quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Fora do abismo, mas com riscos

Fora do abismo, mas com riscos

O Estado de S. Paulo - 03/01/2013
 

Mais uma vez a eco­nomia americana foi salva do desas­tre no último ins­tante, com a apro­vação pela Câmara de Representantes, às 11 horas da noite de terça-feira, de um acordo contra o abismo fiscal. Na madrugada do mesmo dia os senadores haviam aprovado as medidas para evitar um arrocho orçamentário suficiente pa­ra jogar o país de novo na recessão e difiçultar a superação da crise glo­bal. Na Câmara, dominada pelos re­publicanos, a resistência da oposição foi muito mais forte e a insegurança predominou até pouco antes da votação. O resultado final foi recebido com manifestações de alívio em to­do o mundo e as bolsas fecharam os pregões com grandes altas. O susto passou, mas nem todos os riscos fo­ram afastados e o presidente Barack Obama ainda terá de enfrentar no­vas negociações com os oposicionis­tas. A dívida federal chegou a US$ 16,4 trilhões na virada do ano, bateu novamente no teto e será preciso mais uma vez elevar seu limite. A dis­cussão desse tema será um dos pon­tos principais da agenda presiden­cial nos próximos tempos.
A economia americana cresceu no terceiro trimestre em ritmo equiva­lente a 3,1% ao ano. Foi um desempe­nho mais que invejável para a maior parte dos países desenvolvidos e até para um dos grandes emergentes, o Brasil. De outubro para novembro o desemprego caiu para 7,7% da força de trabalho, enquanto continuou em alta na Europa. Não se sabe ainda se a produção terá perdido impulso nos últimos três meses, nos Estados Uni­dos, mas indicadores do setor indus­trial têm sido positivos. Todos têm, objetivamente, excelentes motivos para torcer pela recuperação do mais importante mercado consumi­dor. Com a reativação americana, a economia global será de novo puxa­da por mais um potente motor.
Mas o desafio enfrentado pelo pre­sidente Barack Obama seria muito menos assustador se fosse apenas econômico. A economia americana ainda é uma das mais flexíveis e cria­tivas do mundo e sua capacidade de recuperação foi muitas vezes com­provada. Mas o problema é funda­mentalmente político, porque as ban­deiras dos conservadores incluem cortes em programas sociais e barrei­ras a qualquer elevação de impostos para as classes de rendas mais altas.
Para conseguir o acordo e evitar a queda no abismo, o presidente foi obrigado a ceder em pontos impor­tantes. Desistiu de conseguir um au­mento de imposto para os contri­buintes com renda individual acima de US$ 200 mil por ano ou casais com ganho superior a US$ 250 mil.
Teve de aceitar um teto mais alto - US$ 400 mil para solteiros e US$ 450 mil para casais.
Os republicanos também cede­ram, porque combatiam qualquer no­va tributação desse tipo, mas tive­ram uma vitória parcial. Foram pre­servados benefícios fiscais para bol­sas de estudos, pesquisas e atenção às crianças, assim como o seguro, por mais um ano, para 2 milhões de desempregados. Mas Obama foi inca­paz de evitar a elevação do desconto sobre o salário. Além disso, ainda se­rá necessária uma negociação para evitar um corte automático de gas­tos de US$ 110 bilhões dentro de dois meses.
Na Europa, o crescimento econô­mico deve continuar lento em 2013 e o desemprego, elevado. Houve sinais de melhora em algumas economias e até de algum avanço do governo gre­go na redução do déficit fiscal, mas o risco de mais recessão permanece.
Uma das novidades mais importan­tes do fim do ano foi o acordo entre os governos da zona do euro em tor­no de uma política bancária centrali­zada. O Banco Central Europeu fica­rá encarregado de fiscalizar e discipli­nar as instituições mais importan­tes. Isso pode contribuir para a sepa­ração dos problemas dos bancos e dos Tesouros nacionais. Mas faltam outras medidas para impulsionar as economias da região.
A China deve reagir, depois de al­guma desaceleração em 2012, mas seu crescimento provavelmente será mais lento que na década anterior. Ainda assim, continuará sendo o principal foco de dinamismo interna­cional e um grande mercado para as commodities brasileiras. Um cená­rio melhor dependerá, nos próximos meses, principalmente do sucesso político do presidente Barack Obama e de novos avanços da economia americana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário