Os argentinos estão vivendo um mês de
janeiro atípico. Longe da relativa tranquilidade dos últimos verões,
este ano o país está em estado de alerta por sinais cada vez mais
preocupantes de sua economia. Na semana passada, o dólar paralelo, que o
governo Cristina Kirchner insiste em ignorar, subiu 1,15 peso e fechou
em 11,95, a cotação mais alta desde 1991. A nova equipe econômica,
chefiada pelo jovem ministro Axel Kicillof minimiza um problema que
economistas locais consideram grave e diretamente relacionado ao
principal drama que assola o país: uma inflação que no ano passado, de
acordo com as principais empresas de consultoria privadas, alcançou
28,3% e este ano poderia chegar a 40%. Pelo índice oficial, a alta foi
de meros 10,9%.
.
Sem saber como conter a demanda de dólares, o Banco Central da
República Argentina (BCRA) continua perdendo reservas - na sexta-feira
passada, o montante caiu para US$ 29,7 bilhões, o mais baixo desde 2006
-, e o clima de intranquilidade é cada vez maior. De acordo com
pesquisa divulgada neste domingo pelo jornal “Clarín”, 75% dos
argentinos acreditam que a economia vai mal.
- É preciso mudança. Este modelo não está funcionando e está
empobrecendo a Argentina - disse o ex-ministro da Economia Roberto
Lavagna, que comandou a pasta nos primeiros anos de gestão de Nestor
Kirchner (2003-2007) e hoje é um importante membro do peronismo
dissidente.
Cenário mudou em dois anos
A sensação de que o modelo kirchnerista esgotou-se é cada vez maior
entre os argentinos. Segundo a mesma pesquisa do “Clarín”, hoje o
aumento de preços e a insegurança são as principais preocupações da
sociedade. Cerca de 55% dos argentinos acham que a situação pessoal vai
piorar em 2014 e apenas 12% esperam melhora. Em 2011, quando Cristina
foi reeleita com 54% dos votos, apenas 12% dos apontavam a inflação
como um problema central da economia do país. Nesse período, o BCRA
perdeu US$ 21,5 bilhões.
Em pouco mais de dois anos, o cenário econômico e político do país
modificou-se de forma expressiva. A Argentina passou de ter uma
presidente onipresente, que falava por rede nacional de rádio e TV
todas as semanas, a uma Cristina em silêncio, ainda às voltas com
problemas de saúde. A chefe de Estado não fala ao país há mais de 40
dias e neste período foram divulgadas pouquíssimas imagens de Cristina,
em meio a fortes rumores sobre sua saúde.
Apesar da onda de apagões que deixou vários bairros de Buenos Aires
às escuras por até três semanas, a disparada do dólar paralelo, a
pressão dos sindicatos por reajustes salariais de até 35%, a sangria de
reservas do BCRA, a expectativa de uma inflação de 3,5% este mês e a
crescente falta de alguns produtos nos supermercados, a presidente
passa seus dias na residência oficial de Olivos, vai cada vez menos à
Casa Rosada e permanece calada.
No domingo, Kicillof embarcou para Paris, onde espera-se que tente
avançar nas negociações com o Clube de Paris para saldar uma dívida
estimada em US$ 10 bilhões. Não está claro, porém, qual será sua
proposta, mas segundo informações extraoficiais a ordem de Cristina foi
conseguir melhorar as relações do país com a comunidade internacional.
Tudo aumenta na Argentina, dos alimentos, ao pedágio, os planos de
saúde privados e as tarifas de transporte. Em muitos casos, os
reajustes são superiores a inflação calculada pelos economistas e
chegam a 50% de um mês para o outro. Nos últimos dias, algumas redes de
supermercados, como o Carrefour, ampliaram as limitações na venda de
alimentos como biscoitos e macarrão. Uma legenda avisa: "Produto para
consumo familiar: máximo duas unidades por pessoa". Ainda não se fala
em desabastecimento, mas na economia argentina tudo tem mudado e se
deteriorado muito rápido, e o temor entre economistas e a população é
grande.
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