Dilma critica duramente a austeridade
Austeridade tem limite, diz Dilma |
Autor(es): Leonardo Cavalcanti Enviado especial |
Correio Braziliense - 18/11/2012 |
Cádiz (Espanha) — Durante um discurso de 15 minutos, a presidente Dilma Rousseff criticou as medidas de austeridade fiscal implementadas pelos países europeus e receitou políticas de investimentos públicos e privados, além de programas sociais, para a saída crise. Personagem principal da XXII Cúpula Ibero-americana de Chefes de Estado, realizada em Cádiz, a 650km de Madri, a petista afirmou que simples pacotes de contenção de gastos são um equívoco. A exposição de Dilma foi acompanhada pelo primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, e pelo rei Juan Carlos, que minutos antes fizeram um discurso humilde sobre a necessidade de colaboração e adoção de modelos e experiências latinos para sair da crise. “Ao longo do tempo, a Espanha sempre esteve aberta à América Latina”, disse Rajoy. A presidente afirmou que a austeridade exagerada e simultânea em todos os países não é a melhor resposta para a crise e pode agravá-la, ao contrário do que ocorreu no Brasil. “Os impactos da crise são diferentes entre os países, e as respostas também têm suas diferenças e produzem consequências diversificadas”, afirmou Dilma, para completar: “O equívoco, porém, é achar que a consolidação fiscal coletiva, simultânea e acelerada seja benéfica e resulte numa solução efetiva.” O Correio mostrou ontem que Dilma iria reforçar as críticas aos pacotes de contenção de gastos e apresentar as medidas adotadas pelo Brasil para sair da recessão. Ela também se apresentou como colaboradora. O pacote europeu de cortes de gastos incluem redução de salários e pensões, aumento de impostos, além de reformas no mercado de trabalho a partir da eliminação de regras que dificultavam demissões. A adoção de tais medidas servem para mostrar, a mercados e ao Fundo Monetário Internacional (FMI), o comprometimento dos países endividados em dar respostas à recessão. Mas a decisão de sete governos europeus, incluindo Portugal e Espanha, levou a população a fazer uma greve geral na última quarta-feira. “O que temos visto são medidas que, apesar de afastarem o risco de quebra financeira, não afastam a desconfiança dos mercados e não afastam a desconfiança das populações”, disse Dilma. “Confiança não se constrói apenas com sacrifícios. É preciso que a estratégia mostre resultados, apresente um horizonte de esperança e não apenas a perspectiva de mais anos de sofrimento.” Ela se disse preocupada com previsões sobre o aumento do deficit e a queda do Produto Interno Bruto (PIB) para 2012 e 2013. Estímulo Hoje, segundo Dilma, a América Latina dá “demonstrações de dinamismo e de maior equanimidade social”. A dificuldade em relacionar ajustes com gastos é o desafio para os governantes. Mas a presidente se diz convicta da receita: “O Brasil tem implementado medidas de estímulo sem comprometer a prudência fiscal”, afirmou, considerando que o país ampliou os investimentos públicos e privados em infraestrutura, reduziu a carga tributária sobre a folha de pagamento e fez a reforma da previdência do serviço público. Ao contrário de Espanha e Portugal, que dependem mais do mercado externo, o Brasil conseguiu aquecer a economia com a “nova classe média”, um batalhão de 30 milhões de pessoas dispostas a consumir. “Promovemos programas sociais que, além dos efeitos de distribuição de renda, contribuem para manter a demanda interna. Temos conseguido, assim, apesar da crise internacional, manter o desemprego em níveis bastante baixos”, pontuou Dilma, reforçando que existe no país um mercado de 200 milhões de consumidores. Como principal destaque da cúpula, que não teve a presença, por exemplo, da presidente argentina Cristina Kirchner, Dilma cobrou cooperação para ampliar presença recíproca de empresas, produtos e serviços. “Nesse sentido, lançamos o Programa Ciência Sem Fronteiras, que está enviando mais de 100 mil estudantes, até 2014, às melhores universidades do mundo.” À tarde, Dilma almoçou com presidentes europeus e latinos. |
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