A África do Sul nos Brics
Autor(es): Mpakhama Mbete |
Correio Braziliense - 29/03/2013 |
A África do Sul sediou, esta semana, a quinta cúpula dos Brics, acrônimo do poderoso grupo formado pelas principais economias emergentes do mundo: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A primeira cúpula foi realizada em Yekateringburg, na Rússia, onde os líderes eleitos dos quatro primeiros países declararam formalmente a sua associação ao bloco econômico. Em 2011, a África do Sul integrou-se aos demais. As cúpulas são convocadas para que essas grandes economias possam explorar áreas de interesse comum e as discussões centram-se principalmente nas esferas políticas e na promoção do comércio entre os países, sendo identificadas várias oportunidades de negócios, complementaridades econômicas e áreas de cooperação. Os Brics representam cerca de 40% da população mundial, quase um quinto do Produto Interno Bruto (PIB) do planeta (atualmente estimado em US$ 13,7 trilhões), possuem reservas estrangeiras combinadas de US$ 4,4 trilhões e comandam 17% do comércio mundial, de acordo com a consultoria Africa Strategy Group, promotora da atual cúpula. Pesquisa conduzida pelos analistas Freemantle Simon e Jeremy Stevens, do Standard Bank, mostrou que o comércio intra-Brics em 2012 chegou a movimentar US$ 310 bilhões. Isso representa um aumento de 10 vezes desde 2002. Hoje, o comércio intra-Brics é responsável por movimentar quase um quinto do comércio total do grupo de países com mercados emergentes, cujo volume em 2008 correspondia a 13%. Em contraste, a pesquisa mostra que os Brics realizaram menos negócios com a UE no ano passado do que em 2008. Estima-se que o comércio Brics-África movimentará cerca de US$ 500 bilhões até 2015, o que equivale a aproximadamente 60% do comércio previsto para a China e a África durante o mesmo período. O salto no comércio dos Brics tem se mostrado bem mais pronunciado na África do Sul. Há uma década, o comércio com as economias do bloco representavam 5% das transações do país africano com o mundo. Em 2012, esse percentual já era de 19%. No ano passado, as exportações da África do Sul para as economias Brics aumentaram para 17%. Na cúpula desta semana, o governo sul-africano colocou a África em posição central. O tema foi Brics e África: parceria para o desenvolvimento, a integração e a industrialização. A África do Sul deseja alinhar seus interesses à agenda africana de integração, em vez de apenas focar no acesso a recursos. Apesar de ser o país mais desenvolvido do continente, seu sucesso e futuro estão intimamente ligados ao desenvolvimento econômico e à consolidação da estabilidade e da paz em todo o continente. Atualmente, a África contribui com apenas 3% do PIB global (a África do Sul é responsável por cerca de 1%), mas o continente tem potencial para avançar muito mais rápido, desde que melhore o acesso ao capital. É também urgente a necessidade de desenvolver uma melhor infraestrutura e conectividade na África, uma vez que a pobreza desses setores dificulta a integração regional, considerada chave para o crescimento econômico. Grande parte dos países africanos, principalmente os de baixa renda, enfrenta desafios na hora de fechar negócios e atrair investimentos estrangeiros diretos justamente por causa da infraestrutura deficiente. Recentemente, o Banco Mundial relatou que o custo para solucionar as demandas de infraestrutura na África é de cerca de US$ 93 bilhões por ano. Foi até sugerido que a África do Sul não merecia pertencer ao clube de países líderes em desenvolvimento, porque é a menor das nações Brics em termos de população e de PIB. No entanto, podemos rebater essa crítica dizendo que a África do Sul pode oferecer aos parceiros do bloco acesso facilitado ao continente africano, que é rico em minerais. O país, portanto, além de importante papel nacional, desempenha função regional fundamental. A demanda por commodities por parte dos Brics tem exercido forte influência sobre o crescimento no continente, o que pôde ser comprovado durante a última crise financeira mundial. A África do Sul conta ainda com um robusto setor financeiro que pode servir como porta de entrada dos Brics na África. |
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