segunda-feira, 15 de abril de 2013

INFLAÇÃO PÕE GOVERNO EM ALERTA. JUROS VÃO SUBIR

INFLAÇÃO PÕE GOVERNO EM ALERTA. JUROS VÃO SUBIR

GOVERNO BATE O MARTELO: JUROS VÃO SUBIR
Correio Braziliense - 13/04/2013
 

O ministro da Fazenda e o presidente do BC romperam o silêncio antes da reunião do Copom e sinalizaram com o aumento da taxa Selic, interrompendo a queda iniciada em agosto de 2011. Eles também prometeram medidas, até mesmo impopulares, contra a alta de preços

O governo elevou fortemente, ontem, o tom do discurso pelo qual vem prometendo combate sem tréguas à alta da inflação, que superou o teto da meta de 6,5% nos 12 meses terminados em março, ao cravar 6,59%. Com isso, consolidou no mercado a convicção de que o Banco Central vai aumentar a taxa básica de juros (Selic) na próxima quarta-feira. No Rio de Janeiro, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, quebrou a regra de manter silêncio na véspera dos encontros do Comitê de Política Monetária (Copom) e afirmou que "não haverá tolerância com a inflação". O ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi ainda mais taxativo. "Nós não vamos titubear em tomar medidas, mesmo que não populares, como o ajuste na taxa de juros", disse ele, durante evento em São Paulo.
A mensagem afinada dos principais comandantes da política econômica tornou unânime, entre os analistas, a previsão de alta dos juros e fez crescer significativamente o número dos que apostam em uma subida mais forte na semana que vem, de 0,5 ponto percentual, com a Selic passando dos atuais 7,25% para 7,75% ao ano. Até então, a maioria dos que previam um ajuste falava em correção de 0,25 ponto. Depois do recado dado por Tombini e Mantega, ninguém mais acredita que o BC adiará para maio a decisão de apertar a política monetária para quebrar a resistência da inflação, que assusta a população.
Nem mesmo declarações da presidente Dilma Rousseff, que fez uma crítica aos que defendem um aumento da taxa de desemprego como remédio contra a carestia, abalaram a certeza de que o Copom interromperá o longo ciclo de queda da Selic, iniciado em agosto de 2011, que trouxe a taxa para a mínima histórica. "Tem muita gente que fica dizendo por aí que nós temos de reduzir o emprego", afirmou a presidente, em Porto Alegre, durante solenidade de formatura de alunos do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico (Pronatec). "É pouca gente, mas faz barulho. Essas pessoas estão equivocadas", completou.
O pronunciamento lembrou a entrevista de Dilma em Durban, na África do Sul, no fim de março, quando afirmou não concordar com políticas de combate à inflação "que olhem a redução do crescimento econômico". Na ocasião, a fala da presidente foi interpretada como um veto à subida dos juros e derrubou as taxas nas operações futuras, destruindo o trabalho feito pelo BC de recuperação de sua credibilidade. As palavras de ontem, no entanto, foram tomada pelo mercado apenas como um contraponto à decisão que o Copom deve oficializar na quarta-feira. Não faltou quem entendesse que elas foram proferidas com o objetivo de mostrar que o BC, cuja imagem tem sido cada vez mais arranhada, possui autonomia para determinar o rumo da Selic.
Mudança
"O Banco Central tem dito que não há e não haverá tolerância com a inflação. Nós estamos neste momento monitorando atentamente todos os indicadores, e, obviamente, no futuro, vamos tomar decisões sobre o melhor curso para a política monetária", afirmou Tombini. Para especialistas, o principal sinal dado pelo presidente do BC foi a inclusão da palavra "atentamente" na sua declaração. Eles lembraram que, no passado, essa foi a senha usada pelo Copom todas as vezes que deu início a um ciclo de alta dos juros.
O estrategista-chefe do Banco WestLB, Luciano Rostagno, é um dos que se convenceu definitivamente de que a porta está aberta para a elevação da Selic na semana que vem. "Em todas as declarações dadas até agora, Tombini não tinha sido tão enfático. Ele sabe que um termo como esse, num comunicado (do Copom), seria para indicar que subiria a taxa", frisou.
Tombini participou de um encontro de presidentes de bancos centrais da América do Sul. Num dos intervalos do evento, ao contrário do que costuma fazer às vésperas de uma reunião do Copom, ele não se esquivou das perguntas dos jornalistas. As afirmações do presidente do BC jogaram mais combustível no mercado futuro de juros, que já estavam subindo fortemente com as afirmações de Mantega. Reproduzida na internet, a entrevista também levou muitas instituições financeiras a mudarem suas projeções sobre a Selic, antecipando a previsão de alta de maio para abril.
Eleições
A Nomura Securities passou a acreditar que a taxa básica subirá 0,50 ponto percentual na próxima semana, mas manteve a perspectiva de que ela fechará o ano a 8,75%, ou seja, a alta total será de 1,5 ponto. Em relatório a clientes, o Citibank, que apostava na manutenção dos juros neste mês, informou que espera, agora, um ajuste de 0,25 ponto. A Selic não sobe desde meados de 2011, quando o BC deu início à série de 10 cortes seguidos, até outubro passado. Desde então, ela foi mantida em 7,25%.
A redução dos juros, feita com o objetivo de estimular a atividade econômica, foi também transformada pela presidente Dilma em uma bandeira de governo e num dos principais trunfos com que espera enfrentar a campanha pela reeleição, no próximo ano. O crescimento, porém, não veio, e a inflação se manteve perigosamente em alta. Nesse novo quadro, foi inevitável mudar a estratégia. Ontem, Mantega afirmou que o cenário político não influencia as decisões na área monetária. "Se vocês olharem ao longo do tempo, nós já elevamos juros em véspera de eleição. Em 2010, por exemplo, fizemos isso. Portanto, não nos pautamos por calendário político", garantiu.
ODAIL FIGUEIREDO
» VICTOR MARTINS

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