quarta-feira, 6 de março de 2013

A MORTE DE CHÁVEZ / ENCRUZILHADA VENEZUELANA

A MORTE DE CHÁVEZ / ENCRUZILHADA VENEZUELANA

CÂNCER DERROTA HUGO CHÁVEZ
O Globo - 06/03/2013
 

transição Morte do presidente 3 meses depois da última cirurgia encerra ciclo de 14 anos no poder e joga o país num cenário de incerteza. Em desrespeito à Carta, Maduro assume para convocar eleições
Janaína Figueiredo
BUENOS AIRES Poucas horas depois de anunciar que Hugo Chávez estava atravessando o momento mais difícil de sua luta contra o câncer, o vice-presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, confirmou, com a voz embargada de emoção, a morte do presidente, aos 58 anos. Vítima de um câncer na região da pélvis, Chávez já não era visto em público há 85 dias. Reeleito em outubro para um quarto mandato de seis anos, ele sequer chegou a tomar posse no evento marcado para o dia 10 de janeiro. O presidente havia regressado ao país há duas semanas, estava sendo submetido a rigorosas sessões de quimioterapia e não conseguia mais falar, segundo o governo. A morte de Chávez encerra um ciclo de 14 anos no poder, marcados por um forte culto à personalidade do presidente e joga o país num cenário de incerteza, com dúvidas sobre a continuidade do chavismo e sobre a capacidade de união da oposição.
A Constituição bolivariana, uma das primeiras grandes iniciativas de Chávez, estabelece que, com a morte do chefe de Estado, o poder deve ser transferido para o presidente da Assembleia Nacional, o chavista e também militar reformado Diosdado Cabello, que seria o encarregado de convocar eleições num prazo de 30 dias. Mas num sinal de desrespeito à Carta, o chanceler Elías Jaua informou que o vice assumirá para convocar novas eleições. Ontem, a data dos futuros comícios não foi confirmada pelas autoridades do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e o provável adversário do chavismo nas urnas como candidato da oposição, o governador de Miranda, Henrique Capriles, enviou sua solidariedade à família Chávez pelo Twitter e, em comunicado, cobrou o cumprimento da Constituição.
- Com esta dor imensa por uma tragédia histórica que assola nossa Pátria, convocamos todos os compatriotas a ser vigilantes da paz, do amor e do respeito - declarou Maduro, rodeado por todo o Gabinete chavista.
Jaua informou que o corpo do presidente será levado hoje para a Academia Militar da Venezuela, em Fuerte Tina, em cuja capela será velado até sexta-feira. Neste dia, às 10h (horário local), haverá o funeral com a presença de chefes de Estado.
teorias da conspiração
A partir de agora, o vice Nicolás Maduro deve assumir o papel de candidato do Palácio Miraflores nas próximas eleições. Desde que Chávez partiu para sua última cirurgia em Cuba, em dezembro, e anunciou seu desejo de que Maduro fosse o candidato oficial em eventuais eleições, o vice ampliou seus espaços de poder. Ontem, após chefiar reunião da Direção Política e Militar da Revolução Bolivariana, ele endureceu o discurso e acusou os EUA e a direita venezuelana de estarem por trás de uma conspiração para criar um clima de caos que justifique uma intervenção militar estrangeira, nos mesmos moldes da Líbia. Maduro denunciou supostos contatos entre um adido militar americano em Caracas, identificado como David del Mónaco, e militares venezuelanos, e ordenou sua expulsão do país. No mesmo pronunciamento, o vice, que referiu-se ao presidente como "o Libertador do século XXI", assegurou que os "inimigos da revolução" seriam os responsáveis pela "inoculação" do câncer em Chávez e antecipou que uma comissão de cientistas estudará o caso em detalhe.
- Temos pistas - declarou Maduro, comparando o caso ao do líder palestino Yasser Arafat.
As especulações do vice provocaram debate nas redes sociais e temor entre jornalistas e políticos. Para Vladimir Villegas, ex-chavista e irmão do ministro das Comunicações, Ernesto Villegas, "o tom ameaçador de Maduro antecipa etapa de tensão".
- A sensação é de que esta campanha será feroz - comentou Villegas.
Já a deputada opositora Maria Corina Machado afirmou que a oposição deve preparar-se para exigir eleições "limpas e transparentes".
- O governo se engana se acha que vai nos intimidar com seus ataques - afirmou Maria Corina, que defendeu a candidatura de Capriles, consenso praticamente selado entre os opositores.
Com ânimos acirrados, cinco meses após a última vitória de Chávez nas urnas, o país será cenário de nova queda de braço eleitoral que definirá o futuro da revolução chavista.

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