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quarta-feira, 20 de março de 2013

A tragédia que se repete na Serra

A tragédia que se repete na Serra

O terror de volta à Serra
O Globo - 19/03/2013
 

Chuva assola Petrópolis mais uma vez, e deslizamentos causam a morte de 16 pessoas
Rolland Gianotti, Fabíola Gerbase, Sérgio Ramalho e Taís Mendes
Dois anos depois da tragédia que causou mais de 900 mortes na Região Serrana, Petrópolis amarga o luto por 16 mortos nos deslizamentos de terra ocorridos durante o temporal que, mais uma vez, mergulhou a cidade no caos na noite de anteontem e na madrugada de ontem. Os números revelam uma dor que não é nova: além dos casos fatais, o município registrava no início da noite 20 feridos, 560 pessoas desabrigadas e pelo menos três desaparecidos sob escombros. E o medo ainda ronda Petrópolis, que tem hoje, segundo sua prefeitura, 18 mil pessoas vivendo em 4.500 casas erguidas em 132 áreas de risco. Para essas pessoas, fortes chuvas são sinônimo de terror. Vários pontos ficaram alagados, enquanto os deslizamentos se concentraram nos bairros Quitandinha, Alto Independência e Doutor Thouzet.
Em meio ao cenário de destruição, na Boca do Mato, moradores se uniram na tarde de ontem para ajudar vizinhos a salvar móveis e eletrodomésticos. Agnaldo Soares, de 41 anos, passara a noite em claro, depois de ter sido obrigado a deixar sua casa de dois andares.
- Chovia muito, por volta das 23h de domingo, quando decidi pegar minha mulher e minha filha, de 5 anos, e abandonar nossa casa. Minutos depois, o imóvel foi parcialmente derrubado. Perdi tudo, mas salvei minha família - relembra Agnaldo.
Estado vai liberar R$ 3 milhões
Ele ajudou o vizinho Carlos Alberto Carvalho a carregar os objetos de sua casa, que também corria o risco de desabar. O imóvel de alvenaria ficou à beira de um barranco que parecia prestes a cair. Equipes de resgate do Corpo de Bombeiros trabalharam na localidade ontem. Devido ao alto risco de novos deslizamentos, famílias da área foram orientadas a deixar a área. Maria Rosário de Lima, de 49 anos, contou que iria com os cinco filhos e dois netos para a casa de sua irmã, que vive no Alto Independência, embora lá também haja pontos de deslizamentos. O imóvel de Maria, de três cômodos, fica numa área de risco. Ela passou a noite em claro, temendo que o barranco acima de sua casa caísse.
O governador Sérgio Cabral subiu ontem a serra de Petrópolis para anunciar o repasse à cidade de R$ 3 milhões do Programa Somando Forças, que destina verbas para obras de infraestrutura nos municípios. Já o prefeito Rubens Bomtempo liberou R$ 200 mil para a compra emergencial de colchões, cobertores, alimentos, água potável e produtos de higiene pessoal para os desabrigados, por meio do Fundo de Assistência Social. Há 18 abrigos disponíveis na cidade. Para Cabral, a culpa pela nova tragédia é da "ausência de uma política habitacional de três décadas", que só teria sido interrompida há quatro anos com o programa Minha Casa, Minha Vida. Ele frisou que não se pode culpar as famílias que vivem em áreas de risco e que em 24 horas choveu em Petrópolis muito mais do que esperado para todo o mês de março. Representantes da Força Nacional de Defesa Civil desembarcaram no Rio ontem à tarde para acompanhar a situação.
O número de ocorrências registradas pela Defesa Civil de Petrópolis até o início da noite de ontem chegava a 368. Segundo a prefeitura, 91 pessoas, entre voluntários e funcionários da Defesa Civil, trabalham no atendimento das ocorrências. Além disso, cerca de 250 bombeiros do estado estão na cidade. No desespero de achar sobreviventes, muitos moradores se juntaram às buscas. E o prefeito determinou a contratação de mais 500 pessoas para uma frente emergencial de trabalho.
Queda de árvores e falta d"água
Devido à forte chuva que pouco deu trégua ontem, as buscas por sobreviventes no bairro Alto Independência foram suspensas pela manhã. No início da tarde, orientados por um único bombeiro, moradores retomaram as buscas, mas logo encerraram o trabalho porque voltou a chover forte.
De acordo com a Defesa Civil, os rios Piabanha e Quitandinha continuam em alerta máximo, sob risco de transbordamento em alguns pontos do Centro. Vários bairros da cidade sofreram ainda com a queda de árvores e a interrupção do abastecimento de água.
- Os rios voltaram à sua calha na manhã desta segunda (ontem). O problema é que nós temos previsão de chuvas continuadas para toda a segunda. O prefeito fez um apelo para que as pessoas permaneçam em suas casas, decretou feriado escolar, e a preocupação passa a ser o acumulado de chuvas, a possibilidade de novos deslizamentos - disse o secretário estadual de Defesa Civil, Sérgio Simões, em entrevista ao "Bom dia, Rio", da TV Globo.
A prefeitura de Petrópolis garantiu que todas as sirenes instaladas nos bairros mais atingidos funcionaram adequadamente. Ao todo, nove aparelhos soaram alertando os moradores para a necessidade de se dirigirem aos pontos de apoio. A moradora do bairro Quitandinha Ana Lúcia Bueno, no entanto, disse que a sirene ali não foi acionada. Ela tentou socorrer vizinhos que moravam numa encosta que deslizou:
- Só em uma das casas havia sete crianças e adolescentes. Tentei correr para ajudar quando ouvi os gritos, mas fui impedida pelo meu filho. Se tivesse ido, talvez eu agora estivesse morta, como um vizinho que foi ajudar e não voltou. Muita gente gritava por socorro.

CHUVA MATA 16 EM PETRÓPOLIS E DILMA FALA EM 'AÇÃO DRÁSTICA'

CHUVA MATA 16 EM PETRÓPOLIS E DILMA FALA EM 'AÇÃO DRÁSTICA'

CHUVA MATA 16 NO RIO E DILMA DEFENDE ‘MEDIDAS DRÁSTICAS’ EM ÁREAS DE RISCO
O Estado de S. Paulo - 19/03/2013
 

Presidente culpou "pessoas que não querem sair" das áreas de risco; temporal também castigou litoral de SP
Ao menos 16 pessoas morreram, incluindo dois técnicos da Defesa Civil, e 560 ficaram desalojadas após temporal em Petrópolis, na região serrana do Rio. Entre a noite de domingo e a manhã de ontem, choveu na cidade 358 milímetros, mais do que o previsto para todo o mês. Os Rios Quitandinha e Piabanha transbordaram, destruindo casas e provocando alagamentos. Encostas desabaram. Em janeiro de 2011, na pior tragédia de causa natural do País, 71 pessoas morreram no município. Em Roma para a entronização do papa Francisco, a presidente Dilma Rousseff defendeu "ações drásticas" para a retirada de pessoas das áreas de risco. "Acho que devem ser tomadas medidas mais drásticas, para que as pessoas não fiquem onde não podem ficar", afirmou. A chuva castigou também o litoral paulista. A Rodovia Rio-Santos foi liberada depois de 26h fechada. Mil pessoas estão desalojadas em São Sebastião.


Um temporal na região serrana do Rio, que começou na noite de domingo, matou 16 pessoas em áreas de risco de Petrópolis, feriu 33 e deixou 560 desalojados. Em Roma, ao saber do caso, a presidente Dilma Rousseff negou que faltem investimentos governamentais em prevenção de tragédias, mas defendeu ações mais fortes na área. "Eu acho que vão ter de ser tomadas medidas um pouco mais drásticas para que as pessoas não fiquem nas regiões que não podem ficar. O problema é que muitas vezes as pessoas não querem sair."
Dilma também alegou que foi 1 a chuva em abundância que causou a tragédia. "É uma situação muito difícil, porque choveu 300 : milímetros. Quase o tanto que ; chove em um ano em certas regiões do Brasil, choveu em um dia em Petrópolis", insistiu.
Na localidade de Vila São João, no bairro Quitandinha, região central do município, uma encosta desabou e soterrou um número ainda desconhecido de pessoas. Pelo menos quatro moradores estavam desaparecidos até o início da noite de ontem. Segundo moradores, três casas foram destruídas. Somente duas : meninas, de 12 e 15 anos, foram resgatadas com vida. -i    Entre os mortos estão dois técnicos da Defesa Civil municipal que trabalhavam no resgate dos soterrados. "Tinham muita experiência. São insubstituíveis e morreram como heróis. Estavam ali salvando vidas", afirmou o prefeito Rubens Bomtempo (PSDB). A Defesa Civil atendeu a mais de 270 ocorrências desde o início das chuvas.
Com o volume das águas, os Rios Quitandinha e Piabanha, que cortam acidade, transbordaram, destruindo casas e provocando alagamentos em 21 pontos, principalmente nos bairros Quitandinha e Independência.
0 maior índice pluviométrico foi registrado em Quitandinha: 415 milímetros em 24 horas, o equivalente a dois meses de chuva, segundo a prefeitura.
Uma encosta deslizou e interditou a Rua Joaquim Rolla, bem ao lado do Palácio Quitandinha, um cartão-postal dá cidade. À tarde, era possível avistar uma casa de classe média alta, de dois andares, à beira do precipício. Já no bairro Amazonas, uma casa caiu e matou duas pessoas.
Sem socorro. Ao longo do dia, várias autoridades pediram que ; moradores de áreas de risco deixassem suas casas. Um dos si: nais sonoros, por exemplo, foi ! acionado na rua Espírito Santo, onde pessoas foram soterradas.
"Fazemos um apelo para que todas as pessoas deixem as áreas de risco", ressaltou o governador Sérgio Cabral. A remoção de pessoas, porém, vai na contramão do que defendem especialistas das Nações Unidas. Eles já alertaram o governo brasileiro em diversas ocasiões que forçar uma saída deve ser a última alternativa e é algo que precisa ser realizado com extrema cautela para não causar caos social.
Na parte de recursos públicos, o Estado anunciou a liberação de R$ 3 milhões - a prefeitura liberou outros R$ 200 mil. Já a presidente Dilma Rousseff designou a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, para acompanhar todo o trabalho e deslocou uma equipe da Força Nacional de Defesa Civil. Jamil Chade.

Sirenes soam, mas pedidos de socorro não são atendidos
A prefeitura de Petrópolis informou que nove sinais sonoros foram acionados na madrugada para que os moradores de quatro bairros deixassem as casas e dez escolas municipais foram abertas para a população.
Mas o secretário de Estado de Defesa Civil, coronel Sérgio Simões, disse, na manhã de ontem, que grande número de pedidos de socorro não pode ser atendido porque as equipes não conseguiam chegar áos locais afetados. Como o solo encharcado provocava risco de novos desabamentos, o coronel fez um apelo para que as pessoas procurassem locais seguros.
Houve ainda registros de enchentes e deslizamentos de terra, mas sem vítimas, em Teresópolis, Duque de Caxias e Nova Friburgo.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

ESTADO TEM 36 MIL PESSOAS EM ÁREAS DE ALTO RISCO

ESTADO TEM 36 MIL PESSOAS EM ÁREAS DE ALTO RISCO

A AMEAÇA COMO VIZINHA
Autor(es): Luiz Ernesto Magalhães
O Globo - 07/01/2013
 

O Estado do Rio tem áreas com alto risco de deslizamento de encostas em 67 dos seus 92 municípios e pelo menos 36 mil pessoas vivendo sob perigo iminente. É o que mostra um levantamento do Serviço Geológico do Estado, ligado à Secretaria estadual do Ambiente. Segundo o estudo, para que ocorram tragédias, não é preciso nem mesmo que as chuvas sejam mais intensas que a média histórica. Um dos problemas é que há um grande número de construções em encostas onde já ocorreram desmoronamentos. A situação é mais crítica em Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, Angra dos Reis e Niterói, cada uma com mais de 200 pontos de risco. Em Xerém, Duque de Caxias, onde uma enxurrada na quinta-feira deixou mais de mil pessoas desalojadas e desabrigadas, moradores sofrem com a poeira levantada pela lama seca e, com medo de doenças, estão saindo às ruas com máscaras
Estado tem áreas de risco em 67 dos 92 municípios e pelo menos 36 mil pessoas sob perigo
O risco de chuvas de verão provocarem tragédias no Rio existe mesmo sem que haja precipitações acima da média histórica em vários pontos do interior do estado e da Região Metropolitana. É o que mostra um levantamento do Serviço Geológico do Estado, autarquia ligada à Secretaria estadual do Ambiente, concluído há pouco mais de um mês. O estudo aponta riscos de deslizamentos em 67 dos 92 municípios do Rio. Nesses lugares, a combinação de temporais com dias de chuva de menor volume, porém constante, pode desestabilizar as encostas. Em apenas 49 deles, estão sob perigo iminente mais de 36 mil pessoas ou 11.849 imóveis. A situação é mais crítica em Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, Angra dos Reis e Niterói, cada cidade com mais de 200 pontos de risco.
Na Região Serrana, além de Angra e Niterói, o estudo indica que já há risco quando são registradas chuvas intensas (acima de 50 milímetros por hora) ou precipitações acima de 120 milímetros diários. A explicação para que essas chuvas mais fracas causem problemas, de acordo com o levantamento, é que há grande número de construções perto de encostas com histórico de deslizamentos.
Em todo o estado, porém, a quantidade de moradores em perigo pode ser ainda maior, já que os dados não levam em conta a capital (cujo gerenciamento de riscos é de responsabilidade da Geo-Rio) e cidades que, por tradicionalmente não terem problemas com encostas, como a maioria das localizadas na Região dos Lagos, não tiveram seus mapas elaborados. Além disso, em 18 municípios - incluindo Niterói e Nova Friburgo -, as áreas de risco foram identificadas, mas os dados sobre a população e as casas ameaçadas ainda não estão disponíveis.
Em Duque de Caxias, onde na quinta-feira passada uma enxurrada deixou cerca de mil desalojados e desabrigados no distrito de Xerém, os problemas foram causados mais pelas enchentes decorrentes de uma cabeça d"água do que por deslizamentos. Mas as encostas também preocupam: no município, foram mapeados 98 pontos de risco, onde vivem 2.680 pessoas. Também há perigo em Magé, Mangaratiba, Rio Claro, Barra Mansa, Piraí e Sumidouro. Outra cidade com um quadro preocupante é São Gonçalo: o levantamento mostrou que 1.752 pessoas moram próximo a encostas sujeitas a deslizamento.
Em alguns casos, o número de áreas sob risco nem é tão significativo. Mas o número de pessoas em perigo é grande devido à grande ocupação de pontos críticos. Em Cachoeiras de Macacu, por exemplo, foram identificados 74 áreas de risco, com 2.028 moradores. Somente no Condomínio das Pedrinhas, no bairro do Rasgo, são 120 pessoas sob perigo. Já Itaguaí tem apenas 17 pontos mapeados, mas nesses lugares há 1.158 habitantes. Desse total, 236 vivem numa única localidade, Itimirim.
Objetivo é orientar ações da Defesa Civil
Os estudos de risco começaram a ser feitos pelo Serviço Geológico do Estado em 2010 e vêm sendo atualizados ano a ano, com a inclusão de mais cidades. Segundo o órgão, em alguns casos, os moradores podem ter sido removidos após a conclusão dos levantamentos. Mas o quadro constatado é o que serve de orientação para o estado planejar as ações de Defesa Civil. Na avaliação do órgão, nas áreas identificadas, os agentes dos municípios não teriam tempo sequer para evacuar os moradores em caso de deslizamentos.
Para o presidente do Serviço Geológico do Estado, Flávio Erthal, a curto prazo, esse mapeamento ajudará as prefeituras a se planejarem para evitar que as chuvas de verão deixem vítimas. E, a longo prazo, contribuirá para a formulação de estratégias de reassentamento, embora em algumas regiões isso seja bastante difícil. É o caso de Nova Friburgo, uma das cidades mais atingidas pelos temporais do verão de 2011 e que tem boa parte de seu território tomada por encostas.
- Nós sobrevoamos todas essas áreas para mapear os pontos de risco iminente. A situação de fato é preocupante. Mas é um problema que não começou hoje, e sim há 60 anos, com a migração de boa parte da população do campo para as cidades, ocupando áreas sem o planejamento prévio adequado - explicou Erthtal.
Em entrevista ao "Globo Comunidade" exibido ontem pela TV Globo, o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, observou que, mesmo com os mapeamentos de risco estando disponíveis, os municípios nem sempre se preocupam em estudá-los antes de autorizar novas construções.
- O esforço agora é para corrigir as ocupações desordenadas - disse Minc.
O alerta do Serviço Geológico do Estado é reforçado por outro documento concluído pelo órgão, no dia 18 de dezembro, após análise de deslizamentos ocorridos em novembro de 2012, mesmo como o volume de chuvas não tendo ultrapassado a média dos anos anteriores. Em Nova Friburgo, por exemplo, houve um deslizamento no bairro Três Irmãos em 13 de novembro, quando as chuvas praticamente já tinham parado. Na ocasião, 13 casas foram destruídas (12 delas já estavam interditadas desde a tragédia de janeiro de 2011) e duas pessoas ficaram feridas. Segundo o estudo, o quadro é grave também em cidades pequenas e médias, como Trajano de Moraes e Santa Maria Madalena.

Aberta a temporada de tragédias de verão

Aberta a temporada de tragédias de verão

O Globo - 04/01/2013
 

A repetição dos fatos seria apenas monótona se não envolvesse vidas e perdas de patrimônio. Chega o verão, sobe a temperatura, desabam temporais e as cenas são as mesmas. Governantes instalam "gabinetes de emergência", declaram situação de calamidade - para o manejo desburocratizado de verbas -, Brasília mobiliza recursos financeiros e de pessoal. Contam-se os mortos, feridos e anunciam-se obras. Até a próxima tragédia.
Não que governadores, prefeitos e a presidência não devam agir. Devem, mas está provado que as mazelas acumuladas em regiões de risco no país, em que se destacam a área metropolitana ampliada do Rio, a Serra Fluminense e a Costa Verde do estado, chegaram a tal ponto que tudo aquilo feito, e da maneira como foi executado, nos últimos anos, é paliativo.
Angra dos Reis em 2010, Teresópolis, Friburgo e Petrópolis em 2011, e, agora, a Baixada Fluminense, com destaque para Xerém, distrito de Caxias, e reflexos na Serra e Angra. Onde e quando será a próxima calamidade?
Seja onde for, reunirá características comuns a todas as tragédias provocadas por "causas naturais", em qualquer ponto do país. A principal é a ocupação irregular dos espaços, em especial encostas e margens de rios. Aqui, unem-se a leniência com a demagogia para permitir a favelização, e até mesmo estimulá-la, em troca de votos. As tais comunidades preservadas por políticos mal intencionados costumam dar as maiores contribuições para as estatísticas das tragédias. Vide o Morro do Bumba, em Niterói, uma favela edificada sobre um lixão que se dissolveu num temporal.
Outra característica é a falta de planejamento e de obras de prevenção - problema que costuma ser turbinado pela corrupção. O exemplo mais recente, e dramático, é o da Serra, onde dois prefeitos chegaram a ser afastados (Jorge Mário, ex-PT, de Teresópolis; Demerval Moreira Neto, PTdoB, de Friburgo). Houve punição, mas, com exceções, tudo continua sob grande risco, depois da tromba d"água de 2011. Naquele ano, meses depois das costumeiras promessas de verbas e obras, a reportagem do GLOBO visitou os locais atingidos e constatou poucas mudanças. Há algumas semanas, refez o trajeto, e encontrou o mesmo cenário. Além do dolo, há, portanto, inércia administrativa - em algum momento a ser expressa em número de mortos, feridos e desabrigados.
No Rio, e em algumas cidades do interior, tem havido um esforço na prevenção. A capital melhorou o monitoramento meteorológico, uma das informações processadas no Centro de Operação, de onde podem ser acionados diversos serviços de atendimento à população. Sirenes foram instaladas em áreas de risco para alertar moradores da proximidade de chuvas, método também adotado em outras cidades fluminenses.
A medida é mesmo necessária. Mas ainda é muito pouco para evitar que o verão se firme como a estação das tragédias.

TEMPORAIS DE JANEIRO VOLTAM A CASTIGAR O RIO

TEMPORAIS DE JANEIRO VOLTAM A CASTIGAR O RIO

FALTAM AÇÕES, SOBRAM ESTRAGOS
O Globo - 04/01/2013
 
Dois anos depois da tragédia que matou mais de 900 pessoas na Região Serrana, a maior catástrofe natural já ocorrida no país, chuvas fortes voltaram a castigar o estado no mesmo mês de janeiro, provocando o transbordamento de pelo menos 9 rios de 3 regiões fluminenses, e deixando um morto, oito feridos e 1.845 desalojados ou desabrigados. Na opinião de especialistas, a falta de dragagem dos rios e de outras ações governamentais agravaram as consequências das já previsíveis chuvas de verão: durante todo o dia de ontem, o Sistema de Alerta de Cheias do Instituto do Ambiente (Inea) registrou risco de transbordamento em 14 rios da Baixada Fluminense. Outros 23 rios das regiões Sul Fluminense e Serrana estão em estágio de atenção. Professora do Instituto de Geociências da Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ), a geógrafa Ana Luiza Coelho Netto afirma que, mais uma vez, o estado sofre com uma tragédia anunciada.
- É preciso definir as áreas com maior suscetibilidade de ocorrer estes movimentos de massa e adotar as medidas preventivas adequadas. Que metodologia tem sido usada nas obras de engenharia? Fizemos estudos para Angra dos Reis, apontamos as áreas com necessidade de intervenções imediatas. O estudo está na gaveta. As cidades nos sopés de montanhas estão cada vez mais vulneráveis, à mercê da irresponsabilidade das autoridades - criticou.
Minc agora anuncia obras para a região
Ontem, depois das chuvas, o secretário do Ambiente, Carlos Minc, anunciou que a região mais atingida, o distrito de Xerém, em Duque de Caxias, receberá obras de R$ 150 milhões. Os recursos virão do governo federal. Um plano de ações para evitar novas enchentes será apresentado hoje ao Ministério da Integração.
A morosidade das intervenções para controle de enchentes e recuperação ambiental de rios de Petrópolis, Teresópolis e Friburgo tem sido tema recorrente de reportagens do GLOBO. Em agosto passado, cerca de um ano e meio depois das chuvas que devastaram a Serra, o Inea admitiu que foram feitas obras em apenas 4 dos 27 quilômetros de rios. O instituto calculou que 1.400 famílias tinham de ser retiradas das margens dos rios Bengalas, Paquequer, Santo Antônio e Piabanha. Sem aluguel social, moradores já começavam a retornar às casas, muitas vezes pagando aluguel para viver em área de risco.
No Vale do Cuiabá, em Petrópolis, as quatro pontes destruídas não foram reerguidas. Das 320 unidades habitacionais prometidas para as vítimas das chuvas na região, nenhuma foi entregue. O estado argumentou ter enfrentado dificuldades para encontrar terrenos disponíveis, áreas planas e adequadas à construção, além de burocracia na desapropriação dos terrenos.
Minc, que acompanhou durante todo o dia de ontem o sistema de alertas de cheias do estado, disse que no trecho de 70km onde foi implantado o programa de dragagem dos rios Iguaçu, Sarapuí e Botas não houve problemas:
- Nós retiramos daquela região cinco mil famílias que moravam no leito desses rios. Elas foram realocadas para outras casas na região. Também fizemos dragagem, construímos ciclovias e parques para evitar novas ocupações irregulares. Fizemos bacias de contenção para segurar a água. O projeto custou R$ 340 milhões e beneficiou uma região que tem mais de 800 mil moradores. Foram retirados 4,5 milhões de metros cúbicos de assoreamento.
Segundo ele, o estado já licitou e está iniciando obras na parte alta dos rios Iguaçu, Sarapuí e Botas, de onde serão retiradas mais três mil famílias. Para Petrópolis, foi, enfim, licitada obra para a dragagem do Rio Piabanha, que cortao município. Dali serão realocadas 2.300 famílias:
- Estamos há três anos fazendo levantamentos, realizando projetos, ouvindo ainda prefeituras para realizar obras. Precisamos contar com o apoio de prefeituras e de moradores para que não joguem lixo ou entulho nos rios.
Na Baixada, o secretário espera anunciar, em breve, a criação da Área de Proteção Ambiental (APA) do Alto Iguaçu. Com 30 mil hectares, ela vai garantir a absorção de água, impedindo a inundação das partes mais baixas:
- Foram 30 anos de ausência de política habitacional. Faltam cultura de prevenção e planejamento. Avançamos demais, mas o tamanho do passivo é muito grande.