segunda-feira, 15 de abril de 2013

Economia, desafio na Venezuela

Economia, desafio na Venezuela

Reorganizar um país, a difícil tarefa do sucessor de Chávez
Autor(es): Por Fabio Murakawa | De Caracas
Valor Econômico - 15/04/2013
 

Melhorar a eficiência de um Estado inchado e reduzir a burocracia que alimenta uma corrupção endêmica. Tratar uma economia doente, com um déficit fiscal de cerca de 15% do PIB e inflação acima de 20% e subindo. Diversificar a economia de um país que importa 70% dos alimentos que consome. E convencer uma nação órfã de um presidente querido, morto há pouco mais de um mês, de que à frente da Presidência há um líder. Essas são as tarefa desafiadoras do sucessor de Hugo Chávez, qualquer que seja o vencedor das eleições, na disputa entre o chavista Nicolás Maduro e o opositor Henrique Capriles. Até o fechamento desta edição, o resultado não havia sido divulgado, mas circulavam informações de que a votação de Capriles tinha sido melhor do que o previsto nas pesquisas.

Melhorar a eficiência de um Estado inchado e reduzir a burocracia que alimenta uma corrupção endêmica. Tratar uma economia doente, com déficit fiscal de cerca de 15% do PIB e inflação acima de 20% e subindo. Diversificar a economia de um país que importa 70% dos alimentos que consome e onde o petróleo é responsável por 96% dos dólares da exportação. E convencer uma nação órfã de um presidente carismático e popular, morto há pouco mais de um mês, de que à frente da Presidência há um verdadeiro líder, capaz de conduzir e dar estabilidade a um país com histórico de golpes de Estado.
Essa é a tarefa hercúlea do sucessor de Hugo Chávez, qualquer que seja o vencedor da eleição presidencial realizada ontem na Venezuela, na disputa entre o chavista Nicolás Maduro, presidente interino, e o líder opositor Henrique Capriles. Até o fechamento desta edição ainda não havia um resultado.
"Independentemente de quem ganhe, é pouco provável que consiga substituir o papel de Chávez", diz Héctor Briceño, professor do Centro de Estudo de Desenvolvimento da Universidade Central da Venezuela (UCV). "O novo presidente terá o desafio de construir um modelo de sociedade e político que não gire em torno da figura do presidente. Com a morte de Chávez, isso perde o sentido".
Maduro herdou a candidatura, e a eleição tida como provável, do prestígio de Chávez junto à população mais pobre. Em dezembro, já ciente da gravidade de seu câncer, o ex-presidente pediu à população que votasse nele, caso não pudesse voltar ao poder após um derradeiro período de tratamento em Cuba, para onde embarcaria horas depois. Mas, na opinião de analistas, o pedido de Chávez não representa um cheque em branco para um eventual governo Maduro. Ele terá que provar sua capacidade de gestão e percorrer um caminho delicado entre manter os programas sociais criados pelo antecessor e reorganizar uma economia em processo de deterioração.
"Do ponto de vista eleitoral, o eleitor de Maduro votou no candidato designado por Chávez. Do ponto de vista do exercício do poder, o cenário é outro", diz Gilberto Buenaño, acadêmico chavista que foi vice-ministro de Planejamento de 2000 a 2005. "O apoio depende do comportamento de Maduro".
De acordo com ele, um dos grandes desafios de Maduro, caso eleito, será diversificar a economia, que há décadas se acostumou a viver da renda do petróleo, um modelo que já durante a gestão Chávez se dizia estar em esgotamento. "Somos dependentes das exportações. Não produzimos o que consumimos e não consumimos o que produzimos. Se o processo bolivariano não resolver o problema da economia produtiva, vai ter problemas para continuar existindo".
Se Maduro herdou de Chávez o direito à candidatura, o mesmo vale em relação aos problemas econômicos que foram crescendo ao longo de seus 14 anos de governo. A situação se agravou após a campanha para as eleições de 7 de outubro do ano passado, quando Chávez bombou os gastos sociais para aumentar suas chances de vitória contra o mesmo Capriles.
Depois disso, o governo teve que fechar as torneiras, e o país começou a sofrer com a escassez de produtos básicos nos supermercados e de divisas para a importação, o que elevou o dólar paralelo a uma cotação cerca de quatro vezes maior do que a oficial. Como parte de um ajuste fiscal, e com o presidente ainda vivo em Cuba, Maduro promoveu uma desvalorização do bolívar de 4,30 para 6,30 por dólar. No paralelo ilegal, a moeda americana varia de 20 a 28 bolívares.
"Há indícios de que a situação macroeconômica será difícil e vai chegar a outros âmbitos da vida nacional", diz um diplomata venezuelano. "Mas a liderança carismática do presidente Chávez não estará no panorama político. Os chavistas vão ter que dar grandes mostras de capacidade de gestão".
Maduro parece ter notado isso. Em seu último evento de campanha, um gigantesco comício em Caracas na quinta-feira, ele anunciou a criação de mais uma "missão" (como são batizados os principais programas sociais chavistas), a "Grande Missão Eficiência ou Nada". Sem detalhar, disse se tratar de "um corpo especial secreto para perseguir a corrupção".
O problema para Maduro será, na avaliação de analistas, manter unidos setores que ele não controla dentro do chavismo, como as Forças Armadas, os funcionários públicos, sobretudo os da PDVSA, e lideranças de bairros e conselhos comunais, caso a situação econômica piore. A tendência é que, nesse caso, o chavismo se fragmente e seu chegue ao fim antes do término do mandato de seis anos por meio de um referendo revogatório, previsto na Constituição.
Uma fonte do governo brasileiro nota que "há um desejo de mudança por eficiência do governo" e que "Capriles convence grande parcela da população que está cansada do chavismo". O opositor adotou contra Maduro tom mais agressivo que na campanha anterior. E tentou chamar para si o voto de eleitores fiéis a Chávez, mas não às pessoas que o cercavam. "Eu peço a todos os seguidores do "comandante" que votem em mim", disse no encerramento da campanha. "Maduro não é Chávez, e eu não sou a oposição. Sou a solução".
O trabalho de um eventual governo Capriles não será simples. Dos 23 Estados, 20 são governados por chavistas, que também controlam a Assembleia Nacional. A PDVSA está inchada com 120 mil funcionários, a maioria nomeada por Chávez. E instituições como a Justiça e as Forças Armadas também estão aparelhadas por simpatizantes do ex-presidente. Para Capriles, a tarefa mais difícil seria governar.

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