quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Aberta a temporada de tragédias de verão

Aberta a temporada de tragédias de verão

O Globo - 04/01/2013
 

A repetição dos fatos seria apenas monótona se não envolvesse vidas e perdas de patrimônio. Chega o verão, sobe a temperatura, desabam temporais e as cenas são as mesmas. Governantes instalam "gabinetes de emergência", declaram situação de calamidade - para o manejo desburocratizado de verbas -, Brasília mobiliza recursos financeiros e de pessoal. Contam-se os mortos, feridos e anunciam-se obras. Até a próxima tragédia.
Não que governadores, prefeitos e a presidência não devam agir. Devem, mas está provado que as mazelas acumuladas em regiões de risco no país, em que se destacam a área metropolitana ampliada do Rio, a Serra Fluminense e a Costa Verde do estado, chegaram a tal ponto que tudo aquilo feito, e da maneira como foi executado, nos últimos anos, é paliativo.
Angra dos Reis em 2010, Teresópolis, Friburgo e Petrópolis em 2011, e, agora, a Baixada Fluminense, com destaque para Xerém, distrito de Caxias, e reflexos na Serra e Angra. Onde e quando será a próxima calamidade?
Seja onde for, reunirá características comuns a todas as tragédias provocadas por "causas naturais", em qualquer ponto do país. A principal é a ocupação irregular dos espaços, em especial encostas e margens de rios. Aqui, unem-se a leniência com a demagogia para permitir a favelização, e até mesmo estimulá-la, em troca de votos. As tais comunidades preservadas por políticos mal intencionados costumam dar as maiores contribuições para as estatísticas das tragédias. Vide o Morro do Bumba, em Niterói, uma favela edificada sobre um lixão que se dissolveu num temporal.
Outra característica é a falta de planejamento e de obras de prevenção - problema que costuma ser turbinado pela corrupção. O exemplo mais recente, e dramático, é o da Serra, onde dois prefeitos chegaram a ser afastados (Jorge Mário, ex-PT, de Teresópolis; Demerval Moreira Neto, PTdoB, de Friburgo). Houve punição, mas, com exceções, tudo continua sob grande risco, depois da tromba d"água de 2011. Naquele ano, meses depois das costumeiras promessas de verbas e obras, a reportagem do GLOBO visitou os locais atingidos e constatou poucas mudanças. Há algumas semanas, refez o trajeto, e encontrou o mesmo cenário. Além do dolo, há, portanto, inércia administrativa - em algum momento a ser expressa em número de mortos, feridos e desabrigados.
No Rio, e em algumas cidades do interior, tem havido um esforço na prevenção. A capital melhorou o monitoramento meteorológico, uma das informações processadas no Centro de Operação, de onde podem ser acionados diversos serviços de atendimento à população. Sirenes foram instaladas em áreas de risco para alertar moradores da proximidade de chuvas, método também adotado em outras cidades fluminenses.
A medida é mesmo necessária. Mas ainda é muito pouco para evitar que o verão se firme como a estação das tragédias.

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