segunda-feira, 22 de abril de 2013

AMEAÇADO PELA INFLAÇÃO, BRASIL VOLTA A SUBIR JURO

AMEAÇADO PELA INFLAÇÃO, BRASIL VOLTA A SUBIR JURO

BC AUMENTA JUROS PARA 7,50%
Autor(es): VICTOR MARTINS
Correio Braziliense - 18/04/2013
 

Com aval da presidente Dilma, BC eleva taxa a 7,50% ao ano para combater a disparada dos preços. Empréstimos e financiamentos devem ficar mais caros

Com a inflação em alta e as famílias reclamando da perda de poder aquisitivo, o Banco Central eleva a taxa básica com aval da presidente Dilma Rousseff. Especialistas acreditam que o arrocho pode terminar em maio

Depois de 20 meses de afrouxamento monetário, o Banco Central aumentou a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual, de 7,25% (o menor nível da história) para 7,50% ao ano. A decisão revelou divisão no Comitê de Política Monetária (Copom) e alimentou a expectativa de especialistas de que o arrocho deverá terminar em maio, com mais uma alta de 0,25 ou 0,50 ponto. Até lá, o BC terá uma série de indicadores de inflação e de atividade para avaliar melhor os rumos da Selic. A tendência é de ver reajustes menores de preços e crescimento econômico menor do que o esperado. O cenário central do banco, porém, é de quatro altas seguidas de 0,25 ponto cada, com a taxa básica cravando 8,25%.

Dois dos oito diretores do BC, Aldo Luiz Mendes (Política Monetária) e Luiz Awazu Pereira (Assuntos Internacionais) votaram pela manutenção da Selic em 7,25%. Mas prevaleceu a posição de que a instituição precisava agir, diante da resistência da inflação. Na semana passada, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estourou o teto da meta, de 6,5%, ao bater em 6,59%, fato que levantou uma série de questionamentos sobre o real compromisso do governo em manter o custo de vida sob controle. São os mais pobres, os principais prejudicados pela carestia, pois os alimentos consomem a maior parte do orçamento desse contigente que, em grande maioria, vota na presidente Dilma Rousseff.

No comunicado divulgado após a reunião do Copom, o BC endureceu o tom contra a alta de preços, mas disse também que o cenário inspira cautela. “O Comitê avalia que o nível elevado da inflação e a dispersão de aumentos de preços, entre outros fatores, contribuem para que o IPCA mostre resistência e ensejam uma resposta da política monetária”, destacou o documento. “Por outro lado, o Copom pondera que incertezas internas e, principalmente, externas cercam o cenário prospectivo para a inflação e recomendam que a política monetária seja administrada com cautela.” A reunião de ontem foi uma das mais aguardadas desde a de agosto de 2011, quando o BC cortou a Selic em 0,50 ponto a despeito de todo o mercado aposta na direção contrária.

Gastos públicos
Na opinião de Carlos Thadeu Filho, economista da gestora de recursos Franklin Templeton, diante do comunicado do BC, há chances de o processo de alta da Selic se encerrar em maio. Ele contou que apostava em uma elevação de 0,25 ponto nesta reunião e em mais três ajustes de mesma intensidade nos próximos meses. Agora, contudo, avalia que esse processo pode ser interrompido rapidamente pois a inflação tende a desacelerar no decorrer do ano e o nível de atividade se mostrará mais fraco, pois as famílias perderam renda com a disparada dos preços. “Tínhamos esse cenário, e a ideia original era de quatro altas seguidas de 0,25 ponto. Agora, existe a chance de o arrocho ser interrompido no meio”, frisou. “O mundo está caminhando para deflação, devido à queda dos preços das commodities e da fraqueza da economia”, emendou.

Para Tatiana Pinheiro, economista do Banco Santander, o BC deve levar a Selic até 8% ao ano. “Na explicação, o banco ressalta o desconforto com a inflação, mas coloca, por outro lado, que incertezas externas e internas recomendam cautela”, justificou. “Quando a inflação vira piada e não sai do noticiário, é porque as coisas começam a sair do controle e exigem uma medida dura para controlar as expectativas. Foi por isso que o BC agiu ontem”, acrescentou Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos.

Os especialistas ressaltaram, no entanto, que a alta de juros não diminui os preços de alimento. O aperto monetário afeta outros custos da economia, contaminados pelo encarecimento da comida. Os serviços, explicaram, são facilmente contaminados. Se o cabeleireiro gasta mais para sobreviver, por exemplo, ele vai repassar esse custo imediatamente aos clientes. Com esse quadro de repasses se disseminando pela economia, Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco WestLB do Brasil, avaliou que não havia saída para o BC. “Nem mesmo as desonerações da conta de luz e da cesta básica ajudaram a conter a inflação”, destacou. Ele destacou ainda que o Banco Central também foi pressionado pela decisão do governo de afrouxar o gastos públicos, que são inflacionários.

Potencial candidato do PSDB à Presidência da República, o senador Aécio Neves (MG) disse que o aumento dos juros foi “lamentável”.



» Divergências

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) reconheceu a importância do Banco Central de controlar a inflação, mas lamentou a alta dos juros, que pode prejudicar a atividade produtiva. Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), a pressão sobre o BC foi “terrorismo de mercado”. “A medida vem na contramão do crescimento econômico e do desenvolvimento social”, avaliou Carlos Cordeiro, presidente da entidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário