Uma guerra na hora certa para Netanyahu?

Médico palestino carrega bebê ferido após ataque aéreo de Israel na cidade de Gaza. Mahmud Hams / AFP
Desde o dia 9 de novembro, patruhas militares israelenses e militantes palestinos se envolveram em pequenas confrontações na fronteira. O episódio mais grave ocorreu no domingo 11 quando, em retaliação a um ataque palestino, tanques israelenses atingiram uma área urbana da cidade de Gaza, matando 5 pessoas e ferindo outras 30. Pode-se alegar que qualquer governo reagiria como Israel, mas é difícil separar o ataque desta quarta-feira das eleições de janeiro.
Confrontos com os palestinos tendem a unir a sociedade israelense, geralmente em torno de figuras linha-dura. Benjamin Netanyahu, o atual primeiro-ministro, que adiantou as eleições para garantir sua continuidade no poder, é este tipo de líder. Criticar o governo em tempos de conflito externo é um ato considerado extremista nesses períodos. Assim, Netanyahu e seu ministro da Defesa, Ehud Barak, outro alpinista político, apostam em reações como a do parlamentar Yoel Hasson, do oposicionista Kadima. “Hoje não há oposição ou coalizão. Devemos deixar que o Exército derrote o Hamas”, disse. Este tipo de postura dá ao governo e aos militares carta branca para agir. Neste clima de guerra, os ataques de Israel, que muitas vezes deixam vítimas civis, entre elas crianças, são realizados praticamente sem oposição.
A imagem de defensor de Israel fomentada por Netanyahu é alimentada também pela tática criminosa do Hamas nesses confrontos: o lançamento aleatório de foguetes e morteiros contra alvos civis israelenses. Após a morte de Ahmed Jabari, dezenas de foguetes foram lançados contra cidades do sul de Israel, como Beersheva, Ashdod, Eshkol e Ofakim, provocando pânico nos civis.

Mulher ferida é levada ao hospital na cidade israelense de Beersheva após ataque com foguetes do Hamas. Foto: Amnon Gutman / AFP
A reação mais esperada, no entanto, é a do Egito. Mohamed Morsi, o presidente egípcio, é um integrante da Irmandade Muçulmana, grupo religioso que odeia Israel e tem laços fortes com o Hamas (criado sob influência da Irmandade). Ao mesmo tempo, o Egito tem um tratado de paz com Israel, que precisa manter por questões pragmáticas: a aliança com os Estados Unidos e a necessidade de se manter um ator internacional confiável num momento de crise econômica. Não há dúvidas de que setores radicais dentro da Irmandade Muçulmana, mas também fora dela, pressionarão Morsi a ter uma posição dura contra Israel. O governo do Egito pediu que Israel parasse os ataques à Faixa de Gaza e convocou seu embaixador em Tel Aviv, mas não é possível saber se irá ainda mais longe.
O conflito entre Israel e o Hamas não é uma novidade, mas desta vez se dá sob condições novas. Netanyahu terá ganhos a curto prazo, inclusive eleitorais, e manterá Israel “seguro” por conta do armamento infinitamente superior. A longo prazo, entretanto, seu governo continua tornando a situação de Israel insustentável: cada vez mais israelenses e palestinos se odeiam e, cada vez mais, o mundo árabe quer ver Israel fora do mapa.
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