‘BC está sozinho contra a inflação’, diz economista
O Globo - 16/01/2014 |
Silvia
Matos avalia que, ao elevar gastos, o governo pressiona os preços de
serviços, num cenário de expansão do crédito, ainda que em ritmo menor.
Para ela, o Banco Central terá de recorrer a novas altas de juros, um
remédio amargo para a economia.
Qual é a situação da inflação hoje?
Houve
aceleração da inflação nos últimos dois meses, principalmente de
serviços. Sem considerar passagens aéreas, ela acelerou de 8,45% em 2012
para 8,75% em 2013. Isso preocupa. Quase 70% dos itens da cesta do IPCA
subiram acima de 4,5%, que é o centro da meta, e mais de 50% subiram
mais de 50%. Que loucura é essa? A inflação está muito alta, persistente
e generalizada. Mesmo que se possa ter algum alívio de preços de
alimentos, a gente está muito fragilizado. Nosso cenário é de inflação
pelo IPCA em 6% este ano, mas há risco de ficar mais perto do teto da
meta.
Por que a inflação no país está resistente?
Quando
ela começa a rodar em nível elevado, os agentes se preparam para isso, e
as pessoas repassam preços. Apesar de a economia não estar grande
coisa, a pressão de demanda existe. Temos uma combinação muito ruim, de
inflação alta com atividade fraca. Infelizmente, os salários estão
crescendo acima da capacidade da economia. É preciso dar uma esfriada
nisso. Quando aumentam os gastos, o governo pressiona os preços de
serviços. E o crédito continua crescendo. E o Banco Central fica sozinho
(para combater a inflação).
O BC é o único no governo trabalhando para combater a inflação?
O
BC faz o papel dele, mas, infelizmente, teria que subir mais os juros. O
único remédio é amargo e é mais taxa de juros. A atividade cresceu
pouco, mas a renda continuou em expansão. Só que a política fiscal é
mais eficiente para combater a inflação. O governo está sinalizando o
controle de gasto público, mas é muito pouco. E a política fiscal não
tem muita margem de manobra. O governo só vai se mexer se a situação
ficar dramática. A Fazenda teria que fazer mudanças radicais, mas é
difícil em ano eleitoral.
Qual será o efeito do câmbio?
Teremos
na inflação o componente do câmbio mais valorizado. E nem todo esse
repasse do câmbio vem, como é o caso do combustível. Alguns preços estão
desalinhados, como de combustíveis e de energia. Então, corremos o
risco de um repique inflacionário mais à frente, o que exigiria uma dose
cavalar de juros.
O que impede o crescimento da economia brasileira?
O
baixo investimento é um problema estrutural. Os desembolsos em
infraestrutura são fundamentais. Há também menos gente entrando no
mercado de trabalho e com baixa qualidade. Há uma terceira questão: a
ineficiência da economia como um todo. A política econômica está
confusa, há uma instabilidade de regras. O Brasil tem problemas
estruturais de baixo crescimento que devem ser perenes.
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