Israel intensifica ataques e prepara ação terrestre
O
primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse neste domingo
que Israel está disposto a “intensificar significativamente” a operação
iniciada na quarta-feira contra a Faixa de Gaza governada pelo Hamas.
Jovens palestinos se protegem em barricadas durante confronto com soldados israelenses. Foto: ©AFP / Abbas Momani
“O exército está preparado para intensificar significativamente a
operação”, disse Netanyahu no início do conselho de ministros. “Os
soldados estão preparados para qualquer atividade que possa ser levada
adiante”, disse.
O primeiro-ministro fez seus comentários enquanto milhares de
soldados e equipamentos militares se concentram junto à fronteira com
Gaza, o que alimenta a hipótese de que Israel inicie uma operação
terrestre após cinco dias de ataques aéreos.
Os bombardeios israelenses mataram neste sábado 16 palestinos em Gaza
e destruíram a sede do governo do Hamas, enquanto reuniões são
realizadas no Cairo para tentar estabelecer uma trégua.
O presidente egípcio, Mohamed Mursi, se mostrou otimista neste sábado
à noite, mencionando contatos com Israel e com os palestinos e “algumas
indicações sobre a possibilidade de um cessar-fogo em breve”.
Desde o início da operação militar israelense “Pilar de defesa”
contra os grupos armados palestinos da Faixa de Gaza, na quarta-feira,
48 pessoas — 45 palestinos e três israelenses — morreram, enquanto 400
palestinos e 15 israelenses ficaram feridos.
O secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, conduzirá uma
delegação ministerial a Gaza em sinal de solidariedade, anunciou a
organização ao final de uma reunião de emergência dos ministros árabes
das Relações Exteriores neste sábado no Cairo.
Além disso, o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent
Fabius, é aguardado neste domingo em Jerusalém e em Ramallah, segundo
fontes oficiais.
O líder do Hamas no exílio, Khaled Mechaal, realizava negociações por
uma trégua no Cairo com o chefe do serviço de inteligência egípcio, com
o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, e com o emir do Qatar,
Hamad Ben Khalifa Al-Thani, mas seu movimento exige garantias
internacionais, segundo um alto funcionário do Hamas, que não quis ser
identificado.
“Por intermédio do Egito, nós chegamos a um acordo sobre uma trégua
(segunda-feira), e ela foi quebrada em 48 horas”, lembrou essa
autoridade.
“O Egito não pode mais fornecer garantias de uma trégua”, considerou.
Membros do Hamas inspecionam prédio da organização destruído por ataque israelense em Gaza. Foto: ©AFP / Mahmud Hams
Erdogan considerou que Israel tem total responsabilidade pela
escalada e deve prestar contas “pelo massacre dessas crianças
inocentes”. Em visita neste sábado de manhã a Gaza, o ministro tunisiano
das Relações Exteriores, Rafik Abdessalem, também denunciou uma
“agressão israelense flagrante”.
A Casa Branca, por outro lado, reafirmou que “os disparos de foguetes
a partir de Gaza são o fator desencadeador deste conflito”,
reconhecendo o direito de Israel “de se defender e de decidir a tática a
se utilizada”.
Quase a metade dos 45 palestinos mortos pelos ataques israelenses não
era combatente, incluindo seis crianças e três mulheres, segundo fontes
médicas e das organizações de defesa dos direitos humanos.
Domo de Ferro. Neste sábado à noite, cinco
palestinos foram mortos, sendo quatro homens em dois ataques israelenses
no centro da Faixa de Gaza e uma mulher em uma casa atingida no sul do
território.
As casas de cinco comandantes militares do Hamas foram alvos de ataques aéreos no território, segundo o movimento e testemunhas.
No total, a ofensiva israelense matou 16 palestinos neste sábado,
incluindo pelo menos sete combatentes do Hamas e um da Jihad Islâmica,
segundo fontes médicas em Gaza.
Enquanto isso, nove israelenses ficaram feridos, incluindo quatro
soldados, de acordo com o Exército israelense, que indicou 733 foguetes
disparados desde quarta-feira a partir do território palestino, sendo
que 243 foram interceptados pelo sistema antimísseis “Domo de Ferro”, e
950 alvos atingidos na Faixa de Gaza.
Além da sede do governo do Hamas, os ataques atingiram o
quartel-general da polícia, a Universidade Islâmica e o estádio
“Palestina”, principal centro esportivo de Gaza.
Em torno do prédio de dois andares do governo, inteiramente
destruído, ainda havia durante a manhã um cheiro de pólvora. A poeira
tomava conta do ar e papéis e pedaços de madeira estavam espalhados por
todos os lados.
O ataque provocou pânico. “É um filme de terror que se tornou
realidade”, disse Soha, de 18 anos, ferida em sua cama por pedaços de
vidro.
Pelo terceiro dia consecutivo, as sirenes de alerta soaram em Tel
Aviv. Pouco depois, uma nova bateria “Domo de Ferro”, instalada de
manhã, interceptou um foguete.
O disparo foi reivindicado pelo Hamas, que afirmou ter disparado um
foguete Fajr 5. Na quinta e na sexta-feira, três foguetes caíram na
região de Tel Aviv, capital econômica de Israel, sendo dois no mar.
O confronto chegou na sexta-feira a um novo patamar com o disparo de
um foguete, que caiu sem deixar vítimas na Cisjordânia, a cinco
quilômetros a sudoeste de Jerusalém.
No momento em que os preparativos para uma eventual operação
terrestre se intensificam, cerca de 20.000 reservistas israelenses foram
mobilizados, e o governo pode autorizar no domingo a mobilização de um
total de 75.000 reservistas.
Em plena campanha eleitoral para as legislativas de janeiro, Israel
lançou sua ofensiva na quarta-feira com um ataque contra Ahmed Jaabari,
chefe de operações militares do Hamas em Gaza, a mais importante
autoridade morta desde a ofensiva devastadora de dezembro de 2008 –
janeiro de 2009, que apenas suspendeu temporariamente os disparos de
foguetes.