prognóstico para o governo, caso não mude o foco da política de crescimento - hoje baseada no aumento do consumo - passando a incentivar mais o investimento e melhorar a produtividade.
"Esses resultados ruins não serão salvos com políticas pontuais, como a desoneração do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) dos automóveis, que ajudou muito o resultado do terceiro trimestre, que esperamos ser de 0,9% na margem (comparação com o anterior)", afirma Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. "Mesmo com um quarto trimestre ainda melhor (1,1%), o resultado será de 1,3% no ano", ressalta.
Na sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai divulgar os números do PIB referentes ao terceiro trimestre. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, prevê crescimento de 1,2% na comparação com o segundo trimestre.
Para o ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas, hoje presidente da Confederação Nacional do Comércio (CNC), a economia não deslancha mais por problema de oferta do que de demanda. Ele argumenta que tanto a demanda não está fraca que a inflação está acima do centro da meta, de 4,5%.
"Precisamos de uma mini-agenda de crescimento que comece por desindexar o salário mínimo", defende. A proposta é polêmica e enfrenta forte resistência dos sindicatos, mas ele argumenta que é preciso baixar o custo unitário do trabalho no Brasil, "que está muito alto".
"Esse custo é pressionado para cima pela política do salário mínimo, que todo ano tem um aumento real de valor", diz o presidente da CNC.
As medidas tomadas recentemente pelo governo ainda não tiveram impacto no aumento da produtividade das empresas, diz o empresário José Ricardo Roriz Coelho, diretor do departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
"O governo, em algumas coisas, andou numa velocidade que chegou a impressionar", afirma Roriz Coelho. "Só que a queda da Selic (a taxa básica de juros da economia), por exemplo, ainda não pegou o spread bancário e as empresas continuam pagando taxas de 30% ao ano", cita.
O empresário reconhece que a queda da taxa de juros, a melhora do câmbio e a desoneração da folha de pagamentos de 40 setores industriais vão ter impacto positivo no futuro. "Mas isso não acontece de uma hora para a outra, sem contar que pegou as empresas descapitalizadas, sem capacidade de investir e numa situação em que a produtividade está muito baixa."
Para ele, se o atual modelo de crescimento não mudar "o mais rápido possível" para um modelo baseado em investimento, em 2013 vai ocorrer o mesmo que hoje. "O consumo cresce, mas quem captura o aumento do poder de compra do brasileiro são os produtos importados."
Sérgio Vale, da MB, vai além. "Em 2013, junto à continuidade de falta de reformas, e com a tendência de o governo interferir ainda mais nas decisões privadas, fica difícil imaginar uma recuperação significativa."
Para piorar, no começo do ano, o País poderá sentir os efeitos do chamado abismo fiscal americano. O problema se refere ao fim de incentivos fiscais implementados há quase dez anos pela administração de George Bush e ao início de cortes automáticos no orçamento em programas sociais e militares a partir de janeiro de 2013. O valor a ser retirado da economia chega a US$ 607 bilhões, caso não haja acordo entre o governo Obama e o Congresso do país.
"A diferença é que o impacto negativo em 2013 já é esperado, ao contrário do ano passado", pontua Vale. "Mas o fato é que isso joga o crescimento mundial para baixo e reforça perspectivas negativas para Europa e China. Com isso, o cenário externo continua ruim e o doméstico, sem grande melhora. Assim fica difícil imaginar crescimento expressivo para o Brasil", diz Vale.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

BRASIL DÁ HOJE MAIS UM PASSO À FRENTE

BRASIL DÁ HOJE MAIS UM PASSO À FRENTE

A ASCENSÃO DE BARBOSA
Autor(es): DIEGO ABREU
Correio Braziliense - 22/11/2012
 

Ao ser empossado às 15h na presidência do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa se tornará o primeiro negro a chefiar o Poder Judiciário, um dos três pilares da República. Assim como a eleição de um operário e de uma ex-presa política para presidente do Brasil, a ascensão de Joaquim — filho de uma faxineira e de um pedreiro — era, até pouco tempo atrás, um fato impensável na história brasileira. Última nação independente da América a abolir a escravidão, o país ainda é, 124 anos depois, marcado por contradições, preconceitos e desigualdades sociais extremas. Dentro desse contexto, Barbosa chega ao topo da carreira orgulhoso por haver triunfado pelos próprios méritos e celebrado como herói nacional por relatar a ação penal que pôs fim à impunidade de políticos corruptos no país. No total, 2,5 mil pessoas — entre artistas, ativistas e autoridades públicas —foram convidadas para a posse.

Primeiro ministro negro a presidir o STF será empossado hoje, em cerimônia para cerca de 2,5 mil convidados. Graças ao julgamento da Ação Penal 470, Corte reforçou o prestígio perante a população

Um dos protagonistas do julgamento da Ação Penal 470, que resultou na condenação de 25 envolvidos com o escândalo do mensalão, Joaquim Barbosa chega hoje ao cargo máximo do Poder Judiciário brasileiro. A posse do primeiro presidente negro da história do Supremo Tribunal Federal (STF) está marcada para as 15h e vai ser prestigiada pelas mais altas autoridades do país e por dezenas de artistas e ativistas que confirmaram presença na solenidade.
Joaquim Barbosa, 58 anos, chega ao cargo de presidente do Supremo diante da popularidade que conquistou na condição de relator do processo do mensalão. Sua fama de implacável contra os corruptos logo se propagou e colaborou para levar a Suprema Corte aos holofotes. Barbosa assume o posto embalado pelo maior julgamento da história do órgão, que aproximou o STF dos cidadãos e transformou o tribunal no plenário mais conhecido dos brasileiros — desde agosto, a população passou a sintonizar com mais frequência a TV Justiça para acompanhar o passo a passo do mensalão.
O novo presidente do Supremo é filho de mãe faxineira e pai que foi pedreiro e caminhoneiro. Joaquim Barbosa nasceu em Paracatu (MG). Sempre estudou em escola pública, inclusive em Brasília, onde concluiu o segundo grau no Colégio Elefante Branco. Formou-se em direito na Universidade de Brasília (UnB), instituição na qual fez mestrado em direito de Estado. Com origem no Ministério Público, o magistrado chegou ao Supremo em junho de 2003, após ser nomeado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nove anos depois de ingressar no STF, Barbosa conduziu em plenário a condenação do principal ministro do primeiro mandato de Lula, o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, que foi quem o apresentou ao ex-presidente da República (leia mais na página 4). Relator do processo, Barbosa endossou a tese da Procuradoria Geral da República ao declarar que o PT montou um esquema de compra de apoio parlamentar ao governo Lula.
Embalado pelo julgamento do mensalão, que ontem chegou à 47ª sessão, Joaquim Barbosa iniciará a gestão à frente do STF acumulando nas próximas sessões as importantes funções de comandante da Corte e de relator do processo.
Elogios
Na avaliação do presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Nelson Calandra, o julgamento deu uma visibilidade nunca antes experimentada pelo STF. "O Supremo recebeu um destaque perante as pessoas comuns. É um impacto extraordinário e uma visibilidade que antes não havia. O que eu mais ouço nas ruas são elogios ao STF e, em particular, ao ministro Joaquim Barbosa", destaca Nelson Calandra.
O jurista pondera, porém, que Barbosa precisará assumir uma postura de comandante e evitar embates, como os travados ao longo do julgamento com o revisor do mensalão, Ricardo Lewandowski, que toma posse hoje na função de vice-presidente da Corte. "A cadeira do presidente vai exigir dele uma série de atitudes no sentido de evitar confrontos. O ministro Joaquim vai ter que agir de modo policiado, uma vez que a função é de coordenação."
Para o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, não há dúvida de que o Supremo se tornou muito mais popular diante do julgamento do mensalão, não somente pela atuação de Barbosa. "Acredito que não se possa endeusar a conduta dele nem mesmo minimizar de quem quer que seja. É uma Corte colegiada. A postura dele não pode ser individualizada", afirma. Segundo Cavalcante, as expectativas são otimistas em relação à gestão que se inicia hoje. "O ministro Joaquim tem mostrado compromisso com as causas públicas e esperamos que haja sempre o respeito mútuo com as entidades que compõem o sistema de Justiça."
"O Supremo recebeu um destaque perante as pessoas comuns. É um impacto extraordinário e uma visibilidade que antes não havia. O que eu mais ouço nas ruas são elogios ao STF e, em particular, ao ministro Joaquim Barbosa"
Nelson Calandra, presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Israel bombardeia a Faixa de Gaza

Israel bombardeia a Faixa de Gaza

Da BBC Brasil

Em meio à indefinição sobre um cessar-fogo que segundo o Hamas seria anunciado oficialmente ainda na noite de hoje (20), a Faixa de Gaza foi bombardeada novamente por forças de Israel. Para especialistas, a nova ofensiva adia uma possível trégua no conflito.

Pelo menos 20 palestinos foram mortos. Dois israelenses - um soldado e um civil - também morreram, vítimas de ataques de foguetes lançados da Faixa de Gaza.

Mais cedo, autoridades egípcias e palestinas informaram que o cessar-fogo seria anunciado ao fim de conversas ocorridas no Cairo, capital do Egito. No entanto, o porta-voz do governo israelense, Mark Regev, disse à BBC que o acordo ainda não havia sido finalizado.

"Não tenho dúvida de que o Hamas queira uma trégua temporária para que possa descansar e rearmar-se de forma a atacar Israel novamente na semana que vem ou no próximo mês. Não estamos interessados nessa proposta", declarou.

Ainda na noite de hoje, um funcionário do alto escalão do Hamas, Izzat Risheq, avaliou que a trégua não seria firmada até a manhã de amanhã (21).

Já os militares israelenses alegaram que a nova ofensiva tinha por objetivo matar "dois alvos terroristas" na região central da Faixa de Gaza.

Poucas horas antes, Israel havia exortado moradores de vilarejos ao redor da Faixa de Gaza para se deslocarem a zonas centrais para sua "própria segurança". Entre os palestinos mortos hoje, estão dois jornalistas de uma TV ligada ao Hamas.

Há poucos minutos, a correspondente da BBC Lyse Doucet tuitou de Gaza que "ouviu fortes explosões" e que estava "sem luz". A queda de energia foi confirmada pelo repórter da BBC Rushdi Abualouf. Segundo ele, grande parte do território estava "às escuras".

Na noite desta terça-feira, a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, chegou a Israel, em um esforço para alcançar um armistício.

Ela disse que trabalharia com Israel e o Egito para costurar uma trégua em Gaza "nos próximos dias". Hillary acrescentou que é essencial "amenizar a situação" na região e aceitar os esforços egípcios.

Após uma reunião a portas fechadas com o premiê israelense Binyamin Netanyahu, a secretária de Estado americana deve viajar a Ramallah, na Cisjordânia e ao Cairo nesta quarta-feira.

Fonte: EBC
 
 

Publicado em: 21/11/2012

APÓS A MORTE DE CIVIS - SOB PRESSÃO, ISRAEL E HAMAS JÁ NEGOCIAM CESSAR-FOGO

APÓS A MORTE DE CIVIS - SOB PRESSÃO, ISRAEL E HAMAS JÁ NEGOCIAM CESSAR-FOGO

A UM PASSO DO ACORDO
O Globo - 20/11/2012
 
Com o aumento de mortes de civis, Israel e Hamas discutem termos de cessar-fogo
Desespero. Uma mulher palestina corre com os filhos em busca de abrigo na Cidade de Gaza: mortes de civis em bombardeios israelenses crescem e levam pânico à população
Socorro. Palestinos removem um homem ferido no ataque contra o edifício Shorouk, sede da imprensa em Gaza
CAIRO, JERUSALÉM e CIDADE DE GAZA Uma série de negociações teria resultado num acordo sobre 90% dos pontos necessários para a declaração de um cessar-fogo entre Israel e o movimento islâmico Hamas na Faixa de Gaza. E sob pressão internacional para evitar uma operação militar por terra no território palestino, o Gabinete de segurança de Israel convocou uma reunião que se arrastou madrugada de hoje adentro para discutir os detalhes finais do texto, elaborado no Cairo sob a mediação de Egito, Turquia e Qatar. À rede de TV al-Arabiya, fontes diplomáticas disseram que a trégua seria implementada em duas fases. Na primeira, os dois lados suspenderiam os ataques durante um ou dois dias. E em debate estaria o fim dos assassinatos seletivos e, ainda, a suspensão do bloqueio israelense imposto à Faixa de Gaza desde 2007 - uma das maiores exigências do Hamas.
Sobre os esforços diplomáticos pesou o aumento das mortes de civis palestinos. Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, o número total de vítimas do confronto chegou a 107 - entre eles, 26 crianças, dez mulheres e 12 idosos. Pelo menos 36 são militantes reconhecidos. E a contagem de feridos também não para de crescer: 860 pessoas, sendo 260 crianças.
Os termos do acordo em discussão não foram confirmados em nenhum dos lados da fronteira. Fontes diplomáticas, porém, asseguram que um dos entraves é a exigência de garantias egípcias e internacionais pelos dois lados.
Apesar da retórica desafiadora comum entre as lideranças israelenses e palestinas, os números do embate davam indícios da disposição mútua de cessar as hostilidades. O número de agressões caiu ontem: 130 foguetes foram lançados de Gaza contra Israel (em comparação a 156 registrados no domingo) e o Exército atacou 80 alvos em Gaza (contra centenas de bombardeios na véspera).
O líder político do Hamas, Khaled Meshal, defendeu o cessar-fogo. Mas provocou:
- Quem começou isso que pare. Se eles quisessem lançar uma ofensiva terrestre, já teriam feito isso. Israel está usando a ameaça de invasão para ditar as regras e nos forçar ao silêncio. Desafio Israel a entrar na Faixa de Gaza.
O governo israelense preferiu ignorar e adotar um discurso mais contido.
- Se houver calma no Sul do país e não houver foguetes e mísseis lançados contra nossos cidadãos ou ataques terroristas planejados contra nós na Faixa de Gaza, não vamos atacar - afirmou o vice-primeiro-ministro Moshe Yaalon, do conservador partido Likud.
prédio dA IMPRENSA É BOMBARDEADO de novo
Segundo pesquisa do jornal "Haaretz", apesar de 84% dos israelenses aprovarem os bombardeios contra o Hamas, apenas 30% são favoráveis a uma operação terrestre, e outros 19% defendem que o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu trabalhe para assegurar o cessar-fogo rapidamente. Fontes egípcias, palestinas e israelenses falavam ontem com uma ponta de otimismo.
- Estamos muito perto de chegar a um documento para cessar as agressões. Falta apenas um pouco mais de flexibilidade do lado israelense - disse no Cairo o primeiro-ministro egípcio, Hisham Kandil.
Nas ruas de Gaza, porém, o pesar contrastava com qualquer perspectiva de paz. Milhares participaram do funeral da família al-Dalu, que perdeu nove integrantes - de quatro gerações - num bombardeio israelense contra o bairro de Nasser, na Cidade de Gaza. As quatro crianças vítimas do ataque tiveram seus corpos cobertos com bandeiras palestinas e do Hamas.
- Mataram uma família que era segura e feliz. Por motivo nenhum, Israel cometeu um massacre, um crime horrível - lamentou Hatem al-Dalu, um parente.
Sob os gritos de "Deus é o maior!", a multidão foi guiada por integrantes do primeiro escalão do grupo, como o porta-voz Sami Abu-Zuhri.
- Isto aconteceu porque falhamos no combate ao inimigo, porque falhamos em defender o nosso povo. Vamos vingar a morte destes mártires - declarou ele à TV al-Aqsa.
Mais tarde, outro bombardeio causou ultraje: Israel alvejou o edifício Shorouk, conhecido por abrigar os escritórios da imprensa palestina e internacional, pelo segundo dia consecutivo. Dois cinegrafistas ficaram feridos. Israel alega que no local estavam quatro altos integrantes da Jihad Islâmica. Um morreu e três foram feridos.
À espera do anúncio de um acordo, a pressão ganha reforços dos dois lados da fronteira. O chanceler turco, Ahmet Davutoglu, vai à Gaza, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chega a Israel e à Cisjordânia.

BANCOS GANHAM NA JUSTIÇA AÇÕES CONTRA OS DERIVATIVOS

BANCOS GANHAM NA JUSTIÇA AÇÕES CONTRA OS DERIVATIVOS

TRIBUNAIS DE JUSTIÇA CONSIDERAM VÁLIDOS CONTRATOS DE DERIVATIVOS
Autor(es): Por Adriana Aguiar | De São Paulo
Valor Econômico - 21/11/2012
 

Os contratos de derivativos cambiais, que durante a crise de 2008 e a disparada do dólar afetaram as finanças de grandes grupos como Sadia, Aracruz e Votorantim, causando prejuízos bilionários, têm sido reconhecidos como legítimos pelo Judiciário. As empresas que questionaram a validade dessas operações têm perdido os processos tanto na primeira quanto na segunda instância. Nas condenações, os magistrados consideram que as companhias assumiram riscos previsíveis ao apostar nesse tipo de investimento e determinam que os bancos sejam ressarcidos.
Levantamento feito para o Valor pelo escritório Wald Associados Advogados mostra que há pelo menos 27 ações sobre o tema em tramitação na Justiça. Em praticamente todas as instituições financeiras tiveram ganho de causa. Treze desses processos já chegaram aos Tribunais de Justiça com vitória também dos bancos. Entre os casos há ações de empresas como a Imcopa, processadora de soja, a catarinense Tuper, processadora de aço, a Doux Frangosul, produtora de aves e embutidos, e a varejista de móveis e decoração Tok & Stok.


Advogado e professor Arnoldo Wald: Judiciário tem dado decisões técnicas, levando em consideração a natureza peculiar dos contratos de derivativos
A Justiça tem sido implacável ao considerar válidos os contratos de derivativos, vinculados à oscilação do dólar, firmados entre companhias e bancos no início da crise financeira mundial em 2008. Um balanço realizado pelo escritório Wald Associados Advogados, que acompanha as 27 principais ações sobre o tema, aponta que praticamente todas decisões dos Tribunais de Justiça de São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul foram favoráveis à manutenção dos contratos ou ao prosseguimento da cobrança pelas instituições financeiras.
Mesmo em primeira instância, são poucas as sentenças favoráveis à anulação dos contratos. Em razão desse panorama, muitas empresas preferiram fechar acordos com os bancos (leia abaixo) a prosseguir com as ações.
Entre as empresas que sofreram revés na Justiça, está a Imcopa, maior processadora de soja não transgênica do país. A companhia chegou a obter sentença favorável à anulação contratual. Contudo, o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) foi unânime ao reformar a sentença e condená-la a pagar cerca de R$ 1,5 milhão ao banco WestLB. Após a decisão, as partes fecharam acordo.
A catarinense Tuper, uma das principais processadoras de aço do país, questionou parte dos contratos negociados. A companhia alegou já ter pago R$ 4,3 milhões ao Banco Itaú (atual Itaú-Unibanco) e que nada mais seria devido, pois os demais contratos não poderiam ser considerados válidos. A 23ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), porém, manteve a condenação de primeira instância para o pagamento de cerca de R$ 3,4 milhões a mais. Com a decisão, a empresa também preferiu firmar um acordo.
Já outras companhias ainda aguardam novas decisões no Judiciário. A Doux Frangosul, produtora de aves e embutidos de Santa Catarina, recentemente arrendada pela JBS, recorreu ao TJ-SP depois de ser foi condenada pela 26ª Vara Cível de São Paulo a pagar R$ 30,5 milhões ao Banco UBS Pactual.
A Tok & Stok, varejista de móveis e decoração, ao entrar com pedido de anulação de contrato contra o Banco Itaú, não só teve seu pedido negado como foi condenada, em primeira instância, a pagar cerca de R$ 17 milhões pelas perdas nos contratos de derivativos firmados em agosto de 2011. Posteriormente, porém, a decisão foi anulada.
Com a crise financeira mundial em 2008 e a alta do dólar em setembro daquele ano, muitas companhias buscaram o Judiciário para anular esses contratos. Os negócios previam ganhos para as companhias caso o dólar ficasse abaixo de um limite estipulado no contrato, ou perdas, caso o dólar subisse.
As empresas defendem que houve desequilíbrio nos contratos. Os bancos teriam suas perdas limitadas, mas as companhias não contavam com essa proteção. Outras utilizam nos processos a teoria da imprevisão. Argumentam que a valorização do dólar, que foi de R$ 1,55 para R$ 2,40, seria um evento imprevisível, gerador de desequilíbrio, o que autorizaria a revisão dos contratos. Há processos que ainda sustentam que os bancos teriam oferecido as operações com derivativos a clientes sem o perfil adequado e não teriam alertado sobre os riscos envolvidos, o que autorizaria a anulação dos contratos por violação à boa-fé.
Esses argumentos, porém, foram rejeitados pelo Judiciário. O relator do caso da Imcopa no TJ-PR, desembargador Hayton Lee Swain Filho, também considerou a natureza do negócio "que leva em sua essência o risco da variação cambial". Para o magistrado "não se poderia considerar essas perdas como "fato imprevisível e extraordinário a causar injustificativa vantagem" ao banco.
A juíza Mariella Ferraz de Arruda Nogueira, da 39ª Vara Cível do Fórum Central de São Paulo, que condenou a Tok & Stok, entendeu que o risco do negócio foi destacado pelo banco na contratação. "O mínimo que se pode esperar de uma empresa com notória experiência no mercado, como é o caso, é que se busque informações no mercado e junto à própria instituição financeira quanto às possibilidades positivas e negativas da negociação", diz.
O advogado da empresa, Antonio Lopes Muniz, informou, porém, que, como teria havido cerceamento de defesa e as provas fornecidas pela companhia não teriam sido analisadas na primeira instância, a decisão foi revertida pelo TJ-SP. O caso será novamente avaliado pela 39ª Vara Cível. Para Muniz, não é a mesma situação dos contratos de swap, no qual as empresas tinham orientação da própria tesouraria para apostar dinheiro e correr o risco de perder. "A Tok & Stok não tem esse hábito e só firmou esse contrato por conta de um empréstimo", afirma.
Segundo os coordenadores do balanço, os advogados Arnoldo Wald e André de Luizi Correia, do escritório Wald Associados Advogados, as decisões sinalizam que há uma jurisprudência em formação favorável aos bancos.
Para Wald, a Justiça tem dado decisões técnicas, levando em consideração a natureza peculiar desses contratos. "Ganhar ou perder é um risco inerente a essas operações. Quem assumiu o risco deve suportá-lo, ainda que as perdas verificadas sejam consideráveis", diz o advogado, acrescentando que o princípio do equilíbrio entre as partes direcionado aos contratos comerciais não pode ser aplicado aos derivativos. "Esses contratos envolvem uma certa aposta." Segundo Wald, as empresas têm informações sobre o risco do negócio e, por isso, a Justiça também não poderia aplicar a teoria da imprevisibilidade.
Com os questionamentos judiciais, as operações com contratos de derivativos ficaram praticamente paralisadas no Brasil, segundo Correia. "Porém, voltaram com força em 2010 e viraram uma rotina", afirma.
O advogado Maurício Almeida Prado, sócio do escritório L.O.Baptista-SVMFA Advogados, estudioso do assunto, afirma que as decisões judiciais brasileiras se alinham com a jurisprudência da maioria dos países europeus ao não aceitar a aplicação da teoria da imprevisão. "São contratos de risco. É o mesmo que jogar em um cassino e depois reclamar pelo que se perdeu", diz. Ele acrescenta que, durante muitos anos, as companhias ganharam muito com esses contratos. Prado afirma ter recomendado a clientes com contratos dessa natureza a negociação com os bancos. "Tecnicamente seria muito difícil ganhar uma ação como essa na Justiça."
Procuradas pelo Valor, a assessoria de imprensa da JBS e a diretoria da Imcopa não deram retorno até o fechamento da edição. A Tuper informou que não se manifestará sobre o assunto.

Teste para Cristina K.: Greve geral na Argentina afeta Brasil

Teste para Cristina K.: Greve geral na Argentina afeta Brasil

Surpresa no feriadão
Autor(es): Janaína Figueiredo
O Globo - 21/11/2012
 

Protesto é o maor em 10 anos no país vizinho. Voos entre Brasil e Argentina são cancelados

Buenos Aires e Rio A Argentina foi cenário ontem da primeira greve geral desde que os Kirchner chegaram ao poder, em maio de 2003. A paralisação, que interrompeu os transportes e suspendeu serviços básicos, foi convocada por três centrais sindicais que fazem oposição ao governo: a ala da Central Geral de Trabalhadores (CGT), liderada pelo líder dos caminhoneiros Hugo Moyano - até o ano passado, um forte aliado da Casa Rosada -, a Central dos Trabalhadores Argentinos (CTA), comandada por Pablo Micheli; e a Federação Agrária Argentina (FAA).
O protesto atrapalhou a volta ao país dos brasileiros que escolheram Buenos Aires como destino para o último grande feriado do ano. Ao todo, 25 voos entre o Brasil e o país vizinho haviam sido cancelados até a noite de ontem.
A Aerolíneas Argentinas foi a que suspendeu mais voos (17). Foram cinco que partiriam de Buenos Aires para o Rio (Galeão), outros cinco voos da capital argentina para São Paulo (Guarulhos) e dois voos para Porto Alegre. As partidas, desde os aeroportos de Ezeiza e Aeroparque, foram reprogramadas para hoje. As decolagens do Brasil para lá também foram canceladas: duas a partir do Rio, duas a partir de São Paulo e uma a partir de Porto Alegre.
Voos de Gol e TAM não são afetados
Já a Austral suspendeu quatro voos de São Paulo, dois Guarulhos-Buenos Aires e outros dois que partiriam da capital argentina para São Paulo. Para saber detalhes dos voos cancelados e acompanhar as reprogramações, a Aerolíneas recomenda acessar seu site (www.aerolineas.com.ar). A Austral pertence ao mesmo grupo.
A LAN cancelou quatro voos entre São Paulo e Buenos Aires. Os passageiros poderão ter reembolso integral dos bilhetes. Quem quiser remarcar a viagem pode entrar em contato com o call center: 0300 788 0045 no Brasil e 0810-9999-526 na Argentina. Voos de TAM e Gol não foram afetados.
A professora Luana Lisboa, que trabalha na Fundação Getulio Vargas, foi uma das que ficaram presas em Buenos Aires. Ela e os amigos Geisiane Rodrigues, servidora pública, Júlio César Rosa, auxiliar administrativo, e Paulo José Leal, analista de sistemas, viajaram para a Argentina quinta-feira passada, no feriado da Proclamação da República. O grupo deveria ter voltado ao Brasil ontem às 16h25m, no voo AR 1294.
Eles ficaram indignados com a falta de informação da companhia. A aérea ofereceu a promessa de embarcá-los em outro voo para o Rio, no próximo domingo, dia 25, sem pagar hotel nem táxi. Depois de muita discussão, o grupo conseguiu que a Aerolíneas os realocasse num voo previsto para hoje, às 16h30m. Eles escolheram a passagem da Aerolíneas porque era a mais barata.
- O atendimento da Aerolíneas foi péssimo. Eles nos deram um número de telefone para fazer reclamação e não pagaram alimentação, hotel nem transporte - reclamou Luana.
Carolina Vianna e Cléber Cruz também foram passar o feriado em Buenos Aires e voltariam para São Paulo, num voo da Aerolíneas (AR 1248) que sairia às 19h25m do Aeroparque com destino ao Aeroporto de Guarulhos (SP). O voo foi cancelado, e a companhia sugeriu que eles fossem para o Aeroporto de Ezeiza tentar embarcar em outro voo, sem ressarcimento. E eles ainda teriam de pagar pela nova passagem.
Eles não aceitaram a oferta e, depois de muito insistir, conseguiram vaga no voo AR 1246, saindo do Aeroparque à 1h50m de hoje para São Paulo.
- Tivemos que pagar pela corrida de táxi o triplo do valor normal do hotel até o aeroporto, por causa da greve - reclamou Cruz, no saguão do aeroporto.












































 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

ISRAEL ATACA ALVOS CIVIS NA FAIXA DE GAZA

ISRAEL ATACA ALVOS CIVIS NA FAIXA DE GAZA

PRESSÃO CONTRA INVASÃO DE GAZA
O Globo - 19/11/2012
 
EUA e aliados acautelam contra expansão de conflito; conversas de cessar-fogo avançam
Cidade de Gaza e Tel Aviv O quinto e mais sangrento dia da ofensiva israelense em Gaza, com 24 palestinos mortos, foi marcado pelo massacre de uma família palestina e pela intensificação da pressão internacional para evitar uma invasão terrestre ao território. Fiel aliado de Tel Aviv, os Estados Unidos manifestaram apoio incondicional ao parceiro histórico - ressaltando, porém, que um ataque por terra não seria "preferível", como definiu o presidente Barack Obama. O Reino Unido também expressou solidariedade a Israel, enquanto a França, que mandou seu chanceler a Jerusalém, foi mais reticente.
A mobilização ocidental, assim como a pressão dos vizinhos no Oriente Médio, parece ter surtido efeito. Segundo a rede al-Jazeera, ontem à noite Ramzi Hamad, um dos chefes do Hamas na Faixa de Gaza, afirmou que o grupo palestino e Israel já concordaram em 90% dos termos para um acordo de cessar-fogo. Já uma das autoridades do Fatah, organização rival ao Hamas e que também participa das negociações, confirmou que as conversas com os israelenses estão em estágio avançado.
O relativo otimismo com o fim do confronto veio após um dia marcado pela violência. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu assegurou que as Forças Armadas israelenses estão preparadas para "expandir significativamente" a operação contra os militantes palestinos na Faixa de Gaza. Além de manter em vigor a ameaça da invasão terrestre a Gaza, Israel comandou o ataque a um centro de imprensa no território palestino, deixando oito jornalistas feridos - um deles teve de amputar a perna. A situação ficou ainda mais tensa após um míssil atingir em cheio a casa da família al-Dallu, na Cidade de Gaza. Doze de seus integrantes morreram, entre eles quatro crianças e cinco mulheres. O massacre gerou críticas até da TV israelense, que ressaltou que, até agora, os bombardeios tinham precisão quase cirúrgica.
Em comunicado, o Hamas protestou contra a chacina: "O massacre da família al-Dallu não ficará sem resposta". Os outros 15 palestinos mortos ontem foram atingidos por ataques a cidades como Shejaiya, no Leste de Gaza, e Jabaliya, no Norte do território.
Ontem, 114 mísseis foram disparados de Gaza em direção a Israel, atingindo Beersheba, Ashdod, Ashkelon e Sderot, deixando pelo menos cinco feridos. O sistema antimísseis Domo de Ferro conseguiu interceptar 30, entre eles quatro que atingiriam Tel Aviv.
Israel pôs a culpa das mortes nos militantes palestinos. O general Yoav Mordechai, porta-voz do Exército, mostrou vídeos do que seriam grupos atuantes em Gaza operando mísseis em regiões habitadas, próximo a mesquitas, escolas e prédios.
- O Hamas está usando a população de Gaza como escudo humano - acusou. - Eles estão explorando áreas urbanas residenciais muito habitadas.
Apesar das hostilidades, Israel e Hamas garantiram, ao longo do dia, estar abertos a negociações para interromper a troca de mísseis. Funcionários palestinos afirmaram que um cessar-fogo poderia ser assinado ainda hoje, no Cairo. A imprensa israelense informou que uma delegação do país também estava na capital egípcia, embora um porta-voz do governo tenha negado. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chegará à cidade hoje para reforçar o grupo de autoridades que tentam um acordo.
Ban será recebido pelo presidente egípcio, o islamista Mohamed Mursi - que, durante todo o fim de semana, foi anfitrião de colegas da Liga Árabe. Mursi conseguiu do primeiro-ministro do Hamas, Ismail Haniyeh, a promessa de que ele assinaria um cessar-fogo, desde que o grupo palestino receba "garantias de que não haverá uma agressão no futuro".
Obama: "Israel tem o direito de se defender"
Em visita à Tailândia, sua primeira viagem internacional desde a reeleição, no dia 6 passado, Obama deixou claro que os EUA estão firmemente ao lado de Israel, mas apelou para que Netanyahu dê mais tempo para os governantes do Oriente Médio tentarem controlar o Hamas.
- Se esse objetivo pode ser atingido sem a evolução de uma atividade militar em Gaza, seria preferível - avaliou. - E isso não é preferível apenas para a população de Gaza, mas também para os israelenses, porque, se as tropas de Israel estiverem em Gaza, haverá um risco muito maior de ocorrerem mortos e feridos.
De acordo com Obama, Israel tem o direito de se defender do ataque. Com a mensagem de Netanyahu de que Israel estaria pronto para expandir sua ofensiva, Obama alertou aos líderes do Oriente Médio que Tel Aviv "tem todo o direito de garantir que mísseis não serão disparados contra seu território".
- Não há um país no planeta que toleraria mísseis, vindos de fora de suas fronteiras, chovendo sobre seus cidadãos - ressaltou Obama em Bangcoc, capital tailandesa. - Apoiamos totalmente o direito de Israel de se defender.
Apesar de ter uma relação difícil com Netanyahu, o líder americano destinou os comentários mais ásperos a Mursi e ao primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, que têm se posicionado como críticos ferozes das operações israelenses em Gaza. Obama advertiu os apoiadores de um Estado palestino independente que qualquer acordo de paz seria empurrado para um "futuro distante" se o conflito atual aumentasse.
- O que eu disse ao presidente Mursi e ao premier Erdogan é que os defensores da causa palestina deveriam reconhecer que, se a situação em Gaza se agravar, a probabilidade de termos um acordo de paz será empurrada para o futuro - alertou. - Estamos trabalhando ativamente com os representantes da região para ver se podemos cessar o lançamento de mísseis sem uma escalada de violência.
"Simpatia internacional" em jogo
O governo britânico também cerrou fileiras ao lado de Israel. O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, William Hague, atribuiu ao Hamas a principal responsabilidade pela crise em Gaza, devido aos constantes bombardeios palestinos ao território israelense. Hague, no entanto, considerou que seria difícil para a comunidade internacional continuar simpática a Israel se o país insistisse numa operação terrestre. Esta opção tornaria mais difícil conter as baixas civis, o que provocaria um prolongamento do conflito.
- O primeiro-ministro (David Cameron) e eu salientamos aos nossos colegas israelenses que uma invasão por terra da Faixa de Gaza custaria a Israel muito do apoio internacional que ele tem nessa situação - revelou, em entrevista a uma emissora de TV britânica. - Seria muito mais difícil restringir ou evitar mortes de civis durante uma ação como esta.
- Deixamos nosso ponto de vista muito claro para Israel - acrescentou. - Assim como, para nós, é muito claro que o fim do disparo de mísseis de Gaza para o Sul de Israel é uma situação intolerável, e não é uma surpresa que o país tenha respondido a isso.
A França despachou seu ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius, para Israel. O chanceler francês ofereceu ao colega israelense, Avidgor Lieberman, os esforços de seu país para que o confronto terminasse com um "cessar-fogo imediato".
Lieberman agradeceu a "mobilização francesa para evitar vítimas", mas avaliou que apenas "quando todas as organizações terroristas anunciarem um cessar-fogo", Israel poderá considerar "todas as ideias que o ministro francês e outros amigos estão propondo".
O chanceler ressaltou que seu país não negociaria uma trégua na Faixa de Gaza enquanto mísseis ainda fossem disparados do território palestino.
- A primeira e absoluta condição para uma trégua é acabar com o bombardeio vindo de Gaza - destacou.
O ministro israelense ainda impôs que todas as facções palestinas presentes em Gaza se comprometam com o cessar-fogo. Esta, segundo ele, é a forma de conseguir "um acordo de longo prazo".

CIVIS SÃO MASSACRADOS NA PALESTINA

CIVIS SÃO MASSACRADOS NA PALESTINA

VÍTIMAS DO HORROR
Autor(es): RODRIGO CRAVEIRO
Correio Braziliense - 19/11/2012
 

Os conflitos entre militares israelenses e militantes palestinos voltaram a vitimar inocentes: ontem, ataque das forças de Israel na Faixa de Gaza matou uma família inteira de uma só vez. Foram dois homens, seis mulheres e quatro crianças. No total, sobe para 75 (três judeus) o número de vítimas desde o início da ofensiva, há seis dias. Presidente Dilma Rousseff, que está em Madri, telefonou ao secretário-geral da ONU e pediu esforço pelo cessar-fogo.

Israel bombardeia casa na Faixa de Gaza e mata 12 pessoas da mesma família. Hamas lança chuva de foguetes

"As crianças eram engraçadas e falantes. Eu adorava conversar com elas e jogar cartas." O ativista palestino Majed Abusalama se referia a Ranin, 5 anos, Jamal (7) e Yousef (10). Além deles, o irmão Ibrahim (1 ano); o pai, Mohammed; o avô Jamal e outros seis parentes morreram ontem quando um míssil disparado por um caça F-16 israelense caiu sobre a residência da família Al-Dalou, na Rua Al-Nasser, no bairro de Sheikh Redwan, região oeste da Cidade de Gaza. O ataque, ocorrido por volta das 15h10 (11h10 em Brasília), tinha como alvo Yehiya Rabiah, chefe da unidade de lançamentos de foguetes do movimento islâmico Hamas.
A explosão atingiu a casa vizinha, matando 12 pessoas da mesma família — seis mulheres, quatro crianças e dois homens. Yehiya sobreviveu. "Famy Al-Dalou, meu amigo, vivia lá e ficou bastante ferido. Suas irmãs morreram", lamentou Majed, em entrevista ao Correio. Até as 23h de ontem, 71 palestinos tinham sido mortos desde quarta-feira, 28 nos bombardeios de ontem. Foguetes do Hamas também mataram três israelenses, na quinta-feira. No fim da noite, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu a palestinos e a judeus um cessar-fogo "imediato". "Isto deve parar", avisou, por meio de um comunicado no qual lamentou as mortes na família Al-Dalou.
O jornalista palestino Samy Elajramy foi até o local da casa dos Al-Dalou e relatou à reportagem ter ficado chocado. "As pessoas daqui estão falando sobre o massacre mais horrível que já ocorreu desde quarta-feira. Nada sobrou da residência. Todas as casas ao redor estão danificadas", disse, também por telefone. "Outros integrantes da família choravam, querendo saber quem estava lá. Foi algo comovente", admitiu. "Israel, o que as crianças e os recém-nascidos fizeram?", perguntava, entre lágrimas, Khalil Al-Dalou. As Brigadas Ezzedine Al-Qasam — braço armado do Hamas, cujo líder, Ahmed Jabari, foi morto na quarta-feira — prometeram que "o massacre não ficará impune".
O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou ao seu gabinete ministerial que Israel está preparado para "expandir de forma significativa" a Operação Pilar de Defesa. Durante a madrugada de ontem, um escritório da rede estatal de tevê russa Russia Today ficou destruído, depois que a aviação israelense atacou o centro de imprensa Al-Shawa. O escritório ficava no 11º andar de um prédio e dividia espaço com outros meios de comunicação, como a Sky News, a ITV e agências de notícia palestinas.
Khader El-Zahar, cinegrafista da rede de tevê Al-Quds, teve a perna direita arrancada pela explosão. Outros cinco jornalistas ficaram feridos. O edifício Al-Shorouk, de 16 andares, também foi bombardeado. Os estúdios da tevê Al-Aqsa foram atingidos. "Israel quer esconder a verdade", acusou a jornalista Mousheera Jammal, moradora da Cidade de Gaza, em entrevista pela internet. Samy tem a mesma opinião. "Os israelenses exigiram que todos deixassem os prédios. Foi um claro ataque a jornalistas. Querem nos silenciar", desabafou.
O Hamas lançou 120 foguetes contra o sul de Israel (40 a mais do que na véspera) — desde o início do confronto, na quarta-feira, foram 980. As sirenes antiaéreas soam a cada sete minutos. Dois artefatos foram interceptados pelo sistema Domo de Ferro, antes que caíssem em Tel Aviv. A britânica Beverly Jamil mora há 30 anos em Ashkelon, a 21km de Gaza. "Viver aqui tem sido muito assustador. A cada sirene, você pula. Hoje, as sirenes tocaram oito vezes. Começou às 8h30", relatou ao Correio, por telefone. Questionada se crê em trégua, ela responde com uma pergunta. "Se você tivesse pessoas disparando foguetes a todo o momento, não gostaria que alguém o salvasse? Minhas crianças e as crianças palestinas querem crescer em paz."
A 18km dali, Ashdod teve uma tarde apavorante. Pelo menos 15 foguetes foram lançados pelo Hamas contra a cidade em um intervalo de apenas cinco minutos. O israelense Yaniv Cackon, 31 anos, disse que a comunidade é unida e tenta manter a calma. "Nós queremos ter uma vizinhança (Gaza) vivendo em um paz", comentou.
Diplomacia
Por enquanto, o acerto de um cessar-fogo parece improvável. Izat Al-Rishak, integrante do birô político do Hamas, expôs as condições do grupo fundamentalista para a trégua. "Nós insistimos que a agressão e os assassinatos devem parar, e o bloqueio injustificável a Gaza tem que ser removido", declarou. O presidente dos EUA, Barack Obama, considerou que os ataques com foguetes precipitaram a guerra. "Nós estamos trabalhando ativamente com todas as partes da região para ver se podemos pôr fim ao disparo desses mísseis, sem que haja a escalada de violência", afirmou, depois de conversar com Netanyahu, com o colega egípcio, Mohamed Morsy, e com o premiê turco, Tayyip Erdogan. Obama alertou para os perigos de uma ofensiva terrestre. "Se as tropas entrarem em Gaza, haverá um risco maior de baixas", disse.
No início da noite de ontem, na capital espanhola, a presidente Dilma Rousseff ligou para Ban Ki-moon para pedir empenho do Conselho de Segurança da ONU nos conflitos no Oriente Médio. Na prática, Dilma se disse preocupada com o uso desproporcional da força e considerou que o conselho deve assumir as responsabilidades em buscar um acordo de trégua na região. Horas antes, Dilma recebeu uma ligação do presidente egípcio, que considerou a influência do Brasil na ONU. "Morsy ficou satisfeito (com a conversa) e vamos acompanhar a situação", disse o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, que criticou o Quarteto para o Oriente Médio — EUA, Rússia, União Europeia e ONU. ""Enquanto continuar essa política intransigente e esta desídia das grandes potências em relação ao conflito, esses fenômenos vão se multiplicar", disse Garcia.
Colaborou Leonardo Cavalcanti, enviado especial a Madri

Fatah e Hamas concordam em se unir em meio à crise em Gaza

Fatah e Hamas concordam em se unir em meio à crise em Gaza

Publicado em Carta Capital

As facções rivais palestinas Fatah e Hamas afirmaram nesta segunda-feira que decidiram terminar com anos de disputas em uma demonstração de solidariedade pela crise de Gaza, informou um correspondente da AFP.
Palestinos se reúnem em manifestação na Cidade de Gaza em 13 de novembro. Foto: AFP / Marco Longari

“A partir daqui, anunciamos com outros líderes (de facções) que estamos acabando com a divisão”, afirmou o oficial Jibil Rajoub, do Fatah, a uma multidão de cerca de mil pessoas que se reuniram para um protesto em Ramallah, a capital política da Cisjordânia.
Dentre os presentes, estavam integrantes do alto escalão do Hamas na Cisjordânia, assim como funcionários da liderança de sua rival menor Jihad Islâmica, informou um correspondente da AFP.
A praça Manana de Ramallah se tornou um mar de bandeiras palestinas, enquanto a multidão gritava “Unidade!” e “Atinjam, atinjam Tel Aviv”, em um apelo aos militantes do Hamas que dispararam ao menos cinco foguetes contra a cidade costeira deste quinta-feira.
“Quem fala sobre divisão depois de hoje é um criminoso”, disse o líder do Hamas, Mahmud al-Ramahi, à multidão.
O Fatah e o Hamas, as duas principais facções nacionais palestinas, travaram uma intensa disputa por anos.
Mas o atual derramamento de sangue na Faixa de Gaza, governada pelo Hamas, onde Israel realizava nesta segunda-feira um sexto dia de ofensiva aérea que já matou até agora 90 palestinos, parece ter levado a uma reconsideração das rivalidades tradicionais.