Alta da Selic gera custo extra de ao menos R$ 14 bilhões aos cofres públicos
Autor(es): BRUNO VILLAS BÔAS |
O Globo - 16/01/2014 |
O
combate à inflação por meio da elevação da taxa básica de juros, a
Selic, vai custar pelo menos R$ 14,2 bilhões a mais aos cofres públicos
neste ano. É o que mostra cálculo do economista Felipe Salto, da
Tendências Consultoria. Segundo ele, as despesas com juros devem crescer
de R$ 56,5 bilhões no ano passado para R$ 70,7 bilhões neste ano,
efeito do ciclo de aumento da Selic, que estava em 7,25% em abril de
2013 e chegou a 10,5% nesta quarta-feira.
Salto
diz que sua estimativa é conservadora, pois considera apenas as
operações compromissadas - instrumento do Banco Central (BC) para
enxugar excesso de liquidez na economia pela venda de títulos públicos.
Não está incluso o impacto dos juros sobre os títulos pós-fixados
vendidos pelo Tesouro.
-
Esses R$ 70 bilhões já representam três orçamentos do Bolsa Família. E o
governo não vai conseguir mudar isso por decreto. É preciso mudar a
base desta política fiscal expansionista, o que abriria espaço para uma
política monetária mais decente - diz.
Pelos
cálculos de José Roberto Afonso, pesquisador do Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o aumento de gastos com
o ciclo da Selic é um pouco maior, de R$ 15,3 bilhões. O número, também
considerado conservador, tem como base a estimativa informada na Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) da União. Segundo o texto, o aumento de
um ponto percentual da Selic provoca despesa extra com pagamento de
juros de 0,09% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de produtos e
serviços produzidos no país).
-
A taxa de juros é o instrumento predominante de política monetária
também em outros países, mas parece que existe monopólio disso aqui no
Brasil - disse Afonso, lembrando que o governo também tem adotado outros
caminhos para conter preços. - O governo está intervindo diretamente
nos preços dos combustíveis, da energia elétrica. Os chamados preços
administrados estão sendo mais administrados do que nunca.
Segundo
Margarida Gutierrez, professora da UFRJ, o crescimento do custo de
pagamento de juros pode ser maior este ano por causa das incertezas em
torno do corte da nota de classificação de risco do Brasil pela agência
Standard & Poor’s (S&P) e do ano eleitoral. Ela explica que,
neste cenário, os investidores tendem a exigir maior rendimento nos
títulos do país.
- Se o BC não elevasse a Selic, aumentaria ainda mais a incerteza e cresceria ainda mais a conta de juros.
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