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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Israel bombardeia a Faixa de Gaza

Israel bombardeia a Faixa de Gaza

Da BBC Brasil

Em meio à indefinição sobre um cessar-fogo que segundo o Hamas seria anunciado oficialmente ainda na noite de hoje (20), a Faixa de Gaza foi bombardeada novamente por forças de Israel. Para especialistas, a nova ofensiva adia uma possível trégua no conflito.

Pelo menos 20 palestinos foram mortos. Dois israelenses - um soldado e um civil - também morreram, vítimas de ataques de foguetes lançados da Faixa de Gaza.

Mais cedo, autoridades egípcias e palestinas informaram que o cessar-fogo seria anunciado ao fim de conversas ocorridas no Cairo, capital do Egito. No entanto, o porta-voz do governo israelense, Mark Regev, disse à BBC que o acordo ainda não havia sido finalizado.

"Não tenho dúvida de que o Hamas queira uma trégua temporária para que possa descansar e rearmar-se de forma a atacar Israel novamente na semana que vem ou no próximo mês. Não estamos interessados nessa proposta", declarou.

Ainda na noite de hoje, um funcionário do alto escalão do Hamas, Izzat Risheq, avaliou que a trégua não seria firmada até a manhã de amanhã (21).

Já os militares israelenses alegaram que a nova ofensiva tinha por objetivo matar "dois alvos terroristas" na região central da Faixa de Gaza.

Poucas horas antes, Israel havia exortado moradores de vilarejos ao redor da Faixa de Gaza para se deslocarem a zonas centrais para sua "própria segurança". Entre os palestinos mortos hoje, estão dois jornalistas de uma TV ligada ao Hamas.

Há poucos minutos, a correspondente da BBC Lyse Doucet tuitou de Gaza que "ouviu fortes explosões" e que estava "sem luz". A queda de energia foi confirmada pelo repórter da BBC Rushdi Abualouf. Segundo ele, grande parte do território estava "às escuras".

Na noite desta terça-feira, a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, chegou a Israel, em um esforço para alcançar um armistício.

Ela disse que trabalharia com Israel e o Egito para costurar uma trégua em Gaza "nos próximos dias". Hillary acrescentou que é essencial "amenizar a situação" na região e aceitar os esforços egípcios.

Após uma reunião a portas fechadas com o premiê israelense Binyamin Netanyahu, a secretária de Estado americana deve viajar a Ramallah, na Cisjordânia e ao Cairo nesta quarta-feira.

Fonte: EBC
 
 

Publicado em: 21/11/2012

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

ISRAEL ATACA ALVOS CIVIS NA FAIXA DE GAZA

ISRAEL ATACA ALVOS CIVIS NA FAIXA DE GAZA

PRESSÃO CONTRA INVASÃO DE GAZA
O Globo - 19/11/2012
 
EUA e aliados acautelam contra expansão de conflito; conversas de cessar-fogo avançam
Cidade de Gaza e Tel Aviv O quinto e mais sangrento dia da ofensiva israelense em Gaza, com 24 palestinos mortos, foi marcado pelo massacre de uma família palestina e pela intensificação da pressão internacional para evitar uma invasão terrestre ao território. Fiel aliado de Tel Aviv, os Estados Unidos manifestaram apoio incondicional ao parceiro histórico - ressaltando, porém, que um ataque por terra não seria "preferível", como definiu o presidente Barack Obama. O Reino Unido também expressou solidariedade a Israel, enquanto a França, que mandou seu chanceler a Jerusalém, foi mais reticente.
A mobilização ocidental, assim como a pressão dos vizinhos no Oriente Médio, parece ter surtido efeito. Segundo a rede al-Jazeera, ontem à noite Ramzi Hamad, um dos chefes do Hamas na Faixa de Gaza, afirmou que o grupo palestino e Israel já concordaram em 90% dos termos para um acordo de cessar-fogo. Já uma das autoridades do Fatah, organização rival ao Hamas e que também participa das negociações, confirmou que as conversas com os israelenses estão em estágio avançado.
O relativo otimismo com o fim do confronto veio após um dia marcado pela violência. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu assegurou que as Forças Armadas israelenses estão preparadas para "expandir significativamente" a operação contra os militantes palestinos na Faixa de Gaza. Além de manter em vigor a ameaça da invasão terrestre a Gaza, Israel comandou o ataque a um centro de imprensa no território palestino, deixando oito jornalistas feridos - um deles teve de amputar a perna. A situação ficou ainda mais tensa após um míssil atingir em cheio a casa da família al-Dallu, na Cidade de Gaza. Doze de seus integrantes morreram, entre eles quatro crianças e cinco mulheres. O massacre gerou críticas até da TV israelense, que ressaltou que, até agora, os bombardeios tinham precisão quase cirúrgica.
Em comunicado, o Hamas protestou contra a chacina: "O massacre da família al-Dallu não ficará sem resposta". Os outros 15 palestinos mortos ontem foram atingidos por ataques a cidades como Shejaiya, no Leste de Gaza, e Jabaliya, no Norte do território.
Ontem, 114 mísseis foram disparados de Gaza em direção a Israel, atingindo Beersheba, Ashdod, Ashkelon e Sderot, deixando pelo menos cinco feridos. O sistema antimísseis Domo de Ferro conseguiu interceptar 30, entre eles quatro que atingiriam Tel Aviv.
Israel pôs a culpa das mortes nos militantes palestinos. O general Yoav Mordechai, porta-voz do Exército, mostrou vídeos do que seriam grupos atuantes em Gaza operando mísseis em regiões habitadas, próximo a mesquitas, escolas e prédios.
- O Hamas está usando a população de Gaza como escudo humano - acusou. - Eles estão explorando áreas urbanas residenciais muito habitadas.
Apesar das hostilidades, Israel e Hamas garantiram, ao longo do dia, estar abertos a negociações para interromper a troca de mísseis. Funcionários palestinos afirmaram que um cessar-fogo poderia ser assinado ainda hoje, no Cairo. A imprensa israelense informou que uma delegação do país também estava na capital egípcia, embora um porta-voz do governo tenha negado. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chegará à cidade hoje para reforçar o grupo de autoridades que tentam um acordo.
Ban será recebido pelo presidente egípcio, o islamista Mohamed Mursi - que, durante todo o fim de semana, foi anfitrião de colegas da Liga Árabe. Mursi conseguiu do primeiro-ministro do Hamas, Ismail Haniyeh, a promessa de que ele assinaria um cessar-fogo, desde que o grupo palestino receba "garantias de que não haverá uma agressão no futuro".
Obama: "Israel tem o direito de se defender"
Em visita à Tailândia, sua primeira viagem internacional desde a reeleição, no dia 6 passado, Obama deixou claro que os EUA estão firmemente ao lado de Israel, mas apelou para que Netanyahu dê mais tempo para os governantes do Oriente Médio tentarem controlar o Hamas.
- Se esse objetivo pode ser atingido sem a evolução de uma atividade militar em Gaza, seria preferível - avaliou. - E isso não é preferível apenas para a população de Gaza, mas também para os israelenses, porque, se as tropas de Israel estiverem em Gaza, haverá um risco muito maior de ocorrerem mortos e feridos.
De acordo com Obama, Israel tem o direito de se defender do ataque. Com a mensagem de Netanyahu de que Israel estaria pronto para expandir sua ofensiva, Obama alertou aos líderes do Oriente Médio que Tel Aviv "tem todo o direito de garantir que mísseis não serão disparados contra seu território".
- Não há um país no planeta que toleraria mísseis, vindos de fora de suas fronteiras, chovendo sobre seus cidadãos - ressaltou Obama em Bangcoc, capital tailandesa. - Apoiamos totalmente o direito de Israel de se defender.
Apesar de ter uma relação difícil com Netanyahu, o líder americano destinou os comentários mais ásperos a Mursi e ao primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, que têm se posicionado como críticos ferozes das operações israelenses em Gaza. Obama advertiu os apoiadores de um Estado palestino independente que qualquer acordo de paz seria empurrado para um "futuro distante" se o conflito atual aumentasse.
- O que eu disse ao presidente Mursi e ao premier Erdogan é que os defensores da causa palestina deveriam reconhecer que, se a situação em Gaza se agravar, a probabilidade de termos um acordo de paz será empurrada para o futuro - alertou. - Estamos trabalhando ativamente com os representantes da região para ver se podemos cessar o lançamento de mísseis sem uma escalada de violência.
"Simpatia internacional" em jogo
O governo britânico também cerrou fileiras ao lado de Israel. O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, William Hague, atribuiu ao Hamas a principal responsabilidade pela crise em Gaza, devido aos constantes bombardeios palestinos ao território israelense. Hague, no entanto, considerou que seria difícil para a comunidade internacional continuar simpática a Israel se o país insistisse numa operação terrestre. Esta opção tornaria mais difícil conter as baixas civis, o que provocaria um prolongamento do conflito.
- O primeiro-ministro (David Cameron) e eu salientamos aos nossos colegas israelenses que uma invasão por terra da Faixa de Gaza custaria a Israel muito do apoio internacional que ele tem nessa situação - revelou, em entrevista a uma emissora de TV britânica. - Seria muito mais difícil restringir ou evitar mortes de civis durante uma ação como esta.
- Deixamos nosso ponto de vista muito claro para Israel - acrescentou. - Assim como, para nós, é muito claro que o fim do disparo de mísseis de Gaza para o Sul de Israel é uma situação intolerável, e não é uma surpresa que o país tenha respondido a isso.
A França despachou seu ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius, para Israel. O chanceler francês ofereceu ao colega israelense, Avidgor Lieberman, os esforços de seu país para que o confronto terminasse com um "cessar-fogo imediato".
Lieberman agradeceu a "mobilização francesa para evitar vítimas", mas avaliou que apenas "quando todas as organizações terroristas anunciarem um cessar-fogo", Israel poderá considerar "todas as ideias que o ministro francês e outros amigos estão propondo".
O chanceler ressaltou que seu país não negociaria uma trégua na Faixa de Gaza enquanto mísseis ainda fossem disparados do território palestino.
- A primeira e absoluta condição para uma trégua é acabar com o bombardeio vindo de Gaza - destacou.
O ministro israelense ainda impôs que todas as facções palestinas presentes em Gaza se comprometam com o cessar-fogo. Esta, segundo ele, é a forma de conseguir "um acordo de longo prazo".

CIVIS SÃO MASSACRADOS NA PALESTINA

CIVIS SÃO MASSACRADOS NA PALESTINA

VÍTIMAS DO HORROR
Autor(es): RODRIGO CRAVEIRO
Correio Braziliense - 19/11/2012
 

Os conflitos entre militares israelenses e militantes palestinos voltaram a vitimar inocentes: ontem, ataque das forças de Israel na Faixa de Gaza matou uma família inteira de uma só vez. Foram dois homens, seis mulheres e quatro crianças. No total, sobe para 75 (três judeus) o número de vítimas desde o início da ofensiva, há seis dias. Presidente Dilma Rousseff, que está em Madri, telefonou ao secretário-geral da ONU e pediu esforço pelo cessar-fogo.

Israel bombardeia casa na Faixa de Gaza e mata 12 pessoas da mesma família. Hamas lança chuva de foguetes

"As crianças eram engraçadas e falantes. Eu adorava conversar com elas e jogar cartas." O ativista palestino Majed Abusalama se referia a Ranin, 5 anos, Jamal (7) e Yousef (10). Além deles, o irmão Ibrahim (1 ano); o pai, Mohammed; o avô Jamal e outros seis parentes morreram ontem quando um míssil disparado por um caça F-16 israelense caiu sobre a residência da família Al-Dalou, na Rua Al-Nasser, no bairro de Sheikh Redwan, região oeste da Cidade de Gaza. O ataque, ocorrido por volta das 15h10 (11h10 em Brasília), tinha como alvo Yehiya Rabiah, chefe da unidade de lançamentos de foguetes do movimento islâmico Hamas.
A explosão atingiu a casa vizinha, matando 12 pessoas da mesma família — seis mulheres, quatro crianças e dois homens. Yehiya sobreviveu. "Famy Al-Dalou, meu amigo, vivia lá e ficou bastante ferido. Suas irmãs morreram", lamentou Majed, em entrevista ao Correio. Até as 23h de ontem, 71 palestinos tinham sido mortos desde quarta-feira, 28 nos bombardeios de ontem. Foguetes do Hamas também mataram três israelenses, na quinta-feira. No fim da noite, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu a palestinos e a judeus um cessar-fogo "imediato". "Isto deve parar", avisou, por meio de um comunicado no qual lamentou as mortes na família Al-Dalou.
O jornalista palestino Samy Elajramy foi até o local da casa dos Al-Dalou e relatou à reportagem ter ficado chocado. "As pessoas daqui estão falando sobre o massacre mais horrível que já ocorreu desde quarta-feira. Nada sobrou da residência. Todas as casas ao redor estão danificadas", disse, também por telefone. "Outros integrantes da família choravam, querendo saber quem estava lá. Foi algo comovente", admitiu. "Israel, o que as crianças e os recém-nascidos fizeram?", perguntava, entre lágrimas, Khalil Al-Dalou. As Brigadas Ezzedine Al-Qasam — braço armado do Hamas, cujo líder, Ahmed Jabari, foi morto na quarta-feira — prometeram que "o massacre não ficará impune".
O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou ao seu gabinete ministerial que Israel está preparado para "expandir de forma significativa" a Operação Pilar de Defesa. Durante a madrugada de ontem, um escritório da rede estatal de tevê russa Russia Today ficou destruído, depois que a aviação israelense atacou o centro de imprensa Al-Shawa. O escritório ficava no 11º andar de um prédio e dividia espaço com outros meios de comunicação, como a Sky News, a ITV e agências de notícia palestinas.
Khader El-Zahar, cinegrafista da rede de tevê Al-Quds, teve a perna direita arrancada pela explosão. Outros cinco jornalistas ficaram feridos. O edifício Al-Shorouk, de 16 andares, também foi bombardeado. Os estúdios da tevê Al-Aqsa foram atingidos. "Israel quer esconder a verdade", acusou a jornalista Mousheera Jammal, moradora da Cidade de Gaza, em entrevista pela internet. Samy tem a mesma opinião. "Os israelenses exigiram que todos deixassem os prédios. Foi um claro ataque a jornalistas. Querem nos silenciar", desabafou.
O Hamas lançou 120 foguetes contra o sul de Israel (40 a mais do que na véspera) — desde o início do confronto, na quarta-feira, foram 980. As sirenes antiaéreas soam a cada sete minutos. Dois artefatos foram interceptados pelo sistema Domo de Ferro, antes que caíssem em Tel Aviv. A britânica Beverly Jamil mora há 30 anos em Ashkelon, a 21km de Gaza. "Viver aqui tem sido muito assustador. A cada sirene, você pula. Hoje, as sirenes tocaram oito vezes. Começou às 8h30", relatou ao Correio, por telefone. Questionada se crê em trégua, ela responde com uma pergunta. "Se você tivesse pessoas disparando foguetes a todo o momento, não gostaria que alguém o salvasse? Minhas crianças e as crianças palestinas querem crescer em paz."
A 18km dali, Ashdod teve uma tarde apavorante. Pelo menos 15 foguetes foram lançados pelo Hamas contra a cidade em um intervalo de apenas cinco minutos. O israelense Yaniv Cackon, 31 anos, disse que a comunidade é unida e tenta manter a calma. "Nós queremos ter uma vizinhança (Gaza) vivendo em um paz", comentou.
Diplomacia
Por enquanto, o acerto de um cessar-fogo parece improvável. Izat Al-Rishak, integrante do birô político do Hamas, expôs as condições do grupo fundamentalista para a trégua. "Nós insistimos que a agressão e os assassinatos devem parar, e o bloqueio injustificável a Gaza tem que ser removido", declarou. O presidente dos EUA, Barack Obama, considerou que os ataques com foguetes precipitaram a guerra. "Nós estamos trabalhando ativamente com todas as partes da região para ver se podemos pôr fim ao disparo desses mísseis, sem que haja a escalada de violência", afirmou, depois de conversar com Netanyahu, com o colega egípcio, Mohamed Morsy, e com o premiê turco, Tayyip Erdogan. Obama alertou para os perigos de uma ofensiva terrestre. "Se as tropas entrarem em Gaza, haverá um risco maior de baixas", disse.
No início da noite de ontem, na capital espanhola, a presidente Dilma Rousseff ligou para Ban Ki-moon para pedir empenho do Conselho de Segurança da ONU nos conflitos no Oriente Médio. Na prática, Dilma se disse preocupada com o uso desproporcional da força e considerou que o conselho deve assumir as responsabilidades em buscar um acordo de trégua na região. Horas antes, Dilma recebeu uma ligação do presidente egípcio, que considerou a influência do Brasil na ONU. "Morsy ficou satisfeito (com a conversa) e vamos acompanhar a situação", disse o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, que criticou o Quarteto para o Oriente Médio — EUA, Rússia, União Europeia e ONU. ""Enquanto continuar essa política intransigente e esta desídia das grandes potências em relação ao conflito, esses fenômenos vão se multiplicar", disse Garcia.
Colaborou Leonardo Cavalcanti, enviado especial a Madri

Fatah e Hamas concordam em se unir em meio à crise em Gaza

Fatah e Hamas concordam em se unir em meio à crise em Gaza

Publicado em Carta Capital

As facções rivais palestinas Fatah e Hamas afirmaram nesta segunda-feira que decidiram terminar com anos de disputas em uma demonstração de solidariedade pela crise de Gaza, informou um correspondente da AFP.
Palestinos se reúnem em manifestação na Cidade de Gaza em 13 de novembro. Foto: AFP / Marco Longari

“A partir daqui, anunciamos com outros líderes (de facções) que estamos acabando com a divisão”, afirmou o oficial Jibil Rajoub, do Fatah, a uma multidão de cerca de mil pessoas que se reuniram para um protesto em Ramallah, a capital política da Cisjordânia.
Dentre os presentes, estavam integrantes do alto escalão do Hamas na Cisjordânia, assim como funcionários da liderança de sua rival menor Jihad Islâmica, informou um correspondente da AFP.
A praça Manana de Ramallah se tornou um mar de bandeiras palestinas, enquanto a multidão gritava “Unidade!” e “Atinjam, atinjam Tel Aviv”, em um apelo aos militantes do Hamas que dispararam ao menos cinco foguetes contra a cidade costeira deste quinta-feira.
“Quem fala sobre divisão depois de hoje é um criminoso”, disse o líder do Hamas, Mahmud al-Ramahi, à multidão.
O Fatah e o Hamas, as duas principais facções nacionais palestinas, travaram uma intensa disputa por anos.
Mas o atual derramamento de sangue na Faixa de Gaza, governada pelo Hamas, onde Israel realizava nesta segunda-feira um sexto dia de ofensiva aérea que já matou até agora 90 palestinos, parece ter levado a uma reconsideração das rivalidades tradicionais.

domingo, 18 de novembro de 2012

Uma guerra na hora certa para Netanyahu?

Uma guerra na hora certa para Netanyahu?

Publicado em Carta Capital
Médico palestino carrega bebê ferido após ataque aéreo de Israel na cidade de Gaza. Mahmud Hams / AFP

O assassinato de Ahmed Jabari, líder militar do Hamas, nesta quarta-feira 14, deve marcar o início de um novo conflito armado entre Israel e o grupo radical palestino que controla a Faixa de Gaza. Ainda não se sabe a dimensão que a operação “Pilar da Defesa” terá, mas, como em confrontos anteriores entre as duas partes, este teve início após uma série de episódios violentos na fronteira. Desta vez, entretanto, há duas peculiaridades a serem observadas. A primeira afeta a política interna de Israel. Em apenas dois meses, os israelenses vão às urnas escolher seu novo primeiro-ministro e a lembrança mais recente que terão dos palestinos será este confronto armado. A segunda pode impactar todo o Oriente Médio. Este pode ser o primeiro conflito de grande porte entre israelenses e palestinos desde o início da Primavera Árabe.
Desde o dia 9 de novembro, patruhas militares israelenses e militantes palestinos se envolveram em pequenas confrontações na fronteira. O episódio mais grave ocorreu no domingo 11 quando, em retaliação a um ataque palestino, tanques israelenses atingiram uma área urbana da cidade de Gaza, matando 5 pessoas e ferindo outras 30. Pode-se alegar que qualquer governo reagiria como Israel, mas é difícil separar o ataque desta quarta-feira das eleições de janeiro.
Confrontos com os palestinos tendem a unir a sociedade israelense, geralmente em torno de figuras linha-dura. Benjamin Netanyahu, o atual primeiro-ministro, que adiantou as eleições para garantir sua continuidade no poder, é este tipo de líder. Criticar o governo em tempos de conflito externo é um ato considerado extremista nesses períodos. Assim, Netanyahu e seu ministro da Defesa, Ehud Barak, outro alpinista político, apostam em reações como a do parlamentar Yoel Hasson, do oposicionista Kadima. “Hoje não há oposição ou coalizão. Devemos deixar que o Exército derrote o Hamas”, disse. Este tipo de postura dá ao governo e aos militares carta branca para agir. Neste clima de guerra, os ataques de Israel, que muitas vezes deixam vítimas civis, entre elas crianças, são realizados praticamente sem oposição.
A imagem de defensor de Israel fomentada por Netanyahu é alimentada também pela tática criminosa do Hamas nesses confrontos: o lançamento aleatório de foguetes e morteiros contra alvos civis israelenses. Após a morte de Ahmed Jabari, dezenas de foguetes foram lançados contra cidades do sul de Israel, como Beersheva, Ashdod, Eshkol e Ofakim, provocando pânico nos civis.

Mulher ferida é levada ao hospital na cidade israelense de Beersheva após ataque com foguetes do Hamas. Foto: Amnon Gutman / AFP

Um grande conflito com o Hamas deve fortalecer a posição de Netanyahu dentro do Egito, mas pode aumentar ainda mais seu isolamento no Oriente Médio. As relações com a Turquia, abaladas desde 2010, podem ruir de vez, fazendo Israel perder definitivamente um aliado moderado na região. Outro problema para Israel pode ser a postura do Catar. Desde o início da Primavera Árabe, o Hamas deixou a aliança com o Irã, a Síria e o Hezbollah. Assim, atraiu outros aliados, como o governo do Catar, que aproveita a instabilidade na região para ganhar peso diplomático. O Catar é particularmente importante na Liga Árabe e pode usar seu peso na organização para fomentar ainda mais a hostilidade árabe contra Israel.
A reação mais esperada, no entanto, é a do Egito. Mohamed Morsi, o presidente egípcio, é um integrante da Irmandade Muçulmana, grupo religioso que odeia Israel e tem laços fortes com o Hamas (criado sob influência da Irmandade). Ao mesmo tempo, o Egito tem um tratado de paz com Israel, que precisa manter por questões pragmáticas: a aliança com os Estados Unidos e a necessidade de se manter um ator internacional confiável num momento de crise econômica. Não há dúvidas de que setores radicais dentro da Irmandade Muçulmana, mas também fora dela, pressionarão Morsi a ter uma posição dura contra Israel. O governo do Egito pediu que Israel parasse os ataques à Faixa de Gaza e convocou seu embaixador em Tel Aviv, mas não é possível saber se irá ainda mais longe.
O conflito entre Israel e o Hamas não é uma novidade, mas desta vez se dá sob condições novas. Netanyahu terá ganhos a curto prazo, inclusive eleitorais, e manterá Israel “seguro” por conta do armamento infinitamente superior. A longo prazo, entretanto, seu governo continua tornando a situação de Israel insustentável: cada vez mais israelenses e palestinos se odeiam e, cada vez mais, o mundo árabe quer ver Israel fora do mapa.

Israel intensifica ataques e prepara ação terrestre

Israel intensifica ataques e prepara ação terrestre

Publicado em Carta Capital

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse neste domingo que Israel está disposto a “intensificar significativamente” a operação iniciada na quarta-feira contra a Faixa de Gaza governada pelo Hamas.

Jovens palestinos se protegem em barricadas durante confronto com soldados israelenses. Foto: ©AFP / Abbas Momani

“O exército está preparado para intensificar significativamente a operação”, disse Netanyahu no início do conselho de ministros. “Os soldados estão preparados para qualquer atividade que possa ser levada adiante”, disse.
O primeiro-ministro fez seus comentários enquanto milhares de soldados e equipamentos militares se concentram junto à fronteira com Gaza, o que alimenta a hipótese de que Israel inicie uma operação terrestre após cinco dias de ataques aéreos.
Os bombardeios israelenses mataram neste sábado 16 palestinos em Gaza e destruíram a sede do governo do Hamas, enquanto reuniões são realizadas no Cairo para tentar estabelecer uma trégua.
O presidente egípcio, Mohamed Mursi, se mostrou otimista neste sábado à noite, mencionando contatos com Israel e com os palestinos e “algumas indicações sobre a possibilidade de um cessar-fogo em breve”.
Desde o início da operação militar israelense “Pilar de defesa” contra os grupos armados palestinos da Faixa de Gaza, na quarta-feira, 48 pessoas — 45 palestinos e três israelenses — morreram, enquanto 400 palestinos e 15 israelenses ficaram feridos.
O secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, conduzirá uma delegação ministerial a Gaza em sinal de solidariedade, anunciou a organização ao final de uma reunião de emergência dos ministros árabes das Relações Exteriores neste sábado no Cairo.


Além disso, o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, é aguardado neste domingo em Jerusalém e em Ramallah, segundo fontes oficiais.
O líder do Hamas no exílio, Khaled Mechaal, realizava negociações por uma trégua no Cairo com o chefe do serviço de inteligência egípcio, com o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, e com o emir do Qatar, Hamad Ben Khalifa Al-Thani, mas seu movimento exige garantias internacionais, segundo um alto funcionário do Hamas, que não quis ser identificado.
“Por intermédio do Egito, nós chegamos a um acordo sobre uma trégua (segunda-feira), e ela foi quebrada em 48 horas”, lembrou essa autoridade.
“O Egito não pode mais fornecer garantias de uma trégua”, considerou.

Membros do Hamas inspecionam prédio da organização destruído por ataque israelense em Gaza. Foto: ©AFP / Mahmud Hams

Erdogan considerou que Israel tem total responsabilidade pela escalada e deve prestar contas “pelo massacre dessas crianças inocentes”. Em visita neste sábado de manhã a Gaza, o ministro tunisiano das Relações Exteriores, Rafik Abdessalem, também denunciou uma “agressão israelense flagrante”.
A Casa Branca, por outro lado, reafirmou que “os disparos de foguetes a partir de Gaza são o fator desencadeador deste conflito”, reconhecendo o direito de Israel “de se defender e de decidir a tática a se utilizada”.
Quase a metade dos 45 palestinos mortos pelos ataques israelenses não era combatente, incluindo seis crianças e três mulheres, segundo fontes médicas e das organizações de defesa dos direitos humanos.
Domo de Ferro. Neste sábado à noite, cinco palestinos foram mortos, sendo quatro homens em dois ataques israelenses no centro da Faixa de Gaza e uma mulher em uma casa atingida no sul do território.
As casas de cinco comandantes militares do Hamas foram alvos de ataques aéreos no território, segundo o movimento e testemunhas.
No total, a ofensiva israelense matou 16 palestinos neste sábado, incluindo pelo menos sete combatentes do Hamas e um da Jihad Islâmica, segundo fontes médicas em Gaza.
Enquanto isso, nove israelenses ficaram feridos, incluindo quatro soldados, de acordo com o Exército israelense, que indicou 733 foguetes disparados desde quarta-feira a partir do território palestino, sendo que 243 foram interceptados pelo sistema antimísseis “Domo de Ferro”, e 950 alvos atingidos na Faixa de Gaza.
Além da sede do governo do Hamas, os ataques atingiram o quartel-general da polícia, a Universidade Islâmica e o estádio “Palestina”, principal centro esportivo de Gaza.
Em torno do prédio de dois andares do governo, inteiramente destruído, ainda havia durante a manhã um cheiro de pólvora. A poeira tomava conta do ar e papéis e pedaços de madeira estavam espalhados por todos os lados.
O ataque provocou pânico. “É um filme de terror que se tornou realidade”, disse Soha, de 18 anos, ferida em sua cama por pedaços de vidro.
Pelo terceiro dia consecutivo, as sirenes de alerta soaram em Tel Aviv. Pouco depois, uma nova bateria “Domo de Ferro”, instalada de manhã, interceptou um foguete.
O disparo foi reivindicado pelo Hamas, que afirmou ter disparado um foguete Fajr 5. Na quinta e na sexta-feira, três foguetes caíram na região de Tel Aviv, capital econômica de Israel, sendo dois no mar.
O confronto chegou na sexta-feira a um novo patamar com o disparo de um foguete, que caiu sem deixar vítimas na Cisjordânia, a cinco quilômetros a sudoeste de Jerusalém.
No momento em que os preparativos para uma eventual operação terrestre se intensificam, cerca de 20.000 reservistas israelenses foram mobilizados, e o governo pode autorizar no domingo a mobilização de um total de 75.000 reservistas.
Em plena campanha eleitoral para as legislativas de janeiro, Israel lançou sua ofensiva na quarta-feira com um ataque contra Ahmed Jaabari, chefe de operações militares do Hamas em Gaza, a mais importante autoridade morta desde a ofensiva devastadora de dezembro de 2008 – janeiro de 2009, que apenas suspendeu temporariamente os disparos de foguetes.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Faixa de Gaza, no centro da questão palestina

Faixa de Gaza, no centro da questão palestina

 Publicado em Carta Capital.

A escalada de violência na Faixa de Gaza em março confirmou o caráter instável do status quo e o impasse da estratégia israelense
por Jean-Pierre Filiu
(Garoto palestino agita a bandeira de seu país durante protesto na Faixa de Gaza)

A Faixa de Gaza, como entidade autônoma, foi moldada pela guerra de 1948-1949. Durante o conflito, muitos palestinos expulsos afluíram para lá. O primeiro-ministro israelense, David ben Gurion, sempre visionário, compreendeu imediatamente o risco de tal concentração de refugiados no noroeste do Neguev. Isso porque a barreira natural do Deserto do Sinai impedia que ocorresse em Gaza um fenômeno de dispersão, como se deu nos países vizinhos, com o surgimento de campos de refugiados ao redor de Amã, Beirute e Damasco. Assim, para pelo menos dois terços de sua população, o território se transformou num enorme campo de refugiados. Ben Gurion pensou em resolver o problema com a oferta de anexação de Gaza, mas ela foi enterrada em 1949, na Conferência de Lausanne. O território tornou-se então o abscesso da frente meridional, campo de teste para incursões de intimidação e bombardeios indiscriminados.
A invasão israelense de 1956, durante a crise de Suez, foi acompanhada por uma sangrenta repressão, mas Gaza teve de ser evacuada, sob pressão internacional. Ben Gurion então achou que devia fazer uma aposta-padrão na mão de ferro do presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser, o qual garantiu uma efetiva paz no território até 1967. Para Israel, a ocupação da Faixa de Gaza, desde a abertura da guerra de junho, era acima de tudo um desafio em termos de contrainsurreição, diante da uma guerrilha palestina de tenacidade inigualável. O general Moshe Dayan, tendo esmagado brutalmente os insurgentes, decidiu dissolver Gaza nas “portas abertas” (livre circulação) com Israel e Cisjordânia. Essa política deu frutos por duas décadas. Em 1993, o primeiro-ministro Yitzhak Rabin decidiu ao mesmo tempo sistematizar as “barreiras” do território e abrir um diálogo com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
Livrar-se de Gaza tornou-se a obsessão das autoridades israelenses, que buscavam transferir a manutenção da ordem a uma força palestina, mesmo reservando-se um direito de intervenção permanente em caso de ameaça. É evidente a continuidade estratégica entre a retirada parcial de 1994 e o desengajamento unilateral de 2005. Porém, enquanto Rabin desencadeou um processo de paz, o primeiro-ministro Ariel Sharon colocou Gaza diante do fato consumado.
 
CUSTO EXORBITANTE

Desde 2005, Israel enfrenta o impasse de sua abordagem exclusivamente securitária, que alimenta, com sua brutalidade, uma mobilização internacional pontuada por crises. As “missões civis”, nascidas da urgência humanitária, atingiram seu limite, pois não são capazes de dar uma perspectiva à população de Gaza. Esta continua suspensa no braço de ferro entre o Fatah, que nunca aceitou a vitória islâmica nas eleições de janeiro de 2006, e o Hamas, que assumiu o controle do território em junho de 2007. Assim, o impasse da estratégia israelense acentua o impasse humanitário, que por sua vez é agravado pelo impasse político que perdura na cena palestina. O 1,5 milhão de habitantes do território, já submetidos a um isolamento físico de rigor excepcional, são também prisioneiros desse triplo impasse.
O desengajamento israelense e o desmantelamento das colônias da Faixa de Gaza, no final do verão [do Hemisfério Norte] de 2005, foram seguidos, um mês depois, pelo início de uma ofensiva de nome premonitório: “Eterno Recomeço”. Sucederam-se as incursões e os bombardeios israelenses, o mais recente deles em março de 2012. A captura do soldado Gilad Shalit, no dia 25 de junho de 2006, inaugurou uma nova escalada militar. A quebra da trégua entre o Hamas e Israel, de junho a dezembro de 2008, levou à onda de violência da operação “Chumbo Grosso”, cujas vítimas se contam na proporção de um israelense para cada cem palestinos, ainda que, apesar da ação, os ataques de foguetes contra Israel não tenham cessado em 2009. Durante os seis primeiros meses de 2010, o ocupante matou 34 palestinos na Faixa de Gaza (incluindo onze civis), ao passo que os três israelenses mortos eram todos militares.1 O segundo semestre de 2010 terminou com um saldo de 37 palestinos mortos (incluindo doze civis) e nenhuma vítima israelense.2 Israel acredita ter encontrado a fórmula de gestão de sua fronteira meridional, a um custo sem dúvida exorbitante para os habitantes de Gaza, mas perfeitamente aceitável para a opinião pública.
A revolução egípcia, que eclodiu em 25 de janeiro de 2011 e em dezoito dias obrigou o presidente Hosni Mubarak a renunciar, logo dissipou essa ilusão estratégica. Numa inversão de papéis, é a Faixa de Gaza que alimenta, por meio de túneis, a cidade egípcia de Rafah, isolada do mundo – isto é, do Cairo – pelos motins do Canal de Suez. Israel, que insistiu para que o tratado de paz de 1979 com o Egito proibisse qualquer implantação militar no Sinai, autorizou uma presença sem precedentes das forças armadas egípcias a leste de Suez, a fim de conter a agitação revolucionária...
No dia 11 de outubro de 2011, por meio da mediação do Cairo e do serviço de inteligência alemão (BND), Hamas e Israel conseguiram chegar a um acordo de troca de prisioneiros. A libertação do soldado Gilad Shalit, uma semana depois, foi condicionada à libertação de 1.027 presos palestinos: 477 de uma lista aprovada pelo Hamas e Israel, mais 550 soltos a critério de Israel em um prazo de dois meses. É verdade que o Hamas não conseguiu a libertação das figuras emblemáticas do Fatah – Marwan Barghouti – e da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) – Ahmed Saadat. Mas garantiu a de muitos militantes do Fatah, dos Comitês de Resistência Popular e da Jihad Islâmica. Principalmente, assegurou o retorno de dezenas de quadros e membros históricos, alguns condenados a várias penas de prisão perpétua por envolvimento em ataques contra Israel.
Foram necessários quase 2 mil dias para que Israel aceitasse as exigências básicas transmitidas pelo Hamas após a captura de Shalit. Durante cinco anos e meio, seu Exército encadeou ofensivas para quebrar ou pelo menos dobrar o Hamas. O governo de Benjamin Netanyahu, no entanto, não sofreu nenhuma consequência do fracasso dessa opção estritamente militar, já que nunca foi capaz de ameaçar o controle do Hamas sobre a Faixa de Gaza. Pelo contrário, é o movimento islâmico que mantém a intensidade do conflito no nível mais baixo, contornando o bloqueio por meio de seus túneis, estimados em seiscentos pela ONU.
 
“FIM DA DIVISÃO”

No inverno [do Hemisfério Norte] de 2011, uma militância inédita em Gaza revelou-se sincronizada com as reivindicações populares em Túnis e no Cairo. Uma manifestação de apoio à revolução egípcia foi proibida no dia 31 de janeiro de 2011. A derrubada do presidente Mubarak, em 11 de fevereiro, animou os manifestantes palestinos. O grito “O povo quer derrubar o regime” foi adaptado em Gaza para “O povo quer o fim da divisão”, colocando Hamas e Fatah lado a lado em nome dos interesses do povo palestino. No dia 14 de março de 2011, milhares de jovens manifestavam-se em favor dessa causa. No dia seguinte, eles já eram dez vezes mais numerosos, enquanto os protestos eram muito mais limitados na Cisjordânia. A manifestação degenerou, pois militantes do Hamas quiseram impor o emblema do partido aos manifestantes, que só permitiam a bandeira palestina.
Apesar desses incidentes, a dinâmica unitária preparou o terreno para uma reconciliação, pelo menos formal, entre Hamas e Fatah. A queda do regime de Mubarak, menos preocupado em mediar do que em conter o movimento islâmico, também contribuiu para isso. E o enfraquecimento da Síria de Bashar al-Assad forçou a liderança exilada do Hamas a dar mais valor às reivindicações de Gaza. Em 4 de maio de 2011, os dois dirigentes, Khaled Meshaal e Mahmoud Abbas, que não se encontravam desde a efêmera “união nacional” concluída em Meca quatro anos antes, reuniram-se no Cairo para assinar um acordo. Um quadro de cooperação entre os serviços de segurança de Ramallah e de Gaza foi aceito. O princípio do acompanhamento pela OLP das negociações com Israel foi apoiado pelo Hamas, que não se considera ligado a essas conversações, mas está disposto a aceitar suas consequências.
Depois de tanto sangue derramado e tantas oportunidades perdidas, os habitantes de Gaza lutam para acreditar que a página das batalhas de uma Palestina contra a outra foi de uma vez por todas virada. Uma real reconciliação continua sendo condição indispensável para tirar o território do limbo em que ele foi relegado desde junho de 2007. A decisão última está nas mãos de Abbas e Meshaal, que vivem respectivamente em Ramallah e no Catar (desde que saiu de Damasco), bem longe de Gaza e suas preocupações. As vinganças de milícias rivais e a duplicação de grandes burocracias3 representam um sério desafio a qualquer forma de aproximação duradoura. Mas como imaginar um futuro decente e um destino coletivo para a população de Gaza enquanto os dois principais movimentos palestinos continuarem a se destruir mutuamente?
Três gerações cresceram nessa faixa de terra moldada pela história. A geração do luto, de 1947 a 1967, preparou o caminho para a do arrasamento, de 1967 a 1987, e em seguida para a das intifadas, de 1987 a 2007. Porém ali, como em todo o resto da Palestina, o caminho para sair desse pesadelo coletivo é simples e conhecido. Ele se desdobra num tríptico virtuoso: desenclave, desenvolvimento e desmilitarização. Tal dinâmica inverteria as tendências consistentemente seguidas há duas décadas. A juventude de Gaza já demonstrou, na mobilização de março de 2011, determinação em reverter uma ordem tão sinistra. Para conjurar essa fatalidade, seria preciso retornar ao pressuposto mais promissor dos acordos de Oslo: Gaza em primeiro lugar.
Jean-Pierre Filiu
Professor na Sciences Po Paris e autor, entre outros livros, de Histoire de Gaza,  publicado pela Fayard.


Ilustração: Ibraheem Ab Mustafa / Reuters
1 Relatório semanal do Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas, 2 jul. 2010.
2 Relatório semanal do Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas, 7 jan. 2011.
3 O Hamas controla o salário de 31 mil funcionários na Faixa de Gaza, onde a Autoridade Palestina mantém cerca de 70 mil agentes remunerados.

sábado, 3 de março de 2012

Se um Hamas era ruim, dois é pior


Se um Hamas era ruim, dois é pior

Cisão no grupo terrorista palestino complica o já atribulado conflito árabe- israelense


De boas intenções, o inferno e o Oriente Médio estão cheios. Desde que revoluções populares começaram a derrubar ditadores na Tunísia, no Egito e na Líbia, há um ano, diplomatas árabes passaram a marcar reuniões para sanar as divergências entre os grupos que dirigem os dois territórios palestinos: o partido laico Fatah, que governa a Cisjordânia, e o grupo islâmico Hamas, no comando da Faixa de Gaza. Desde 2006, a participação do Hamas em ambos os governos atravanca as negociações de paz com Israel. O primeiro país a se candidatar para intermediar a briga foi o Egito, com o moral em alta após a queda de Hosni Mubarak. Depois, foi a vez das monarquias da Jordânia e do Catar de tentar uma reconciliação. Um a um, os acordos viraram poeira no deserto. Hamas e Fatah continuam rivais. A novidade é que agora existem dois Hamas.
O primeiro é o do exílio, com sede na Síria e liderado por Kalid Meshal. De Damasco, ele comandava as brigadas Al-Qassam, seu braço armado e terrorista. Seus membros eram protegidos pelo ditador sírio Bashar Assad. Apesar de o Hamas ser da corrente muçulmana sunita e de Assad ser alauita, considerada uma vertente do xiismo, ambos tinham algo em comum: viviam do dinheiro enviado pelos aiatolás iranianos para fazer frente a Israel. O segundo Hamas é o que governa a Faixa de Gaza desde 2007, quando seus soldados deram um autogolpe e mataram mais de uma centena de rivais do Fatah.
O racha no Hamas se deu em meados do ano passado. O governo de Assad já havia assassinado milhares de cidadãos quando o Irã pediu que o grupo palestino apoiasse o regime sírio. Meshal e sua turma se recusaram a endossar o massacre de sunitas, anulando assim a aliança circunstancial com o Irã e a Síria e voltando-se para a fidelidade de tribo. Como reprimenda, os cheques iranianos sumiram. O escritório do Hamas em Damasco foi abandonado e Meshal tornou-se mais moderado. Nas conversas diplomáticas, ele reconheceu as fronteiras palestinas da maneira como preveem os tratados da ONU – o que representa uma aceitação tácita de Israel – e falou em reduzir a hostilidade em relação ao estado judeu. Já o primeiro-ministro em Gaza, Ismail Haniyeh, do segundo Hamas, reafirmou o objetivo de destruir Israel e até reprimiu uma manifestação de palestinos indignados com a matança de sunitas na Síria. As promessas de Meshal no exterior não têm valor algum para esse Hamas.
Há duas semanas, no Catar, onde se estabeleceu após sair da Síria, Meshal apertou as mãos de Mahmoud Abbas, do Fatah. Os dois prometeram criar um governo conjunto em que Abbas acumularia os postos de presidente e de primeiro-ministro da Autoridade Palestina. O acordo foi rechaçado pelo outro Hamas. O líder religioso do grupo em Gaza, Mahmoud Zahar, desautorizou Meshal e disse que ninguém no território tinha sido consultado previamente. Na semana passada, Ismail Haniyeh foi ao Irã para reafirmar os laços com a teocracia xiita e obteve o compromisso do líder supremo, Ali Khamenei, e do presidente, Mahmoud Ahmadinejad, de ter todo o apoio necessário para seguir na luta contra Israel. Khamenei ainda alertou o palestino sobre infiltrações de agentes do Fatah em seu grupo. Gaza continua assim como um posto avançado e um depósito de munições do Exército iraniano, que pretende usar o território em uma guerra contra Israel – um cenário cada vez mais provável, considerando-se a recusa do Irã em suspender seu programa nuclear e a disposição de Israel de impedir a construção de um arsenal atômico persa. Na semana passada, o Irã inaugurou 3 000 novas centrífugas para produzir urânio enriquecido, o combustível da bomba.
Quando o Hamas assumiu o poder na Faixa de Gaza, especulava-se que talvez a necessidade de governar obrigasse o grupo a ser mais pragmático e, portanto, moderado. Mais preocupante era a atuação do seu braço exilado, que longe das responsabilidades do cotidiano poderia se apegar à ideologia e às táticas terroristas. Os fatos das últimas semanas indicam que ocorreu o contrário. O Hamas no exterior negocia, e o Hamas no governo se arma. Triste é saber que quem agora opta pela moderação não é ouvido por aqueles que teriam condições de pôr essa nova postura em prática. A resposta para essa reviravolta está nos ventos que sopram do Irã. (VEJA - 18/02/2012)