COP-19: poucos resultados práticos
Autor(es): André Rocha Ferretti |
O Globo - 06/12/2013 |
Entre
11 e 23 de novembro, foi realizada em Varsóvia, na Polônia, a 19ª
Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima, a COP-19. O maior evento mundial de discussões sobre
as alterações no clima era notadamente, nesta edição, uma conferência
intermediária, sem grandes expectativas quanto ao alcance de resultados
práticos relevantes. Apesar do contexto pouco promissor, a COP-19 tinha a
importante missão de construir as bases para um novo acordo global de
clima, o qual deverá substituir o Protocolo de Kyoto, sendo assinado na
COP-21, em dezembro de 2015, em Paris.
A
importante missão não foi cumprida. A COP-19 terminou um dia após o
previsto e longe de chegar ao resultado necessário. Em vez do
estabelecimento de compromissos obrigatórios de redução de emissões de
Gases de Efeito Estufa (GEEs), como era esperado, os países estão
querendo apresentar apenas contribuições (que não são obrigatórias),
atitude no mínimo temerária.
Apesar
desse ponto de alerta, pode-se dizer que foi surpreendente o modo como
foram tratadas as questões relativas à Redução de Emissões Provenientes
de Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+). Essa estratégia estava
travada há anos nas edições anteriores das Conferências das Partes e
neste ano teve grande avanço. A REDD+ é uma estratégia que visa a
oferecer incentivos para que países em desenvolvimento reduzam emissões
de GEEs provenientes de desmatamento, investindo em práticas de baixo
carbono para o uso da terra.
Em
Varsóvia, o mundo compreendeu a importância da REDD+, estabelecendo
regras para sua aplicação e mecanismos de compensação pela conservação
florestal, incluindo definições sobre a origem dos recursos que serão
repassados aos detentores das áreas naturais. Ganham os países em
desenvolvimento que ainda possuem grandes áreas naturais nativas, caso
do Brasil.
Embora
a estruturação do REDD+ seja um ponto positivo, o alerta de insucesso
permanece. Com a falta de avanço oficial dos negociadores em relação às
metas e estratégias para redução de emissões de GEEs, a opinião pública
será de grande importância para que se aprove um novo acordo com a
magnitude de que o mundo precisa. Esse novo acordo deve contribuir para
que a temperatura média do planeta não suba mais que 2°C até o fim do
século, com base na temperatura média do período pré-industrial. É
arriscado apenas estimular projetos de REDD+ para conservação de
florestas, se a comunidade internacional não promover rapidamente a
redução das emissões de GEEs.
O
mecanismo de REDD+ é bom, precisa ser comemorado e bem utilizado para
promover desenvolvimento e conservação para as regiões ainda bem
conservadas, mas não é suficiente para garantir a conservação da
biodiversidade dessas áreas, muito menos a mitigação das mudanças
climáticas globais.
Como
demonstrado pelo Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito
Estufa (Seeg), lançado pelo Observatório do Clima no início de novembro,
o Brasil só reduziu emissões no setor de mudança de uso do solo
(supressão ou conversão de áreas naturais em pastos e lavouras). Em
todos os demais, o país aumentou mais de 40% suas emissões desde 1990,
com destaque para o setor de energia, com 126% de aumento até 2012.
Porém, com o anúncio, na COP-19, do aumento de 28% do desmatamento na
Amazônia no último ano, nossa mais importante conquista no caminho de um
desenvolvimento mais limpo está em risco.
O
tempo está passando, a cada ano temos mais prejuízos socioeconômicos e
ambientais causados pelas mudanças climáticas. Crescem os alertas dos
cientistas e as certezas de que a influência humana sobre o clima causou
mais da metade do aumento da temperatura observado desde 1950. Com
vontade política é possível mudar para melhor e resolver um problema que
causamos, na história recente do mundo, e que ainda temos tempo de
solucionar.
ANDRÉ
ROCHA FERRETTI Coordenador de Estratégias de Conservação da Fundação
Grupo Boticário e coordenador geral do Observatório do Clima
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