domingo, 2 de fevereiro de 2014

INTERNET MÓVEL PODE FALHA NA COPA

INTERNET MÓVEL PODE FALHA NA COPA

COM CONSUMO DE DADOS RECORDE, INTERNET MÓVEL PODE FALHAR DURANTE A COPA
O Globo - 21/01/2014
 
A internet móvel pode falhar durante a Copa do Mundo, o principal evento esportivo deste ano. Com o avanço de tablets e smartphones 3G e 4G entre os brasileiros, é esperada uma avalanche de tráfego de dados no país. A projeção é que sejam consumidos em 2014 inéditos 19,2 bilhões de gigabytes (GB), de acordo com previsões das operadoras com base em levantamento da Frost & Sullivan’s e Cisco. Será um crescimento de 65,09% em relação ao ano passado. Se as teles correm para fazer seus investimentos na tentativa de dar conta da demanda, as próprias companhias, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e especialistas alertam: na hora do gol, a rede vai ficar lenta e deve apresentar falhas.
O primeiro passo foi a formação de um consórcio entre as cinco operadoras móveis — Oi, Vivo, TIM, Claro e Nextel — para montar a infraestrutura nos estádios que vão receber os jogos da Copa do Mundo. Juntos, os investimentos somam R$ 200 milhões em antenas, cabos e roteadores nos estádios e só vão terminar em abril, quase às vésperas do torneio, que começa em junho. Assim, cada uma das 12 arenas, como o Maracanã, contarão com capacidade equivalente a uma cidade de 100 mil habitantes, de acordo com cálculos feitos pela Vivo, maior empresa do país, com 77,6 milhões de clientes.
— Todos vão querer tirar fotos e fazer vídeos e enviá-los ao mesmo tempo. Por isso, em momentos de pico, como o de um gol da seleção brasileira, a tendência é a rede ficar ocupada e, assim, lenta. Há uma limitação de espaço. Não há como fugir desse cenário — admite o diretor de uma das teles, que não quis se identificar.
Além dos investimentos dentro dos estádios, as teles também vão montar uma operação de guerra ao redor das arenas. Estima-se que cada uma das operadoras utilize, pelo menos, quatro caminhões com antenas móveis em ruas próximas de onde vão ocorrer os jogos. O objetivo nesse caso é aumentar a capacidade de conexão das empresas de telefonia móvel. A técnica já é muito utilizada em eventos com grande concentração de pessoas, como o Rock in Rio e o réveillon de Copacabana.
Anatel: pode haver dificuldades
O analista Virgílio Freire, ex-presidente da Lucent e da Vésper, diz que a demanda elevada na Copa vai criar um congestionamento natural na rede de dados, mesmo com os investimentos para reforçar a rede em dias de jogos.
— A rede vai ficar lenta. Em eventos onde há grande aglomeração, mesmo com os esforços das empresas, a conexão será falha. É preciso mais investimentos. Eles têm de ser constantes e não emergenciais, com o uso de caminhões. O problema é que o brasileiro tem uma demanda reprimida por dados. Então, tudo ele quer postar na internet e rever os lances pelo celular — diz Freire.
O próprio governo admite que a demanda pode não ser completamente atendida. A Anatel diz que “em todo o mundo, e não apenas no Brasil, é possível a ocorrência de picos de demanda, de modo que provavelmente não sejam atendidas 100% das tentativas de chamadas de voz e conexões de dados”. A Anatel lembra ainda que as teles têm realizado projetos conjuntos nos estádios, além de instalações móveis ao redor das arenas. Mas, lembrou, em nota, que “a ocorrência de concentração súbita de usuários da telefonia celular em um mesmo local pode ocasionar uma demanda anormal de uso dos recursos da rede das prestadoras e pode resultar em dificuldades momentâneas na fruição do serviço”.
Do outro lado, as empresas do setor continuam investindo em rede. A Oi já vem reforçando sua rede há três anos de olho no Mundial, com a criação de vias alternativas para o tráfego de dados. A tele, por ser patrocinadora da Copa do Mundo, é responsável pela infraestrutura exigida pela Fifa, organizadora do torneio. Somente no sorteio final dos jogos, em novembro do ano passado, o consumo de dados entre o Comitê Organizador e os jornalistas foi de três terabytes — o que equivale 822 mil fotos em alta resolução (HD, na sigla em inglês). Na Copa das Confederações, em meados do ano passado, o tráfego total, somente na sala de imprensa, somou 145 terabytes — volume que equivale a 39 milhões de fotos ou 2.900 filmes em formato HD.
— Se levar em conta que o tamanho da Copa será pelo menos o dobro do que foi a Copa das Confederações, é possível ter uma dimensão do que esperar — ressaltou o executivo de uma das empresas de telefonia.
Teles investem em equipamentos
Para dar conta da demanda, a Oi, segundo uma fonte, teve de importar equipamentos especiais, como roteadores de alta capacidade, que serão usados nos estádios. Quem também vem investindo em novas soluções é a TIM. Com investimentos de R$ 20 milhões, a tele vai armazenar, em data centers próprios, os conteúdos mais acessados da internet para reduzir em até 70% o tempo de espera para assistir a vídeos e ver fotografias. Em 2014, a empresa vai destinar mais R$ 10 milhões na compra de small cells (antenas portáteis instaladas em postes de luz) entre Rio e São Paulo.
— O ano de 2014 deve imprimir um novo marco no tráfego de dados em mobilidade. O aumento da venda de smartphones, que tiveram seus preços reduzidos drasticamente no último ano, favorecerão o uso da internet e redes sociais durante os jogos da Copa do Mundo e também a comunicação na campanha eleitoral. Estimamos aumento de 120% do tráfego de dados com o consumo, chegando a um crescimento de cerca de 11 petabytes por mês — afirma Carlo Filangieri, diretor de rede da TIM.
Leonardo Capdeville, diretor de redes da Vivo, lembra que a Copa será o maior evento do mundo no ano de 2014. Ele ressalta que o aumento no consumo de dados será potencializado, já que mais pessoas estão usando a rede 3G em seus celulares.
— Haverá uma explosão de dados. Além da migração de 2G para 3G, ainda há a expansão da rede 4G, que cresce em ritmo mais elevado em relação ao início do 3G. Hoje, os smartphones já somam 35% de todos os celulares em uso no país e os números são de mais altas nos próximos anos. Por isso, temos ampliado os investimentos, levando a fibra até as antenas, para permitir maior velocidade — afirma Capdeville.
Na avaliação de Gabriela Derenne, diretora da Claro para o Rio e Espírito Santo, o nome do jogo para 2014 é dados. Segundo ela, cerca de 60% dos celulares vendidos já são smartphones. Agora, a companhia, está ampliando sua rede de fibra óptica. Gabriela destaca que hoje 75% da rede já trafegam em fibra. O projeto total prevê fibra em 120 mil quilômetros e um investimento de R$ 800 milhões. A tele ainda destinou quase R$ 1 bilhão para a construção de uma rede de cabos submarinos, que sai do Rio e passa por Salvador e Fortaleza até chegar nos EUA:
— Agora, estamos na terceira etapa, que é a rede 4G. Por isso, estamos reforçando essa rede de infraestrutura.
E demanda não vai faltar. O designer Guilherme Pecegueiro, que trabalha em uma empresa de e-commerce chamada Lab 77, sabe bem a importância de uma rede bem estruturada para uma conexão rápida:
— Em dias normais, já são muitos os desafios para uma internet veloz. Imagina com um grande evento, onde a demanda vai ser maior. É claro que todos vão querer fazer fotos e postar vídeos. É natural.

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