COPOM ELEVA TAXA BÁSICA DE JUROS A 10,5% AO ANO
COPOM ELEVA TAXA BÁSICA DE JUROS A 10,5% AO ANO |
Autor(es): GABRIELA VALENTE |
O Globo - 16/01/2014 |
O
Banco Central (BC) decidiu manter o ritmo de aperto nos juros depois do
repique inflacionário do fim do ano passado - quando a taxa subiu 0,92%
em dezembro, a maior alta mensal em dez anos. O comportamento dos
preços em dezembro frustrou a promessa do governo de encerrar 2013 com
uma inflação inferior à do ano anterior. Nesta quarta-feira, o Comitê de
Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros (Selic) em 0,5
ponto percentual para 10,5% ao ano, o maior patamar em dois anos. O
aumento dos juros veio no topo das expectativas de analistas, que
projetavam alta de 0,25 ponto percentual a 0,5 ponto percentual.
Com
a sétima alta seguida da Selic, o BC ensaia uma tacada para recuperar a
credibilidade, já que as projeções para a inflação não param de subir.
Apesar de a autoridade monetária indicar que o ciclo de alta dos juros
está perto do fim, com a decisão desta quarta, analistas avaliam que a
presidente Dilma Rousseff pode encerrar 2014, ano eleitoral, com juros
maiores que os 10,75% de quando assumiu o governo, em janeiro de 2011
O
novo aumento da Selic consolidou a posição do Brasil no topo do ranking
mundial de juros reais. Agora, a taxa (descontada a inflação) do país é
de 4,25% ao ano, seguido pela Argentina (3,7%), pela China (3,41%),
Índia (1,65%), Hungria (1,08%) e Chile (1,06%), de acordo com
levantamento do economista Jason Vieira, do portal Moneyou. Desde
outubro, o país ocupa o primeiro lugar no ranking.
-
O mercado trabalhava com a meta determinada pelo governo de redução do
juro e manutenção em um dígito. Agora, essa meta não existe mais e os
juros têm de subir para conter a inflação - disse Vieira.
Em
2012, o governo fez um movimento orquestrado para diminuir o custo
financeiro para famílias e empresas. Enquanto o Banco Central cortava os
juros básicos, a presidente Dilma usou o Banco do Brasil e a Caixa
Econômica Federal para forçar as instituições privadas a reduzir os
juros cobrados dos clientes. A iniciativa deu certo, mas a inflação
persistiu alta.
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O governo fez o correto ao cortar os altos juros no Brasil, mas
exagerou na dose. Agora, tem uma baita janela de vidro que a oposição
vai apedrejar - disse o economista-chefe da corretora Gradual, André
Perfeito, que prevê uma taxa de juros de 11,25% no fim do ano.
Decisão do comitê foi unânime
No
comunicado divulgado após a reunião do Copom, o BC indicou que a
sequência de alta dos juros está perto de acabar. Os diretores
praticamente copiaram a nota à imprensa divulgada no encontro anterior.
Inseriram, entretanto, a expressão “neste momento” para passar o recado.
“Dando
prosseguimento ao processo de ajuste da taxa básica de juros, iniciado
na reunião de abril de 2013, o Copom decidiu por unanimidade, neste
momento, elevar a taxa Selic em 0,5 ponto percentual para 10,5% ao ano
sem viés”.
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A mudança é bastante relevante. Deixaram mais claro que está próximo do
fim do ciclo. E que esse ritmo (de altas de 0,5 ponto percentual) não
se mantém - avalia a economista do Santander Tatiana Pinheiro, que foi
surpreendida pela decisão, pois apostava em uma elevação de 0,25 ponto
percentual.
A
maioria dos analistas esperava um aumento mais modesto da taxa. No
entanto, alguns começaram a mudar suas projeções depois de serem
surpreendidos pelo resultado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA) de 2013, que ficou em 5,91% (acima dos 5,84% do ano anterior),
divulgado na semana passada pelo IBGE.
Um
deles foi o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal. Ele
mudou sua aposta após a escalada da inflação no fim do ano, mas mesmo
assim avalia que o ajuste da taxa de juros está perto do fim, embora não
seja suficiente para trazer o IPCA para o centro da meta, de 4,5% ao
ano em 2014.
-
Na economia, todo mundo tem de olhar o custo-benefício, e o custo para a
trazer a inflação para a meta só com o aumento dos juros é muito alto -
disse o economista.
Leal
lembrou, entretanto, que recuperar a credibilidade do Banco Central não
é simples e que isso só deve ser alcançado com o tempo, caso consiga
controlar a inflação. Ele ressaltou que o BC não conseguiu cumprir nem a
sua meta informal no ano passado: fazer com que o IPCA fechasse abaixo
do patamar de 2012.
Para
Perfeito, o BC deixou claro que faz a sua parte. E joga no colo da
Fazenda parte da responsabilidade pelo controle dos preços por causa dos
altos gastos:
-
Agora, o BC mostrou que fará o que pode, mas também lava as mãos: deixa
o problema dos gastos públicos na mão do governo e também da sociedade,
que num ano de eleição, terá de decidir como resolver essa questão.
As
entidades que representam as indústrias - CNI, Firjan e Fiesp -
reagiram com discurso parecido à alta da taxa e reforçaram a necessidade
de haver redução dos gastos públicos e política fiscal ativa no combate
à inflação com o intuito de evitar a elevação do juro, que desacelera o
ritmo dos investimentos.
Fiesp e Firjan cobram redução do gasto público
Para
a Firjan, se não houver essa melhoria fiscal, “dificilmente o País
poderá conviver com a tão almejada combinação de crescimento econômico e
inflação controlada.” A CNI destacou, em nota, que a inflação
continuará “sendo foco de preocupação em 2014, não só pelo elevado
patamar, mas, principalmente, porque o governo recorreu, no ano passado,
ao controle dos preços administrados e à redução da cesta básica”.
Esses
mecanismos, de acordo com a CNI, dificilmente poderão ser repetidos com
a mesma intensidade nesse ano, o que exigiria, portanto, os controles
fiscais e dos gastos públicos. A Fiesp completou dizendo que, “com este
novo aumento, 2014 começa mal, indicando que a esperada retomada da
indústria ficará para depois”. Até a Força Sindical adotou discurso
similar ao dos patronais e disse, também por meio de nota, que “o
governo persiste nos mesmos erros, tratando o crescimento econômico e a
geração de empregos unicamente como retórica”.
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