Se existem perspectivas mais animadoras para a economia global em 2013,
elas se devem especialmente ao fato de os bancos centrais corajosos
estarem conduzindo os destinos dos países desenvolvidos. Desde 2008,
quando uma pavorosa recessão ameaçou o mundo, o Federal Reserve (Fed,
banco central americano) e, depois, o Banco Central Europeu (BCE)
conseguiram evitar a quebra generalizada de bancos dos dois lados do
Atlântico e falências de países, no caso da zona do euro. Conseguir
afastar os piores perigos, nessas circunstâncias, já seria uma façanha.
Fazê-lo sem poder contar com o poderoso auxílio das políticas fiscais - e
até remando contra as consequências delas, em certo sentido - é
admirável.
Durante os últimos cinco anos o mundo desenvolvido foi regido por juros
reais próximos do zero, quando não negativos. Isso por si só colocou
notáveis desafios para as autoridades monetárias, pois o remédio foi
insuficiente para evitar o colapso de economias inteiras. Os EUA
conseguiram navegar relativamente bem após forte recessão nos últimos
meses de 2008 e início de 2009, graças ao ativismo de Ben Bernanke, um
estudioso atento da Grande Depressão. O Fed fez o que nunca tinha feito:
comprar títulos privados, aceitar garantias que seriam rechaçadas em
tempos normais e inchar seu balanço em mais de US$ 1 trilhão. O Tesouro
americano entrou no capital de fortalezas bancárias, como o Citibank. Os
grandes bancos levaram uma surra, mas nenhum deles faliu depois da
desastrosa derrocada do Lehman Brothers.
O epicentro da crise se deslocou para a zona do euro desde 2010 e lá
permanece. A Grécia quebrou e ameaçou levar a união monetária junto
consigo. Os títulos soberanos, considerados os mais seguros, tornaram-se
papéis podres diante da montanha de déficit público acumulada por
Irlanda, Portugal, Espanha, Itália e outros países, em grande parte para
evitar uma catástrofe financeira provocada pela ganância e
irresponsabilidade dos bancos.
Em 2012, a falência combinada de Estados e instituições financeiras
esteve prestes a se concretizar. Os líderes europeus agiram com
reticências e tardiamente, deixando um vácuo que foi preenchido pela
ação do Banco Central Europeu. O bloco monetário foi duas vezes salvo
por Mario Draghi, presidente do BCE. Em um dos picos da crise, no fim de
2011, Draghi tomou a dianteira ao dar financiamento ilimitado por três
anos, a custo simbólico, para todos os bancos que dele necessitassem.
Afastado provisoriamente o risco imediato de quebra bancária
generalizada, o outro lado do pêndulo da crise se moveu. O custo de
financiamento de países como Itália e Espanha, terceira e quarta maiores
economias da zona do euro, foi para a lua. De novo, Draghi, navegando
na estreita linha permitida pelos tratados da União Europeia, anunciou a
compra dos títulos dos países sob sufoco no mercado secundário, desde
que se submetessem aos planos de austeridade da Comissão Europeia, FMI e
BCE. Imediatamente o preço exigido pelos investidores para sustentar a
rolagem da dívida dos Estados declinou e hoje está significativamente
abaixo do pico de 2011 - e, o que é mais curioso, sem que o BCE tenha de
fato feito compras maciças de títulos soberanos e Espanha e Itália
tenham pedido socorro formalmente. A compra de títulos soberanos foi uma
alternativa levantada desde o início da crise do euro e só foi tomada,
ainda assim, com a união monetária à beira do precipício.
Além disso, os líderes europeus finalmente se convenceram de que
deveriam salvar a Grécia e manter a unidade da zona do euro. Aceitaram
que seu fundo de estabilização fosse usado para sanear bancos em
dificuldades e concordaram em criar uma supervisão bancária única para
os grandes bancos, a cargo do BCE.
Problemas de fundo do bloco monetário subsistem, como a necessidade de
coordenação das políticas fiscais, envolvendo significativa perda de
soberania dos Estados membros. Mas o BCE conseguiu finalmente comprar
tempo e deter a escalada fatal da crise. A zona do euro continuará em
recessão ao longo de 2013 e uma recuperação econômica plena demorará
anos. Se os EUA domarem o abismo fiscal como tudo indica, a China
melhorar um pouco sua performance e os demais emergentes se recuperarem,
como dão sinais de fazê-lo, o drama europeu, que apavorou os mercados
nos últimos anos, se tornará administrável. Por isso, 2013 pode ser o
ano que marcará o começo do fim da crise global.
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