O PODER SOB BOMBAS
ISRAEL ACELERA A OPERAÇÃO EM GAZA |
Autor(es): RODRIGO CRAVEIRO |
Correio Braziliense - 18/11/2012 |
Musheer Elmasri, um dos líderes do Hamas, fala ao Correio e promete enviar “encomendas" a Israel em caso de invasão
Aviação bombardeia alvos simbólicos do Hamas. Militantes palestinos revidam e lançam mais 80 foguetes
São 16h40 em Beersheva, cidade localizada na região sul de Israel, a apenas 42km da fronteira com a Faixa de Gaza. O músico israelense Tal Rotem, 35 anos, conversa com o Correio por telefone e afirma que se apresentou ao Exército. De repente, a entrevista é interrompida. “Estamos tendo um alarme agora. Estamos sendo atacados nesse momento e estamos correndo para o abrigo”, afirmou. Quase no mesmo instante, a rede de tevê CNN informa que as sirenes antiaéreas também soam em Tel Aviv. Dessa vez, a bateria antimísseis Domo de Ferro interceptou dois foguetes Fajr-5 do grupo islâmico Hamas. Até o fechamento desta edição, os militantes palestinos haviam lançado 740 mísseis contra o sul de Israel. Enquanto os palestinos intensificavam os ataques — somente ontem, 80 foguetes foram disparados —, as forças israelenses ampliavam a Operação Pilar de Defesa. Mais de 950 bombas já foram despejadas sobre a Faixa de Gaza. Dessa vez, os drones (aviões não tripulados) e os caças F-16 se concentraram em alvos simbólicos, ligados ao poder em Gaza. Pela manhã, mísseis reduziram a escombros o quartel-general do Hamas, onde também funciona o gabinete do premiê, Ismail Haniyeh. A casa do ministro do Interior, Ibrahim Salah, no campo de refugiados de Jabaliya, e a Universidade Islâmica foram destruídas. Desde quarta-feira, ao menos 45 palestinos e três israelenses morreram. O número de feridos chega a 345 árabes e 18 judeus, incluindo 10 soldados. “Nós transformaremos Gaza em seu cemitário e queimaremos Tel Aviv.” A mensagem, assinada pelas Brigadas Al-Quds — facção armada da Jihad Islâmica — e enviada a oficiais das Forças de Defesa de Israel (IDF), antecipava-se a uma iminente invasão de tropas. Benny Gantz, chefe do Estado-Maior, concordou ontem com a convocação emergencial de 20 mil reservistas, já incorporados às suas unidades. Tal Rotem, um dos israelenses que atendeu ao chamado, disse aguardar ordens do governo de Benjamin Netanyahu. “Sou um soldado e tenho que fazer o que é preciso fazer. Pediram para que ficássemos de prontidão”, afirmou. O chanceler israelense, Avigdor Lieberman, nega uma “guerra generalizada” e explica que os objetivos da Operação Pilar de Defesa foram fixados. “Estamos prontos para uma ampla operação terrestre, se necessário. Mas é preciso saber que, se ela começar, será impossível detê-la”, alertou. Por telefone, um dos líderes do Hamas, Musheer Elmasri, alertou que uma invasão de tropas seria “suicídio” (leia entrevista). Em Tel Aviv, o empresário David Yaari, de 42 anos, voltou a enfrentar o medo dos foguetes do Hamas. Pai de um casal de gêmeos de 3 anos e de um bebê de 18 meses, ele admitiu ao Correio: “Não há nada pior do que pegar seus filhos, correr para um abrigo antibombas e esperar o que acontece”. De acordo com ele, os 3,2 milhões de habitantes da capital financeira de Israel estão “bem assustados”. “Eu estive em São Paulo e no Rio de Janeiro, e cresci em Nova York. Eu posso lhe dizer que nunca tive que correr, por causa de um foguete caindo. É algo inaceitável que as pessoas vivam em um local que pode ser bombardeado”, comentou. “É a terceira vez, em três dias, que somos atacados.” Cerco A blogueira e estudante palestina Shahd Abusalama, de 21 anos, contou que uma amiga mora perto do QG do Hamas e sentiu o impacto da explosão. “Ela dormia, quando pedaços das casas vizinhas ‘choveram’ sobre a sua. Tudo tremia e todos acordaram em pânico”, relatou. Shahd não teme uma ofensiva terrestre. “A resistência está dedicada a proteger a população. Os tanques e as tropas israelenses estão espalhados ao longo da fronteira. Estamos cercados, recebendo mísseis de todos os lugares.” Pelo telefone, era possível escutar o barulho dos drones (aviões espiões) de Israel sobrevoando a região. No front diplomático, o chefe da Liga Árabe, Nabil Al-Arabi, se comprometeu a apoiar os palestinos contra a “agressão” israelense e a pôr fim ao bloqueio de Gaza. A declaração foi feita durante reunião de emergência dos chanceleres do bloco, no Cairo. O ministro das Relações Exteriores da Tunísia, Rafik Abdesselem, visitou Gaza e enviou uma mensagem contundente. “Israel não goza de imunidade total e não está acima da lei. O que Israel faz é inaceitável.” |
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