terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Distensão com o Irã continua avançando

Distensão com o Irã continua avançando

O Globo - 11/02/2014
 
O Irã celebra hoje o 35º aniversário da Revolução Islâmica, justo quando melhoram as relações com o Ocidente após o acordo de 24 de novembro em que Teerã concordou em negociar a gradativa submissão de seu programa nuclear à comunidade internacional, via Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), da ONU. Mas a retórica deve continuar agressiva. Por isto, um dos negociadores iranianos, Abbas Araghi, lembrou que o país “tem problemas com os EUA sobre dúzias de temas”. E concluiu: “Nada mudou. Os EUA ainda são o Grande Satã”.
Mas algumas coisas mudaram sim. Ontem, o presidente Hassan Rouhani reiterou, diante de de embaixadores e dignatários estrangeiros, que Teerã está disposta a chegar a um “acordo definitivo e global” com o grupo 5+1 (EUA, Rússia, China, França e Reino Unido, mais Alemanha) sobre a questão nuclear. Esta se resume, grosso modo, ao Irã conseguir provar ao Ocidente que seu programa atômico é para fins pacíficos, não tem propósitos bélicos e, portanto, não representa qualquer ameaça ao mundo e, especificamente, a Israel.
No último fim de semana, houve mais uma reunião entre negociadores iranianos e da AIEA. Foi proveitosa. O Irã comprometeu-se a fornecer informações que a Agência busca há anos, inclusive suas pesquisas sobre detonadores. A expectativa é que, a partir destas, seja possível determinar se o programa tem, ou teve, objetivos bélicos. Ainda há muitos problemas: por exemplo, os iranianos não concordaram em abrir à inspeção a unidade de Parchin, ao Sul de Teerã, onde os EUA suspeitam terem sido testados explosivos nucleares. Mas sinais positivos continuam surgindo: a Guarda Revolucionária — a guardiã da linha-dura —, deu sinal verde aos negociadores iranianos.
Porém, no aniversário da Revolução, é preciso dar satisfações. O chefe do organismo nuclear do Irã, Ali Akbar Salehi, anunciou que os técnicos criaram um novo tipo de centrífuga 15 vezes mais poderosa do que as atualmente em uso nas usinas de enriquecimento de urânio. Segundo ele, a máquina será usada em breve no centro médico de Razi, a Oeste de Teerã. Pelo acordo com o 5+1, o Irã se comprometeu a não aumentar o número de centrífugas em operação. Cerca de 10 mil estão em funcionamento mas, conforme o acordado, não podem produzir urânio enriquecido a mais de 3%.
A mudança de postura do Irã não resulta da eleição de um presidente moderado. É o contrário. O regime dos aiatolás é que trabalhou para elegê-lo, para viabilizar uma negociação com o Ocidente que resulte num afrouxamento das sanções que asfixiam a economia iraniana e provocam o descontentamento da população. O efeito das sanções mostrou o acerto dos EUA e do Ocidente de tratar o impasse pelo lado diplomático. Foi criada, assim, a maior chance para um acordo histórico com o Irã.

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