Realismo diante da Copa do Mundo
O Globo - 08/01/2014 |
Os estádios deverão estar prontos para receber os jogos, enquanto os problemas ocorrerão pela falta de investimentos em infraestrutura, como em aeroportos
O
relacionamento entre autoridades brasileiras e a cúpula da Fifa nunca
chegou a ser risonho em torno do projeto da Copa. Escolhido o país, há
sete anos, para sediar pela segunda vez o torneio — a primeira, em 1950
—, é certo que houve uma demora para o inicio dos trabalhos. Apenas em
2010 instalou-se o comitê de organização do evento.
Não
seria um problema se o poder público, em todos os níveis, fosse um
exemplar gerenciador de obras. É muito o contrário, sabe-se. Portanto,
cartolas da Fifa — o suíço Joseph Blatter, o primeiro deles, e o francês
Jerome Valcker — têm motivos para reclamar de atrasos, embora não
contribua em nada para a boa convivência entre a entidade e
países-anfitriões a conhecida arrogância com que a federação
internacional de futebol conduz seus interesses pelo mundo afora.
Nos
últimos dias, Blatter se chocou com a própria Dilma, ao afirmar que a
Copa brasileira seria a mais atrasada, à esta altura do calendário,
desde sua chegada à Fifa, em 1975. Logo recebeu uma resposta
presidencial via twitter, com a garantia de que a deste ano será a “Copa
das Copas”.
Exagero
de ambos os lados. Desconte-se, ainda, que o relacionamento pessoal
entre os dois seria acidentado, a ponto de Blatter ter reclamado da
presidente ao técnico Luís Felipe Scolari, segundo o jornal “O Estado de
S.Paulo”.
A
seis meses do efetivo pontapé inicial, configura-se um quadro previsto
já há muito tempo: estádios prontos, ou pelo menos em condições de
receber jogos; o entorno de infraestrutura com precariedades e, num
plano mais amplo, legados para as cidades-sede parcos ou inexistentes, a
depender do caso.
Dos
12 estádios, faltam concluir seis, que não cumpriram a data-limite da
Fifa, 31 de dezembro: São Paulo, Manaus, Natal, Cuiabá, Curitiba e Porto
Alegre. Mas a previsão é que eles sejam entregues, paulatinamente, até
abril. Nada desastroso, portanto. Não há mais solução possível e
definitiva é para as dificuldades que existirão, por exemplo, nos
aeroportos, cujas obras são vítima dos atrasos nas licitações provocados
pela resistência ideológica dentro da máquina pública à cessão de
terminais ao setor privado. O resultado está no Portal da Transparência,
do governo, em que o balanço dos investimentos em aeroportos é o
seguinte: do total previsto de R$ 6,7 bilhões a serem investidos, apenas
R$ 1,7 bilhão (25,3%) havia sido contratado e só R$ 900 milhões
(13,4%), gastos. O retrato não muda — até piora, em certas cidades —, ao
se verificar o andamento de projetos de mobilidade relacionados ao
torneio.
Então,
não há por que temer um retumbante fracasso, mas, infelizmente, além de
estádios, pouco ficará para a população, quando o circo da Fifa for
desarmado — com a exceção do Rio, em que há projetos em curso para as
Olimpíadas de 2016. É exigir demais da capacidade de o Estado executar
projetos. Ele é bom em pagar salários, aposentadorias, etc. E na
cobrança de impostos e similares.
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