Um jesuíta em pele de Francisco

O
papa Francisco, durante audiência com a imprensa neste sábado 16. Ele
disse querer uma “igreja pobre para os pobres”. Foto: Vincenzo Pinto /
AFP
Eis a origem da nomenclatura. O jesuíta, portanto, acenava para uma outra face da própria Igreja ao reverenciar o santo que, como lembrou o jornalista Mino Carta em seu mais recente editorial, “foi reformador herói, sem contar o poeta que escreveu O Cântico das Criaturas, ou Cântico ao Irmão Sol, obra-prima da língua italiana, e, portanto, o santo mais próximo de Cristo, cujo exemplo transformou na Regra da sua vida e da sua pregação em defesa da natureza e dos desvalidos”.
“A lição de Francisco é, na essência, um desafio à Igreja e ao papa Inocêncio III, estadista cercado pelo luxo, grudado à crosta terrestre e às suas ambições e vaidades, e em cuja época o poder temporal do Vaticano atingiu o apogeu, quando o sucessor de Pedro interferia na política do Sacro Romano Império. Francisco surge como prova dos descaminhos papais, é o manso contestador que põe o dedo na chaga em nome da ideia indiscutivelmente cristã da revelação e do amor”, escreveu Carta.
O exemplo de Francisco de Assis, portanto, parece uma contradição à escola pela qual Bergoglio se formou, está de voto incondicional ao papa e historicamente ligado aos interesses do Estado colonizador. Uma ordem que tinha como pretensão, a partir do século XVI, “civilizar os índios” – para muitos, uma forma de genocídio cultural. Vale lembrar, no entanto, que a ordem dos jesuítas tem como compromisso, a partir do Concílio Vaticano II, os votos em defesa da justiça social e a “opção preferencial pelos pobres”.
É este compromisso que o novo papa tentou reforçar em sua primeira manifestação à imprensa. O que ainda não se sabe é qual lado pesará em seu papado: o exemplo contestador do santo que lhe empresta o nome ou a proximidade com a ordem e os colonizadores que a história dos jesuítas inspira.bsp;
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