segunda-feira, 15 de abril de 2013

Mercado vê alta de juro só em maio

Mercado vê alta de juro só em maio

Economistas estimam Selic estável em abril, com alta suave em 2013
Valor Econômico - 12/04/2013
 

Se depender da aposta majoritária dos analistas de mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) manterá inalterada a taxa básica de juros na semana que vem e deixará para deflagrar o ciclo de aperto monetário na reunião de maio.
Das 37 instituições consultadas pelo Valor PRO, 29 veem a taxa Selic estável em 7,25% ao ano, 6 esperam aumento de 0,25 ponto e só 2 contam com alta de 0,5 ponto. Também a maioria, 28 dos 37 entrevistados, trabalha com a perspectiva de que o aperto monetário será concentrado em 2013 - hipótese que, se confirmada, eximirá o BC de realizar essa desconfortável tarefa em ano eleitoral - e prevê um ciclo total de aumento de 1 a 1,5 ponto percentual.

Monica de Bolle, sócia-diretora da Galanto e diretora da Casa das Garças, está entre os economistas que veem a autoridade monetária postergando para maio o início da alta da taxa básica
Se depender da aposta majoritária dos analistas ligados ao mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) vai manter a taxa básica de juros, a Selic, na semana que vem, em 7,25% ao ano, e deixa para deflagrar o ciclo de aperto monetário na reunião prevista para 28 e 29 de maio.
A maioria dos analistas consultados pelo Valor PRO, serviço em tempo real do Valor, está convencida de que a Selic subirá no mesmo dia em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre.
Das 37 instituições financeiras e consultorias ouvidas entre segunda e quarta-feira - data em que foi conhecido o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março, (de 0,47%) -, 29 veem a Selic estável na semana que vem nos atuais 7,25% ao ano, 6 esperam aumento de 0,25 ponto e apenas 2 contam com alta de 0,5 ponto.
Os analistas também estão afinados em outro ponto. A maioria, 28 dos 37 entrevistados, trabalha com perspectiva de que o aperto monetário será concentrado em 2013, hipótese que, se confirmada, exime o BC de arrastar a desconfortável tarefa de elevar o juro para um ano eleitoral.
Esse mesmo elenco, de 28 dos 37 economistas pesquisados, contempla o próximo ajuste monetário com um ciclo total de 1,0 a 1,5 ponto percentual de alta, o que levaria o juro básico brasileiro a um intervalo de 8,25% a 8,75% ao fim de 2013. E que essa taxa permaneceria constante até dezembro de 2014.
Independentemente do ritmo do ajuste a ser adotado pelo BC, nenhum dos analistas enxerga a inflação declinando para o centro da meta, de 4,5%, neste ano ou no próximo. Na melhor hipótese, o IPCA em 2013 cai a 4,9% e, na pior, rompe o teto da banda e cola em 6,7%. Para 2014, a menor projeção para o IPCA é de 5,2%; a maior, de 6,5%. O teto da banda estará preservado.
Solange Srour, economista-chefe do BNY Mellon ARX Investimentos, está com a maioria e vê o Copom elevando a Selic em maio. Mas ela reconhece que cresceu a chance de o juro subir já. "A possibilidade não é desprezível. Seria uma chance única para que o BC tome as rédeas da política monetária que não parecem estar tão restritas ao comando do BC. Iniciar o aperto monetário em abril seria uma forma de retomar o controle. É inquestionável também que o IPCA, embora menor de fevereiro para março, continua nada confortável. As indicações para o indicador em abril já mostram pressão. Além disso, é necessário reconhecer que a inflação do primeiro trimestre, apesar das benesses do governo, foi muito alta. O pior resultado desde 2003. Sinal que não dá para adiar demais o início desse novo ciclo monetário".
A economista do BNY Mellon no Brasil diz ainda que o governo não deve esgotar o estoque de desonerações neste ano. "É importante e inteligente ter uma reserva para 2014, mas retomar já o discurso de que a inflação é um bem maior, de todos. E a elevação da Selic em abril pode conduzir o debate por esse caminho que a oposição começou a trilhar", diz a economista que não vê a inflação convergindo a 4,5% nos próximos dois ou três anos.
Também para o sócio da Troster & Associados, Roberto Troster, ex-economista chefe da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), o BC deve aproveitar a oportunidade e antecipar o ciclo de aumento de juros. "O ajuste já deveria ter começado há algumas reuniões. Mas já que não o fez, seria melhor o BC começar de maneira mais forte, para passar um sinal de que consegue reduzir a alta total e encurtar o ciclo de aperto."
Troster aponta que o BC poderia recorrer ainda a uma estratégia complementar, aumentando a meta de inflação no curto prazo, para 6% em 2013, e reduzindo a de longo prazo, para menos de 4,5%, a partir de 2017. "O momento pede reposicionamento na gestão monetária do país".
Já Monica Baumgarten de Bolle, sócia diretora da Galanto Consultoria e diretora da Casa das Garças, está entre os que veem uma autoridade monetária postergando para maio o início da alta de juros. A economista estima que o Copom vai esperar para ver o que acontece com a inflação a partir dos efeitos das desonerações.
Darwin Dib, economista-chefe da CM Capital Markets, acredita que o BC vai contrariar a cartilha que manda elevar juros para conter a inflação. Ele não vê ajuste de Selic nem neste ano nem no próximo, a despeito de projetar um índice de inflação próximo a 6% no acumulado em 12 meses em qualquer período.
Embora trabalhe com a perspectiva de elevação da Selic a partir de maio, Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, também vê o BC particularmente atento à inflação corrente, mês a mês, para tomar decisões de política monetária, "torcendo para que os inúmeros pacotes do governo diminuam alguns percentuais da inflação deste ano".
Também para o diretor da Nomura Securities, Tony Volpon, o BC deve começar a elevar a taxa em maio, seguindo o protocolo que a própria autarquia iniciou em março. "Para um Banco Central que quer ganhar credibilidade, é importante seguir o protocolo. Interromper o ritual sem que tenha havido uma mudança material pode ser bem negativo".
Volpon afirma que não surgiu nada, desde a última reunião do Copom, que abale a expectativa de alta de juros, nem que sirva de argumento para o BC a antecipar o aumento semana que vem. Para ele, a única mudança observada até aqui é o comportamento dos juros futuros, que passaram a indicar probabilidade de alta da Selic na semana que vem. "Mas o Banco Central não pode se curvar, nem ao mercado, nem ao governo", afirma.
O diretor da Nomura faz referência ao mercado futuro de juros - composto pelas aplicações de investidores locais e estrangeiros, pessoas físicas, tesourarias de bancos e empresas, além de operações de hedge (proteção) - onde as apostas em aumento da Selic ganharam força.
Ontem, por exemplo, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em maio de 2013, avançou a 7,146% de 7,125% na véspera. Segundo cálculos de operadores, a curva de juros projetada na BM&F pelas taxas dos DIs aponta alta de 0,25 ponto percentual da Selic na semana que vem, e mais 0,38 ponto na reunião de maio.
Os profissionais ouvidos pelo Valor apontam os fatores que podem ser determinantes na redução dessa dispersão de cenários para os juros. Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, e Luciano Rostagno, estrategista-chefe do WestLB, consideram o resultado do PIB no primeiro trimestre uma variável-chave para a definição da política monetária pelo BC.
Já o economista da Ibiúna Investimentos, Marcelo Ferman, avalia que o Copom deve prestar especial atenção às medidas de persistência inflacionária, como núcleos e indicadores de difusão do IPCA. Além disso, o BC tenderá a aumentar o peso das expectativas de inflação em suas deliberações. "Além da inflação cheia, o BC provavelmente também olhará para a inflação de preços livres, que é o componente do IPCA que responde mais diretamente à política monetária", aponta Ferman.

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