TEMPORAIS DE JANEIRO VOLTAM A CASTIGAR O RIO
FALTAM AÇÕES, SOBRAM ESTRAGOS |
O Globo - 04/01/2013 |
Dois anos depois da tragédia que matou mais
de 900 pessoas na Região Serrana, a maior catástrofe natural já
ocorrida no país, chuvas fortes voltaram a castigar o estado no mesmo
mês de janeiro, provocando o transbordamento de pelo menos 9 rios de 3
regiões fluminenses, e deixando um morto, oito feridos e 1.845
desalojados ou desabrigados. Na opinião de especialistas, a falta de
dragagem dos rios e de outras ações governamentais agravaram as
consequências das já previsíveis chuvas de verão: durante todo o dia de
ontem, o Sistema de Alerta de Cheias do Instituto do Ambiente (Inea)
registrou risco de transbordamento em 14 rios da Baixada Fluminense.
Outros 23 rios das regiões Sul Fluminense e Serrana estão em estágio de
atenção. Professora do Instituto de Geociências da Universidade do Rio
de Janeiro (UFRJ), a geógrafa Ana Luiza Coelho Netto afirma que, mais
uma vez, o estado sofre com uma tragédia anunciada. - É preciso definir as áreas com maior suscetibilidade de ocorrer estes movimentos de massa e adotar as medidas preventivas adequadas. Que metodologia tem sido usada nas obras de engenharia? Fizemos estudos para Angra dos Reis, apontamos as áreas com necessidade de intervenções imediatas. O estudo está na gaveta. As cidades nos sopés de montanhas estão cada vez mais vulneráveis, à mercê da irresponsabilidade das autoridades - criticou. Minc agora anuncia obras para a região Ontem, depois das chuvas, o secretário do Ambiente, Carlos Minc, anunciou que a região mais atingida, o distrito de Xerém, em Duque de Caxias, receberá obras de R$ 150 milhões. Os recursos virão do governo federal. Um plano de ações para evitar novas enchentes será apresentado hoje ao Ministério da Integração. A morosidade das intervenções para controle de enchentes e recuperação ambiental de rios de Petrópolis, Teresópolis e Friburgo tem sido tema recorrente de reportagens do GLOBO. Em agosto passado, cerca de um ano e meio depois das chuvas que devastaram a Serra, o Inea admitiu que foram feitas obras em apenas 4 dos 27 quilômetros de rios. O instituto calculou que 1.400 famílias tinham de ser retiradas das margens dos rios Bengalas, Paquequer, Santo Antônio e Piabanha. Sem aluguel social, moradores já começavam a retornar às casas, muitas vezes pagando aluguel para viver em área de risco. No Vale do Cuiabá, em Petrópolis, as quatro pontes destruídas não foram reerguidas. Das 320 unidades habitacionais prometidas para as vítimas das chuvas na região, nenhuma foi entregue. O estado argumentou ter enfrentado dificuldades para encontrar terrenos disponíveis, áreas planas e adequadas à construção, além de burocracia na desapropriação dos terrenos. Minc, que acompanhou durante todo o dia de ontem o sistema de alertas de cheias do estado, disse que no trecho de 70km onde foi implantado o programa de dragagem dos rios Iguaçu, Sarapuí e Botas não houve problemas: - Nós retiramos daquela região cinco mil famílias que moravam no leito desses rios. Elas foram realocadas para outras casas na região. Também fizemos dragagem, construímos ciclovias e parques para evitar novas ocupações irregulares. Fizemos bacias de contenção para segurar a água. O projeto custou R$ 340 milhões e beneficiou uma região que tem mais de 800 mil moradores. Foram retirados 4,5 milhões de metros cúbicos de assoreamento. Segundo ele, o estado já licitou e está iniciando obras na parte alta dos rios Iguaçu, Sarapuí e Botas, de onde serão retiradas mais três mil famílias. Para Petrópolis, foi, enfim, licitada obra para a dragagem do Rio Piabanha, que cortao município. Dali serão realocadas 2.300 famílias: - Estamos há três anos fazendo levantamentos, realizando projetos, ouvindo ainda prefeituras para realizar obras. Precisamos contar com o apoio de prefeituras e de moradores para que não joguem lixo ou entulho nos rios. Na Baixada, o secretário espera anunciar, em breve, a criação da Área de Proteção Ambiental (APA) do Alto Iguaçu. Com 30 mil hectares, ela vai garantir a absorção de água, impedindo a inundação das partes mais baixas: - Foram 30 anos de ausência de política habitacional. Faltam cultura de prevenção e planejamento. Avançamos demais, mas o tamanho do passivo é muito grande. |
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