BUROCRACIA TRAVA 79% DAS EXPORTAÇÕES DA INDÚSTRIA BRASILEIRA, DIZ ESTUDO DA CNI
BUROCRACIA TRAVA 79% DAS EXPORTAÇÕES DA INDÚSTRIA BRASILEIRA, DIZ ESTUDO DA CNI |
O Globo - 24/01/2014 |
O
excesso de burocracia é um dos fatores que contribuíram para o déficit
comercial da indústria brasileira em 2013, de US$ 105 bilhões. Em
pesquisa inédita realizada pela Confederação Nacional da Indústria
(CNI), 83% dos empresários disseram ter problemas para exportar e 79%
afirmaram que não conseguem melhorar as vendas devido a entraves
burocráticos tributários, alfandegários e de movimentação de cargas.
Além dos custos elevados e da demora na liberação da mercadoria para o
exterior, são exigidos até 26 tipos de documentos no processo exportador
por mar e 15 por via terrestre. O saldo da balança comercial no ano
passado foi o menor em 13 anos.
A
pesquisa mostra ainda que o percentual de insatisfeitos com a
burocracia aumenta de acordo com a participação das exportações no
faturamento, alcançando 88,7% no caso das empresas cujas vendas no
exterior respondem por mais de 50% das receitas totais. Nos setores de
informática e de couros e artefatos, todas as firmas afirmaram que algum
processo alfandegário/aduaneiro afeta negativamente as exportações.
Conforme
a CNI, no Brasil, os gastos com burocracia chegam a US$ 2.200 por
contêiner. A média nos países da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE) — formada, em sua maior parte, por
países desenvolvidos — é de US$ 1 mil. Os exportadores se queixam,
principalmente, dos chamados órgãos anuentes e das taxas aduaneiras e
alfandegárias, que encarecem os custos de exportação. Citaram, com maior
frequência, a Receita Federal e os ministérios do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e da Agricultura.
—
No Brasil, num processo de exportação, a razão social do exportador
precisa ser indicada 17 vezes, ou seja, em 17 documentos; o endereço, 16
vezes; e a NCM (Nomenclatura Comum do Mercosul), dez vezes — ilustrou o
diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi.
O
processo exportador leva cerca de 13 dias no Brasil. Abijaodi estima
que, se o prazo for reduzido para oito dias, o custo diminuirá 14%. Ele
informou que, na lista de setores mais prejudicados, destacam-se os de
máquinas e equipamentos, informática, eletroeletrônico, plásticos,
veículos e agroindústria.
Governo promete mais agilidade pela internet
A
pesquisa mostra que a burocracia para exportar no Brasil é tão
complexa, que quase todas as empresas precisam contratar despachantes
aduaneiros para desembaraçar as mercadorias. Apenas 3,3% delas não usam o
serviço. Outro problema do dia a dia do exportador é a administração do
grande número de documentos exigidos no processo de exportação, que
afeta 38,5% das empresas.
As
dificuldades não acabam com a apresentação da documentação. Das
empresas ouvidas, 41,9% alegam baixa agilidade na análise e resposta por
parte dos órgãos. E, mesmo após a primeira resposta, há demora nas
inspeções e vistorias, dizem 37,8% das empresas.
Procurada,
a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do MDIC, informou que o
governo federal já vem buscando melhorar a coordenação entre os órgãos
que liberam as cargas, notadamente no setor portuário, por onde passam
mais de 90% do volume do comércio exterior brasileiro. A Secex
acrescentou que está em fase de implementação o conceito de “janela
única”, que colocará, no mesmo portal na internet, todos os órgãos
anuentes, o que facilitará exportações e importações.
—
Os tempos e os custos nas operações de comércio exterior serão bastante
reduzidos — assegurou o secretário de Política Agrícola do Ministério
da Agricultura, Neri Geller.
A Receita Federal não se manifestou.
Segundo
o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José
Augusto de Castro, a “janela única” precisa ser lançada o quanto antes
pela presidente Dilma Rousseff. Esse procedimento faz parte do Acordo de
Bali, firmado no mês passado, durante reunião ministerial da
Organização Mundial do Comércio (OMC), na Indonésia.
— Seria uma forma de desburocratizar o comércio exterior brasileiro — afirmou Castro.
O
setor químico se enquadra entre aqueles cujos problemas para exportar
diminuíram, segundo a diretora de comércio exterior da Associação
Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Denise Naranjo. Ela afirmou
que a situação já foi pior e tende a melhorar com a janela ou portal
único.
— Isso vai nos colocar em outro patamar de comércio exterior — disse ela.
O
presidente da Associação Brasileira da Indústria de Eletroeletrônicos
(Abinee), Humberto Barbato, disse que, mais do que a burocracia, seu
setor é fortemente afetado pelo real ainda valorizado ante o dólar e a
carga tributária.
— Isso tira competitividade das empresas brasileiras — enfatizou Barbato.
Na
pesquisa da CNI foram ouvidas 693 empresas industriais de todos os
portes. Com o ineficiente sistema de infraestrutura e logística, os
elevados custos tributários e o câmbio também foram citados na pesquisa.
Outro item diz respeito ao financiamento das exportações. Na avaliação
de boa parte dos empresários entrevistados, as linhas oficiais seguem
pouco conhecidas.
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