Gigante, usina de Belo Monte enfrenta polêmica e guerra de liminares no Pará
O Globo - 24/12/2013 |
BRASÍLIA
E RIO - Maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com
custo estimado em R$ 29 bilhões e capacidade para gerar energia barata
(R$ 78 o megawatt) para 60 milhões de pessoas, a usina de Belo Monte, no
Pará, está sendo construída em meio a uma guerra de ações e liminares
na Justiça na tentativa de interromper as obras. Belo Monte será a
terceira maior hidrelétrica do mundo, depois de Três Gargantas (China) e
a binacional Itaipu.
O
presidente da Norte Energia, consórcio que comanda a usina, Duilio
Diniz Figueiredo, garante que as condicionantes socioambientais estão
sendo implementadas e, muitas delas, a exemplo da qualidade da água, são
“perenes, tem que ser monitoradas a vida inteira”. O próximo relatório
do Ibama sai no fim de janeiro.
- A licença de instalação está pautando nossas ações - diz.
O
procurador Felício Pontes Júnior, do Ministério Público Federal no Pará
aponta várias condicionantes da licença prévia (LP) ambiental emitida
pelo Ibama que estão sendo descumpridas. Na lista, aparecem problemas
envolvendo moradias e o atraso nas obras de saneamento e saúde, por
exemplo. Segundo ele, o maior impacto ainda não aconteceu: trata-se do
desvio da Volta Grande do Xingu (desvio do Rio Xingu, que reduzirá a
vazão), que vai atingir povos indígenas e a população ribeirinha.
Sem embargo à obra
Já
o procurador geral federal substituto da Advogacia Geral da União,
Renato Vieira, destacou que atualmente não há qualquer decisão da
Justiça contrária à construção de Belo Monte. Ele explicou que algumas
condicionantes socioambientais só podem ser executadas depois que a
usina estiver funcionando. Citou como exemplo o “hidrograma de
consenso”, que depois de seis anos vai medir a quantidade de vazão da
água e a navegabilidade do rio.
Vieira lembra que foram ajuizadas 27 ações contra Belo Monte: nove já foram julgadas no mérito a favor do governo.
- A Justiça sempre concordou com os argumentos do governo federal - disse Vieira.
Os
atrasos nos projetos socioambientais não devem ser encarados como um
problema, já que o mais importante é que essas obras estão previstas em
contrato, que terão de ser cumpridos pelo consórcio. Esta é a opinião do
professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor
Elétrico (Gesel, do Instituto de Economia da UFRJ:
-
Ter obras atrasadas não é um problema, porque implica previamente no
comprometimento do consórcio em fazer tudo o que foi comprometido. Do
ponto de vista legal, eles (a empresa) vão ter que fazer tudo o que foi
acordado.
Para
o coordenador do Gesel, quanto mais os movimentos sociais puserem
empecilhos nas obras, com liminares, mais prejudicados ficarão os
projetos socioambientais. Segundo Nivalde de Castro, é claro que uma
obra do porte de Belo Monte tem impacto na cidade. Mas ele ressalta que,
a partir de agora, o número de pessoas nos canteiros vai começar a
diminuir. Para ele, o importante serão as obras de infraestrutura,
saneamento e saúde que vão ficar para a cidade:
-
É preciso ter uma visão mais pragmática e não ideológica. Há uma
posição ideológica contra a usina. Então, tudo é motivo para suspender a
obra. Saneamento, escolas e hospitais não desaparecem quando a obra
termina.
Por
outro lado, organizações ambientais como o Instituto Socioambiental
(ISA) e o Movimento Xingu Vivo fazem duras críticas ao projeto. O
secretário executivo do ISA, André Villas-Bôas, disse que o maior
problema é que o projeto - no qual a Eletrobras é dona de 50% e conta
com financiamento do BNDES - é fiscalizado pelo próprio governo:
-
Nada foi feito em questões como das terras indígenas, de saúde e
saneamento. As obras da usina estão a todo vapor com 60% executadas,
enquanto as obras socioambientais estão aos trancos e barrancos, com
apenas 20% de sua execução.
Ibama avalia condições
Antonia
Melo, coordenadora do Movimento Xingu Vivo para Sempre, lembra que as
obras de saneamento básico deveriam ter começado em 2011, mas, diz,
começaram há quatro meses.
-
Já encaminhamos denúncia ao Ministério Público, pois as obras estão
sendo feitas com material de baixa qualidade. Em janeiro, um técnico do
Ministério Público fará uma fiscalização. A falta de saneamento será
agravada, pois estamos entrando no período de chuvas. Altamira tem 140
mil pessoas.
Em
nota, o Ibama disse que “avalia se o empreendedor está cumprindo as
condicionantes exigidas através de um parecer técnico que avalia os
relatórios semestrais consolidados”.
O
presidente da Norte Energia classifica como “incompreensão, falta de
conhecimento e até maldade” as críticas de que não são cumpridas
exigências ambientais. Ele diz que a relação com os índios melhorou
muito, sobretudo nos últimos sete a oito meses, porque a empresa mudou o
local de trabalho.
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