A Polícia Federal informou nesta quarta-feira que o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, de 61 anos, condenado no processo do mensalão que estava foragido desde novembro, foi preso em Maranello, na Itália. De acordo com a PF, a operação ocorreu em parceria com a polícia italiana. Pizzolato foi levado para Modena. Mais tarde, a Interpol divulgou a foto do passaporte usado pelo ex-diretor de marketing, em nome de seu irmão, Celso Pizzolato, morto em 1978. A foto do documento, no entanto, é do próprio Henrique Pizzolato. A Polícia Federal explicou nesta tarde, durante coletiva em sua sede em Brasília, que Pizzolato saiu do país por Dionísio Cerqueira, cidade de Santa Catarina que faz fronteira com a Argentina, de onde seguiu de carro até Buenos Aires no dia 12 de setembro de 2013, portanto dois meses antes do mandado de prisão ser expedido pela polícia. Da capital argentina, Pizzolato pegou um voo para Barcelona, na Espanha. E em seguida foi para a Itália no dia 14 de setembro. A polícia localizou o foragido após sua mulher comprar um carro na Itália.
Pizzolato, que estava acompanhado de sua mulher, foi detido ao sair da casa de um sobrinho em uma cidade no Norte da Itália por crime de falsidade ideológica porque estava usando um passaporte falso em nome de Celso Pizzolato. Durante a coletiva, a PF ressaltou que a prisão se deu por determinação da justiça brasileira e não somente por uso de documentação falsa. No momento da prisão, o foragido estava com cerca de 15 mil euros, além dos seus documentos próprios e dos falsos, pertencentes ao irmão já falecido. Ele está na lista de procurados da Interpol (polícia internacional). O governo brasileiro vai dar início ao processo de extradição.
De acordo com a imprensa local, agentes da Interpol vigiavam a casa do sobrinho de Pizzolato em Maranello há dois dias. O casal estava aparentemente recluso, e só foi identificado quando a mulher de Pizzolato abriu uma janela e foi reconhecida pelo agentes. A polícia então entrou na casa e pediu os documentos de Pizzolato. O brasileiro foi levado à delegacia da cidade, onde foi registrado o crime de porte de documento falsificado, e depois foi transferido à capital da província, Modena. Segundo a polícia, o sobrinho de Pizolatto vive sozinho na cidade, onde trabalha como designer na Ferrari, e não estava no imóvel no momento da prisão. Nenhuma linha de telefone fixo está registrada no endereço da residência.
Procuradas pelo GLOBO, as autoridades argentinas não quiseram comentar a confirmação de que Pizzolato chegou à Europa via Buenos Aires, de onde saiu com um passaporte falso no nome de seu irmão. Representantes da Direção Nacional de Migrações, subordinada ao Ministério do Interior e Transporte argentino, negaram-se a fornecer dados sobre a saída de Pizzolato da capital argentina. Não informaram, por exemplo, de qual aeroporto ele partiu ou em que data. A justificativa é que a Lei de Proteção de Dados Pessoais (25.326) estabelece que este tipo de informação só pode ser dada à Justiça.
Quando foi decretada a prisão de Pizzolato e de outros condenados no processo do mensalão, no dia 15 de novembro do ano passado, os agentes da Polícia Federal foram à casa do ex-diretor do Banco do Brasil para cumprir o mandado e não o encontraram. Depois, foi divulgada uma carta em que Pizzolato avisara que fugiu para Itália, onde buscaria um julgamento justo.
Inicialmente, a informação era de que Pizzolato teria ido de carro até a fronteira com o Paraguai, em uma viagem que teria durado 20 horas. Segundo relatos, ele atravessou a pé a fronteira, onde outro carro o aguardava para levá-lo a Buenos Aires. Da capital argentina, ele pegou um avião rumo à Itália. Depois, surgiu a história de que, na verdade, o ex-diretor do BB teria entrado na Europa pela França e seguido para a Itália.
Outra especulação era sobre a documentação com a qual ele teria entrado no país europeu. A informação era de que ele teria dito à embaixada da Argentina que perdeu o passaporte italiano e teria recebido uma autorização para voltar à Itália. Depois, surgiu a notícia de que, na verdade, Pizzolato teria tirado uma segunda via do documento em Madri, numa das viagens para visitar familiares. A incerteza sobre o documento usado pelo ex-diretor do banco para fugir ocorre porque ele e os outros condenados tiveram que entregar os passaporte para o Supremo Tribunal Federal (STF).
O ex-diretor do Banco do Brasil foi condenado a 12 anos e 7 meses de prisão por formação de quadrilha, peculato e lavagem de dinheiro. A prisão de Pizzolato foi determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) depois do julgamento do último recurso, em 13 de novembro do ano passado. A pena deve ser cumprida em regime fechado. A multa é de R$ 1,3 milhão.
Pizzolato autorizou a liberação de R$ 73 milhões da Visanet para a DNA Propaganda, empresa de Marcos Valério, outro condenado no processo, sem garantias dos serviços contratados. Ele teria recebido cerca de R$ 300 mil em espécie.
Íntegra da carta de Henrique Pizzolato:
“Minha vida foi moldada pelo principio da solidariedade que aprendi muito jovem quando convivi com os franciscanos e essa base sólida sempre norteou meus caminhos.
Nos últimos anos minha vida foi devassada e não existe nenhuma contradição em tudo que declarei quer seja em juízo ou nos eventos públicos que estão disponíveis na internet.
Em meados de 2012, exercendo meu livre direito de ir e vir, eu me encontrava no exterior acompanhando parente enfermo quando fui mais uma vez desrespeitado por setores da imprensa.
Após a condenação decidida em agosto retornei ao Brasil para votar nas eleições municipais e tinha a convicção de que no recurso eu teria êxito, pois existe farta documentação a comprovar minha inocência.
Qualquer pessoa que leia os documentos existentes no processo constata o que afirmo.
Mesmo com intensa divulgação na imprensa alternativa – aqui destaco as diversas edições da revista Retrato do Brasil – e por toda a internet, foi como se não existissem tais documentos, pois ficou evidente que a base de toda a ação penal tem como pilar, ou viga mestre, exatamente o dinheiro da empresa privada Visanet. Fui necessário para que o enredo fizesse sentido. A mentira do “dinheiro público” para condenar... Todos. Réus, partido, ideias, ideologia.
Minha decepção com a conduta agressiva daquele que deveria pugnar pela mais exemplar isenção, é hoje motivo de repulsa por todos que passaram a conhecer o impedimento que preconiza a Corte Interamericana de Direitos Humanos ao estabelecer a vedação de que um mesmo juiz atue em todas as fases do processo, a investigação, a aceitação e o julgamento, posto a influência negativa que contamina a postura daquele que julgará.
Sem esquecer o legítimo direito moderno de qualquer cidadão em ter garantido o recurso a uma corte diferente, o que me foi inapelavelmente negado.
Até desmembraram em inquéritos paralelos sigilosos para encobrir documentos, laudos e perícias que comprovam minha inocência, o que impediu minha defesa de atuar na plenitude das garantias constitucionais. E o cúmulo foi utilizarem contra mim um testemunho inidôneo.
Por não vislumbrar a mínima chance de ter julgamento afastado de motivações político-eleitorais, com nítido caráter de exceção, decidi consciente e voluntariamente fazer valer meu legítimo direito de liberdade para ter um novo julgamento, na Itália, em um tribunal que não se submete às imposições da mídia empresarial, como está consagrado no tratado de extradição Brasil e Itália.
Agradeço com muita emoção a todos e todas que se empenharam com enorme sentimento de solidariedade cívica na defesa de minha inocência, motivadas em garantir o estado democrático de direito que a mim foi sumariamente negado”.
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