quarta-feira, 10 de abril de 2013

Crescimento da renda desacelera no início do ano

Crescimento da renda desacelera no início do ano

Autor(es): Por Camilla Veras Mota | De São Paulo
Valor Econômico - 03/04/2013
 

Os primeiros indicadores do mercado de trabalho relativos a 2013 reforçam sinais de um início de ano mais morno. A taxa de desocupação está estável entre 5% e 6% há um ano, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e tem sido acompanhada por uma desaceleração progressiva do crescimento da renda - em fevereiro, a alta foi de 2,4% sobre igual mês de 2012, quando havia subido 4,4% em relação ao ano anterior. O arrefecimento da ocupação e da renda, porém, não será severo a ponto de ameaçar a demanda, e pode, na avaliação dos consultores, aliviar a inflação, especialmente de serviços.
O economista da Go Associados, Fabio Silveira, calcula que o ritmo anual de crescimento da massa salarial, atualmente de 4,8%, cederá depois de junho e oscilará entre 3% e 3,5% até o fim do ano. A perda de dinamismo do mercado de trabalho, diz, é inevitável devido aos patamares altos de ocupação e aos ajustes feitos pela indústria. "Não há mais espaço para contratar. Os fabricantes deverão se concentrar no uso mais intensivo da mão de obra contratada, na tentativa de incrementar a produtividade."
A renda média real na indústria em fevereiro praticamente não cresceu ante igual mês de 2012 - oscilou 0,1%, de acordo a Pesquisa Mensal de Emprego, divulgada pelo IBGE na semana passada. Os salários na construção, na mesma comparação, avançaram mais, 1,7%, ainda abaixo, entretanto, da variação para o total da população ocupada em fevereiro, de 2,4% (R$ 1.849,50). Comércio e serviços domésticos foram as atividades que puxaram o resultado, com alta de 5,1% e 7%, respectivamente.
O crescimento de 2,4% no rendimento real de fevereiro mostra uma trajetória de desaceleração contínua nos últimos dois anos. Os ganhos reais dos trabalhadores das seis regiões metropolitanas avaliadas pela Pesquisa de Emprego e Desemprego do IBGE avançaram 4,4% em fevereiro de 2012, ante igual mês do ano anterior, e 3,6% em fevereiro de 2011, na mesma comparação.
Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados, afirma que a perda de força no avanço do rendimento é resultado também da inflação alta, que corrói os ganhos reais. Para ela, a perspectiva de melhora na inadimplência - que alivia o endividamento das famílias - pode impulsionar a demanda ao longo do ano, apesar das quedas sucessivas nos índices de confiança do consumidor.
O mercado de trabalho "relativamente estagnado", para a economista, não será empecilho para a retomada da atividade econômica, que deve se basear em fatores, como a recuperação do desempenho da Formação Bruta de Capital Fixo, medida do gasto em máquinas e equipamentos e na construção civil dentro do Produto Interno Bruto (PIB).
O avanço mais modesto no rendimento, também na análise de Sarah Bretones, da MCM Consultores, não será suficiente para enfraquecer a demanda. A economista prevê uma "retomada modesta", com previsão de crescimento anual do PIB de 3,1%, apesar do "mercado de trabalho estável".
Para Igor Valecico, do Bradesco, esse cenário será bastante importante para manter a inflação, especialmente a de serviços, controlada. "A desaceleração da renda ajuda a conter um pouco a demanda, mas esse efeito será bem restrito, porque já há retomada da atividade econômica e o mercado de trabalho deve permanecer aquecido em 2013."
O economista também atribui esse perda de fôlego nos rendimentos à alta da inflação, mas afirma que ela reflete em parte o esfriamento da atividade em 2012, o reajuste mais modesto do salário mínimo no começo do ano e os ganhos reais menores nos reajustes salariais do primeiro bimestre.

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