quarta-feira, 20 de março de 2013

A tragédia que se repete na Serra

A tragédia que se repete na Serra

O terror de volta à Serra
O Globo - 19/03/2013
 

Chuva assola Petrópolis mais uma vez, e deslizamentos causam a morte de 16 pessoas
Rolland Gianotti, Fabíola Gerbase, Sérgio Ramalho e Taís Mendes
Dois anos depois da tragédia que causou mais de 900 mortes na Região Serrana, Petrópolis amarga o luto por 16 mortos nos deslizamentos de terra ocorridos durante o temporal que, mais uma vez, mergulhou a cidade no caos na noite de anteontem e na madrugada de ontem. Os números revelam uma dor que não é nova: além dos casos fatais, o município registrava no início da noite 20 feridos, 560 pessoas desabrigadas e pelo menos três desaparecidos sob escombros. E o medo ainda ronda Petrópolis, que tem hoje, segundo sua prefeitura, 18 mil pessoas vivendo em 4.500 casas erguidas em 132 áreas de risco. Para essas pessoas, fortes chuvas são sinônimo de terror. Vários pontos ficaram alagados, enquanto os deslizamentos se concentraram nos bairros Quitandinha, Alto Independência e Doutor Thouzet.
Em meio ao cenário de destruição, na Boca do Mato, moradores se uniram na tarde de ontem para ajudar vizinhos a salvar móveis e eletrodomésticos. Agnaldo Soares, de 41 anos, passara a noite em claro, depois de ter sido obrigado a deixar sua casa de dois andares.
- Chovia muito, por volta das 23h de domingo, quando decidi pegar minha mulher e minha filha, de 5 anos, e abandonar nossa casa. Minutos depois, o imóvel foi parcialmente derrubado. Perdi tudo, mas salvei minha família - relembra Agnaldo.
Estado vai liberar R$ 3 milhões
Ele ajudou o vizinho Carlos Alberto Carvalho a carregar os objetos de sua casa, que também corria o risco de desabar. O imóvel de alvenaria ficou à beira de um barranco que parecia prestes a cair. Equipes de resgate do Corpo de Bombeiros trabalharam na localidade ontem. Devido ao alto risco de novos deslizamentos, famílias da área foram orientadas a deixar a área. Maria Rosário de Lima, de 49 anos, contou que iria com os cinco filhos e dois netos para a casa de sua irmã, que vive no Alto Independência, embora lá também haja pontos de deslizamentos. O imóvel de Maria, de três cômodos, fica numa área de risco. Ela passou a noite em claro, temendo que o barranco acima de sua casa caísse.
O governador Sérgio Cabral subiu ontem a serra de Petrópolis para anunciar o repasse à cidade de R$ 3 milhões do Programa Somando Forças, que destina verbas para obras de infraestrutura nos municípios. Já o prefeito Rubens Bomtempo liberou R$ 200 mil para a compra emergencial de colchões, cobertores, alimentos, água potável e produtos de higiene pessoal para os desabrigados, por meio do Fundo de Assistência Social. Há 18 abrigos disponíveis na cidade. Para Cabral, a culpa pela nova tragédia é da "ausência de uma política habitacional de três décadas", que só teria sido interrompida há quatro anos com o programa Minha Casa, Minha Vida. Ele frisou que não se pode culpar as famílias que vivem em áreas de risco e que em 24 horas choveu em Petrópolis muito mais do que esperado para todo o mês de março. Representantes da Força Nacional de Defesa Civil desembarcaram no Rio ontem à tarde para acompanhar a situação.
O número de ocorrências registradas pela Defesa Civil de Petrópolis até o início da noite de ontem chegava a 368. Segundo a prefeitura, 91 pessoas, entre voluntários e funcionários da Defesa Civil, trabalham no atendimento das ocorrências. Além disso, cerca de 250 bombeiros do estado estão na cidade. No desespero de achar sobreviventes, muitos moradores se juntaram às buscas. E o prefeito determinou a contratação de mais 500 pessoas para uma frente emergencial de trabalho.
Queda de árvores e falta d"água
Devido à forte chuva que pouco deu trégua ontem, as buscas por sobreviventes no bairro Alto Independência foram suspensas pela manhã. No início da tarde, orientados por um único bombeiro, moradores retomaram as buscas, mas logo encerraram o trabalho porque voltou a chover forte.
De acordo com a Defesa Civil, os rios Piabanha e Quitandinha continuam em alerta máximo, sob risco de transbordamento em alguns pontos do Centro. Vários bairros da cidade sofreram ainda com a queda de árvores e a interrupção do abastecimento de água.
- Os rios voltaram à sua calha na manhã desta segunda (ontem). O problema é que nós temos previsão de chuvas continuadas para toda a segunda. O prefeito fez um apelo para que as pessoas permaneçam em suas casas, decretou feriado escolar, e a preocupação passa a ser o acumulado de chuvas, a possibilidade de novos deslizamentos - disse o secretário estadual de Defesa Civil, Sérgio Simões, em entrevista ao "Bom dia, Rio", da TV Globo.
A prefeitura de Petrópolis garantiu que todas as sirenes instaladas nos bairros mais atingidos funcionaram adequadamente. Ao todo, nove aparelhos soaram alertando os moradores para a necessidade de se dirigirem aos pontos de apoio. A moradora do bairro Quitandinha Ana Lúcia Bueno, no entanto, disse que a sirene ali não foi acionada. Ela tentou socorrer vizinhos que moravam numa encosta que deslizou:
- Só em uma das casas havia sete crianças e adolescentes. Tentei correr para ajudar quando ouvi os gritos, mas fui impedida pelo meu filho. Se tivesse ido, talvez eu agora estivesse morta, como um vizinho que foi ajudar e não voltou. Muita gente gritava por socorro.

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