domingo, 3 de março de 2013

PAÍS CRESCE APENAS 0,9%, O MENOR PIB DESDE 2009

PAÍS CRESCE APENAS 0,9%, O MENOR PIB DESDE 2009

PIB CRESCE 0,9% E PÕE 2013 EM RISCO
Autor(es): PAULO SILVA PINTO ENVIADO ESPECIAL
Correio Braziliense - 02/03/2013
 

Dados divulgados ontem pelo IBGE mostram que a economia brasileira pisou no freio e cresceu menos de 1% em 2012. É o pior desempenho do Produto Interno Bruto (PIB, total das riquezas produzidas no país) desde o auge da crise internacional em 2009. Diante do cenário de incertezas,no ano passado, os investimentos encolheram 4% na comparação com 2011.O tombo foi o maior em quatro anos. Entre os países que formam o bloco Brics, o Brasil foi o que menos avançou. A China registrou expansão de 7,8%; a Índia, de 5%; a Rússia, de 3,4% e a África do Sul, de 2,5%.

Avanço do Produto Interno Bruto no ano passado revela as dificuldades do país para retomar as forças. O Brasil tem o pior desempenho entre os Brics, fica atrás das nações vizinhas e perde o posto de sexta economia do mundo para a Grã-Bretanha

Rio de Janeiro — A presidente Dilma Rousseff mandou um curto, mas enfático recado, a sua equipe: “Não desanimem”. O objetivo foi manter a cabeça erguida do governo, nocauteado ontem com a divulgação de que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu minguado 0,9% em 2012, o menor resultado desde 2009. Apesar de esperado, o número informado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) expôs as fissuras da política econômica, que assustou os investidores, deixou os empresários com o pé atrás e instalou um clima de desconfiança que custa a dissipar, mesmo com todos os estímulos ao setor produtivo alardeados pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. A ordem, agora, do Palácio do Planalto é olhar para frente, unificar o discurso e não dar mais munição à oposição, que já se arma para as eleições de 2014.

Pelas contas do IBGE, nos dois primeiros anos do mandato de Dilma, a média de crescimento anual ficou em 1,8%, considerando a expansão de 2,7% em 2011. Trata-se do pior resultado no primeiro biênio de um mandato desde o governo de Fernando Collor de Mello, quando o Brasil enfrentou recessão (-1,7%). Na avaliação de Guido Mantega, não se pode fazer tal comparação, uma vez que, duas décadas atrás, o que jogava o PIB para baixo era um crise interna, agigantada pela hiperinflação. Agora, o país está sendo solapado por sérios problemas internacionais. Esse argumento, no entanto, não se sustenta, pois, outras economias, muitas delas vizinhas do Brasil, estão com crescimento de até 5%. E, melhor, com inflação baixa — aqui, o custo de vida se mantém acima de 6% no acumulado de 12 meses.

A grande esperança do Planalto era de que o quarto trimestre de 2012 marcasse uma virada da economia, consolidando a retomada. Não foi, porém, o que aconteceu. Entre outubro e dezembro, o PIB aumentou 0,6% ante o trimestre anterior, abaixo da média das expectativas do mercado, de 0,8%. Por isso, vários analistas já estão revisando as estimativas de expansão em 2013. A Tendências Consultoria fala, agora, em 3% ante os 3,2% projetados até ontem. Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco WestLB, assegurou que deve rever a sua previsão para menos de 3%. “Os dados não são animadores, é preciso ser otimista de forma cautelosa”, frisou. Não à toa, o ex-presidente Lula, que estava no interior do Ceará, recusou-se a comentar o PIB.

Competitividade
O desempenho do Brasil em 2012 ficou abaixo da média mundial, de 3,2%, e foi o pior dentre o Brics, grupo de nações emergentes que inclui a Rússia (3,4%), a Índia (5%), a China (7,8%) e a África do Sul (2,5%). Na América Latina, vários países ficaram acima da média mundial: México (3,9%), Colômbia (4%) e Chile (5,5%). E mais: o Brasil perdeu o posto de sexta economia do mundo para a Grã-Bretanha. “O Brasil tem uma economia mais diversificada do que seus vizinhos da região”, disse o coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Olinto. No caso do México, a explicação para a diferença é outra. “O PIB maior foi influenciado pelos 2,2% de crescimento dos Estados Unidos. O México tem muitas maquiladoras (fábricas que montam componentes importados agregando pouco valor), que exportam para o mercado norte-americano”, argumentou.

Professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes viu outras razões para o desempenho pífio da economia brasileira. “Temos menor competitividade do que muitos países, sobretudo pela precariedade da infraestrutura e do elevado custo da mão de obra”, frisou. Para produzir o mesmo que um trabalhador dos EUA, é preciso cinco brasileiros. Os altos salários pagos no país, por sinal, ajudam a explicar o porquê, mesmo com o PIB patinando, o desemprego se mantém baixo. As empresas não demitem, porque temem ser obrigadas a contratar mais caro no futuro. De qualquer forma, o próprio governo admite que o mercado de trabalho vai sentir o baque neste ano, com menor criação de vagas formais.

“O gosto para o início de 2013 está meio amargo. Para chegar ao PIB de 4% que o governo quer, o investimento tem que ser retomado com força, o que não estamos vendo, e o consumo tem que crescer ainda mais, movimento difícil se levado em conta o elevado nível de endividamento das famílias”, afirmou Thadeu. Ele destacou que os números ruins de 2012 contaminaram a confiança dos agentes econômicos. A agricultura caiu 2,3% no ano. Já a indústria encolheu 0,8%, a despeito do corte do Imposto sobre Produtos (IPI) para vários setores e de a taxa de juros ter caído para o menor nível da história, 7,25% ao ano. Por conta do fraco desses segmentos, o IBGE revisou, para baixo, os resultados do terceiro trimestre, de 0,6% para 0,4%, e do segundo, de 0,3% para 0,2%.

Ladeira abaixo

Nada, porém, pesou tanto para empurrar a economia brasileira ladeira abaixo como os investimentos produtivos, que tombaram 4% em 2012, apesar do incremento de 0,5% entre outubro e dezembro. São os desembolsos feitos pelos empresários para a ampliação de fábricas que dão a dinâmica ao PIB. O problema é que muitos deles estão preocupados com a política intervencionista adotada pela presidente Dilma. “O 0,5% de avanço no quarto trimestre foi o primeiro sinal da recuperação dos investimentos”, ressaltou Roberto Padovani, da Votorantim Corretora. “A dúvida é se isso vai se manter”, afirmou Zeina Latif, economista da Gibraltar Consulting.

Roberto Olinto, do IBGE, também ressalvou que é preciso observar mais um trimestre para garantir que há aumento de fato “e não apenas uma oscilação” no investimento Vários economistas veem a inflação em alta e a ameaça de elevação dos juros como limitadores para um salto nos desembolsos das empresas. “A inflação atrapalha, pois a indústria tem aumento de custos e não consegue repassá-los para seus preços”, afirmou Zeina.

Do lado positivo do PIB, o crescimento foi calcado pelo consumo do governo e das famílias, com avanço de 3,1% e 3,2% no ano, respectivamente. Carlos Thadeu, da CNC, explicou que, no caso dos lares, o incremento se deveu à constante elevação da massa salarial no país, puxada pelo salário mínimo. O consumo das famílias teve o 37º trimestre de aumento entre outubro e dezembro na comparação com o mesmo período do ano anterior. Os economistas acreditam, porém, que a demanda dos trabalhadores deve esfriar se os juros realmente subirem.

No entender de Jankiel Santos, economista-chefe do Espírito Santo Investiment Bank, o Brasil vai crescer mais neste ano, até porque a base de comparação será baixa. Mas ele assinalou que se esgotaram as políticas de incentivo ao consumo.

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