terça-feira, 8 de maio de 2012

Berlim reage a Hollande e diz que não muda pacto fiscal

Berlim reage a Hollande e diz que não muda pacto fiscal

Berlim reage a discurso de Hollande e rejeita renegociação de pacto fiscal
Autor(es): ANDREI NETTO
O Estado de S. Paulo - 08/05/2012
 

O governo alemão informou ontem que "não é possível renegociar o pacto fiscal" assinado na União Européia. Foi a primeira reação de Berlim à eleição de François Hollande à Presidência da França. O socialista prometeu rever o pacto de austeridade e "dar à construção europeia uma dimensão de crescimento".

Depois da festa, a dura realidade política e econômica. O presidente eleito da França, François Hollande, enfrentou ontem o primeiro atrito diplomático com o governo da Alemanha, que mandou recado via imprensa sobre sua recusa em renegociar o tratado de estabilidade fiscal da Europa.
O aviso de Berlim foi dado no momento em que cresce a pressão no bloco pela adoção de políticas de crescimento que complementem a austeridade defendida por Angela Merkel.
A controvérsia com o governo alemão ocorreu ainda cedo, quando Hollande chegou a seu escritório, no centro de Paris, ostentando olheiras no rosto, depois da maratona do histórico 6 de maio.
Jornais de toda a Europa trouxeram em reportagens de capa a mensagem enviada pelo presidente eleito em seu discurso de vitória em Tulle, quando o socialista prometeu "dar à construção europeia uma dimensão de crescimento, de emprego, de prosperidade e de futuro" e enfrentar a austeridade, que "não pode mais ser uma fatalidade".
A resposta de Berlim veio no início da manhã, por intermédio do porta-voz do governo, Steffen Seibert. Recusando o "crescimento por déficit" e enfatizando a necessidade de "reformas estruturais", o Executivo alemão afirmou que "não é possível renegociar o pacto fiscal", "assinado por 25 dos 27 países da União Europeia".
Hollande não respondeu às afirmações. Mas, em entrevista concedida na sexta-feira e publicada ontem pela revista eletrônica Slate.fr, o presidente eleito deu a tônica da firmeza com que pretende dialogar com a Alemanha de Merkel. "Nós teremos discussões com nossos parceiros, e em especial com nossos amigos alemães", disse. "No entanto, eles não podem pôr dois cadeados de uma só vez: um sobre eurobônus, outro sobre o financiamento direito das dívidas pelo Banco Central Europeu (BCE)."
De acordo com o ex-diretor de campanha do Partido Socialista, o primeiro encontro entre Hollande e Merkel ocorrerá em Berlim, no dia 16, o dia seguinte à transmissão de poder no Palácio do Eliseu.
Outras reuniões sobre a crise das dívidas ocorrerão a seguir, durante a cúpula da União Europeia, prevista para 28 e 29 de junho, em Bruxelas. O certo é que a Alemanha também terá de ceder para obter o aval da França e de outros países ao pacto de estabilidade fiscal. Desde domingo, diversos líderes políticos incorporaram o discurso desenvolvimentista de Hollande.
Gabinete. Em meio à controvérsia, o novo chefe de Estado tem uma semana para montar seu governo. Ontem, o socialista afirmou que informará seu gabinete na data da posse. "Em 15 de maio vocês terão o nome do primeiro-ministro", disse. O Palácio de Matignon, onde trabalha o chefe de governo, deve ser conduzido por um dentre três nomes: o senador Jean-Marc Ayrault, a secretária-geral do PS, Martine Aubry, ou o coordenador de campanha, Pierre Moscovici.
Além de preparar sua equipe, Hollande precisa se organizar para sua primeira viagem internacional como chefe de Estado. No dia 18, o presidente irá a Washington, onde terá reunião bilateral com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
Na pauta dos dois líderes haverá outro assunto espinhoso: a retirada das tropas da França do Afeganistão. Em sua campanha eleitoral, o socialista havia prometido o retorno dos soldados até o fim de 2012, antecipando em um ano o calendário de Nicolas Sarkozy.
Ainda em 18 de maio, ele participará do G-8, em Camp David. A seguir, em 20 e 21, será a vez da cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em Chicago.
Esse assunto também pode causar controvérsia, porque, nos bastidores diplomáticos, Paris está insatisfeita com o espaço obtido no Comando Integrado após a decisão de Sarkozy de retornar à aliança atlântica, tomada em 2009.
Não bastassem esses eventos, Hollande terá de enfrentar uma agenda de campanha carregada, já que a França passará por eleições parlamentares em junho que definirão a maioria na Assembleia Nacional e no Senado, cruciais para a sustentação de seu projeto político. Detalhe: o pleito se dará nos dias da conferência Rio+20, no Brasil. A decisão sobre sua participação não foi tomada.

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