ISRAEL ATACA ALVOS CIVIS NA FAIXA DE GAZA
PRESSÃO CONTRA INVASÃO DE GAZA |
O Globo - 19/11/2012 |
EUA e aliados acautelam contra expansão de conflito; conversas de cessar-fogo avançam Cidade de Gaza e Tel Aviv O quinto e mais sangrento dia da ofensiva israelense em Gaza, com 24 palestinos mortos, foi marcado pelo massacre de uma família palestina e pela intensificação da pressão internacional para evitar uma invasão terrestre ao território. Fiel aliado de Tel Aviv, os Estados Unidos manifestaram apoio incondicional ao parceiro histórico - ressaltando, porém, que um ataque por terra não seria "preferível", como definiu o presidente Barack Obama. O Reino Unido também expressou solidariedade a Israel, enquanto a França, que mandou seu chanceler a Jerusalém, foi mais reticente. A mobilização ocidental, assim como a pressão dos vizinhos no Oriente Médio, parece ter surtido efeito. Segundo a rede al-Jazeera, ontem à noite Ramzi Hamad, um dos chefes do Hamas na Faixa de Gaza, afirmou que o grupo palestino e Israel já concordaram em 90% dos termos para um acordo de cessar-fogo. Já uma das autoridades do Fatah, organização rival ao Hamas e que também participa das negociações, confirmou que as conversas com os israelenses estão em estágio avançado. O relativo otimismo com o fim do confronto veio após um dia marcado pela violência. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu assegurou que as Forças Armadas israelenses estão preparadas para "expandir significativamente" a operação contra os militantes palestinos na Faixa de Gaza. Além de manter em vigor a ameaça da invasão terrestre a Gaza, Israel comandou o ataque a um centro de imprensa no território palestino, deixando oito jornalistas feridos - um deles teve de amputar a perna. A situação ficou ainda mais tensa após um míssil atingir em cheio a casa da família al-Dallu, na Cidade de Gaza. Doze de seus integrantes morreram, entre eles quatro crianças e cinco mulheres. O massacre gerou críticas até da TV israelense, que ressaltou que, até agora, os bombardeios tinham precisão quase cirúrgica. Em comunicado, o Hamas protestou contra a chacina: "O massacre da família al-Dallu não ficará sem resposta". Os outros 15 palestinos mortos ontem foram atingidos por ataques a cidades como Shejaiya, no Leste de Gaza, e Jabaliya, no Norte do território. Ontem, 114 mísseis foram disparados de Gaza em direção a Israel, atingindo Beersheba, Ashdod, Ashkelon e Sderot, deixando pelo menos cinco feridos. O sistema antimísseis Domo de Ferro conseguiu interceptar 30, entre eles quatro que atingiriam Tel Aviv. Israel pôs a culpa das mortes nos militantes palestinos. O general Yoav Mordechai, porta-voz do Exército, mostrou vídeos do que seriam grupos atuantes em Gaza operando mísseis em regiões habitadas, próximo a mesquitas, escolas e prédios. - O Hamas está usando a população de Gaza como escudo humano - acusou. - Eles estão explorando áreas urbanas residenciais muito habitadas. Apesar das hostilidades, Israel e Hamas garantiram, ao longo do dia, estar abertos a negociações para interromper a troca de mísseis. Funcionários palestinos afirmaram que um cessar-fogo poderia ser assinado ainda hoje, no Cairo. A imprensa israelense informou que uma delegação do país também estava na capital egípcia, embora um porta-voz do governo tenha negado. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chegará à cidade hoje para reforçar o grupo de autoridades que tentam um acordo. Ban será recebido pelo presidente egípcio, o islamista Mohamed Mursi - que, durante todo o fim de semana, foi anfitrião de colegas da Liga Árabe. Mursi conseguiu do primeiro-ministro do Hamas, Ismail Haniyeh, a promessa de que ele assinaria um cessar-fogo, desde que o grupo palestino receba "garantias de que não haverá uma agressão no futuro". Obama: "Israel tem o direito de se defender" Em visita à Tailândia, sua primeira viagem internacional desde a reeleição, no dia 6 passado, Obama deixou claro que os EUA estão firmemente ao lado de Israel, mas apelou para que Netanyahu dê mais tempo para os governantes do Oriente Médio tentarem controlar o Hamas. - Se esse objetivo pode ser atingido sem a evolução de uma atividade militar em Gaza, seria preferível - avaliou. - E isso não é preferível apenas para a população de Gaza, mas também para os israelenses, porque, se as tropas de Israel estiverem em Gaza, haverá um risco muito maior de ocorrerem mortos e feridos. De acordo com Obama, Israel tem o direito de se defender do ataque. Com a mensagem de Netanyahu de que Israel estaria pronto para expandir sua ofensiva, Obama alertou aos líderes do Oriente Médio que Tel Aviv "tem todo o direito de garantir que mísseis não serão disparados contra seu território". - Não há um país no planeta que toleraria mísseis, vindos de fora de suas fronteiras, chovendo sobre seus cidadãos - ressaltou Obama em Bangcoc, capital tailandesa. - Apoiamos totalmente o direito de Israel de se defender. Apesar de ter uma relação difícil com Netanyahu, o líder americano destinou os comentários mais ásperos a Mursi e ao primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, que têm se posicionado como críticos ferozes das operações israelenses em Gaza. Obama advertiu os apoiadores de um Estado palestino independente que qualquer acordo de paz seria empurrado para um "futuro distante" se o conflito atual aumentasse. - O que eu disse ao presidente Mursi e ao premier Erdogan é que os defensores da causa palestina deveriam reconhecer que, se a situação em Gaza se agravar, a probabilidade de termos um acordo de paz será empurrada para o futuro - alertou. - Estamos trabalhando ativamente com os representantes da região para ver se podemos cessar o lançamento de mísseis sem uma escalada de violência. "Simpatia internacional" em jogo O governo britânico também cerrou fileiras ao lado de Israel. O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, William Hague, atribuiu ao Hamas a principal responsabilidade pela crise em Gaza, devido aos constantes bombardeios palestinos ao território israelense. Hague, no entanto, considerou que seria difícil para a comunidade internacional continuar simpática a Israel se o país insistisse numa operação terrestre. Esta opção tornaria mais difícil conter as baixas civis, o que provocaria um prolongamento do conflito. - O primeiro-ministro (David Cameron) e eu salientamos aos nossos colegas israelenses que uma invasão por terra da Faixa de Gaza custaria a Israel muito do apoio internacional que ele tem nessa situação - revelou, em entrevista a uma emissora de TV britânica. - Seria muito mais difícil restringir ou evitar mortes de civis durante uma ação como esta. - Deixamos nosso ponto de vista muito claro para Israel - acrescentou. - Assim como, para nós, é muito claro que o fim do disparo de mísseis de Gaza para o Sul de Israel é uma situação intolerável, e não é uma surpresa que o país tenha respondido a isso. A França despachou seu ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius, para Israel. O chanceler francês ofereceu ao colega israelense, Avidgor Lieberman, os esforços de seu país para que o confronto terminasse com um "cessar-fogo imediato". Lieberman agradeceu a "mobilização francesa para evitar vítimas", mas avaliou que apenas "quando todas as organizações terroristas anunciarem um cessar-fogo", Israel poderá considerar "todas as ideias que o ministro francês e outros amigos estão propondo". O chanceler ressaltou que seu país não negociaria uma trégua na Faixa de Gaza enquanto mísseis ainda fossem disparados do território palestino. - A primeira e absoluta condição para uma trégua é acabar com o bombardeio vindo de Gaza - destacou. O ministro israelense ainda impôs que todas as facções palestinas presentes em Gaza se comprometam com o cessar-fogo. Esta, segundo ele, é a forma de conseguir "um acordo de longo prazo". |
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