Cúpula dos Povos vai combater economia verde
Autor(es): agência o globo:Flávia Milhorance |
O Globo - 14/05/2012 |
Representantes da Cúpula dos Povos apresentaram ontem uma carta aos negociadores da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), criticando a chamada economia verde e a falta de avanços nas discussões pré-conferência. No texto, eles afirmam que "não se está discutindo um balanço do cumprimento dos acordos alcançados na Rio 92 ou como mudar as causas da crise internacional". A Cúpula se manifestou oficialmente contra a implementação da economia verde, um dos pilares da Rio+20. De acordo com o grupo, esse modelo econômico não diminui o extrativismo de combustíveis fósseis, nem altera os atuais padrões de consumo e de produção industrial. Eles afirmam que o modelo alimenta "o mito de que é possível o crescimento econômico infinito". Foi assim que terminou ontem a última reunião do grupo de articulação da Cúpula dos Povos, evento que ocorrerá entre 15 e 23 de junho no Aterro do Flamengo, paralelamente à Rio+20. No local, são esperadas 30 mil pessoas por dia. Marchas também devem tomar conta do espaço. Os representantes dos movimentos criticaram medidas que estão na pauta das discussões ambientais, como o mercado de carbono, de serviços ambientais, de compensações por biodiversidade e o mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento Evitado e Degradação Florestal (REDD+). Também afirmaram que lutarão contra os transgênicos, os agrotóxicos, os agrocombustíveis, a nanotecnologia, a biologia sintética, a vida artificial, a geoengenharia e a energia nuclear. Por outro lado, eles defenderão na Rio+20 mudanças no atual modelo de produção e de consumo, com o desenvolvimento de modelos alternativos; apoiarão a agroecologia e a economia solidária, assim como os direitos à terra e à natureza. Integrante do grupo de articulação da Cúpula dos Povos e participante das rodadas de negociação em Nova York, Iara Pietricovsky disse que, até o momento, não há consenso do que estará presente no documento a ser apresentado na cúpula. Por isso, as negociações tiveram que ser estendidas, e haverá nova rodada entre 29 de maio e 2 de junho. - Há 400 colchetes no texto, ou seja, 400 pontos sem consenso. Só em 21 pontos se conseguiu um acordo, e são todos temas tangenciais, como a questão da soberania e preservação dos oceanos - afirmou Iara. Governança ambiental é ponto polêmico Iara disse que há uma tensão entre países quanto à tentativa de se instalar ou não os chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que, entre outras metas, serão utilizados para promover a economia verde. Os críticos desta proposta, entre eles a Cúpula dos Povos, afirmam que isto enfraqueceria a reafirmação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, cujo prazo termina em 2015. Até agora, nenhum país conseguiu atingir as chamadas Metas do Milênio. A retirada da discussão dos direitos humanos também é fortemente criticada. Um ponto polêmico é com relação à governança ambiental. Os Estados Unidos lideram a manutenção do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), enquanto a Europa defende a criação de uma agência ambiental. Já o Brasil decidiu apoiar o fortalecimento do Pnuma. - Como está no meio do caminho, a defesa brasileira parece que vai prevalecer - acredita Iara, que criticou a postura do país. - O Brasil tem uma posição ambígua, devido às tensões internas. A votação do Código Florestal é um claro exemplo disso. |
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