Mostrando postagens com marcador desindustrialização. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador desindustrialização. Mostrar todas as postagens

domingo, 2 de fevereiro de 2014

BUROCRACIA TRAVA 79% DAS EXPORTAÇÕES DA INDÚSTRIA BRASILEIRA, DIZ ESTUDO DA CNI

BUROCRACIA TRAVA 79% DAS EXPORTAÇÕES DA INDÚSTRIA BRASILEIRA, DIZ ESTUDO DA CNI

BUROCRACIA TRAVA 79% DAS EXPORTAÇÕES DA INDÚSTRIA BRASILEIRA, DIZ ESTUDO DA CNI
O Globo - 24/01/2014
 
O excesso de burocracia é um dos fatores que contribuíram para o déficit comercial da indústria brasileira em 2013, de US$ 105 bilhões. Em pesquisa inédita realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), 83% dos empresários disseram ter problemas para exportar e 79% afirmaram que não conseguem melhorar as vendas devido a entraves burocráticos tributários, alfandegários e de movimentação de cargas. Além dos custos elevados e da demora na liberação da mercadoria para o exterior, são exigidos até 26 tipos de documentos no processo exportador por mar e 15 por via terrestre. O saldo da balança comercial no ano passado foi o menor em 13 anos.
A pesquisa mostra ainda que o percentual de insatisfeitos com a burocracia aumenta de acordo com a participação das exportações no faturamento, alcançando 88,7% no caso das empresas cujas vendas no exterior respondem por mais de 50% das receitas totais. Nos setores de informática e de couros e artefatos, todas as firmas afirmaram que algum processo alfandegário/aduaneiro afeta negativamente as exportações.
Conforme a CNI, no Brasil, os gastos com burocracia chegam a US$ 2.200 por contêiner. A média nos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) — formada, em sua maior parte, por países desenvolvidos — é de US$ 1 mil. Os exportadores se queixam, principalmente, dos chamados órgãos anuentes e das taxas aduaneiras e alfandegárias, que encarecem os custos de exportação. Citaram, com maior frequência, a Receita Federal e os ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e da Agricultura.
— No Brasil, num processo de exportação, a razão social do exportador precisa ser indicada 17 vezes, ou seja, em 17 documentos; o endereço, 16 vezes; e a NCM (Nomenclatura Comum do Mercosul), dez vezes — ilustrou o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi.
O processo exportador leva cerca de 13 dias no Brasil. Abijaodi estima que, se o prazo for reduzido para oito dias, o custo diminuirá 14%. Ele informou que, na lista de setores mais prejudicados, destacam-se os de máquinas e equipamentos, informática, eletroeletrônico, plásticos, veículos e agroindústria.
Governo promete mais agilidade pela internet
A pesquisa mostra que a burocracia para exportar no Brasil é tão complexa, que quase todas as empresas precisam contratar despachantes aduaneiros para desembaraçar as mercadorias. Apenas 3,3% delas não usam o serviço. Outro problema do dia a dia do exportador é a administração do grande número de documentos exigidos no processo de exportação, que afeta 38,5% das empresas.
As dificuldades não acabam com a apresentação da documentação. Das empresas ouvidas, 41,9% alegam baixa agilidade na análise e resposta por parte dos órgãos. E, mesmo após a primeira resposta, há demora nas inspeções e vistorias, dizem 37,8% das empresas.
Procurada, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do MDIC, informou que o governo federal já vem buscando melhorar a coordenação entre os órgãos que liberam as cargas, notadamente no setor portuário, por onde passam mais de 90% do volume do comércio exterior brasileiro. A Secex acrescentou que está em fase de implementação o conceito de “janela única”, que colocará, no mesmo portal na internet, todos os órgãos anuentes, o que facilitará exportações e importações.
— Os tempos e os custos nas operações de comércio exterior serão bastante reduzidos — assegurou o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller.
A Receita Federal não se manifestou.
Segundo o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a “janela única” precisa ser lançada o quanto antes pela presidente Dilma Rousseff. Esse procedimento faz parte do Acordo de Bali, firmado no mês passado, durante reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), na Indonésia.
— Seria uma forma de desburocratizar o comércio exterior brasileiro — afirmou Castro.
O setor químico se enquadra entre aqueles cujos problemas para exportar diminuíram, segundo a diretora de comércio exterior da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Denise Naranjo. Ela afirmou que a situação já foi pior e tende a melhorar com a janela ou portal único.
— Isso vai nos colocar em outro patamar de comércio exterior — disse ela.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Eletroeletrônicos (Abinee), Humberto Barbato, disse que, mais do que a burocracia, seu setor é fortemente afetado pelo real ainda valorizado ante o dólar e a carga tributária.
— Isso tira competitividade das empresas brasileiras — enfatizou Barbato.
Na pesquisa da CNI foram ouvidas 693 empresas industriais de todos os portes. Com o ineficiente sistema de infraestrutura e logística, os elevados custos tributários e o câmbio também foram citados na pesquisa. Outro item diz respeito ao financiamento das exportações. Na avaliação de boa parte dos empresários entrevistados, as linhas oficiais seguem pouco conhecidas.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Fôlego curto na indústria

Fôlego curto na indústria

O Globo - 12/12/2013
 

Após cinco meses de queda, emprego cresce 0,1% no setor, mas não garante retomada
Após cinco meses de recuo, o emprego na indústria parou de cair. O total do pessoal ocupado nas fábricas avançou 0,1% em outubro, frente a setembro, segundo dados divulgados ontem pelo IBGE. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, no entanto, o indicador registrou a 25° queda consecutiva, de 1,7%. No acumulado do ano, a queda é de 1%. Mesmo com a reação no último mês, a expectativa entre especialistas é de que o emprego industrial só voltará a crescer quando a recuperação na produção industrial se consolidar.
O recuo no emprego em outubro ocorre quando a atividade na indústria começou a reagir, num ano de oscilações. A produção subiu 0,6% em outubro, terceira alta seguida frente ao mês anterior, num sinal de recuperação, ainda que moderada, após um 2013 de gangorra. No ano, a produção industrial acumula alta de 1,5%.
A pesquisadora do Ipea Maria Andréia Lameiras explica o descompasso entre a produção industrial e o emprego:
— Quando a produção começou a cair, em 2011 e 2012, o emprego se manteve estável. O empresário reteve a mão de obra achando que o recuo seria temporário. Mas a recuperação da produção demorou muito e o emprego na indústria acabou caindo também, embora em menor intensidade. Agora, vemos uma inversão. A produção começou a reagir, mas o emprego ainda está sob impacto — afirma Andréia.
QUEDA EM 13 DE 18 RAMOS INDUSTRIAIS
O professor de Estratégia da Fundação Dom Cabral Paulo Vicente dos Santos Alves lembra que há um período entre a retomada na produção e o início de contratação. Por isso, o que pode estar ocorrendo é um crescimento da produção a partir do uso da capacidade ociosa da indústria.
— Agora, a indústria começa a crescer, mas, por enquanto, pode não ser necessário contratar pessoal porque a mão de obra ficou com algum nível de ociosidade — diz, por sua vez, o pesquisador do Ipea Leonardo Carvalho.
Para o economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, há uma expectativa de queda no emprego industrial em 2013 devido à retomada modesta da atividade econômica e à falta de confiança dos empresários:
— A despeito da desoneração da folha de pagamento e incentivos do governo, não vemos recuperação. A produção vem em um ritmo um pouco melhor que no ano passado graças ao câmbio mais valorizado e a ganhos de competitividade e de produtividade.
Em outubro, o total do pessoal ocupado recuou em 13 dos 18 ramos pesquisados na comparação com igual mês do ano passado, com destaque para produtos de metal (5,7%), máquinas e aparelhos eletrônicos (5,1%), máquinas e equipamentos (3,5%), calçados e couro (5,2%), outros produtos da indústria de transformação (3,8%) e produtos têxteis (3,6%).
O número de horas pagas na indústria, por sua vez, avançou 0,3% entre setembro e outubro, enquanto a folha de pagamento real recuou 0,8%. Frente a outubro de 2012, houve queda de 2% e avanço de 1,2%, respectivamente.
— (O avanço de 0,1%) é melhor do que uma nova queda, claro, mas o algo novo é apenas que parou de cair (o nível de emprego na indústria). É um resultado pontual. Ainda não dá para saber se há uma nova trajetória. O perfil dos recuos continua bem disseminado entre os setores — diz o gerente da coordenação de Indústria do IBGE, André Macedo,
REAÇÃO A VISTA
Estudo feito pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) aponta que, em dez dos 18 segmentos da indústria, o número de ocupados caiu em 2012 e esta queda se manteve nos dez primeiros meses de 2013. O setor têxtil registrou recuo de 5,9% do pessoal ocupado no ano passado e de 3,8% no período entre janeiro e outubro de 2013. No vestuário, essas quedas foram de 8,9% e 2,9%, respectivamente. As taxas foram negativas em 6,2% e 5,3% no setor de calçados e couros e em 8% e 5,2% no de madeira.
— O emprego acabou não resistindo ao comportamento errático da produção industrial — aponta o economista chefe do Iedi, Rogério César de Souza.
A expectativa dos especialistas é de alguma reação na geração de empregos da indústria, assim que a produção consolidar sua tendência de crescimento:
—    Este 0,1% de alta em outubro já pode ser um indício de reação. A produção industrial está começando a retomar uma trajetória de recuperação e isso pode se refletir no emprego mais à frente — diz Andréia.
Para Souza, do Iedi, o emprego deve começar a reagir se a produção industrial mantiver um crescimento consistente por três a cinco meses. A projeção do Iedi é de um crescimento em torno de 2% da produção industrial em 2013 e de até 2,5% em 2014. lá Fernanda Guardado, da Brasil Plural, não espera uma melhora no ano que vem. Ela acha que a recuperação da indústria ao longo de 2013 perde fôlego. (Colaborou Márcio Beck)

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Indústria diz que Brasil não é protecionista, mas reclama de custos e de câmbio

Indústria diz que Brasil não é protecionista, mas reclama de custos e de câmbio

Autor(es): Por Juliana Elias e Rodrigo Pedroso | De São Paulo
Valor Econômico - 14/05/2013
 

Representantes da indústria brasileira aproveitaram, ontem, o 31º Encontro Bilateral Brasil-Alemanha, para defender a indústria local da "pecha" de protecionista e argumentar que o setor não teme acordos bilaterais, inclusive com a Europa, desde que possa competir com igualdade de condições.
E a oportunidade de discutir o tamanho da abertura brasileira pode vir logo, pois os países do Mercosul estão trabalhando na lista de produtos que poderão ser incluídos em um possível acordo de livre comércio entre o bloco e a União Europeia (UE), informou ontem Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. "Estamos avançando agora em relação a um acordo. Até o início do segundo semestre, o Mercosul fará uma proposta para a União Europeia", disse ele, durante a abertura do evento sobre as relações econômicas entre Brasil e Alemanha.
O Brasil não tem receio de competir diretamente com países europeus e está disposto a discutir acordos de livre comércio com países da UE e de outras regiões do mundo, afirmou Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) no mesmo evento. Andrade afirmou que não considera o Brasil um país protecionista. "O país tem sido visto como um dos que mais protegem a sua própria indústria, mas isso não é verdade. Mesmo a Alemanha é mais protecionista que o Brasil", disse ele, lembrando que o déficit comercial da indústria foi de US$ 90 bilhões em 2012.
Para o presidente da CNI, há muitas outras dificuldades maiores do que o comércio a serem discutidas entre Brasil e Alemanha para destravar investimentos. Entre esses percalços ele citou as várias exigências técnicas por que passam os produtos brasileiros e de outras origens quando entram em países como a Alemanha e também a bitributação a que é submetido o processo de importação e exportação entre os dois países. Segundo ele, as negociações entre os dois países sobre esse assunto não avançaram.
O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK) e da Volkswagen no Brasil, Thomas Schmall, defendeu, no mesmo evento, que, junto da série de benefícios à produção local que recebeu do governo, a indústria automobilística brasileira precisa de incentivos também para exportação.
"O governo criou o programa Inovar-Auto, que com certeza trará novos desafios e novas tecnologias, mas precisaríamos também de um "Inovar-Auto" para as exportações", disse Schmall, em referência ao programa de incentivos à pesquisa e desenvolvimento e à produção de conteúdo local na indústria automobilística, editado pelo governo no fim do ano passado. "Isso estimula a produção interna, mas é como ter só uma perna funcionando. A segunda perna poderia ser a ampliação desse diálogo no sentido de incentivar as exportações", disse o executivo, durante o evento.
Segundo Andrade, da CNI, o câmbio, que flutua atualmente na casa dos R$ 2, deveria estar em R$ 2,47, nos cálculos da entidade, para que a competitividade brasileira se equiparasse a concorrentes internacionais. José Ricardo Roriz Coelho, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), acrescentou que o Brasil teve um grande avanço nos últimos anos ao aumentar o mercado interno e mantê-lo aquecido, mas que, com altos custos e baixa competitividade, a indústria nacional não está conseguindo acompanhar esse crescimento. "Um estudo feito pela Fiesp comparou o Brasil aos seus 15 principais parceiros comerciais e mostrou que produzir aqui é 32% mais caro que nestes países". disse.

PRODUÇÃO CAI, MAS CRESCE O FATURAMENTO DA INDÚSTRIA

PRODUÇÃO CAI, MAS CRESCE O FATURAMENTO DA INDÚSTRIA

COM REAJUSTE DE PREÇO E ALTA NA IMPORTAÇÃO, INDÚSTRIA FATURA MAIS
Autor(es): Por Marta Watanabe e Flavia Lima | De São Paulo
Valor Econômico - 13/05/2013
 

A elevação de preços e a aquisição de um maior volume de produtos importados ajudaram a indústria de transformação a aumentar o faturamento real, apesar da fraca produção física neste início de ano. No primeiro trimestre, enquanto a produção caiu 0,2%, o faturamento real ficou 2,7% maior, ambos na comparação com o mesmo período de 2012.
Entre os 20 principais setores da indústria de transformação, 13 encerraram o trimestre com ganho real de faturamento entre 0,4% e 14,4%. Desses, dez fizeram, no mesmo período, reajuste de preços acima da inflação ou elevaram a quantidade da importação, segundo dados obtidos nas pesquisas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).


A elevação de preços e a aquisição de um volume maior de bens importados ajudaram alguns setores industriais a aumentar o faturamento real, apesar da fraca produção física neste início de ano. Dos vinte principais setores da indústria de transformação, em 12 a receita real de vendas cresceu acima de 1% no primeiro trimestre, contra iguais meses do ano passado. Dentro dos doze setores, dez fizeram, no mesmo período, reajuste de preço acima da inflação ou elevaram o volume de importados, segundo dados obtidos a partir do cruzamento de pesquisas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
No primeiro caso estão a fabricação de produtos alimentícios e de produtos de madeira. No segundo, os segmentos de vestuário, calçados e produtos farmacêuticos. Em alguns casos aconteceram as duas coisas simultaneamente, como nos segmentos de máquinas, aparelhos e materiais elétricos e de produtos de borracha e material plástico. Em outros setores - de máquinas e equipamentos e de minerais não metálicos -, a venda de estoques ajudou no faturamento maior.
Os preços e os produtos importados contribuíram de forma mais significativa para a alta nas receitas de vendas porque a produção física não acompanhou o desempenho do faturamento. O cruzamento de dados de produção, importação, preço e faturamento mostra que enquanto 12 dos 20 setores da indústria de transformação conseguiram faturamento maior, apenas sete registraram, no primeiro trimestre, elevação de produção física acima de 1%.
Edgard Pereira, professor do Instituto de Economia da Unicamp, destaca a elevação de preços nos segmentos de produtos de madeira (9,4%), na indústria de bebidas (10,14%) e na alimentícia (8,78%). As variações ficaram bem acima da inflação, que até março acumulou alta de 6,59% pelo IPCA. Os preços industriais considerados são os da variação do Índice de Preços ao Produtor (IPP), medido pelo IBGE, que mede a variação de preço dos bens industriais na saída da fábrica e incorpora, por isso, eventuais descontos concedidos na negociação com o varejo.
A elevação de preços, porém, não teve o mesmo efeito para todos. Enquanto essa alta contribuiu para um faturamento maior na indústria de alimentos e no setor de madeira, o mesmo não ocorreu em bebidas, diz Pereira, que mesmo com alta de preços significativa e crescimento de produção (alta de 0,76%), registrou recuo de 9,5% no faturamento. "É um caso claro de queda de demanda, que respondeu aos preços mais altos cortando compras". Segundo ele, isso pode ser notado no balanço de alguns fabricantes, como da Ambev. Com a alta de preços, diz o ex-secretário de política econômica, Julio Gomes de Almeida, o setor acumulou estoques que poderão afetar a produção física dos próximos meses.
A alta no volume importado no trimestre também teve efeito diverso entre os setores. Para alguns, as importações beneficiaram o faturamento. Analistas indicam que essa ligação entre o aumento nos volumes desembarcados e a alta de faturamento é mais clara em setores como vestuário, calçados, farmoquímicos e farmacêuticos, máquinas e aparelhos elétricos e produtos de metal, com exceção de máquinas. O setor de vestuário é considerado caso típico, com crescimento forte do faturamento (12%), das importações (9%) e dos preços (5%), mas queda na produção (7%). "Claramente é um setor que está substituindo produção por importação", diz Pereira. Esse setor, acrescenta Almeida, ainda pode ter se beneficiado das importações do segmento têxtil, cadeia imediatamente anterior, que registra alta de importações (10,7%), mas com queda de faturamento. "No setor têxtil, a importação está roubando não só produção da indústria doméstica, como também tirando faturamento."
Fernando Ribeiro, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômico Aplicada (Ipea), acredita que para fabricantes de bens finais como vestuário e produtos farmacêuticos, por exemplo, nos quais o ritmo da importação está mais acelerado que o da produção industrial, os importados têm substituído a indústria doméstica. Isso acontece na margem, ou seja, na parcela de crescimento da demanda interna. "Isso aconteceu de forma forte em 2010 e 2011 e ficou estabilizado no ano passado, com o recuo das importações, mas agora volta a ganhar ritmo."
Ribeiro destaca que o câmbio, apesar da desvalorização do real no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período do ano passado, não foi capaz de frear essa importação. "O que se observa, historicamente, é que a importação é muito mais determinada pela atividade econômica e pelo câmbio", diz. Isso só muda, acrescenta, se houver uma variação muito grande ou abrupta do preço da moeda nacional, o que não aconteceu.
Em alguns setores importantes, os estoques estão fazendo diferença, como em máquinas e equipamentos. Nesse segmento, tanto a produção física quanto o volume de importação caíram muito - queda de 2% e de 0,8%, respectivamente -, mas o faturamento subiu de forma surpreendente, com alta de 14,4%. "As indústrias estão vendendo o que estocaram em períodos anteriores, mas a demanda ainda não chegou a gerar alta de produção", diz Almeida.
Pereira, da Unicamp, também acredita que os estoques tiveram influência. Mas, para ele, os números do setor de máquinas e equipamentos podem embutir uma boa noticia. "A redução na importação pode significar que o setor estaria recuperando um pouco a produção local." Outra hipótese, acrescenta, pode ser a venda de máquinas mais sofisticadas e, portanto, mais caras, ou seja, o fato de a demanda estar se direcionado a produtos de maior valor agregado.
Os sinais pouco claros da recuperação da atividade industrial, porém, não se restringem ao setor de máquinas e equipamentos. João Saboia, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), observa que, no geral, a indústria teve um pequeno crescimento real no faturamento embora com o nível de produção esteja praticamente estagnado. "O resultado é medíocre em termos agregados", diz ele. Ele destaca que o crescimento médio dos preços da indústria de transformação foi de 6,5% no período, muito próximo ao IPCA dos últimos 12 meses. Mas o que mais o impressiona, diz, é a diferença de resultados em alguns setores, com alta de faturamento entre 11% e 14% em setores como vestuário, máquinas, aparelhos e materiais elétricos e máquinas e equipamentos, enquanto a receita em "outros transportes" caiu 22%.
Saboia lembra ainda que existem enormes diferenças também na produção e no quantum de importados. "Há segmentos com situações extremamente diferenciadas mostrando os perigos de se falar da indústria sem especificar de que segmento se está falando".

domingo, 12 de maio de 2013

Indústria brasileira tem o pior desempenho entre países emergentes


Indústria brasileira tem o pior desempenho entre países emergentes


 ÉRICA FRAGA
MARIANA CARNEIRO
Do UOL

O desempenho da indústria brasileira em 2012 foi o pior entre 25 nações emergentes e importantes economias da América Latina.
A queda de 2,6% na produção industrial do país foi, de longe, a mais acentuada do grupo. O Egito, segundo pior colocado, registrou contração de 1,9%.
A indústria brasileira como componente do PIB (Produto Interno Bruto) --que, além da produção de manufaturados, inclui setores como construção civil e energia elétrica-- também amargou a maior contração no mundo emergente. A queda desse indicador foi de 0,8%.


Os dados são da consultoria britânica EIU (Economist Intelligence Unit) e mostram que o retrato de crise no setor é renitente. Em 2011, o resultado da produção industrial brasileira já figurava entre os três piores do grupo analisado.
Segundo especialistas, os números confirmam que problemas domésticos têm exercido maior influência sobre a trajetória da indústria do que a crise externa.
"Esses dados causam muita preocupação. A crise externa existe e afetou todos, mas fomos piores do que os demais", afirma Flávio Castelo Branco, gerente de política econômica da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

DESACELERAÇÃO GLOBAL
 
Robert Wood, analista da EIU, diz que a expansão do comércio global de produtos manufaturados desacelerou de 6,3%, em 2011, para 2,5% no ano passado.
Esse movimento, afirma Wood, levou a uma perda de fôlego da indústria mundial. "Em um cenário de oferta excedente de produtos manufaturados, países com competitividade baixa, como o Brasil, sofreram mais."
O encolhimento da indústria brasileira em 2012 contrasta com a expansão robusta do setor em alguns países asiáticos. O desempenho também foi inferior ao dos principais mercados latino-americanos e até ao de países emergentes da Europa, região que está no epicentro da crise internacional.
Em 2013, a indústria deve ter melhor desempenho, de acordo com economistas. Mas os dados já divulgados apontam uma recuperação ainda frágil.
Segundo Castelo Branco, da CNI, a confiança dos empresários brasileiros, que ensaiou uma retomada no início deste ano, já mostra sinais de arrefecimento.
"Este ano será melhor, mas é uma recuperação fraca, considerando o resultado muito ruim de 2012."

segunda-feira, 4 de março de 2013

Indústria atrasada, economia enigmática

Indústria atrasada, economia enigmática

Publicado em Carta Capital

Por Mario Osava, da IPS

A indústria é o órgão enfermo da economia do Brasil. A produção do setor caiu 2,7% em 2012, apesar dos estímulos recebidos do governo, contrariando indicadores relacionados, como a forte expansão do comércio varejista e o desemprego em seu nível mínimo histórico. O enigma de uma economia paralisada, mas com sintomas de crescimento excessivo para as potencialidades do país, incluindo escassez da mão de obra e inflação em alta, parece ter sido revelado segundo várias explicações apresentadas.
Algumas causas com as quais lidam os economistas seriam uma queda na quantidade de jovens que se incorporam ao mercado de trabalho e o excesso de estoques acumulados. A redução da atividade manufatureira é o que mais preocupa o governo de Dilma Rousseff e os operadores econômicos, porque acentua uma tendência e coloca em xeque o futuro do país. A desindustrialização, há anos reconhecida por empresários do setor e poucos economistas, agora está difícil de ser negada.
As expectativas repousam nas projeções de melhorias para este ano. Mas os baixos investimentos refletidos no retrocesso de 11,8% na produção de bens de capital em 2012 e o auge inflacionário, que pode provocar medidas do Banco Central para conter a demanda, não permitem esperar que a recuperação tenha o vigor pretendido.
Indústria de medicamentos genéricos produzidos em laboratório goiano. Foto: Elza Fiúza/ABr
Indústria de medicamentos genéricos produzidos em laboratório goiano. Foto: Elza Fiúza/ABr

Os resultados no fechamento de 2012 foram “uma ducha fria”, frustrando esperanças de retomar o crescimento e indicando que na indústria brasileira “a crise é mais profunda”, não apenas um efeito conjuntural devido aos graves problemas da economia global, afirmou Julio de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). O Brasil “não acompanhou a evolução industrial do mundo” nos últimos 20 anos, como fizeram China, Coreia do Sul e Índia. Assim, sem desenvolver setores mais dinâmicos, como o eletrônico e o farmacêutico, tampouco avançou suficientemente em inovações tecnológicas, disse Almeida à IPS. Além disso, há cerca de 15 anos, a indústria e alguns “serviços organizados” sofrem um acúmulo de custos, sejam logísticos, financeiros ou energéticos, que reduzem sua competitividade.
Agravando tudo, os salários aumentaram nos últimos cinco anos muito acima da produtividade. Somente no ano passado, cresceram, em média, 5,8%, enquanto o rendimento caiu 0,8%, segundo o Iedi.
É possível sobreviver sendo pouco competitivo se a economia mundial crescer em um bom ritmo, mas os problemas apareceram com a crise iniciada em 2008 nos Estados Unidos e que depois se espalhou especialmente para a Europa, que “estreitou o mercado industrial” no mundo e colocou o mercado interno brasileiro sob intensa disputa, observou Almeida.
Apesar de tudo, este economista acredita que este ano pode haver uma recuperação, graças às medidas governamentais que baratearam a eletricidade e reduziram tributos para alguns setores industriais, além de baixar juros, estabilizar a taxa de câmbio e anunciar fortes investimentos em infraestrutura de transporte. Porém, será necessário aumentar a produtividade com fortes investimentos em inovações tecnológicas, especialmente porque o Brasil tem “uma indústria avantajada”, ressaltou.
De fato, a indústria da velha geração metal-mecânica, especialmente a automobilística, é predominante no país, com um peso crescente. Com uma longa cadeia produtiva, incluindo peças de automóveis e máquinas agrícolas, o segmento de veículos representava 21% do produto industrial em 2011, segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Essa participação duplicou nos últimos 20 anos, enquanto a indústria de transformação, em seu conjunto, transitou o caminho inverso em sua contribuição para o produto interno do país, caindo para 14,6% em 2011. Ou seja, a importância do automóvel para a economia brasileira continua crescendo.
Por isso, a principal medida do governo para atenuar os efeitos recessivos da crise financeira internacional de 2008 foi reduzir impostos sobre os veículos a partir de dezembro daquele ano, após três meses de abrupta queda nas vendas. É uma fórmula repetida em outras crises. O petróleo e o aço também continuam sendo elementos fundamentais do esforço brasileiro para reverter a desindustrialização.
Agora se busca recuperar a indústria naval, aproveitando o petróleo descoberto debaixo da camada de sal no leito do Oceano Atlântico, perto da costa brasileira. Para impulsionar a produção nacional foi criada uma legislação que exige componentes variáveis e crescentes de origem nacional, que podem chegar a até 70% do total da construção de cada navio, plataforma, sonda e demais equipamentos destinados à atividade petroleira.
Todo esse esforço, baseado em intervenções do Estado, como estímulos tributários ou financeiros a setores escolhidos e medidas consideradas protecionistas, incluindo barreiras aduaneiras e a imposição de muito conteúdo nacional em produtos como automóveis, além dos navios petroleiros, provoca a rejeição por parte de muitos analistas de correntes liberais, com forte audiência entre os operadores e os meios de comunicação especializados em economia.

A desindustrialização não é necessariamente uma “doença”, já que “a indústria vai mal, mas o Brasil vai muito bem”, com muito emprego e salários elevados, resumiu o economista Edmar Bacha, em entrevistas realizadas no ano passado ao anunciar o livro coletivo que organizou sob o título O futuro da indústria no Brasil, publicado este mês.
Em sua análise, o setor manufatureiro brasileiro perdeu competitividade principalmente pela explosão salarial que elevou custos. A média salarial no Brasil, em dólares, cresceu 14,4% ao ano entre 2006 e 2011, um recorde mundial longe de ser ameaçado por Austrália, que aparece em segundo lugar com 9%, segundo os coautores do livro, Beny Parnes e Gabriel Hartung.
Bacha, que participou de governos anteriores que implantaram políticas econômicas mais liberais, afirmou que a competitividade não se constrói com protecionismos, mas com maior abertura comercial, que permita a integração com as cadeias produtivas internacionais. O México é apresentado como um exemplo disso.
Ampliando o olhar dos especialistas, a única coincidência sobre as causas da perda de capacidade industrial é a falta de competitividade. Há divisões tanto na interpretação de suas origens como em seu significado e remédios, segundo o lugar onde se detém cada observador. Os analistas vinculados ao setor primário, por exemplo, questionam a primazia atribuída à indústria como promotora do progresso e da inovação. Argumentam que a agricultura agrega hoje muita tecnologia e muito conhecimento, incorporando pesquisa científica e mecanização.
Mas no governo brasileiro se destacam os “desenvolvimentistas”, começando pela presidente Dilma Rousseff. Por isso é irônico que a queda da indústria se acentue enquanto o país é administrado por dirigentes que priorizam o setor e que, para recuperar sua competitividade, adotaram medidas acusadas de serem extremamente intervencionistas pelos partidários de soluções de mercado.

Os desafios da indústria brasileira

Os desafios da indústria brasileira

 Luis Gonzaga Belluzzo

Publicado em Carta Capital
Foto: Claudio Capucho/Vale/AE
Foto: Claudio Capucho/Vale/AE

A perda de dinamismo da industrialização brasileira provocou, no início dos anos 90, uma reação extremada nas hostes liberais: abrir a economia e expor os empresários letárgicos aos ares benfazejos da globalização. O silogismo em que se desdobra a premissa é grotesco em sua simplicidade: se a indústria brasileira perdeu a capacidade de investir ou de se modernizar, a solução é submeter a incompetente à disciplina da concorrência externa.
Na arrancada dos emergentes bem-sucedidos, os benefícios da abertura da economia ao investimento estrangeiro – tais como absorção de tecnologia, adensamento de cadeias industriais, crescimento das exportações – dependeram fundamentalmente das políticas nacionais. Dentre os chamados BRICS, cresceu mais e exportou ainda melhor quem conseguiu administrar uma combinação favorável entre câmbio real competitivo e juros baixos, acompanhada da formação de redes domésticas entre as montadoras e os fornecedores de peças, componentes, equipamentos, sistemas de logística e advertising.
Na era da arrancada chinesa, é superstição acreditar que a abertura financeira e a exposição pura e simples do setor industrial à concorrência externa são capazes de promover a modernização tecnológica e os ganhos de competitividade. Os estudos mais especializados e aprofundados sobre o tema mostram que a concorrência nos mercados contemporâneos está marcada por características que não guardam qualquer semelhança com as crendices simplificadoras das vantagens comparativas. A propósito das suposições sobre o estado atual das trocas internacionais, dois economistas de Princeton escreveram um artigo denominado “O surgimento das cadeias globais: não se trata mais de Vinho versus Tecidos”. É uma crítica bem argumentada e com sólidas bases empíricas às teorias convencionais sobre os ganhos de comércio lastreadas na teoria das vantagens comparativas.
Os estudiosos reconhecem a existência de economias de escala e de escopo, economias externas, estratégias de ocupação e diversificação dos mercados, conglomeração e acordos de cooperação. Nesse jogo só entra quem tem cacife tecnológico, poder financeiro e amparo político dos Estados Nacionais.
Não há exemplo nos países periféricos – aí incluídos o Chile e os “Tigres Asiáticos”, a China, de renúncia a políticas deliberadas de reestruturação produtiva ou de estímulo à modernização e à conquista de mercados. Seja qual for a estratégia adotada – liderança das exportações ou preeminência do mercado interno –, os casos bem-sucedidos de avanço industrial e produtivo na dita “era da globalização” têm um traço comum: intencionalidade e coordenação pública.
É insensato subestimar os efeitos causados pelas mudanças da geoeconomia mundial: a expansão sino-asiática vai continuar ameaçando as estruturas industriais do Velho e do Novo Mundo. As políticas asiáticas de promoção e integração industrial estão alicerçadas em ganhos expressivos nas relações produtividade/salário e sálario/câmbio na manufatura. Esse processo é amparado por um sistema de crédito voltado para o investimento manufatureiro privado e para a sustentação dos programas públicos de gastos em infraestrutura.
A despeito da crise global e da inevitável desaceleração chinesa, o estilo de desenvolvimento sino-asiático vai prosseguir em seus trabalhos de ganhar a dianteira na porfia competitiva global. Nessas circunstâncias, a valorização cambial é um erro grave, assim como a hesitação em promover políticas adequadas de defesa comercial e de estímulo às exportações.
Em artigo escrito com Júlio Sérgio Gomes de Almeida sugeri que a falsa inserção competitiva da economia brasileira está cobrando o seu preço. Falsa porque as políticas dos anos 1990 entendiam que bastava expor a economia à concorrência externa para lograr ganhos de eficiência micro e macroeconômicas. O Brasil encerrou os anos 1990 com uma regressão da estrutura industrial, ou seja, não acompanhou o avanço e a diferenciação setorial da indústria manufatureira global e, ademais, perdeu competitividade e elos nas cadeias que conservou.
Percorremos o caminho inverso dos asiáticos, que abriram a economia para as importações redutoras de custos. Importar para exportar. A abertura da economia estava, portanto, comprometida com os ganhos de produtividade voltados para o aumento das exportações. As relações importações/exportações faziam parte das políticas industriais, ou seja, do projeto que combinava o avanço das grandes empresas nacionais nos mercados globais e a proteção do mercado interno.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Indústria já faz governo temer pelo PIB de 2013

Indústria já faz governo temer pelo PIB de 2013

2013 já contaminado
Autor(es): VICTOR MARTINS
Correio Braziliense - 10/10/2012
 
Indústria não sai da recessão e Planalto começa a duvidar da previsão de que o país vá crescer 4% no próximo ano NotíciaGráfico

A demora da economia para reagir aos estímulos concedidos pelo governo começa a lançar sombras sobre o próximo ano. No Palácio do Planalto, a preocupação é que o baixo ritmo de investimentos do setor privado comprometa a previsão de que o Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer entre 4% e 4,5% em 2013. Dados do setor industrial, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reforçam esse receio. Mesmo com todas as medidas já adotadas para incentivar o segmento, a indústria continua em recessão.
Nove de 14 regiões pesquisadas pelo IBGE acumulam desempenho negativo no ano até agosto. São Paulo, o maior polo industrial do país, tem perdas de 5,6% no período. Com esse desempenho, analistas ponderam que nem mesmo a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para diversos produtos pode salvar 2012. A projeção do mercado é de que a produção encolha 2% neste ano — uma previsão que piora a cada semana.
"A indústria deveria estar apresentando números melhores, mas ainda pesam sobre ela muito fatores desfavoráveis", explicou Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria. Segundo ele, a baixa demanda externa e o ritmo ainda expressivo de importações, têm prejudicado as fábricas. "Como a indústria teve trajetória de queda nos seis primeiros meses do ano, 2012 deve fechar com recuo de 2% mesmo com alguma recuperação nos próximos meses", disse. "E para que se obtenha esse resultado no fim do ano é preciso uma evolução positiva de setembro a dezembro."
A capacidade da indústria de concorrer com competidores externos está reduzida ainda pela baixa qualificação e inovação do setor. Os investimentos em tecnologia para aumento de competitividade são quase nulos e os trabalhadores chegam ao mercado de trabalho sem conhecimento adequado. "A mão de obra tem pouco treinamento e, comparada aos nossos pares, tem baixa produtividade, porque a qualidade da educação no país é ruim", argumentou José Márcio Camargo, economista-chefe da Opus Investimentos.

terça-feira, 17 de julho de 2012

BOLETIM DO BC JÁ APONTA PIB ABAIXO DE 2% ESTE ANO

BOLETIM DO BC JÁ APONTA PIB ABAIXO DE 2% ESTE ANO

CRESCIMENTO ABAIXO DE 2%
Autor(es): Gabriela Valente, Flávia Barbosa
O Globo - 17/07/2012
 
Mercado revê para baixo expansão do Brasil em 2012, a 1,9%, mas FMI vê PIB a 2,5%
O pessimismo se disseminou entre analistas em relação às perspectivas de crescimento do Brasil este ano, que recuaram para menos de 2%. Segundo a pesquisa Focus, que o Banco Central (BC) faz com as principais instituições do mercado financeiro, divulgada ontem, a expectativa geral passou de 2,01% para 1,9%. Foi a décima semana seguida de redução das estimativas. Este prognóstico, que vê desemprego em alta, renda em baixa e queda do consumo, tem perspectiva de queda confirmada pelas previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), embora num patamar menos dramático. Segundo o relatório "Projeções para a economia mundial" do Fundo, também anunciado ontem, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos) brasileiro vai crescer 2,5% este ano, ante uma previsão anterior de 3,1%.
- Na verdade, já estamos vivendo isso tudo, porque essa previsão do mercado (Focus) para 2012 leva em conta uma aceleração no segundo semestre, ou seja, uma melhora daqui para frente - enfatizou o economista-chefe da Sulamerica Investimentos, Nilton Rosa. - O pessimismo só está sendo cristalizado nas previsões, mas já era percebido, principalmente, pelos empresários: o futuro não será tão cor de rosa.
Segundo o analista, o impacto negativo na confiança dos empresários é bem mais rápido do que no sentimento da população. Porém, por mais que o consumidor se mantenha otimista e alimente a atividade econômica, pelo menos por enquanto o endividamento das famílias impede que o consumo continue no mesmo ritmo de antes:
- O crédito significa comprometimento de renda futura e diminui o espaço para gastar.
Isso já começa a se refletir nas expectativas para o ano que vem. Nas estimativas dos especialistas colhidas para o relatório do BC, a projeção de crescimento caiu de 4,2% para 4,1% em 2013. Aqui, o relatório do FMI diverge do boletim Focus. Para o Fundo, em 2013, haverá uma recuperação da economia brasileira, e o PIB crescerá 4,6%, meio ponto percentual acima de sua projeção anterior.
A projeção do FMI para o crescimento global em 2012 foi revista de 3,6% para 3,5% e, em 2013, de 4,1% para 3,9%. O vice-presidente executivo de Tesouraria do banco WestLB, Ures Folchini, lembra que os sinais de desaceleração econômica, em diferentes partes do mundo, intensificaram-se. Na sexta-feira, a China reportou um crescimento de 7,6% da economia no segundo trimestre, o menor número desde 2009. Os EUA, que vinham criando cerca de 200 mil novos empregos por mês, no início do ano, em junho criaram apenas 80 mil. Um sinal de que a engrenagem econômica está funcionando num ritmo abaixo do esperado.
- Antes, o foco de preocupação era a crise do euro. Agora, há vários focos. Os EUA que não crescem como se espera, a China desacelerando de fato. Tudo isso, reflete no ritmo da economia brasileira, que deve crescer 2,5% contra os esperados 5% do início do ano pelo governo - avalia Folchini.
Analistas divergem sobre taxa de juros
Mesmo com uma piora no cenário para o crescimento da economia brasileira, os economistas ouvidos no Focus não alteraram a previsão para o comportamento da taxa básica de juros (Selic). Eles apostam que o Comitê de Política Monetária (Copom) cortará os juros básicos até 7,5% ao ano. Na semana passada, o colegiado cortou a taxa em 0,5 ponto percentual, para 8% ao ano. Os próximos passos na condução da política monetária devem ser indicados na ata da reunião do Copom que será publicada na quinta-feira. Economistas já trabalham com a hipótese de que o BC será mais agressivo para favorecer o crescimento. Os mais audaciosos apostam que o Copom levará a Selic a 6% ao ano até o fim de 2012.
Relatório da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), porém, indicou que a perspectiva de aceleração futura da inflação pode levar o Copom a adotar uma postura mais cautelosa em relação à Selic:
"Enquanto a piora nas estimativas sobre a atividade poderia sugerir uma extensão do ciclo de queda dos juros (em relação à precificação atual dos mercados), a rigidez das estimativas sobre a inflação pode apontar para uma estratégia mais cautelosa", avaliou a Febraban. "É por conta disso que o mais provável é que o BC siga com o seu pragmatismo atual, preservando ao máximo o seu raio de manobra."
O corte na previsão de crescimento do FMI foi um dos mais profundos entre as principais economias analisadas. A previsão para a Índia sofreu a maior revisão, de 6,8% para 6,1%. Na mesma magnitude que o Brasil, aparece o Reino Unido, cuja projeção de crescimento foi reduzida de 0,8% para 0,2%. Segundo a equipe do economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, após um primeiro trimestre de expectativas animadores, a economia global voltou a apresentar sinais de fraqueza entre abril (quando o relatório anterior fora divulgado) e junho. Ele acrescentou que os riscos "permanecem muito elevados". As principais causas foram a nova onda de tensão financeira na zona do euro e sua periferia e a desaceleração das economias emergentes.
Principal economia emergente, a China teve sua expansão revisada para baixo tanto em 2012 - de 8,2% para 8% - como em 2013 - 8,8% para 8,5%. Entre os parceiros no chamado Bric (grupo das quatro grandes nações emergentes), a Índia viu subir a projeção para o seu PIB no ano que vem - de 7,2% para 7,5%. As projeções para a Rússia ficaram inalteradas este ano - expansão de 4% - e caíram ligeiramente, de 4% para 3,9%, em 2013.
Entre os países ricos, o FMI manteve inalterada a previsão de contração de 0,3% na economia da zona do euro e reduziu de 0,9% para 0,7% a expansão do próximo ano. Além do Reino Unido, sofreu forte revisão nos números a Espanha, que, em vez de um ano, terá dois de recessão. Os EUA tiveram a previsão de PIB diminuída de 2,1% para 2% em 2012 e de 2,4% para 2,1% em 2013. O Japão foi a surpresa positiva entre as economias avançadas, com expansão estimada em 2,4% este ano, alta de 0,4 ponto percentual sobre a marca do relatório anterior.
A revisão das projeções do FMI não surpreendeu o professor Luiz Carlos Prado, da UFRJ. Para ele, o país não tem como dar um novo salto de crescimento se não houver investimento público. Apenas o consumo não tem como segurar uma forte expansão no PIB:
- Além disso, a crise encontrou um país que vem postergando decisões importantes, como reformas estruturais e investimento em educação - afirmou.
COLABORARAM: Aguinaldo Novo e Fabiana Ribeiro

quarta-feira, 4 de julho de 2012

INDÚSTRIA CAI MAIS E BC PODE INTERVIR NO CÂMBIO

INDÚSTRIA CAI MAIS E BC PODE INTERVIR NO CÂMBIO

PRODUÇÃO INDUSTRIAL CAI 4,3% E LEVA MERCADO A REBAIXAR PREVISÃO PARA O PIB
Autor(es): Mônica Ciarelli
O Estado de S. Paulo - 04/07/2012
 

Os números de maio da produção industrial divulgados ontem pelo IBGE acentuam o atual quadro de retração do setor em 2012. Em queda há nove meses, o indicador teve em maio perda de 4,3% ante o mesmo período de 2011. O setor automotivo apresentou uma das maiores quedas: 5,3%. Diante desse cenário, consultorias já começam a revisar para baixo as projeções de crescimento para o PIB em 2012. O dólar abaixo de R$ 2, um fator que pode ser prejudicial à indústria, não agrada à equipe econômica e o Banco Central poderá agir. O recado foi dado ontem pelo diretor de política monetária da instituição, Aldo Luiz Mendes, em entrevista ao Estado. Após o aviso, no final da manhã, a moeda, que estava cotada a R$ 1,977, voltou ao nível considerado adequado e fechou o dia a R$ 2,015. "O desempenho industrial mais fraco até aumenta a possibilidade de o governo querer um dólar mais alto que a cotação de hoje (ontem)", disse Mendes
Com resultado de maio, analistas já projetam alta do PIB de só 1,7% em 2012; Banco Central vai intervir no câmbio para ajudar a indústria

Os números de maio da produção industrial divulgados na terça-feira pelo IBGE acentuam o atual quadro de retração do setor em 2012. Em queda há nove meses, o indicador amargou em maio perda de 4,3% frente ao mesmo período do ano passado. Foi o pior resultado desde setembro de 2009, quando a produção caiu 7,6%. Diante desse cenário, consultorias já começam a revisar para baixo as projeções de crescimento para o PIB em 2012.
O Banco Central deu um recado claro sobre a estratégia do governo para ajudar a indústria. Pela primeira vez, o BC admitiu que pode intervir no câmbio e evitar o fortalecimento do real, que prejudica a competitividade dos produtos brasileiros. Até então, o banco dizia que só atuava no câmbio para evitar oscilações bruscas e que sua missão era evitar a alta da inflação, e não proteger a produção.
"O dólar abaixo desse nível de R$ 2 pode não ser bom para a indústria", disse o diretor de política monetária, Aldo Mendes, em entrevista à Agência Estado.
"Pibinho". Cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que a produção industrial precisaria crescer 1,6% ao mês de junho a dezembro para fechar 2012 no azul. "Ainda não há indícios de que a aceleração começou a acontecer, mas esperamos que as políticas monetária e fiscal tenham algum efeito no segundo semestre", disse Leonardo Mello, técnico do Ipea.
"Infelizmente teremos um "pibinho" este ano", previu a sócia da MB Associados, Tereza Fernandez.
Por causa do fraco desempenho da indústria, a MB rebaixou a expectativa de alta do PIB de 3,5% para 2,0%, com viés de baixa. Mesmo sem a revisão concluída, a Rosemberg & Associados já considera a possibilidade de uma queda dos atuais 2,3% para 1,7%. "Dificilmente veremos melhora na produção industrial neste ano", disse a economista-chefe da Rosemberg, Thaís Zara.
"A primeira impressão é que os dados da indústria jogam por água abaixo os esforços do Planalto e da Fazenda em dar suporte ao humor empresarial", afirmou, em relatório, o economista da Gradual Investimentos, André Perfeito.
Segundo o gerente de coordenação de indústria do IBGE, André Macedo, as medidas de estímulo adotadas pelo governo foram insuficientes. Tanto que a produção caiu 0,9% de abril para maio, acumulando perda de 3,4% em 2012.
O efeito das medidas, lembrou, foi apenas pontual, com melhoria de resultado em segmentos como linha branca e móveis, que trabalham com IPI reduzido há mais tempo. A produção da linha branca subiu 8,5% na comparação com maior de 2011, enquanto a de móveis teve alta de 22,3%.
"Os números de maio dizem que o perfil da indústria é de uma queda generalizada (...) Há uma predominância de resultados negativos em qualquer comparação que se faça."
O setor automotivo é o que mais sofre com a retração da indústria. Para Macedo, a redução do IPI anunciada em 21 de maio ainda não se refletiu na produção. A resposta mais lenta em relação ao que já ocorreu no passado se deve ao cenário de aumento da inadimplência, de maior comprometimento da renda das famílias e também de maior restrição do crédito.
A produção caiu 5,3% em relação a maio de 2011. Como a redução do IPI ainda é recente, Macedo afirma que não dá para prever se o crescimento das vendas informado pela Fenabrave - recorde para o mês de junho - será suficiente para "queimar" estoques e estimular um incremento da produção.
(Colaboraram Daniela Amorim, Gustavo Porto e Francisco Carlos de Assis)

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Desaceleração da economia foi maior do que a esperada, mas ajudou Banco Central a reduzir Selic

Desaceleração da economia foi maior do que a esperada, mas ajudou Banco Central a reduzir Selic

08/06/2012

Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil

 A desaceleração da economia brasileira no segundo semestre de 2011 – motivada por uma série de medidas adotadas no período pelo governo para evitar o aumento da inflação – foi maior do que a esperada. Além disso, apesar de a inflação de serviços ainda seguir em níveis elevados, o conjunto de informações analisadas pelo Banco Central (BC) sugere tendência declinante da inflação acumulada em 12 meses, em direção à meta de inflação, que em 2012 tem como centro 4,5%, com margem de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo.
Esses fatores, de acordo com a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, divulgada hoje (6), estão entre as justificativas da redução da taxa básica de juros, a Selic, para 8,5% ao ano, o nível mais baixo já registrado desde que a atual política monetária foi adotada, no início de 1999. A taxa básica de juros é responsável por remunerar os títulos públicos depositados no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic).
O Copom manteve a projeção de que não haverá reajuste nos preços da gasolina e do gás de botijão no acumulado de 2012. No caso das tarifas de telefonia fixa e de eletricidade, foram mantidas as estimativas de reajuste de 1,5% e de 1,3%, respectivamente. Essas projeções também levaram a autoridade monetária a considerar o cenário favorável para a redução da Selic.
Segundo o comitê, o processo de redução dos juros foi favorecido, também, pelas mudanças na estrutura dos mercados financeiros e de capitais, pelo aprofundamento do mercado de crédito, bem como pela geração de superávits primários consistentes com a manutenção de tendência decrescente para a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB). Esses fatores, diz a ata, “contribuem para que a economia brasileira hoje apresente sólidos indicadores de solvência e de liquidez”.
De acordo com a ata, o cenário de referência leva em conta as hipóteses de manutenção da taxa de câmbio do dólar em R$ 2,05 e da taxa Selic em 9% ao ano. Nesse cenário, avalia o Copom, a projeção para a inflação de 2012 diminuiu em relação ao percentual considerado na reunião de abril, e se encontra em torno do valor central de 4,5% para a meta fixada.
No cenário de mercado, a projeção de inflação para 2012 também diminuiu e se encontra em torno do valor central da meta. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, ficou em 0,64% em abril, ante 0,21% em março e 0,45% em fevereiro. Em 12 meses, a inflação acumulada chega a 5,1% em abril, resultado inferior aos 5,24% registrados em março.
O Copom avalia que a demanda doméstica tende a melhorar, especialmente o consumo das famílias, em grande parte devido aos efeitos de fatores de estímulo, como o crescimento da renda e a expansão moderada do crédito.
Esse ambiente, diz a ata, tende a prevalecer neste e nos próximos semestres, quando a demanda doméstica será impactada pelos efeitos das ações de política recentemente implementadas. O comitê, no entanto, pondera que iniciativas recentes reforçam um cenário de contenção das despesas do setor público. Em relação ao mercado de trabalho, o Copom avalia que, de acordo com os dados analisados, “embora o mercado de trabalho continue robusto, há sinais de moderação na margem”.
O cenário internacional também tem contribuído para o controle dos preços no Brasil. Segundo o Copom, até o momento a fragilidade da economia global tem apresentado uma contribuição “desinflacionária” para o país.
“Eventos recentes indicam postergação de uma solução definitiva para a crise financeira europeia, e que continuam elevados os riscos associados ao processo de desalavancagem – de bancos, de famílias e de governos – ora em curso nos principais blocos econômicos. Esses e outros elementos, portanto, compõem um ambiente econômico em que prevalece nível de incerteza muito acima do usual. Para o comitê, o cenário prospectivo para a inflação, desde sua última reunião, manteve sinais favoráveis”, diz a ata.

Edição: Juliana Andrade

terça-feira, 5 de junho de 2012

Dilma define novas medidas para destravar economia

Dilma define novas medidas para destravar economia

Autor(es): Claudia Safatle e Edna Simão | De Brasília
Valor Econômico - 05/06/2012
 

Preocupada com a disseminação da expectativa de que o crescimento este ano não passará de 2% a 2,5% - pior, portanto, que os 2,7% do ano passado - a presidente Dilma Rousseff convocou, ontem, uma reunião de emergência para determinar a aceleração dos investimentos públicos e discutir medidas para reanimar os investidores privados. No caso do setor privado, o governo avalia um cardápio de possibilidades, do adiamento do recolhimento de impostos das empresas à isenção da cobrança de imposto sobre investimentos, da depreciação acelerada à redução dos preços da energia elétrica - um importante insumo industrial.
O adiamento do recolhimento de impostos, conforme sugestão dada pelo ex-ministro Delfim Netto, seria feito por 90 a 120 dias e representaria dinheiro a custo zero nas mãos das empresas, para capital de giro. A medida está na mesa de discussão, assim como o adiamento das exigencias de conteúdo local para as encomendas da Petrobras.
Os investimentos públicos estão caindo ao invés de crescer. Os casos mais dramáticos são os do Programa de Mobilidade Urbana e as obras do Ministério dos Transportes, que não saem do papel. A execução das obras conduzidas pelos Transportes neste ano está baixíssima. Para uma dotação orçamentária de R$ 17,751 bilhões, a despesa até abril foi de apenas R$ 40,567 milhões. Proporção semelhante é encontrada no Ministério das Cidades. Ambos os ministros estavam na reunião com a presidente, Paulo Sérgio Passos e Aguinaldo Ribeiro, respectivamente.
As estatísticas oficiais mostram que dos R$ 3,74 bilhões de investimentos públicos no mês de março, R$ 2,5 bilhões foram subsídios ao programa Minha Casa Minha Vida. Em abril, os investimentos totais caíram para R$ 3,17 bilhões e desses, R$ 2,02 bilhões também corresponderam aos subsídios do MCMV.
Dilma fez, ontem, quase uma reunião ministerial para debater esse desempenho. Estavam presentes os ministros da Fazenda, Guido Mantega, do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, da Saúde, Alexandre Padilha, da Integração, Fernando Bezerra e da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante. Estavam, ainda, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, e o do Tesouro Nacional, Arno Augustin.
Barbosa foi voto vencido no fim do ano passado quando defendeu o aumento dos investimentos públicos para sustentação do crescimento econômico. Para isso, seria preciso abrir mão da meta fiscal "cheia" e abater uma parcela dos investimentos do PAC. Mantega e Augustin advogaram o cumprimento integral da meta. Com a queda no ritmo de crescimento das receitas tributárias, o cumprimento da meta de 3,1% do PIB de superávit primário ficou mais apertado e o Tesouro estaria produzindo os dados mensais com uma administração do pagamento dos investimentos na "boca do caixa".
O governo quer, também, ampliar o uso das compras governamentais para setores que podem ajudar a incentivar o setor privado. No Plano Brasil Maior, por exemplo, foi definida uma margem de preferência de 25% para produtos manufaturados e serviços nacionais que atendam a normas técnicas brasileiras e incorporem inovação. No caso do setor de confecções, calçados e artefatos, o regime já está funcionando e já foi utilizado pelo Ministério da Defesa para a compra de jaqueta, boné, calças, mochilas. O mesmo incentivo existe para a aquisição pelo governo de retroescavadeiras e motoniveladoras, além de fármacos e medicamentos. Esses, porém, apesar de regulamentados, ainda não foram testados.
Com a depreciação acelerada nos investimentos feitos pelos próximos doze meses, como sugere o economista Luis Gonzaga Belluzzo, as empresas poderiam ter um benefício fiscal na metade do prazo normal, mediante a redução da Contribuição Social sobre o Lucro. Esse benefício vigorou até 2010. A reunião, porém, não foi conclusiva.

© 2000 – 2012. Todos os direitos reservados ao Valor Econômico S.A. .



 Dilma define novas medidas para destravar economia .jpg








Dilma quer ação "pró-cíclica" de investimentos

Dilma quer ação "pró-cíclica" de investimentos

Dilma convoca ministros, cobra mais investimentos e promete novas medidas
Autor(es): LISANDRA PARAGUASSU
O Estado de S. Paulo - 05/06/2012
 
A presidente Dilma Rousseff prometeu ontem adotar uma "política pró-cíclica de investimento". Dilma afirmou que defenderá, na próxima reunião do G20, ações de ajuste fiscal aliadas à expansão econômica. No discurso, diante do rei da Espanha, Juan Carlos, ela disse, porém, que a retomada do crescimento "não pode depender apenas de medidas dos países emergentes".
A presidente Dilma Rousseff prometeu ontem mais uma rodada de medidas para tentar acelerar a economia, praticamente estagnada no primeiro trimestre. Ao receber o rei da Espanha, Juan Carlos I, Dilma afirmou que a intenção do governo é adotar uma "política pró-cíclica de investimento" para enfrentar a piora do cenário internacional.
"O Brasil também está se preparando para ter, diante do acirramento da crise e dos processos recessivos na economia internacional, uma política pró-cíclica de investimento", disse Dilma durante almoço oferecido ao rei no Palácio do Itamaraty. Há duas semanas, o governo lançou um pacote de medidas, centrado no aumento do consumo.
Pela manhã, Dilma convocou uma reunião com ministros para discutir o que pode ser feito para aumentar os investimentos e garantir, ao menos, uma expansão maior do que a verificada no ano passado, quando a economia cresceu 2,73%.
Os ministérios com baixo desempenho nos investimentos terão que correr para acelerar a execução dos projetos prioritários. Os titulares das áreas mais críticas serão chamados a apresentar um plano de ação e dar uma resposta rápida. Dilma quer ver resultados já no início do terceiro trimestre.
Participaram do encontro Guido Mantega (Fazenda), Fernando Pimentel (Desenvolvimento), Miriam Belchior (Planejamento), Gleisi Hoffman (Casa Civil), além do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e o secretário do Tesouro, Arno Augustin. No início da noite, Dilma convocou nova reunião. Até o fechamento desta edição o encontro ainda não havia terminado.
Dilma está bastante irritada com os números dos investimentos apresentados pelo Ministério da Fazenda. O diagnóstico apresentado pela equipe econômica é de que não há falta de recursos, mas a máquina administrativa não responde a contento. A maior insatisfação é com o Ministério dos Transportes.
Ontem, no discurso no Itamaraty, Dilma deixou claro que na reunião do G-20, o grupo das 20 maiores economias, nos dias 18 e 19 no México, vai insistir na necessidade de adotar medidas de ajuste fiscal aliadas a incentivos ao crescimento. "A saída da crise passa, fundamentalmente, pelo crescimento econômico com distribuição de renda, pela criação de empregos e pelos esforços de combater a pobreza e promover a justiça social. Tal esforço não é compatível com a paralisia, nem tampouco é incompatível com a necessária busca do equilíbrio macroeconômico."
"A retomada do crescimento em nível global não pode depender apenas de medidas adotadas pelos países emergentes. Em um momento de crise é fundamental insistir em uma ação coordenada e solidária entre todos os grandes atores da economia mundial", disse a presidente.

 Dilma promete mais medidas .jpg

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Produção da indústria brasileira registra queda de 0,2% em abril

Produção da indústria brasileira registra queda de 0,2% em abril

31/05/2012 
 
Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil

A produção industrial brasileira caiu 0,2% em abril deste ano, em relação ao mês anterior. O dado é da Pesquisa Industrial Mensal, divulgada hoje (31) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o segundo resultado negativo consecutivo na comparação mensal. Em março, houve redução de 0,5%.

Em relação a abril do ano passado, houve uma queda de 2,9%. No ano, a indústria acumula uma redução de 2,8% na produção. Nos últimos 12 meses, a queda acumulada chega a 1,1%.

Edição: Juliana Andrade

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O caminho mais curto para o aquecimento

O caminho mais curto para o aquecimento

Gabril Bonis

Pubicado em Carta Capital

Pressionado pelo cenário externo incerto e resultados abaixo do esperado na indústria, o governo federal anunciou na segunda-feira 21 medidas de estímulo ao PIB, apostando mais uma vez no setor automobilístico como a peça capaz de segurar um crescimento de pelo menos 3% neste ano. E para que isso ocorra, os cofres públicos vão deixar de receber cerca de 1,2 bilhão de reais destinados ao corte na alíquota do Imposto sobre Produto Industrializados (IPI) para venda de veículos, além do estímulo ao consumo pela redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para pessoa física.
Essa aposta no setor de automóveis é vista pelos analistas de mercado como um caminho mais curto para aquecer a economia em tempos de crise, porque a área representa mais de 20% do PIB industrial e responde de maneira rápida aos estímulos. “A indústria automobilística tem alto retorno em empregos, além de impacto no PIB em torno de 8%. É diferente do setor de tecnologia, por exemplo, que apresenta impacto econômico, mas gera poucos postos de trabalhos”, explica Antônio Jorge Martins, professor do MBA em Gestão de Negócios Automotivos da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Setor automobilístico responde rápido aos incetivos e, por isso, é uma espécie de coringa do governo. Mas será capaz de convencer clientes a se endividar em tempos de crise? Foto: lza Fiúza/ABr

Uma justificativa semelhante é usada pelo Ministério da Fazenda, responsável pelas medidas. O órgão avalia que as políticas de estímulo adotadas se encaixam “porque o setor enfrenta mais dificuldades” e “por afetarem uma série de outras indústrias e trabalhadores”, informa em nota a CartaCapital.
A expectativa do governo é que a ação gere demanda e aqueça o comércio, tanto que os estímulos incluem a queda no preço da tabela dos automóveis e melhores condições de financiamento. Ainda assim, essa engenharia pode esbarrar em um ponto crítico: a capacidade das famílias em assumir novos compromissos, uma vez que estão mais endividadas que na crise de 2008. “No setor bancário esse índice é de 5,7% e no automotivo é ainda maior. E isso incomoda”, alerta Martins.
O endividamento, no entanto, não parece ser um problema para o Ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele defende que o aumento de renda dos trabalhadores e a entrada de novos empregados formais no mercado impedirá que os consumidores percam o controle e deixem de pagar as prestações. “Os novos trabalhadores têm a capacidade de adquirir bens, e a economia vai se movimentando, de modo que não haja excesso de endividamento.”


Mesmo assim, há outra questão: as pessoas estão dispostas a comprar um automóvel? Isso porque o governo utilizou-se de generosos estímulos aos setor em 2008 e impulsionou a venda de milhares de veículos, muitos deles ainda sendo pagos ou em boas condições de uso.
Por isso, uma avaliação sobre a eficiência dos estímulos depende da taxa de substituição de produtos, que ao atingir um certo nível perde eficácia, explica David Kupfer, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutor em economia da indústria. ”Ninguém troca de geladeira a cada seis meses só porque houve um estímulo.”
Para contornar um cenário com resultados fracos aos estímulos, os analistas ouvidos por CartaCapital defendem a necessidade de buscar outras opções, como o auxílio à construção civil ou até mesmo manter o apoio ao consumo, mas focando em bens duráveis não beneficiados por outras medidas do governo. “Os bens duráveis possuem grandes condições de estímulo à demanda e consumo, por isso, recebem mais atenção”, destaca Kupfer.
Procurado para comentar as medidas de apoio ao setor automobilístico, o Ministério da Fazenda afirmou, via assessoria de imprensa, que o governo anunciou neste ano “diversas medidas de estímulo a outros setores, como têxtil, calçado, móveis e bens de capital, além de ações sobre o câmbio e a redução dos juros, que beneficiam a indústria de maneira  ampla.”

quinta-feira, 24 de maio de 2012

A cortina de fumaça da "desindustrialização"

A cortina de fumaça da "desindustrialização"

Autor(es): Alexandre de Freitas Barbosa
Valor Econômico - 24/05/2012
 

O debate a respeito da desindustrialização dá a sensação de que uma nova peste assola o país. A discussão vai se enredando num cipoal de dados e conceitos de desnortear. Cada qual vê a "desindustrialização" que quer, como se uma cortina de fumaça ocultasse o real e seus processos dinâmicos, muitas vezes inacessíveis a olho nu.
De modo a colocar os pingos nos "is" e retomar a credibilidade do debate, não custa recorrer à história econômica brasileira e a alguns pressupostos teóricos mínimos.
O Brasil passou por um processo de industrialização entre 1930 e 1980. Antes de 1930, tínhamos crescimento de indústrias. O motor da economia estava na demanda externa, que nutria as nossas exportações de produtos primários, especialmente o café. A industrialização viabilizou o deslocamento do eixo dinâmico da economia, na feliz expressão de Celso Furtado. A economia avançava agora por meio das transformações geradas pela indústria, como explicitou a professora Maria da Conceição Tavares. Apesar de todas as distorções, o Brasil foi um dos poucos países da periferia capitalista que experimentaram uma autêntica mutação industrial, nos termos de Antônio Barros de Castro.
País vive uma transição estrutural que, no limite, pode acarretar o esvaziamento da nossa estrutura industrial
Esses ensinamentos devem ser levados em consideração se quisermos entender como do passado emergiu o presente e quais as oportunidades o futuro reserva para a indústria brasileira no novo quadro internacional.
Em termos bastante sintéticos, nos anos 80, a indústria manteve-se congelada, mas perdeu produtividade, tanto pelo fechamento forçado da economia para gerar superávits comerciais num contexto de estagnação, como também pelas transformações tecnológicas gestadas lá fora.
Nos anos 90, a indústria modernizou-se, apesar de ter se enfraquecido, perdendo elos da cadeia produtiva e eliminando empregos, em virtude de um regime macroeconômico que, além de profundamente instável, aguçava a pressão competitiva. Foi então que passou a circular pela primeira vez o fantasma da desindustrialização. Os neoliberais a defendiam: a industrialização havia ido longe demais. A esquerda não tinha dúvida: o Brasil se desindustrializara, tendo perdido o bonde da história.
Durante os anos 2000, o quadro mudou sobremaneira. O Brasil voltou a crescer e o regime macroeconômico - facilitado pelo ambiente externo, e pelas medidas de estímulo à demanda interna - permitiu que o produto e o emprego industriais se expandissem de maneira relevante, bem acima dos anos 90. Entretanto, mais precisamente no ano de 2011, o Produto Interno Bruto (PIB) total passou a crescer bem à frente do industrial, que inclusive se mostrou estagnado no ano passado.
Desde então, dois diagnósticos prevalecem. Muitos economistas situados à esquerda condenam a desindustrialização, tomando-a como um fato indiscutível. O país estaria matando a possibilidade de agregar progresso técnico e transformando-se numa grande fazenda exportadora. Desindustrialização rima com primarização.
Ivolnaldo Alexandre/Valor
Já os neoliberais - agora eles estão divididos - repartem-se em dois grupos. Uns encaram a desindustrialização como uma tendência de toda economia em estágio de maturidade. Outros admitem que há um problema industrial, que se deve à nossa reduzida competitividade, causada pelos impostos e salários, e à precária qualificação da força de trabalho, eterna culpada pela baixa produtividade.
Sugere-se aqui uma hipótese alternativa: o problema parece residir na (in)capacidade de se engendrar uma nova interação entre a indústria de transformação - que soubemos construir e manter a duras penas, deixando, entretanto, que algumas importantes rachaduras se instalassem - e a dinâmica econômica. Esta é, por sua vez, afetada pela nova realidade global em termos conjunturais (lei-se guerra cambial) e estruturais (ascensão chinesa com industrialização integral e competitiva a partir de cadeias produtivas fortes).
O baixo crescimento recente tem a ver com o fato de que o regime macroeconômico, neste novo contexto, deixou de trazer a expansão quantitativa e qualitativa da indústria. O conjunto de medidas adotadas pelo governo procura ajustar este regime, de modo a contemplar maior espaço para a produção industrial interna, sem o que será impossível chegar a uma taxa de investimento superior a 20%.
Ao contrário, supor que devamos celebrar a melhoria nos termos de intercâmbio trazida pela China, modernizando apenas a indústria que se mostrar competitiva, significa ocultar interesses escusos que não querem perder com a mudança de enfoque da política econômica.
No atual contexto, a indústria não precisa mais correr à frente do PIB, como acontecia durante a industrialização. Mas ela deve ser remodelada a partir de uma nova orquestração entre Estado, setor privado nacional e capital transnacional, que defina as suas frentes de expansão. Trata-se de decidir "a indústria que queremos e podemos ter", mantendo um núcleo duro capaz de gerar encadeamentos produtivos e de incorporar progresso técnico; e que possa se aproveitar do dinamismo dos setores de serviços, infraestrutura, construção civil e agrícola, expandindo o seu potencial de acumulação e da economia como um todo.
Vivemos, de fato, uma transição estrutural, que, no limite, pode acarretar o esvaziamento da nossa estrutura industrial, caso esta perca musculatura e capacidade para acompanhar o movimento da demanda interna e de ocupar novos nichos nos mercados internacionais. Mas é cedo demais para entregar os pontos.
Se quisermos alterar o nosso padrão de desenvolvimento, no sentido de ampliação da produtividade e de redução da desigualdade, uma indústria forte e competitiva - apontando para os setores de fronteira tecnológica e mantendo os setores intensivos em trabalho e recursos naturais - torna-se fundamental.
Não se trata de tarefa fácil, capaz de ser enfrentada apenas com ações de curto prazo e reuniões do governo com os setores organizados. Falta projeto nacional, que pense a indústria para além da indústria.
Alexandre de Freitas Barbosa é professor de História Econômica e Economia Brasileira do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB/USP).

terça-feira, 22 de maio de 2012

Mantega anuncia medidas de estímulo à indústria automobilística

Mantega anuncia medidas de estímulo à indústria automobilística

Publicado em Carta Capital
Guido Mantega anunciou medidas de estímulo à indústria automobilística na segunda-feira 21. Foto: Agência Brasil

O consumidor pagará menos Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na compra de veículos e terá desconto no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em qualquer tipo de operação de crédito à pessoa física, anunciou na tarde de segunda-feira 21 o ministro da Fazenda, Guido Mantega. As medidas são destinadas a estimular a economia brasileira em meio à crise internacional.
Para veículos de até mil cilindradas, o IPI será reduzido em sete pontos percentuais. Os veículos entre mil e 2 mil cilindradas movidos a álcool ou flex, terão corte de imposto de 5,5 pontos. O mesmo tipo de automóvel movido à gasolina, terá redução de 6,5 pontos.
Os utilitários e veículos comerciais terão o imposto reduzido em 3 pontos percentuais. Na prática, as alíquotas caem de 11% para 6% (carros até mil cilindradas); de 11% para 6,5% (de mil a 2 mil cilindradas); e de 4% para 1% (utilitários).
Para os veículos fora do Regime Automotivo, incluindo os importados por empresas que não têm fábrica no Brasil ou nos países com os quais o governo tem acordo, como os do Mercosul, a alíquota cai de 37% para 30% (até mil cilindradas); de 41% para 35,5% (de mil a 2 mil cilindradas); e de 34% para 31% (utilitários).
A desoneração para os automóveis vale até 31 de agosto e provocará renúncia de 1,2 bilhão de reais dos cofres federais. Além de ter o IPI reduzido, os veículos obterão desconto no preço de tabela, segundo compromisso acertado entre o governo e as montadoras.
De acordo com o ministro, os fabricantes se comprometeram em reduzir os valores dos veículos de até mil cilindradas em 2,5%, 1,5% para os automóveis entre mil e 2 mil cilindradas e 1% para os utilitários comerciais.


Segundo Mantega, os bancos públicos e privados garantiram que aumentarão o volume de crédito concedido, o número de parcelas, além de reduzir o valor da entrada para a aquisição do bem. O Banco Central também liberará parte do compulsório (dinheiro que os bancos são obrigados a recolher à autoridade monetária) para aumentar o volume de recursos a esse tipo de financiamento.
Para o ministro, os bancos não devem descumprir o acordo de ampliar a oferta de crédito. “Temos que dar um voto de confiança porque o acordo foi feito a sério”, disse. “Não vejo possibilidade de que isso não funcione, mas vamos verificar.”
O anúncio também incluiu uma redução de 2,5% para 1,5% do IOF para todos os tipos de operação de crédito à pessoa física, colocando o imposto de volta aos níveis do início de 2011. A redução, afirma Mantega, permitirá que uma linha de crédito com juros de 20% ao ano tenha a taxa rebaixada para 19% ao ano.
O corte no IOF para esse tipo de crédito não tem prazo para deixar de vigorar e o governo federal deixará de arrecadar 900 milhões de reais em três meses apenas com essa medida.
Mantega ainda negou que as medidas possam causar inflação no segundo semestre ou no início de 2013. De acordo com ele, a crise internacional está reduzindo o preços das commodities, que vinham pressionando os valores de diversos produtos para cima. “Não vejo no horizonte nenhum risco nem de aquecimento excessivo nem de inflação.”
Com informações Agência Brasil.

GOVERNO CORTA IOF E REDUZ A ZERO JURO REAL DE MÁQUINAS

GOVERNO CORTA IOF E REDUZ A ZERO JURO REAL DE MÁQUINAS

GOVERNO CORTA IOF E REDUZ A ZERO JURO REAL DE MÁQUINAS
Valor Econômico - 22/05/2012
 

Em mais uma tentativa para evitar um fraco desempenho da economia, estimular o consumo e reverter investimentos em baixa, o governo anunciou ontem novo pacote de medidas em que praticamente reduziu a zero o juro real dos financiamentos para aquisição de máquinas, equipamentos e projetos de obras, para os quais os custos das linhas caíram de 7,3% para 5,5% - a projeção de inflação nos próximos 12 meses é de 5,51%, segundo o boletim Focus. As operações de crédito ao consumidor tiveram o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) reduzido de 2,5% para 1,5%.
A maior parte das medidas voltadas para o consumo visa desencalhar os estoques da indústria automobilística, de 43 dias em abril. Houve diminuição geral das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados para carros e demais veículos automotores. Para tornar possível a ampliação de crédito para a compra de veículos, o Banco Central fez redução direcionada de R$ 18 bilhões dos depósitos compulsórios dos bancos.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que as medidas anunciadas ontem foram negociadas com empresários e banqueiros e que cada um fará sua parte: o governo cortará os tributos, a indústria automobilística reduzirá os preços dos veículos e os bancos se comprometeram a reduzir os juros dos empréstimos, aumentar o número de prestações e reduzir o valor da entrada.
O governo volta a usar o arsenal de medidas de estímulo usado com sucesso para enfrentar a crise de 2008. As condições econômicas, porém, mudaram, e sua eficácia tende a ser menor, segundo economistas. Um dos argumentos é que na época havia uma demanda reprimida por bens duráveis que foi parcialmente satisfeita nos últimos três anos. Outra diferença é que o comprometimento de renda das famílias aumentou e a capacidade de pagamento de dívidas diminuiu. O resultado foi o aumento da inadimplência.
O presidente do Bradesco, Luiz Trabuco Cappi, não confere grande importância a esses obstáculos. "Com desoneração fiscal e redução do tamanho das prestações haverá um alívio", disse. Para ele, a inadimplência terá uma redução forte no segundo semestre. "A renda mínima necessária para um financiamento vai cair, porque a prestação agora pode ficar mais baixa", diz Décio Carbonari, presidente do banco Volkswagen.

GOVERNO TENTA DE NOVO CONTER QUEDA DO PIB PELO CONSUMO

GOVERNO TENTA DE NOVO CONTER QUEDA DO PIB PELO CONSUMO

NOVA AÇÃO CONTRA CRISE
Autor(es): agência o globo:Martha Beck, Gabriela
O Globo - 22/05/2012
 
Governo anuncia incentivos de R$ 2,7 bi para montadoras e máquinas. BC libera R$ 18bi

Em meio ao agravamento da crise global, o governo fez ontem mais uma ofensiva para turbinar a economia em 2012 e lançou um pacote de R$ 2,7 bilhões em incentivos voltados sobretudo para os setores automotivo e de bens de capital. O sétimo conjunto de medidas anunciado pela equipe econômica desde 2008 inclui desonerações tributárias - redução de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (IOF) - queda de juros para diversas linhas do BNDES, além da redução do compulsório para que os bancos possam aumentar a oferta de crédito na compra de veículos.
Ao anunciar as medidas - diante de uma plateia composta por integrantes da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e ao lado dos ministros do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e do presidente do BNDES, Luciano Coutinho - o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ressaltou que o novo pacote é um compromisso inédito, acertado entre governo e os setores privado e financeiro para reduzir custos de bens e ampliar o consumo.
Segundo ele, os bancos - que não estavam representados no anúncio - prometeram aumentar o número de parcelas de financiamentos, reduzir o valor da entrada e também as taxas de juros nos empréstimos para a aquisição de veículos. Em contrapartida, o Banco Central (BC) liberou R$ 18 bilhões em depósitos compulsórios destinados ao financiamento de automóveis e de veículos comerciais leves, montante que, segundo o BC, representa cerca de 10% do total de crédito concedido ao segmento.
Já as montadoras se comprometeram a dar descontos sobre os preços de tabela em vigor e a não demitir funcionários. Ao ser indagado sobre o que poderia ocorrer, caso o acordo não seja cumprido, Mantega afirmou:
- A indústria nunca descumpriu um acordo. Eu confio na Anfavea e também confio nos bancos. Os banqueiros são mais discretos. Eles não vieram (ao lançamento do pacote) mas estavam conosco hoje e celebramos juntos um acordo que é bom para eles.
O professor Armando Castelar, da UFRJ, acredita que, dado os fracos números da atividade econômica, o governo acerta em propor estímulos à economia. Ele, no entanto, acredita que a repetição do modelo de corte de IPI e redução dos juros de algumas linhas do BNDES podem não surtir a eficácia esperada:
- Acredito que estamos perto da exaustão de um modelo que teve grande sucesso entre 2005 e 2010, com o incetivo ao consumo baseado no aumento do financiamento. As famílias estão muito endividadas. Este modelo pode gerar problemas futuros de inadimplência, que já está preocupante mesmo com emprego e renda e alta.
Mantega diz não ver risco de inflação
Para o setor automotivo, o governo vai reduzir o IPI até 31 de agosto. No caso dos veículos com motores de até mil cilindradas, por exemplo, a alíquota será reduzida de 37% para 30% para os carros que não se enquadram no novo regime automotivo (ou seja, que ainda não tenham 65% de conteúdo nacional). No caso dos veículos que já estão no regime, a alíquota cai de 7% para zero. Ao todo, as desonerações de IPI somam R$ 1,2 bilhão. Já as montadoras vão dar descontos que variam de 2,5% a 1%. Com isso, segundo o ministro, o preço dos carros deve ser reduzido em torno de 10%. Mantega justificou a ajuda ao setor automotivo lembrando que responde por mais de 20% do PIB industrial e é um dos que mais fazem investimentos no país.
Para o crédito em geral, o pacote prevê uma redução de 2,5% para 1,5% no IOF. Com isso, a alíquota volta ao mesmo patamar que estava em vigor no início do ano passado. A renúncia com o benefício, que não tem prazo para acabar, é de R$ 900 milhões.
No caso do BNDES, o governo reduziu as taxas de juros de programas como o Exportação Pré-Embarque (voltado para capital de giro) de 9% para 8% ao ano. Já a linha voltada para a compra de ônibus e caminhões, por exemplo, baixou de 7,7% para 5,5% ao ano. Os juros reduzidos valem até 31 de agosto de 2012 e sua equalização terá um custo de R$ 619 milhões para o Tesouro Nacional.
O ministro assegurou que as medidas anunciadas de estímulo ao consumo não vão interferir na inflação. De acordo com Mantega, o efeito será o contrário: haverá deflação por causa da redução do custo tributário e também do preço de tabela dos veículos. Ele ressaltou que a economia está crescendo a taxas moderadas e pode se expandir sem pressionar os preços.
- Não vejo nenhum perigo - afirmou o ministro.
Ele também descartou o risco de o aumento da oferta de crédito com melhores condições (menos juros e mais prazo para pagamento) elevar a inadimplência no país. Segundo Mantega, a massa salarial está crescendo em torno de 5% ao ano, o que garantiria as condições para o consumo sem risco de aumento da inadimplência:
- O Brasil tem novos trabalhadores com condições de consumir mais. Vocês vão ver. As medidas e o aumento da atividade farão com que a inadimplência caia.
Ele adiantou ainda que mais ações devem vir pela frente e que o próximo beneficiado deve ser o setor da construção civil. Segundo o ministro, a Caixa está fazendo um estudo para criar uma linha de financiamento em melhores condições para a aquisição de materiais de construção. De acordo com Mantega, a atual linha de R$ 1 bilhão com recursos do FGTS tem muitas exigências que travam a sua aplicação, como a necessidade de ter um projeto de um arquiteto para o acesso à linha.
- Procuraremos liberar esse crédito para o setor funcionar normalmente - disse Mantega. - Se faltar crédito vamos liberar mais nos setores que a gente identifique. Essa é a ordem que temos.