Grécia: Novas eleições são referendo sobre saída da União Europeia
Publicado em Carta Capital
Após nove dias de negociações infrutíferas, os representantes dos
cinco principais partidos da Grécia desistiram nesta terça-feira 15 de
chegar a um acordo sobre o futuro governo do país e anunciaram novas
eleições para 17 de junho. Até lá, a Grécia viverá um mês de
instabilidade, mas agora o eleitor tem ainda mais claro em sua mente o
poder que tem nas mãos. Ir às urnas será quase um plebiscito. A Grécia
vai decidir se mergulha fundo nas medidas de austeridade impostas pela
União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) ou se embarca
em uma aventura cujo fim é incerto: deixar a zona do euro.
Hoje, a possibilidade maior é de a Grécia abandonar o euro. Nas negociações dos últimos dias, o partido de extrema-esquerda Syriza bloqueou todas as iniciativas de formar um governo de coalizão. Seu líder, Alexis Tsipras, deixou claro que o Syriza, segundo colocado nas eleições, não faria parte de qualquer gabinete favorável às medidas de austeridade impostas ao país em troca de empréstimos bilionários. Tsipras não fez nada mais do que cumprir a vontade de seus eleitores. Pouco mais de 16% dos gregos votaram no Syriza como forma de protestar contra a austeridade. Afinal, as medidas impostas pela EU e pelo FMI jogaram a Grécia no caminho do desemprego galopante e da recessão profunda.
Nas próximas eleições, o Syriza é favorito para ficar com o maior número de vagas no parlamento. Como na primeira eleição 66% dos gregos votaram em partidos anti-austeridade, é provável que este resultado, no mínimo, se reproduza. Ao mesmo tempo, os partidos mais tradicionais da Grécia, o Nova Democracia (centro-direita) e o Pasok (centro-esquerda), ambos favoráveis à austeridade, continuam perdendo popularidade. Neste cenário, por enquanto hipotético, não é difícil imaginar um governo liderado pelo Syriza e completado por outros pequenos partidos anti-austeridade. Se essa possibilidade se concretizar, a Grécia estará indo em direção à porta de saída da zona do euro.
Hoje, parece não haver um caminho do meio para a Grécia. Se o Syriza é intransigente por recusar de antemão qualquer possibilidade de manter as medidas de austeridade, os dirigentes da União Europeia são também intransigentes sobre qualquer chance de a Grécia recusar essas medidas. E, diante do impasse político no país, não cogitaram reduzir a austeridade. Pelo contrário. Após meses mantendo este assunto como tabu, passaram a falar abertamente sobre a saída da Grécia da zona do euro. Nesta terça-feira, o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schauble, foi o primeiro a se pronunciar sobre o fracasso das negociações. “Se a Grécia quiser continuar no euro então terá que aceitar as condições”, afirmou. Como se vê, a estratégia da União Europeia é jogar a Grécia contra a parede para aceitar as medidas draconianas de austeridade. Falta, no entanto, combinar isso com o eleitor grego.
Como um país deixa o euro?
Hoje, a possibilidade maior é de a Grécia abandonar o euro. Nas negociações dos últimos dias, o partido de extrema-esquerda Syriza bloqueou todas as iniciativas de formar um governo de coalizão. Seu líder, Alexis Tsipras, deixou claro que o Syriza, segundo colocado nas eleições, não faria parte de qualquer gabinete favorável às medidas de austeridade impostas ao país em troca de empréstimos bilionários. Tsipras não fez nada mais do que cumprir a vontade de seus eleitores. Pouco mais de 16% dos gregos votaram no Syriza como forma de protestar contra a austeridade. Afinal, as medidas impostas pela EU e pelo FMI jogaram a Grécia no caminho do desemprego galopante e da recessão profunda.
Nas próximas eleições, o Syriza é favorito para ficar com o maior número de vagas no parlamento. Como na primeira eleição 66% dos gregos votaram em partidos anti-austeridade, é provável que este resultado, no mínimo, se reproduza. Ao mesmo tempo, os partidos mais tradicionais da Grécia, o Nova Democracia (centro-direita) e o Pasok (centro-esquerda), ambos favoráveis à austeridade, continuam perdendo popularidade. Neste cenário, por enquanto hipotético, não é difícil imaginar um governo liderado pelo Syriza e completado por outros pequenos partidos anti-austeridade. Se essa possibilidade se concretizar, a Grécia estará indo em direção à porta de saída da zona do euro.
Hoje, parece não haver um caminho do meio para a Grécia. Se o Syriza é intransigente por recusar de antemão qualquer possibilidade de manter as medidas de austeridade, os dirigentes da União Europeia são também intransigentes sobre qualquer chance de a Grécia recusar essas medidas. E, diante do impasse político no país, não cogitaram reduzir a austeridade. Pelo contrário. Após meses mantendo este assunto como tabu, passaram a falar abertamente sobre a saída da Grécia da zona do euro. Nesta terça-feira, o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schauble, foi o primeiro a se pronunciar sobre o fracasso das negociações. “Se a Grécia quiser continuar no euro então terá que aceitar as condições”, afirmou. Como se vê, a estratégia da União Europeia é jogar a Grécia contra a parede para aceitar as medidas draconianas de austeridade. Falta, no entanto, combinar isso com o eleitor grego.
Como um país deixa o euro?
Pelas legislações vigentes atualmente na Europa, um país não pode ser expulso da zona do euro. Ele pode, entretanto, ser pressionado a fazer isso. Em entrevista à agência de notícias Reuters
na segunda-feira 14, um diplomata fez uma analogia simples para
explicar a situação. “Em teoria, não é possível [expulsar um país do
euro], mas é um pouco como o baterista da banda – se banda não gosta do
baterista, sempre há um jeito de se livrar dele”. Para os países da zona
do euro, a saída da Grécia é temerosa pois pode gerar pânico nos
mercados (sempre eles). O temor é de que os investidores passem a
pensar: ‘se a Grécia sucumbiu, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália
também vão sucumbir?’. Para os líderes europeus estarem falando
abertamente na saída da Grécia, é por que já têm algum plano de reação
para isso. Os países de economia mais fraca teriam disponíveis, por
exemplo, os 240 bilhões de euros prometidos para a Grécia.
Para os gregos, a situação é preocupante, e não se sabe ao certo até
onde o Syriza e outros partidos anti-austeridade foram na análise de
cenários futuros. O lado bom de sair do euro é que a Grécia poderia
desvalorizar sua própria moeda e, assim, tornar seus produtos mais
atrativos. No caso da Grécia, não é certo que isso seria suficiente para
tirar o país da crise. Na segunda-feira, o economista norte-americano
Richard Parker, ex-conselheiro do governo do ex-premiê George
Papandreou, disse que a desvalorização tem limites. Segundo afirmou
Parker ao canal Sky News, o turismo e os embarques comerciais marítimos, principais atividades econômicas da Grécia, não sustentariam a saída do país da crise.
Agrava a situação a logística que um país precisaria passar para abandonar o euro. Segundo o jornal The Guardian, o premier que colocou a Grécia na zona do euro, Costas Simitis, traçou um futuro desolador em evento nesta terça-feira. Segundo ele, seriam necessários três meses de bancos fechados para que a Grécia pudesse substituir o euro por uma nova moeda, que precisaria ser impressa e distribuída por todo o país. Esse tempo todo, segundo Simitis, levaria o país para uma situação de convulsão social.
O caos, entretanto, pode chegar antes. A Grécia está perto da falência e, se a UE e o FMI pararem de emprestar dinheiro para o país, o governo pode ficar, literalmente, sem dinheiro. Neste cenário, serviços públicos como transporte e saúde ficariam parados, a infraestrutura grega ficaria abandonada e os servidores não receberiam seus salários. Pelo menos verbalmente, esta é a ameaça da UE e do FMI à Grécia. Resta saber como os eleitores gregos vão responder a ela e, se os políticos gregos estão prontos a buscar alternativas para evitar um desastre.
Agrava a situação a logística que um país precisaria passar para abandonar o euro. Segundo o jornal The Guardian, o premier que colocou a Grécia na zona do euro, Costas Simitis, traçou um futuro desolador em evento nesta terça-feira. Segundo ele, seriam necessários três meses de bancos fechados para que a Grécia pudesse substituir o euro por uma nova moeda, que precisaria ser impressa e distribuída por todo o país. Esse tempo todo, segundo Simitis, levaria o país para uma situação de convulsão social.
O caos, entretanto, pode chegar antes. A Grécia está perto da falência e, se a UE e o FMI pararem de emprestar dinheiro para o país, o governo pode ficar, literalmente, sem dinheiro. Neste cenário, serviços públicos como transporte e saúde ficariam parados, a infraestrutura grega ficaria abandonada e os servidores não receberiam seus salários. Pelo menos verbalmente, esta é a ameaça da UE e do FMI à Grécia. Resta saber como os eleitores gregos vão responder a ela e, se os políticos gregos estão prontos a buscar alternativas para evitar um desastre.
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