O Brasil deve agir para buscar solução para a crise na Síria
José Antônio Lima
Entre os rebeldes sírios, as frases de Patriota devem soar como catastróficas. Em primeiro lugar, o massacre de Houla, no qual 108 pessoas foram mortas, entre elas 49 crianças, foi apenas em parte causado pelas armas pesadas do Exército sírio. Segundo os observadores da ONU que estão na Síria, a maioria das vítimas foi executada, com facas ou armas de fogo. Os principais suspeitos são milicianos pró-Assad. Em segundo lugar, o otimismo de Patriota com o plano da ONU é marcado pela ingenuidade. Hoje, o ditador Bashar al-Assad, encorajado por seus apoiadores dentro da Síria e por Rússia e China no Conselho de Segurança da ONU, não tem motivos para cessar a violência. O massacre de Houla mostrou que os observadores da ONU presentes na Síria se tornaram meros coveiros ou legistas. A presença deles não inibe nem impede matanças generalizadas. Assim, não é possível condenar quem entenda o apoio ao plano de paz como uma neutralidade que estimula a violência por parte de Assad.
A iminência do fracasso e o horror de Houla fez críticas surgirem também nos Estados Unidos. Nesta quarta-feira, o jornal The Washington Post publicou editorial no qual clama para que o presidente Barack Obama exerça sua liderança e pare de “se esconder” atrás de Annan na busca por uma solução para a crise na Síria. De fato, os EUA não fazem nada de produtivo para a paz na Síria. A retirada dos embaixadores é completamente inócua. O que o governo americano tem feito é dar apoio logístico para que governos árabes rivais de Assad entreguem armas aos rebeldes. Assim como o plano de Annan, o papel secundário ao qual Obama relegou os Estados Unidos no caso da Síria revela a fragilidade e a ineficiência do sistema de tomada de decisões da comunidade internacional.
Neste contexto, o Brasil precisa agir e mostrar que está agindo, até mesmo para evitar as críticas de “conivência com Assad”. O Brasil deve, em público e em privado, trabalhar para romper o apoio da Rússia e da China a Assad e se engajar ainda mais diretamente na busca de alternativas ao plano de Annan. Novas ideias urgem, e o Brasil tem motivos de sobra para apresentá-las. Do ponto de vista humanitário, uma bandeira cara para a diplomacia nacional, é preciso acabar logo com o conflito na Síria antes que este se torne uma guerra civil. Do ponto de vista pragmático, o Brasil, que tanto deseja uma vaga no Conselho de Segurança, tem a chance de demonstrar sua capacidade de liderança. Não há um evento mais perfeito para fazer isso do que uma crise que expõe de forma clara a incapacidade da comunidade internacional para resolver crises.
A guerra é sempre incompreendida: quando se está nela busca-se a todo custo interrompê-la alegando que não foi o melhor caminho tomado; e quando há um fato como esse da Síria, muitos "pacifistas" dizem que as maiores potências (diga-se, maior poderio militar) deveriam tomar atitudes mais incisivas, se impor mesmo.
ResponderExcluirCom relação à situação explanada nesse texto, entendo que não irá resolver nem tampouco minimizar a situação na Síria expulsando os embaixadores desse país nas várias nações em que mantém embaixadas. Não foram os embaixadores que promoveram esses massacres, então, por que se "vingar" em quem, em tese, poderia ser mais proveitoso em situações de diplomacia e de acordos.
Se houve carnificina ou mesmo genocídio, ao que se leva a crer, e isso com certeza deve ser combatido com o maior rigor, não será através da expulsão de diplomatas que irá se resolver. Está certo o Brasil ao não seguir alguns países que determinaram a expulsão de diplomatas sírios de seus territórios. A diplomacia foi e sempre será um valioso recurso para as negociações.
O Brasil almeja sim uma "cadeira" no Conselho de Segurança, e hoje está provado por que o merece: enquanto alguns países ditos "desenvolvidos" apregoam o revanchismo, que sabe-se, não atinge o objetivo; o Brasil, humilde, mas sábio, enaltece o poder da conversação, do acordo, da diplomacia em detrimento à resposta armada. Ponto para o Brasil, que caminha a passos largos para ser o "intermediador" das conversações nos conflitos armados no mundo.