quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Assad rompe silêncio e pede ‘guerra a traidores’

Assad rompe silêncio e pede ‘guerra a traidores’

O Estado de S. Paulo - 07/01/2013
 

Ditador volta à cena após 6 meses com promessa de esmagar "terroristas" aliados ao Ocidente e plano de diálogo com oposição "que não traiu a Síria"

O ditador da Síria, Bashar As­sad, rompeu ontem seis meses de silêncio com uma promes­sa de esmagar os "criminosos assassinos" e "aliados da Al-Qaeda" que estariam por trás da insurreição na Síria. Assad voltou a falar numa transição negociada com opositores "que não traíram a nação", a qual incluiria uma reforma constitucional e eleições - sem que ele deixe o poder.
Foi a primeira vez que o líder sírio falou publicamente desde junho, quando concedeu uma longa entrevista a uma rede de TV russa aliada ao Kremlin. Assad discursou no palco da Ópera de Damasco para uma platéia lo­tada de partidários que várias ve­zes o interrompiam com gritos em defesa do regime. Horas an­tes do pronunciamento, parte da internet saiu do ar na Síria.
"Estamos combatendo uma agressão externa que é mais peri­gosa do que qualquer outra, pois ela usa (sírios) para matarem uns aos outros", disse Assad, diante de um mural em que retra­tos de sírios formavam uma enor­me bandeira nacional. "Trata-se de uma guerra entre a nação e seus inimigos, entre o povo e as­sassinos criminosos."
O ditador propôs um novo pla­no de mudança na Constituição e eleições, mas recusou qual­quer negociação com grupos que pegaram em armas contra Damasco. "Não rejeitamos o diá­logo, mas com quem devemos conversar? Com os extremistas que não falam nenhuma língua a não ser a dos assassinatos e do terrorismo? Devemos terum diálogo oficial com um fantoche criado pelo Ocidente?".
Líderes da oposição síria imediatamente recusaram o plano proposto por Assad. "Essa inicia­tiva apresentada (pelo ditador, prevendo uma mudança na Constituição e eleições) é exce­lente e só falta um aspecto cru­cial: que ele renuncie", afirmou  Kamal Labwani, político secular veterano da dissidência de Damasco e integrante da Coalizão :Nacional Síria, grupo que reúne várias forças anti-Assad.
Isolado. O ditador sírio também afirmou que não receberá "ordens, mas apenas conselhos" de autoridades estrangeiras - uma indireta contra os esforços de mediação do emissário da ONU e da Liga Árabe, o argelino  Lakhdar Brahimi.
O discurso do ditador sírio ir­ritou países da região e do Oci­dente que apoiam a oposição sí­ria. Em encontro com o chance­ler do Brasil, Antonio Patriota, em Izmir, na Turquia, o minis­tro das Relações Exteriores de Ancara foi irônico: "Parece que (Assad) andou trancado em seu quarto e por meses ficou lendo relatórios de inteligência entregues por quem quer lhe ba­jular".
Até o início da insurreição na Síria, em março de 2011, a Tur­quia era um dos países mais pró­ximos do regime Assad. Quan­do Damasco respondeu aos pro­testos por maiores liberdades com uma violenta repressão, o governo turco rompeu rela­ções. Hoje, centenas de milha­res de refugiados sírios vivem na Turquia.
Para o Departamento de Esta­do dos EUA, Assad "tentou mais uma vez se agarrar ao poder" com o discurso.

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