segunda-feira, 15 de abril de 2013

Inflação não desanima investidor estrangeiro

Inflação não desanima investidor estrangeiro

Âncora externa
Autor(es): PAULO SILVA PINTO
Correio Braziliense - 15/04/2013
 

Investidores estrangeiros mantêm o interesse no Brasil, apesar da subida do custo de vida e do crescimento fraco

Em tempos de inflação em alta e de frustração com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), os investimentos estrangeiros diretos, aqueles que são destinados à produção, são um alívio nos indicadores do país. Depois de anos seguidos de recorde, os números ainda se mantêm fortes. Em fevereiro, dado mais recente, o fluxo de recursos vindos de fora foi de US$ 2,65 bilhões, contra US$ 2,13 bilhões no mesmo mês em 2012, apesar do quadro de baixa expansão da atividade econômica. “As empresas estrangeiras estão batendo às nossas portas”, atesta o diretor de fusões e aquisições da Ernst Young Terco, Viktor Andrade. “O potencial de crescimento e amadurecimento da nossa economia é grande”, aposta o gerente de fusões e aquisições da Pricewaterhouse Coopers (PwC), Alexandre Pierantoni.

Só na semana passada, houve dois negócios de peso. Na sexta-feira, a Israel Aerospace Industries anunciou a compra de 40% da IACIT, companhia sediada em São José dos Campos (SP), que fornece serviços e equipamentos nas áreas de controle de tráfego aéreo e marítimo, meteorologia e tecnologia da informação. Dois dias antes, na quarta, foi fechada uma aquisição que vinha sendo discutida há meses — essa na área de agribusiness, em que a competitividade brasileira é notória. A multinacional holandesa DSM comprou a Tortuga, que produz nutrientes para bovinos. Fundada em 1954 por um imigrante italiano, a empresa tem sede em São Paulo e unidades em vários estados. O valor da transação foi divulgado, o que é raro: 440 milhões de euros (R$ 1,12 bilhão).

Na semana anterior, houve também duas transações significativas, igualmente nas áreas de tecnologia e de nutrição animal. Na terça, 3 de abril, a Intel, maior fabricante mundial de chips, comprou a Profusion, produtora de softwares de Campinas (SP). No mesmo dia, a norte-americana H.J. Baker ficou com a Fanton, de Bauru (SP), outra produtora de suplemento alimentar para gado.

A H.J. Baker não está chegando agora. No ano passado, havia adquirido outra fábrica de insumos para criadores, a Rumiphos, de Paranaíba (MS). O faturamento combinado das duas empresas é de R$ 20 milhões anuais, mas a perspectiva é crescer 50% em dois anos. E tem muito mais gente querendo entrar. A italiana Barilla, fabricante de massas, contratou o banco Goldman Sachs para procurar empresas brasileiras que possa comprar ou com as quais possa se associar. A Barilla é presidida desde o ano passado por Claudio Cozzani, que morou no país no período em que foi executivo da Unilever.

Nos três primeiros meses do ano, houve 22 negócios no Brasil envolvendo estrangeiros, de acordo com levantamento do blog Fusões e Aquisições. Desse total, 15 foram com investidores estratégicos — quando uma empresa estrangeira vem para cá — e 7 financeiros, em geral fundos de private equity, que pretendem lucrar, com a venda da fatia que compraram, daqui a alguns anos. “Eles são importantes porque, além do capital que trazem, cobram resultados e aumentam a eficiência das empresas”, diz Pierantoni, da PwC. Segundo ele, vários desses fundos que ainda não estão no Brasil vêm prospectando negócios no país.

Distorções
Desde a crise de 2008, as nações emergentes têm sido o destino preferencial de investimentos externos. E o Brasil se destaca. Foi o país que mais cresceu nesse quesito, no período. Em 2010, aumentou 56% em relação ao ano anterior o montante de líquido (descontando o que saiu) de recursos destinados a aumentar a produção aqui. Em 2011, houve nova subida expressiva, de 24%. Em volume financeiro, o país só perde para a China.

No ano passado, porém, o crescimento já começou a perder fôlego. Entraram no país
US$ 65,2 bilhões líquidos (descontado o que saiu), menos do que os US$ 66,7 bilhões de 2011. Em reais o volume foi superior, por conta da volatilidade na cotação das moedas. “De qualquer forma, o que importa é que estamos em um patamar elevado, por conta dos aumentos muito grandes nos anos anteriores”, nota Andrade, da Ernst & Young Terco.

A consultoria Tendências projeta para este ano um pequeno aumento, que elevará o total para US$ 67 bilhões. “A situação ainda é razoavelmente boa, apesar da piora na condução da política econômica”, aponta o economista da consultoria Bruno Lavieri. Ele critica a falta de previsibilidade quanto aos preços. “O governo não usa mais a política monetária. Tenta segurar a inflação por meio de incentivos que causam distorções na economia”, afirma.

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